Beatriz “Bia” Bonilla da Costa, codinome Fogo, é a personagem brasileira na DC Comics.
Uma modelo de sucesso no Rio de Janeiro, que se torna agente do Serviço Secreto Brasileiro (!), e alcança o ápice ao se tornar uma super-heroína no maior grupo de heróis da América, a Liga da Justiça.
Criada para os quadrinhos do desenho animado Super Amigos, Fogo, anteriormente conhecida como Green Fury/Fúria Verde, foi trazida para a continuidade regular da DC Comics no começo dos anos 1980.
Ela fez parte dos Guardiões Globais, uma equipe de super-heróis de várias nacionalidades, e com a reformulação promovida pela megassaga e reboot Crise nas Infinitas Terras (1985-1986), entrou na reformulada Liga da Justiça Internacional, revista conduzida pelos escritores Keith Giffen e J.M. DeMatteis e o desenhista Kevin Maguire.
Fogo era uma das principais integrantes da equipe, que ficou conhecida como “Liga cômica” ou “Liguinha” pelo alto teor de humor nas histórias, uma fase que é uma das melhores dos quadrinhos da DC Comics.
Nos eventos posteriores de Crise Infinita (2006), mais um reboot da DC Comics (um pouco mais soft), que continuava parte da trama da primeira Crise, Fogo teve seu passado de agente secreta aproveitado na revista Checkmate, nas aventuras da organização de espionagem Xeque-Mate, graças à maquinação e chantagens de Amanda Waller, que sabia de segredos de seu passado de agente secreta.
Bia é bem treinada em armas e combate, é bem-humorada e gosta de viver a vida, e como seu nome diz, é bem fogosa.
Ela foi criada pelo escritor E. Nelson Bridwell e a desenhista Ramona Fradon, uma das primeiras artistas dos quadrinhos de super-heróis nos anos 1950, e teve uma longa contribuição para o lore de Aquaman, e é co-criadora do herói Metamorfo.
Fogo no Pós-Crise
Bia, como Green Fury/Fúria Verde, foi a protetora do Brasil durante os eventos cataclísmicos de Crise nas Infinitas Terras, saga que, além de remodelar por completo todo o Universo DC, também foi responsável por uma reformulação editorial interna da editora DC Comics, quando a empresa jogou mais de 50 anos de cronologia no lixo para seguir com novas tramas.
Foi um reboot de quase todos seus eventos, histórias e personagens para uma nova geração de leitores na segunda metade dos anos 1980.
A primeira aparição de Beatriz da Costa/Green Fury após Crise nas Infinitas Terras foi na revista Infinity Inc. #32 (1986), escrita por Roy e Dann Thomas, com arte de Todd McFarlane (sim, aquele mesmo de Spawn, da Image Comics).
Os Guardiões Globais antagonizam os heróis da Corporação Infinito, a equipe de heróis que estrela esse título, quase todos eles filhos ou afilhados dos membros da Sociedade da Justiça, o primeiro grupo de super-heróis da DC — e dos quadrinhos do gênero em geral.
Beatriz, em vez de se apresentar como Green Fury, agora é Green Flame, ou Flama Verde, como ficou conhecida na tradução brasileira.
Ela e os outros super-heróis internacionais Guardiões Globais também aparecem no especial A História do Universo DC, uma espécie de catálogo de eventos e personagens da DC neste novo universo reformulado, mostrando a importância deles para a cronologia válida agora.
No pós-Crise, a DC decidiu que a Liga da Justiça, sua principal equipe de super-heróis seriam mais plurais em suas fileiras, e teriam status internacional, muito além da atuação nos Estados Unidos da América.
O primeiro line-up de heróis tem Capitão Marvel, Canário Negro, Ajax O Caçador de Marte, Lanterna Verde/Guy Gardner, Doutora Luz, Senhor Destino, Besouro Azul/Ted Kord e Senhor Milagre.
Superman e Mulher-Maravilha tinham “acabado de aparecer” no Universo DC e não integraram essa Liga, mas o Batman sim (e muitas de suas histórias pré-Crise ainda foram consideradas válidas).
A primeira edição ainda saiu como Liga da Justiça (abril de 1987), mas no número #7 ela já muda para Liga da Justiça Internacional, em novembro do mesmo ano.
