TENET | Contrárioaocríticauma

Na linha do tempo de uma cultura desorientada como a nossa, o cineasta Christopher Nolan apresentou o thriller Tenet (2020), longa-metragem lançado durante a pandemia de COVID-19 com uma trama-tapeçaria meticulosa e complexa, tecida com os fios do tempo e da causa-efeito, que mais confunde que explica.

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Tenet
O Protagonista

Como um opus magnus de paradoxos temporais, Tenet é tanto uma exibição de maestria técnica quanto uma meditação sombria sobre a prevenção de futuros cataclísmicos.

O protagonista (John David Washington), cujo nome permanece um mistério (se chama Protagonista nos créditos e ninguém o chama pelo nome no filme), é nosso guia por um labirinto temporal que nos desafia a reconsiderar o conceito de linearidade.

Em um mundo onde o futuro pode literalmente retroceder para influenciar o presente, somos confrontados com a premissa de que nossas ações agora são ecoadas em um futuro que não só nos aguarda, mas interage com nosso passado.

A inversão do tempo, a pedra angular criativa de Tenet, é uma metáfora fascinante para a nossa era: um período em que as escolhas ecológicas, políticas e sociais de hoje têm impactos inextricáveis sobre a viabilidade de um amanhã habitável.

Isso só é possível de se entender assistindo mais de uma vez Tenet, o que é uma tarefa considerável, já que o longa não é tão bom assim. Lendo algumas explicações de entusiastas e até mesmo as vindas da boca de Nolan, o entendimento da trama fica muito distante de uma experiência cinematográfica singular, sendo o esperado quando a gente dispõe de mais de 2 horas sentado em uma sala de cinema para assistir a um filme qualquer que seja.

Tenet é um artefato cultural perfeito para a década de 2020 – uma década definida pelo colapso climático iminente, pela ansiedade pandêmica e pela interconexão digital. Nolan, em sua estrutura de narrativa, parece afirmar que para prevenir os desastres futuros, devemos envolver-nos de maneira quase obsessiva com a matemática complexa e o pragmatismo duro da realidade presente.

A ideia de inversão do filme pode ser lida como uma alegoria para a necessidade desesperada de reverter nossos hábitos destrutivos antes que o ponto de não retorno seja alcançado.

A narrativa, rica em sua densidade e repleta de cenas de ação espetaculares, funciona sob camadas de complexidade pedante e humor seco. O personagem Neil (Robert Pattinson) funciona como um guia para o protagonista (e o espectador) por esse inferno dantesco de incertezas temporais.

O filme exige uma inteligência ativa do público, não muito diferente da demanda de um texto não linear hipertextual que eu tento/tentaria nesta crítica, sem/com sucesso.

A inversão temporal é um eco de nossas próprias vidas saturadas de tecnologia, onde o passado, presente e futuro estão colapsando em uma constante interconectividade, ressoa fortemente.

Anotações pessoais do cineasta Christopher Nolan de algumas cenas de Tenet

Para a audiência contemporânea, bombardeada com o ruído branco da informação e desinformação, é um lembrete brilhante e inquietante de que o futuro não é apenas uma abstração, mas um caminho reversível moldado pelo que escolhemos fazer agora. Tenet nos obriga a questionar: se pudéssemos ver as consequências de nossos atos com clareza invertida, mudaríamos o curso de nossas ações?

A interconectividade digital e a simultaneidade informacional colapsam o passado, presente e futuro em uma única experiência para quem assiste Tenet.

TIMETENETLINE (TENETENTATIVA)

Tenet

> Andrei Sator cresce na Rússia, na cidade fechada de Stalsk-12.

> Criação do Algoritmo:

No futuro, a humanidade enfrenta um colapso ambiental e desenvolve a tecnologia de inversão temporal. Cientistas do futuro criam o “Algoritmo“, que pode reverter a entropia do mundo, mas o fragmentam em nove partes e as enviam para o passado para evitar que sejam usadas.

> O futuro no presente:

Sator começa a se comunicar com o futuro e trabalhar para a organização que criou a tecnologia de inversão temporal. Ele descobre e coleta partes do algoritmo original, quebrado em 9 partes. Ele é pago em ouro invertido e também recebe a tecnologia de inversão, permitindo que ele e seus capangas viajem “para trás” no tempo.

Sator

> Início do Tenet:

O Protagonista, após passar por testes intensos de lealdade, é recrutado para a organização secreta Tenet. Ele recebe a missão de impedir a destruição do mundo causada por Sator.

