O PENITENTE | Raul Julia e o maior pecado para achar o verdadeiro amor

Este é o primeiro texto temático do blog Destrutor sobre a Páscoa, em uma resenha do filme O Penitente (1988), em mais um capítulo da Maratona Cinematográfica Raul Julia. Mas o tema é apenas segundo plano aqui. Raul Julia faz um marido ciumento em uma cidadezinha onde fanáticos religiosos se crucificam na época da Paixão (Sexta-Feira Santa). Armand Assante faz um criminoso sexy que procura ajuda dele pra recomeçar a vida. E ele decide começar pegando a mulher do amigo. Um dos dois será crucificado no final. Você consegue adivinhar qual?

O ator porto-riquenho Raul Julia estrela essa produção mexicano-americana ao lado do ator americano Armand Assante em uma química que funciona bem, pois ambos carregam as dualidades de bondade e maldade em medidas tão fortes que qualquer um deles exigiria uma penitência como no título. Muito bem filmado, O Penitente tem um plot twist criativo no final, se tornando até mesmo 2 de certa forma.

O Penitente
O triângulo amoroso de O Penitente

O Penitente mostra essa velha amizade em uma pequena cidade do Novo México. Os dois disputam o amor da jovem Celia Guerola (Rona Freed), em um triângulo amoroso narrado sob os signos das cerimônias dos Penitentes, que recriam a flagelação e a crucificação de Jesus Cristo, tradição que permanece viva até os dias de hoje em alguns lugares reais do México. A narrativa de crucificação tem sua via crúcis, metáfora direta para os dilemas desses dois homens.

O Penitente
Poster de O Penitente

O Penitente
The Penitent
1988, de Cliff Osmond

A jovem e problemática Celia é casada com o fazendeiro Ramón Guerola (Raul Julia), e quando o belo Juan Mateo (Armand Assante) surge de repente, tudo muda. Ex-presidiário, ousado e necessitado, ele pede ajuda ao seu velho amigo Ramon, que oferece sua hospitalidade. Pressionado a ser o bom marido e amigo fiel, Ramón também tem suas questões internas, aspecto de atuação que Raul tira de letra e faz um show em tela.

Devoto, ele acredita no ritual dos Penitentes, onde um aldeão é escolhido anualmente como o Cristo. O destino final é ser amarrado a uma cruz na encosta de uma colina por um dia, para viver ou morrer.

Celia é uma esposa de casamento arranjado, e com seus 20 anos entende muito pouco da vida adulta, menos ainda servir de muleta emocional e sexual de um marido simples que deseja cumprir com suas obrigações — e desejos. Há até mesmo um quarto elemento em cena, com Corina (Julie Carmen), uma prostituta que se apaixona por Juan, e que começa a antagonizar com Celia. Infelizmente, não são papéis complementares fortes o suficiente para orbitar os personagens de Julia e Assante.

O Penitente
Celia, pivô de O Penitente

Isso não impede Celia de se identificar em Juan o que Ramón não tem: um narcisismo e fisicalidade animalesca. Ela é atraída por ele, por ser exatamente tudo que seu marido não é. Os dois caminhos levam a uma triste resignação. Em um final (que não devia) esperado.

O Penitente

O longa-metragem tem um ritmo suave e cuidadoso em sua condução, e no fim acaba por se tornar mais um estudo dessa curiosa tradição religiosa de penitência nas comunidades desérticas do Novo México. Por outro lado, o triângulo romântico ardente, que coloca o bem contra o mal, o instinto contra a repressão, amigo contra amigo, diz mais de nós mesmos do que a renovação em Cristo.

Bastidores

A direção é O Penitente é de Cliff Osmond, que também escreveu o roteiro, em sua estreia na cadeira de diretor. Ator com mais de 90 obras no currículo, ele era amigo do cineasta Billy Wilder, diretor de clássicos do cinema como Se Meu Apartamento Falasse (1960), Quanto Mais Quente Melhor (1959) e Sabrina (1954), e apareceu em 4 filmes dele: Irma La Douce (1963), Beija-Me, Idiota (1964), Uma Loura Por Um Milhão (1966) e Primeira Página (1974).

