Shocker foi criado pelo escritor Stan Lee e o desenhista John Romita Sr. na revista The Amazing Spider-Man #46 (1967), o título do Homem-Aranha da editora Marvel Comics, que revolucionou a indústria de quadrinhos de super-heróis ao humanizar a figura do herói e dar um tratamento mais dimensional aos vilões.
O chocante antagonista Shocker, persona criminosa do arrombador de bancos Herman Schultz (cujo poder não é de dar choque, já explicaremos) sempre presente na galeria de vilões do Cabeça de Teia, é integrante frequente de diversas formações do Sexteto Sinistro (da formação com 7 e 12 também), Mestres do Terror e Thunderbolts, e junto com os maiores inimigos do herói, como Duende Verde, Dr. Octopus, Lagarto, Kraven, Homem-Areia e seu similar (bem mais poderoso) Electro, está colado na mitologia aracnídea.
O Shocker também faz parcerias frequentes com vilões como Bumerangue e Corisco — seus grandes amigos aliás — além do Besouro, Rino, Homem-Hídrico, Halloween e outros. O personagem aparece bastante fora dos gibis, como em séries animadas e videogames e até no cinema (duas vezes no mesmo filme!).
Shocker usa as chamadas manoplas de vibro-choque nas mãos, um aparelho que se parece com luvas de combate, com gatilhos acionáveis pelo polegar, que disparam poderosas rajadas de ar comprimido, as tais ondas de choque. Seu poder, apesar do entendível engano, não é o de provocar choques elétricos, apesar disso ser usado graficamente de maneira um tanto diferente por diferentes roteiristas e desenhistas nos mais de 55 anos de história e cronologia do personagem.
Mas é a falta de sorte e todo um universo (Marvel) contra à sua volta que conferem ao Shocker o mood mais similar do próprio Homem-Aranha. De certa maneira, os dois são espelhados: são órfãos, vivem em perrengues, o que planejam às vezes não dá certo ou dá muito errado, têm amigos e inimigos em horas erradas e lugares também, se envolvem nas mais improváveis situações, entre outras similaridades engraçadas.
Outra situação bem peculiar com o Shocker é a maneira (frequente) com que o Homem-Aranha o derrota: jogando teias em suas mãos para impedir que ele acione os gatilhos da manopla.
Muito do visual e design do Shocker remete também ao Homem-Aranha, como um traje parcialmente vermelho que cobre o personagem dos pés a cabeça e que esconde o rosto.
Isso se deve ao desenhista regular do título na época, John Romita Sr., que confirmou isso em entrevista. “Eu usei muito sentimento subliminar. Enquanto desenhava o traje de Shocker, por algum motivo, pensei em ‘almofada’ e ‘colcha’. Estou pensando, se o cara tem um poder chocante e vibra prédios para que eles se desintegrem ao sacudi-los, então deve haver algum tipo de efeito de amortecimento, e então, subliminarmente, eu fiz isso“, comentou o Romitão para a o livro John Romita — and all that jazz! (2007), publicada pela TwoMorrows, que conta a trajetória do artista. O Shocker está até na capa.
Órfão desde pequeno, Herman Schultz não teve tios para se ancorar. Ele passou a infância e adolescência no Bronx, em Nova York, EUA, praticando pequenos crimes, e foi preso várias vezes. Ele se tornou um engenheiro de som que trabalhava em uma empresa de eletrônicos, e se tornou um ótimo arrombador de cofres.
Cansado de ser preso, usou recursos e conhecimento técnico que adquiriu para criar um par de manoplas que podiam emitir ondas de choque. Com sua nova identidade como Shocker, Schultz começou uma carreira de crime em Nova York, roubando bancos e joalherias.
E se tornou um dos inimigos mais persistentes do Homem-Aranha, aparecendo em muitas histórias da Marvel.
“O Chocante Shocker”
Na história publicada em The Amazing Spider-Man #46 (1967), “The Sinister Shocker!” (“O Sinistro Shocker“), vemos o Homem-Aranha com o braço enfaixado, devido a um confronto com o Lagarto, aventura ocorrida nas 2 edições anteriores.