> Operação em Kiev (início do filme):

Durante uma missão em Kiev, o Protagonista é capturado e torturado, mas antes de morrer, é resgatado por uma figura misteriosa, mais tarde revelada como Neil. Ele então é efetivado para o Tenet.

O Protagonista investiga e descobre a tecnologia de inversão. Ele conhece Kat, a esposa de Sator, e começa a entender o plano de Sator de usar o Algoritmo para destruir o mundo. A primeira operação de inversão significativa ocorre no armazém em Oslo, onde o Protagonista luta consigo mesmo invertido (embora ele não perceba na hora).

Tenet
Kat

> Operação Invertida na Rodovia:

O Protagonista, Neil e Kat realizam um ataque na rodovia para interceptar uma das partes do Algoritmo. Sator, invertido, consegue roubar o dispositivo e captura Kat.
Após o incidente na rodovia, o Protagonista e Neil descobrem mais sobre as operações de Sator, e o Protagonista decide se inverter para salvar Kat e impedir Sator.

O Protagonista e Neil prestes a serem invertidos

> Inversão Completa:

O Protagonista se inverte, volta no tempo e revisita eventos anteriores, incluindo o confronto em Oslo. Durante a operação de resgate de Kat, Sator revela que pretende usar o Algoritmo para destruir o mundo. Kat, ainda invertida, é salva por uma cirurgia improvisada no passado.

> A Batalha Final em Stalsk-12:

Em Stalsk-12, acontece a batalha final entre as forças do Tenet e os capangas de Sator. A batalha ocorre em dois tempos diferentes simultaneamente (forças avançando e recuando no tempo). Neil sacrifica-se para salvar o Protagonista e garantir o sucesso da missão. Ele revela ao Protagonista que foi recrutado no futuro, sugerindo que o Protagonista fundará o Tenet.

Tenet
Neil e sua resignação

Kat mata Sator no passado, destruindo seu plano de ativar o Algoritmo. O Protagonista descobre que ele é o futuro líder do Tenet e que planejou todos os eventos para garantir que o mundo fosse salvo. A linha do tempo é concluída com o Protagonista aceitando seu papel no futuro do Tenet e assumindo o controle da organização.

Tenet
(Tenet, 2020, de Christopher Nolan)

Tenet é, em essência técnica, um chamado à ação e à reflexão profunda, uma advertência envolta em espetáculo. Na inversão temporal, objetos e pessoas podem ter sua entropia invertida, permitindo que se movam para trás no tempo enquanto o resto do mundo avança normalmente. Essa ideia é central para a trama do filme, que combina sequências de ação espetaculares com conceitos complexos de física e tempo.

Ao longo do filme, Neil (Robert Pattinson), outro agente da Tenet, revela ser muito mais do que parece, tendo uma conexão profunda com o Protagonista revelada apenas no final. À medida que o Protagonista navega pela realidade distorcida de Tenet, tem que lidar, além do oligarca russo Sator, com Kat Barton (Elizabeth Debicki), esposa do maníaco, uma mulher que deseja se libertar do controle opressor e proteger seu filho. Ela é fundamental para o desenrolar da trama, especialmente em relação aos planos de Sator.

Tenet
O Protagonista e Kat

Priya Singh (Dimple Kapadia) é outra mulher importante para a trama, uma negociante de armas e uma figura importante dentro da organização Tenet. Ela fornece informações valiosas ao Protagonista sobre a tecnologia de inversão temporal e os planos de Sator. Sua verdadeira lealdade é revelada no decorrer da trama.

Sir Michael Crosby (Michael Caine) é um agente britânico de alto escalão que auxilia o Protagonista, o ator de estimação do diretor, presente na maioria dos seus filmes. Além de Neil, temos Ives (Aaron Taylor-Johnson), líder militar que auxilia o Protagonista e Neil na fase final da missão. Ele comanda a operação temporal em grande escala conhecida como “manobra de pinça temporal”, onde duas equipes operam em tempos diferentes para desarmar uma bomba e salvar o mundo.

Um algoritmo físico em Tenet por assim dizer

No final, revelações sobre as verdadeiras identidades e motivações dos personagens dão um novo significado à trama e à missão do Protagonista, especialmente no que diz respeito ao futuro e à amizade entre ele e Neil.

As sequências de luta não apenas desafiam a gravidade, mas a própria noção de tempo. O combate corpo a corpo entre o protagonista e um adversário invertido é uma dança hipnótica onde golpes são desferidos e repelidos em um balé de temporalidades opostas. Essas cenas exigem uma coreografia precisa e uma imaginação vívida, oferecendo um espetáculo que é tanto um enigma quanto um deleite visual.