Ao longo de sua carreira, ele foi visto em episódios de O Homem do Rilfe, Dr. Kildare, Além da Imaginação, Os Intocáveis, O Paladino da Justiça, A Caravana, Culpado ou Inocente?, 77 Sunset Strip, Laredo, Shane, Guerra Sombra e Água Fresca, Batman, Cowboy na África, O Rei dos Ladrões, Têmpera de Aço, A Noviça Voadora, Mod Squad, Terra de Gigantes, Laredo, Odd Couple, Gunsmoke, Casal McMillan, O Show da Lucy, O Homem de Seis Milhões de Dólares, Tudo em Família, Os Novos Centuriões, Emergência, O Homem Invisível, Os Novatos, Kojak, Rhoda, Starsky & Hutch, Chips, Vega$, Casal 20, Hospital, A Supermáquina, Caixa Alta, Paradise, Assassinato por Escrito, Bodie of Evidence, entre outras.

Cliff também escreveu um episódio da série policial São Francisco Urgente (1972) — The House on Hyde Street, indicado a diversos prêmios — e colaborou no roteiro de Conspiração Total (1978), com Peter O’Toole.

O Penitente
Foto promocional dos bastidores de O Penitente

O som de O Penitente ficou por conta do compositor Alex North, que entre seus trabalhos fez a trilha sonora dos filmes Uma Rua Chamada Pecado (1951), Spartacus (1960), Cleopatra (1963), Bom Dia, Vietnã (1987) e outros — mais de 80 filmes, com 7 deles indicado ao Oscar.

Armand Assante, ator americano de descendência italiana e irlandesa, e é mais conhecido pelos papéis de criminosos em Gotti – No Comando da Máfia (1996) e O Gângster (2007), além da comédia dramática Os Reis do Mambo (1992).

O Penitente
Armand Assante e Raul Julia em O Penitente

Sobre a temática religiosa de O Penitente, a realidade é sangrenta tal qual há mais de 2 mil anos. As festividades católicas da Páscoa começam no Domingo de Ramos, que relembra a entrada triunfal de Jesus Cristo em Jerusalém, prosseguem até a Sexta-feira da Paixão, com a crucificação e morte de Jesus Cristo no Calvário, e termina com a sua ressurreição, celebrada no domingo de Páscoa.

O tema de crucificação dos penitentes é simplesmente uma simulação da Paixão. Desde meados do século XIX, um grupo de flagelantes no Novo México, chamados Hermanos de Luz (“Irmãos da Luz“), tem conduzido anualmente uma encenação da crucificação de Cristo durante a Semana Santa, na qual um penitente é amarrado (mas não pregado) a uma cruz. Esses episódios de autoflagelação acontecem também no Peru e até nas Filipinas, onde alguns fiéis chegam a submeter-se a uma crucificação real. Oficialmente, a Igreja é contrária a estas manifestações cruéis. Mas de certa forma aceita e tolera.

Raul Julia
(1940-1994)

Raul Julia

Raul Julia tinha 54 anos quando morreu no North Shore University Hospital, em consequência de um derrame cerebral que sofreu dia 16 de outubro de 1994. Julia era filho de um comerciante porto-riquenho, e chegou a Nova York em 1964. Começou a ser conhecido no final dos anos 1960 por sua participação no Festival Shakespeare novaiorquino, onde ele afiaria seu talento como ator.

Nos anos 1970, teve 12 trabalhos entre TV e filmes. Nos anos 1980, esse número aumentou para 23. O ator morreu em 1994, aos 54 anos, mas fez alguns de seus filmes mais conhecidos foram lançados nessa década. Continue acompanhando o Destrutor para saber mais sobre todos eles.

Outros filmes de Raul Julia lançados em 1988 foram o drama Onassis: The Richest Man in the World, a comédia dramática Luar Sobre Parador e o thriller Conspiração Tequila.

De acordo com o Internet Movie Database de Raul Julia, o ator começou no audiovisual em um episódio de TV da série dramática Love of Life (1951-1980). Em 1968 fez uma participação na série policial N.Y.P.D. (1967-1699), e enfim estreou no cinema com o filme policial Stiletto (1969), em uma participação não-creditada.

Abaixo, um vídeo produzido pelo American Masters, que destaca profissionais da arte e cultura nos Estados Unidos. E a rendição deles para o talento de Raul Julia. Ele era casado com Merel Julia, e tinha dois filhos, de 7 e 11 anos, quando faleceu em 1994. Raul tinha criado uma instituição, junto com sua mulher, chamada The Hunger Project, destinada a lutar contra a fome no mundo.

Um release de imprensa de um evento para comentar O Penitente, com os atores do elenco e Merel, viúva de Raul Julia

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