Mesmo assim, em patrulhas pelas ruas de NY, ele sente o prédio que está tremer, e se depara com Shocker roubando um banco no local. Seus poderes de vibração superam o aracnídeo ferido, que é derrotado.
Shocker deixa o Aranha inconsciente no primeiro confronto!
No meio da trama ainda vemos um bandido descobrindo a identidade secreta do Homem-Aranha, quando ele estava seguindo Peter Parker. O rapaz se vê em apuros com isso, mas é mais ligeiro e engana o bandido rapidinho pra se salvar, em uma sacada hilária do roteiro de Stan Lee, que parte de uma premissa óbvia: “Como é quem um fotógrafo pé-de-chinelo como Peter Parker consegue fotos exclusivas do Homem-Aranha a todo momento? Vou seguir esse cara até descobrir“. O Aranha reencontra o Shocker, já com o braço recuperado, e derrota o vilão jogando teias em suas mãos, impedindo ele de acionar a manopla de vibro-choque.
Vale citar outros acontecimentos na HQ de estreia de Shocker. Peter ainda estava espremido entre Gwen Stacy e Mary Jane, com as idas e vindas de um triângulo amoroso muito divertido de acompanhar. Peter e Mary encontram Gwen na festa de despedida de Flash Thompson, que tinha sido convocado para a Guerra do Vietnã (!!!). A revista termina com Peter deixando a casa onde foi criado com a Tia May para morar em um apê com Harry Osborn.
Romita Sr. assumiu o título do Homem-Aranha a partir do número 39 de The Amazing Spider-Man, que foi publicada em agosto de 1966. Ele substituiu o co-criador do Homem-Aranha, Steve Ditko, como artista principal da série.
Stan Lee decidiu que Romita Sr. seria o novo desenhista do Homem-Aranha depois fazer junto com ele o crossover do Teioso com o Demolidor, uma aventura dupla lançada em Daredevil #16-17, também de 1966.
A arte de John Romita Sr., um dos grandes artistas dos quadrinhos de super-heróis, ainda emulava a arte de Ditko na estreia do Shocker. Mas seu desenho tinha uma personalidade tão própria que ultrapassava essa emulação, e podemos ver aqui toda a beleza romântica nos traços de suas mulheres, especialmente nas jovens Mary Jane e Gwen Stacy, que ficavam mais bonitas do que nunca em sua arte — herança direta de sua passagem nos títulos românticos da antiga Marvel, quando a editora se chamava Atlas, nos anos 1950.
Não demorou muito para Romita começar a estabelecer um novo estilo visual do personagem, que ajudou a tornar o Homem-Aranha ainda mais popular entre os leitores de quadrinhos.
A segunda aparição de Shocker aconteceu em Amazing Spider-Man #72 (1969), de novo com Lee nos roteiros e arte de Romita Sr. (já bem mais particular e característica).
O vilão ataca o Capitão Stacy, pai de Gwen, namorada de Peter. Também vemos Flash Thompson retornando do Exército. Shocker aqui estava trabalhando para o o chefão criminoso Cabelo de Prata.
Romita Sr. desenhou mais de 100 edições do Homem-Aranha, contribuindo para algumas das histórias mais icônicas do personagem, sendo que o último número foi o #119, publicado em dezembro de 1972 (2 edições antes da morte de Gwen Stacy). Ele se concentrou em outros projetos e foi o Diretor de Arte da Marvel Comics nos anos 1970, 1980 e até meados dos anos 90.
Shocker apareceu 23 vezes no título principal do Homem-Aranha. Só perde para o título que estrelou ao lado de outros vilões, Superior Foes of Spider-Man (2013-2015), onde tentava levar uma vida (de crimes) junto com seus amigos (criminosos) Bumerangue (Fred Myers), Corisco (Speed Demon/James Saunders), Overdrive e a nova Besouro (Janice).