Sem utilizar telas verdes, apenas efeitos práticos (diz Nolan). Isso incluiria as próprias sequências de inversão, para as quais o diretor optou por filmar cada cena duas vezes: uma vez com os atores se movendo para frente e outra com eles fazendo tudo de trás para frente.

Ao longo do filme, vermelho é usado para indicar o tempo avançando e azul para indicar uma inversão temporal. Isso é uma referência ao efeito Doppler, no qual corpos de luz que se afastam da Terra aparecem vermelhos à medida que as ondas de luz se alongam (desvio para o vermelho), e corpos de luz que se aproximam da Terra aparecem azuis à medida que as ondas de luz se comprimem (desvio para o azul).

Isso é apenas um dos muitos signos visuais do filme. A palavra tenet provavelmente se originou do Quadrado Sator – um quadrado de palavras contendo um palíndromo latino de cinco palavras que remonta às ruínas de Pompeia. O quebra-cabeça é um quadrado de cinco por cinco composto por cinco palavras de cinco letras escritas em cinco linhas: SATOR, AREPO, TENET, OPERA, e ROTAS.

Em qualquer direção que o quadrado seja girado, essas cinco palavras aparecem tanto horizontalmente quanto verticalmente – uma propriedade que se encaixa na característica de inversão temporal do filme. Também é notável que todas as cinco palavras aparecem no filme: o personagem de Branagh se chama Andrei SATOR, o falsificador responsável pela pintura e ex-amante de Kat se chama Tomas AREPO, o termo TENET é o nome da organização na qual o Protagonista é recrutado, OPERA refere-se ao local da cena de abertura, e ROTAS é o nome da empresa de segurança.

ACITÍRC

O termo “crítica” refere-se a uma análise, avaliação ou julgamento de algo, que pode ser uma obra de arte, uma ideia, um comportamento, uma política ou qualquer outro assunto que possa ser examinado. A crítica envolve a interpretação e a apreciação de um objeto ou ação, destacando seus méritos, falhas, significados e implicações.

O que fazemos aqui no blog trata-se de uma crítica artística, abordando aspectos técnicos, estéticos e interpretativos, por vezes somando crítica social/cultural, com uma avaliação de práticas, comportamentos ou fenômenos sociais e culturais, e nunca crítica destrutiva (avaliação que foca apenas nos aspectos negativos de algo, sem intenção de melhorar ou oferecer soluções) ou mesmo construtiva (feedback que visa melhorar algo, oferecendo sugestões e apontando aspectos positivos e negativos).

A crítica artística envolve uma análise deliberada, avaliação, e interpretação de uma obra, considerando sua execução, impacto e valor cultural ou estético.

Para brincar com esse artigo sobre o filme Tenet, apresentamos o contrário de uma crítica artística, no sentido de uma análise avaliativa, que pode ser descrita como apreciação não crítica ou consumo passivo (mas sem o fazê-lo).

Uma apreciação não crítica refere-se à experiência de apreciar uma obra de arte (seja literatura, música, cinema, etc.) sem realizar uma análise profunda ou julgamento sobre seus méritos, ou falhas. É uma forma de envolvimento em que a pessoa consome a arte de maneira mais emocional ou superficial, sem a intenção de avaliar criticamente os aspectos técnicos, estilísticos ou conceituais da obra.

Por sua vez, difere de consumo passivo, termo que indica uma atitude em que a obra de arte é consumida sem reflexão crítica ou questionamento. O consumidor aceita o que está sendo apresentado sem pensar sobre a qualidade, intenção ou significado da obra. Não há um esforço consciente para analisar ou interpretar o que está sendo observado ou experimentado.

Apesar de Tenet não ser um filme que trata sobre viagem no tempo, no blog temos vários textos sobre obras que abordam o tema de diversas maneiras, como o filme 12 Macacos, a série Dark, os quadrinhos de X-Men – Dias de um Futuro Esquecido, OMAC e Capitão Adam.

AGÊNCIA GLOBAL DA PAZ | O Grande Desastre na mitologia da DC Comics

X-MEN DIAS DE UM FUTURO ESQUECIDO | Futuro distópico mutante

CAPITÃO ALLEN ADAM | O Superman Quântico da Terra 4

12 MACACOS | Quando o apocalipse também é a morte da sanidade

DARK | O caleidoscópio da viagem no tempo

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