A revista durou 17 números e foi escrita por Nick Spencer, que soube como ninguém usar o mood de perdedor e azarado do Shocker na medida exata para fazê-lo funcionar como o “Homem-Aranha do grupo”. A arte de Steve Lieber casou muito com os roteiros divertidos de Nick, que ainda usou 10 vezes o Shocker em The Amazing Spider-Man (2018-2021), título que assumiu do Teioso.
Separamos a seguir os momentos mais icônicos do Shocker nos quadrinhos.
Shocker e o Universo Marvel
Entre os vários trabalhos em sua carreira criminosa, Shocker serviu de capanga para o já citado Cabelo de Prata, identidade vilanesca de Silvio Manfredi, velho mafioso da Maggia, um sindicato mundial do crime, similar à Máfia, mas com contextos superpoderosos. Ele se tornou cyborg para prolongar a vida e criou relações com a Hidra, uma das maiores organizações terroristas do planeta, de origem nazista. Ele aparece na fases clássicas dos anos 1980 e 90 do Homem-Aranha e até nas mais recentes, como na Superior Foes.
Depois das duas aventuras criadas por Lee, Shocker apareceu nos números de #151-152 de Amazing Spider-Man, publicados em 1975. Na trama escrita por Len Wein e desenhada por Ross Andru (com arte-final do Romitão), vemos o pós-desfecho de uma aventura onde o Homem-Aranha lutou contra um clone, criado pelo vilão Chacal, algo que seria recuperado nos anos 90 para a longa, famosa e descompensada Saga do Clone.
No caso dessas edições, Parker se livra do clone em uma chaminé industrial e logo depois confronta o Shocker durante um roubo cometido pelo vilão.
O chocante inimigo do Teioso aparece depois em 2 histórias importantes dos Vingadores, publicadas em Avengers 228-229 (1983), revista escrita por Roger Stern (que também escrevia a revista do Homem-Aranha na época), com arte de Al Milgrom, no arco clássico em que o vilão Cabeça de Ovo reúne supercriminosos para tentar se vingar de Hank Pym (Homem-Fomiga, Gigante, Golias, Jaqueta Amarela etc etc). Shocker faz parte dos Mestres do Terror, junto com o Homem-Radioativo, Tubarão-Tigre, Rocha Lunar e o Besouro, e luta contra os Vingadores. Stern nunca usou o Shocker na revista do Teioso.
Depois ele aparece em uma história do Homem-Aranha em Web of Spider-Man #10. O Aranha tem que proteger Dominic Fortune do Shocker. Trata-se de um dos personagens mais clássicos da Marvel Comics, criado a partir de Scorpion, outro personagem da editora, de quando ainda era a Atlas.
Fortune era um vigilante e aventureiro nos anos 1930, e na época atual (1986, data da publicação da revista), o já idoso aventureiro Dominic fica na mira de Baron von Lunt, um criminoso nazista, que contrata Shocker para matá-lo. O roteiro é de Danny Fingeroth com arte de Jim Mooney.
A capa é de Howard Chaykin, o criador de Fortune nas HQs, cuja primeira aparição ocorreu em Marvel Preview #2, de 1975, uma das publicações “adultas” da Marvel, em preto e branco e tamanho maior.
Mas foi em The Spectacular Spider-Man #157 (1989), escrita por Gerry Conway, com arte de Sal Buscema, que tivemos um dos grandes momentos de Shocker, quando ele encontrou e lutou com seu “similar”, o vilão Electro. O final da história é impagável.
O colecionador Williams Ramos Kowalski, 45 anos, que acompanha histórias do Aranha desde a infância, cita ela como uma das mais legais que já leu.
“A minha questão é questão afetiva. Tenho um apreço muito grande pelas histórias dos formatinhos da Marvel pela editora Abril, todas dos anos 80 e parte dos 90. Eu considero o Shocker como personagem B, mas em histórias simples, com desafio e aventuras menos complexas, e com vilões como ele, eram as mais legais. Eu adorava essas histórias“, comenta.
“Essa lembrança (da história) do Electro e Shocker lutando é uma das mais legais que eu tenho das revistas“, comenta ele, que têm a revista que foi publicada a aventura no Brasil (Homem-Aranha #120, de 1993). “Gosto muito desses vilões. Não tem grandes poderes nem muito destaque, mas são muitos bons. Têm histórias do Capitão América similares, como uma luta dele com o Porco-Espinho“, analisa.
Shocker apareceu em mais uma edição desse título, no número #160, pelos mesmos criadores, no contexto da saga Atos de Vingança, trama onde os vilões da Marvel se articularam para atacar os heróis simplesmente trocando os antagonistas de sempre.
No caso, o Homem-Aranha se vê obrigado a lutar com o robô assassino TESS, anagrama para Total Eliminação de Supersoldados, um programa criado pelo próprio governo americano para conter supersoldados caso eles se revoltassem contra o país. O Shocker? Ele foi pego de trouxa no meio do combate. Aqui o Homem-Aranha está com poderes cósmicos, adquiridos na edição #158.
Em Amazing Spider-Man #335 (1990), o roteirista David Michelinie e o artista Erik Larsen criam uma divertida história do Homem-Aranha com o Shocker, uma das mais descompromissadas e melhor visualmente feitas com os dois personagens.
Na época, Shocker começou a ficar extremamente preocupado com o Carrasco do Crime, nome dado a diversos personagens que assumiram a “missão” de matar diversos criminosos do Universo Marvel, aos moldes do Justiceiro.
Sua primeira aparição foi na revista do Homem de Ferro, em Iron Man #194 (1985), escrito por Denny O´Neil, com desenhos de Luke McDonnel, onde fez sua primeira vítima, o vilão mercenário Enforcer. O conceito do Carrasco do Crime foi criado por Mark Gruenwald, um dos maiores escritores do Capitão América e do Esquadrão Supremo (a Liga da Justiça da Marvel), e sua concepçaõ visual foi feita pelo artista John Byrne, uma lenda dos roteiros e desenhos nos quadrinhos de super-heróis.
Em Deadly Foes of Spider-Man #1-3 (1991), o roteirista Danny Fingeroth traz um Shocker muito engraçado e com medo de ser pego pelo Carrasco (e pelo Justiceiro também), em um dilema entre ficar na cadeia, fugir e se esconder, ou ficar em NY com seus amigos supercriminosos para tentar juntos enfrentar o Carrasco do Crime.
Schultz está tão amendontrado que fica paralisado em um combate em certo momento. Ele faz tanta lambança que o Rei do Crime até contrata um criminoso para se passar pelo Carrasco e matar o Shocker.
Um ano depois, em outra aventura publicada em The Amazing Spider-Man #364 (1992), escrita por Michelinie, com arte de Mark Bagley, Shocker ainda está preocupado com o Carrasco. Ele tenta dar um up mais poderoso em suas manoplas de vibro-choque.
No mesmo ano, ele está no meio de uma improvável treta envolvendo os Guardiões da Galáxia originais — super-heróis do século XXX de um futuro alternativo da Marvel — no meio da saga Guerra Infinita, a continuação de Desafio Infinito, quando Thanos usa a Manopla do Infinito para destruir metade do Universo. A aventura foi escrita por Jim Valentino e Michael Gallagher, com artes de Herb Trimpe e J.J. Birch, e pode ser vista nas edições Guardians of the Galaxy #28–29.
Os Guardiões e alguns supervilões, com Shocker entre eles, têm que lutar contra suas contrapartes malignas (ué? os vilões também? rs) criadas por Magus, o grande vilão de Guerra Infinita.
Em Web of Spider-Man #109 (1994), temos o Homem-Aranha e o Radical (personagem dos Novos Guerreiros, que tinha um nome muito melhor adaptado pela editora Globo na fase de suas revistas Marvel Force: Espancador) em uma história que faz parte da saga Cruzada Infinita, continuação de Guerra Infinita.
Os dois juntam esforços contra o Shocker, que aqui, na verdade estava buscando ajuda para consertar um problema com suas tranqueiras vibratórias, que estavam tão poderosas que ele tinha perdido o controle, a ponto de representar uma ameaça destruidora que poderia acabar com a cidade. Quem escreveu foi Joey Cavalieri e desenhou foi Rurik Tyler.
Algumas edições seguintes, em Web of Spider-Man #114, escrita por Terry Kavanagh e Joey Cavalieri, com arte de Alex Saviuk, temos um capítulo da Saga do Clone, e Shocker está nela. Pra variar, ele tem mais um roubo frustrado.
Ainda na Saga do Clone, tivemos Shocker em Spider-Man Unlimited #9 (1995), escrita por Tom Lyle com artes de Ron Lim e Ron Garney. Kaine, um dos clones do Homem-Aranha, tenta matar todos os inimigos do herói e Shocker se junta ao Sete Sinistros para tentar matar o vigilante antes.
No título chamado simplesmente Spider-Man, nas edições 83-85-87, publicadas em 1997, tivemos a primeira vez do Shocker desenhado por John Romita Jr., o filho do Romitão. Com arte final de Scott Hanna, em histórias escritas por Howard Mackie, tivemos uma interpretação visual bem estilística e dinâmica do vilão.
O Aranha estava tonto depois de um confronto com o vampiro Morbius, e acabou se deparando com Shocker, que até evitar matar o seu inimigo vendo seu estado.
Romita Jr., chamado de Romitinha pela fanbase, teve uma fase incrível no Homem-Aranha no começo dos anos 1980, com arte-final de artistas como Jim Mooney (que arte-finalizou o Romitão também) e Klaus Janson, em cima dos roteiros de Roger Stern. Foi nessa fase do Aranha que o Jr. sedimentou sua arte, muito bonita e baseada na de seu pai, mas mais cinética nas cenas de ação e elegante em poses e estilos, tanto para homens quanto para mulheres.
Romita Jr. depois faria os X-Men de Chris Claremont, com Dan Green na arte-final, e depois o Demolidor de Ann Nocenti, com arte final de Al Williamson — só os melhores arte-finalistas nos anos 80. Romita Jr. foi estilizando mais seu traço até ficar esguio e seco, tal como conhecemos hoje. E isso começou nessas edições de Spider-Man com Scott Hanna.
Shocker enfrentou um Homem de Ferro sem sua tecnologia mais avançada em Iron Man #42 (2001), uma aventura sofrível escrita por Frank Tieri e desenhada por Keron Grant, em uma arte mangazóide muito característica de uma época que o mercado americano de quadrinhos sofria (e emulava) os mangás (quadrinhos japoneses), que estavam em franca ascensão.
Na série especial do Homem-Aranha no selo Marvel Knights (materiais “um pouco mais adultos” da Marvel), a Marvel Knights Spider-Man (2004), escrita por Mark Millar e desenhada por Terry Dodson, Shocker não poderia ter ficado de fora também. Junto com os maiores inimigos do Aranha, eles dão um trabalhão para o herói.
Na revista New Thunderbolts #8 (2005), o escritor Fabian Nicieza usa Shocker em uma aventura com os vilões “reformados” do título, com Herman ajudando seu amigo James Sanders, o velocista Corisco (Speed Demon), em um roubo. A arte é de Tom Grummet, e Shocker estrela a capa inclusive.
Em The Punisher War Journal #4 (2007), escrita por Matt Fraction e com arte do desenhista brasileiro Mike Deodato Jr., temos uma divertida história onde o anti-herói Frank Castle se disfarça de um garçom no Bar Sem Nome, um dos mais conhecidos redutos de super-vilões do Universo Marvel.
Lá, ele envenena todos os presentes, incluindo o Shocker. Ele ainda explode o lugar, presumivelmente matando todo mundo por lá. O Justiceiro aproveitou que todos estavam ali reunidos para o funeral do Metalóide, vilão da galeria do Demolidor. Vale citar que Castle usou um disfarce já usado pelo Carrasco do Crime.
Claro que não foi o fim de Shocker, que reapareceu no mesmo ano em uma história da Mulher-Hulk (She-Hulk #17, escrita por Dan Slott e desenhada por Rick Burchett) e Avengers: The Initiative #3, também escrita por Slott, com arte de Stefano Caselli.
Essas e a história do Justiceiro se passam no contexto pós-Guerra Civil, história que provocou a cisão dos heróis na Marvel, com metade deles a favor de registro federal sobre suas atividade de vigilantismo, e outra metade contra.
The Amazing Spider-Man #578-579 (2009), escrita por Mark Waid, com artes de Marcos Martín, mostra uma divertida história do Aranha com Shocker depois de um desabamento no metrô de NY, e como eles têm que juntar forças para sair dessa. É uma das melhores histórias do personagem.
Em The Amazing Spider-Man #584 (2009), Marc Guggenheim estava nos roteiros e trouxe de novo Shocker com John Romita Jr., de novo com arte-final de Klaus Janson. O traço do Romitinha se estilizou ainda mais, mais esguia, seca e simples do que nunca, muito diferente da época de sua primeira passagem no Homem-Aranha, X-Men e Demolidor.
O escritor Jeff Parker fez Shocker aparecer em Dark Reign: The Hood #4–5 (2009), com arte de Kyle Hotz, como capanga do vilão Capuz, na época em franca ascenção no mundo criminoso da Marvel. Mark Waid retornou aos roteiros do Homem-Aranha na saga Origem das Espécies, publicada em Amazing Spider-Man #642-645 (2010), com arte de Paul Azaceta, e Shocker está no meio de uma verdadeira guerra de super-vilões atrás do Aranha.
Nas edições #669-670, lançados no ano seguinte, escritas por Dan Slott e arte de Humberto Ramos, vemos o Shocker em alguns capítulos da saga Ilha-Aranha, quando os habitantes de NY ganharam poderes similares ao Homem-Aranha (!), o que incluiu Shocker, que agora tem 6 braços (!!).
Parker de novo usa o personagem em Thunderbolts #157-162 (2011), com arte de Kev Walker, na época que o grupo era liderado por Luke Cage, que comandava criminosos fazendo missões para o governo em troca de comutação de pena.
Shocker estava no Time Beta do grupo, e apareceu em 9 números, graças a uma votação com leitores feita pela Marvel: eles podiam eleger o próximo vilão a ser parte dos Thunderbolts, e Shocker foi o vencedor.
No final de 2011 tivemos o título Villains for Hire, quando o Homem-Púrpura tentou criar um novo império criminoso com a ajuda de criminosos que faziam serviços mediante pagamento. Shocker era um deles. Foram várias edições, escritas por Dan Abnett e Andy Lanning, com arte do brasileiro Renato Arlem.
Em 2013 começa o já citado Superior Foes of Spider-Man, com Shocker e seus amigos criminosos em aventuras atrapalhadas, chegando até a lutar contra outros vilões. É o material obrigatório para quem gosta do personagem.
Shocker é um dos destaques da revista, sempre tentando dar o seu melhor e não conseguindo pelas mais variadas situações, com o humor involuntário permeando toda a série.
Vale citar o último número, #17, quando o Shocker salva seus amigos criminosos de serem mortos, superando seus medos e derrotando ninguém menos que o temível Justiceiro, com direito até a um Shocker-Móvel!
Ah, e o Cabelo de Prata também está na série. Ao menos a cabeça dele. Um dos grandes momentos do Shocker nos quadrinhos da Marvel.
Em 2013-2014 também teve mais uma série de Marvel Knights: Spider-Man, escrita por Matt Kindt, com arte de Marco Rudy. Os primeiros números têm o Shocker pela primeira vez com visual refeito. A mudança foi brusca demais para dar certo.
Em Uncanny Avengers #24 (2017), escrita por Jim Zub e desenhada por Kim Jacinto, o vilão enfrenta Vampira, e nos números #32-35 (2018) de Ms. Marvel, a revista da incrível nova Miss Marvel, a jovem Kamala Khan, uma paquistanesa de 15 anos de idade, que se descobre inumana, um título escrito pela G. Willow Wilson e com artes de Nick Leon.
Em Devil’s Reign #1 (2022), escrita por Chip Zdarsky, com arte de Marco Checchetto, primeiro número da saga que reposicionou o Demolidor e o Rei do Crime em novos lugares no Universo Marvel, o Shocker fez sua aparição mais recente.
Matt Murdock agora tem que enfrentar um Wilson Fisk que não era mais o Rei do Crime, mas sim o prefeito de NY. Ele declarou ilegal todos os vigilantes e montou um novo Thunderbolts, com criminosos “perdoados” de seus crimes, para impor a ordem. Shocker é um deles, e ele tenta capturar Luke Cage, seu antigo líder de outra formação dos Thunderbolts.
Filme, desenho animado e videogames
Shocker foi um aracno-personagem recorrente em outras mídias. Sua primeira aparição fora dos gibis foi em um episódio da clássica série animada Spider-Man and His Amazing Friends (1981-1983), em Along Came a Spidey (01×15). A Tia May se fere na luta do Aranha e seus amigos (o Homem de Gelo e a Flama) contra o Shocker, e temos um flashback da infância e origem do herói.
Em 1992, a primeira aparição de Shocker nos videogames ocorreu em Spider-Man and the X-Men in Arcade’s Revenge, produzido pela softhouse Acclaim, lançado para o Super Nintendo, console de 16-bits da Nintendo. O vilão é um dos chefes (intermediários) de fase.
Já em 1994, ele apareceu em vários episódios de outro seriado animado, Spider-Man: The Animated Series (1994-1998), como The Alien Costume, The Insidious Six Part One and Two, The Awakening e o arco Six Forgotten Warriors Saga. Importante citar que nesta versão os vibro-choques foram substituídos por rajadas de energia elétrica de fato. Essa série foi a de mais sucesso do personagem.
Marvel Age #137 (1994), revista da editora que comentava os lançamentos, com notícias, artigos e outras informações, teve uma matéria especial a respeito do desenho, com destaque para Shocker, inclusive na capa, que usa uma das artes promocionais mais conhecidas da série.
Em 1995, a Acclaim produziu Spider-Man, game baseado na série, onde aparece o Shocker também. O jogo foi lançado para SNES e o Mega Drive, console de 16-bits da Sega.
Em 2001, ele é um dos inimigos a serem vencidos no jogo Spider-Man 2: Enter Electro (2001), sequencia do hoje clássico game de ação do Homem-Aranha lançado exclusivamente para o PlayStation, console de 32-bits na estreia da Sony no mundo dos videogames.
No ano seguinte, tivemos Spider-Man (2002), game de ação para o PlayStation 2, GameCube (console de 128-bits da Nintendo), Game Boy Advanced (portátil da Nintendo) e o X-Box, console de 128-bits da Microsoft, em sua estreia nos videogames também.
O game adaptou o primeiro filme do herói, lançado no mesmo ano, com direção de Sam Raimi e Tobey Maguire como Homem-Aranha, a despeito do Shocker nem estar no longa-metragem. Em 2004, saiu Spider-Man 2, para os mesmos consoles, baseado no segundo filme do herói, de novo com Shocker no elenco do game. O terceiro filme também teve um game, mas o Shocker não aparece nele.
Vale citar que o quarto filme que Sam Raimi faria tinha previsão de ter o Shocker como vilão. Storyboard feitos pelo artista Jeffrey Henderson mostram também o Abutre e Mysterio.
Shocker tornou a aparecer em Ultimate Spider-Man (2005), game lançado para PS2, GameCube e X-Box. Na série animada Spectacular Spider-Man (2008-2009), Shocker também aparece, mas ele não é Herman Schultz, e sim Jackson Brice, um mercenário.
No mesmo ano de 2008 foi lançado o game Spider-Man: Web of Shadows (2008), no qual o vilão é um dos inimigos a ser batidos. Em 2011, mais um game que aparece o Shocker, Spider-Man: Edge of Time, mas apenas na versão do portátel Nintendo DS, onde ele enfrenta o Homem-Aranha 2099.
Na série animada Ultimate Spider-Man (2012-2017), Shocker é um inimigo recorrente, mas não é uma ameaça como vilão principal. Ele aparece em episódios como Burrito Run, Halloween Night at the Museum, Nightmare on Christmase e Contest of Champions e Anti-Venom — neste, até tenta ser o próximo integrante do Sexteto Secreto, mas não consegue.
Shocker também aparece na série animada juvenil Marvel’s Spider-Man (2017-2020), no episódio Osborn Academy — o seriado mostra todos os aracno-personagens no período escolar.
No mesmo ano de 2017 vimos enfim a versão cinematográfica de Shocker, e foram logo duas!
Homem-Aranha – De Volta ao Lar foi o primeiro filme do Marvel Studios, a divisão de cinema da Disney para os personagens em quadrinhos da Marvel Comics, a usar o Homem-Aranha como protagonista, cujos direitos cinematográficos estão atreladas por contrato praticamente vitalício com a Sony. O acordo possibilitou o personagem aparecer já no meio da treta de Capitão América 3 – Guerra Civil (2016).
O herói é interpretado por Tom Holland, que enfrenta o vilão Adrian Toomes, o Abutre, em uma interpretação ótima de Michael Keaton — talvez o melhor vilão da franquia do Marvel Studios (sim, mais que o Thanos).
Entre seus capangas temos Jackson Brice (Logan Marshall-Green), aquele mesmo personagem que vimos na série Spectacular Spider-Man.
Ele se torna o Shocker no filme, mas depois de certos eventos, é Herman Schultz quem assume o papel de fato. O ator que faz o personagem é Bokeem Woodbine, ator negro que em nada lembra o original das HQs, e que funciona à perfeição no mood.
O game The Amazing Spider-Man 2 (2014) é a adaptação do filme de mesmo nome, e de novo: mesmo que Shocker não apareça, ele está no line-up de inimigos a serem enfrentados.
Saiu para a maioria dos consoles: Nintendo Wii U e Nintendo 3DS (console e portátil da empresa na época), PlayStation 3, PlayStation 4, X-Box, X-Box 360 (seu sucessor) e até para computadores.
Shocker apareceu em muitos outros games menores publicados pela licença da Marvel, mas esses foram os de maior destaque. Até então, todos os videogames citados acima foram produzidos pela softhouse Activision. Em 2018, a Sony escolheu a Insomniac para fazer um novo game, que se tornou um sucesso de vendas e crítica. E Shocker aparece nele também.
ÔMEGA VERMELHO | 30 anos de um vilão ícone das HQs anos 90 e o fim da URSS
/SHOCKER, O FILME. Para terminar, uma referência legal ao codinome do Herman Schulz. Há um filme chamado Shocker, conhecido no Brasil como Shocker – 100.000 Volts de Terror (1989), escrito e dirigido por Wes Craven, o cineasta que concebeu a cinessérie A Hora do Pesadelo (1984-2010).
A trama mostra a história do psicopata Horace Pinker (Mitch Pileggi, mais conhecido como o Diretor Skinner, de Arquivo X), que está condenado à morte na cadeira elétrica. Durante a execução, seu corpo é energizado com uma descarga elétrica que não o mata de fato, pois seu espírito ganha o poder de se transferir para outros corpos, transformando pessoas inocentes em cruéis assassinos.
Trata-se de um dos filmes menos conhecidos de Craven, mas nem por isso menos divertido. As cenas finais de Pinker e outro personagem “zanzando” pelas realidades dos programas de TV via eletricidade são puro suco de psicodelismo maluco.
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