Saíram Doutora Luz, Capitão Marvel e Senhor Destino, mas chegaram o Capitão Átomo e o Soviete Supremo. Esse último é nome dado aos soldados soviéticos comunistas de armadura da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas no Universo DC, e que no original são chamados de Rocket Red (Foguete Vermelho).
Neste caso, era o Rocket Red #7, Vladimir Mikoyan (que depois se revela um agente maligno dos Caçadores Cósmicos).
Apenas depois da morte de Vladimir que Dmitri Pushkin, o Soviete Supremo mais famoso, começa a integrar a Liga.
Esse novo status da Liga foi de encontro ao contexto dos super-heróis internacionais dos Guardiões Globais. E apesar de terem sobrevivido ao reboot de Crise, os guardiões não passaram pelo esgotamento de recursos criativos dos escritores do que fazer com a equipe.
Keith Giffen e J.M. DeMatteis imprimiam um mood aventura + humor espetacular nas histórias da Liga. E na edição #12 de Liga da Justiça Internacional (abril de 1988), temos a história “Who Is Maxwell Lord?” (guardem esse nome!), que começa a introduzir a Fogo na Liga (epa!).
Quando os Guardiões Globais perdem o patrocínio da Organização das Nações Unidas – ONU, deixando Beatriz da Costa, ainda como Flama Verde, e sua inseparável melhor amiga, a norueguesa Tora Olafsdotter, a Dama de Gelo (tão linda quanto a Bia, e as duas são modelos inclusive), em apuros financeiros, ela tem que decidir o que fazer.
Tentando relaxar no apartamento de Bia, no Rio de Janeiro, as duas tem a ideia de pedir para entrar na Liga da Justiça.
Em Justice League International #14, com arte de Steve Leialoha, Flama Verde e a Dama do Gelo pedem para Ajax para integrar a equipe. Com a saída de Canário Negro da equipe, o marciano aceitou o pedido. As duas personagens inclusive já aparecem na capa.
A partir daí, Fogo e Gelo seriam presenças constantes nas aventuras da Liga.
E não seria também a última vez que veríamos os Guardiões Globais, que acabam por se tornar antagonistas dos heróis da Liga.
Nessa edição também é melhor desenvolvido o personagem de Maxwell Lord, criado por Giffen, deMatteis e Maguire na primeira edição do título. Lord é apresentado como um empresário picareta que se envolve em eventos extraordinários e que o levam a ser uma das peças-chave que dá origem à equipe neste pós-Crise. E que muito improvavelmente se tornaria outro tipo de pessoa ao longo da cronologia da DC.
Fogo e as Origens Secretas na DC Comics
Em dezembro de 1988, a DC Comics publicou Secret Origins #33, um título que mostrava as origens reformuladas ou adaptadas dos principais personagens do pós-Crise, e essa edição foi dedicada às heroínas Zatanna e Fogo.
Na história chamada “The Untold Origin of Green Flame: The Spy Who Blew Me Up“, escrita por Tom e Mary Bierbaum, com arte de Chuck Austen, ficamos sabendo mais a respeito da história de vida de Bia no pós-Crise, bem diferente de sua encarnação anterior como Green Fury.
Beatriz Bonilla da Costa agora é uma modelo carioca de sucesso no Brasil, sendo descoberta por um olheiro quando se bronzeava nas praias do Rio de Janeiro.
Ela se torna uma “showgirl” performática, mas decide sair. Ela recusa um trabalho na Wayne Foundation (sim, do Bruce Wayne, sim, o Batman), e prefere se tornar uma agente secreta do governo brasileiro (para quem não sabe, temos o Serviço Nacional de Informações – SNI, atual Agência Brasileira de Inteligência- ABIN). Ela consegue o trabalho procurando um escritório ordinário com erros de português na história. Mais mambembe e brasileiro que isso, impossível.
Beatriz da Costa fez várias missões como agente secreta brasileira. E foi em uma de suas missões que Bia foi exposta à um agente químico piroplasmático. Ela pareceu morrer na explosão subsequente, mas na verdade sobrevive e ganha poderes como exalar chamas pela boca.
Sua missão é considerada um fracasso, e ela foge do serviço secreto brasileiro, preferindo juntar forças como a super-heroína Green Flame/Flama Verde nos Guardiões Globais.
Fogo na Liga da Justiça
Não demora muito para Bia simplesmente reduzir seu codinome para Fogo, assim como Tora faz, com Gelo. As duas ficam muito amigas do Gladiador Dourado/Michael Carter e Besouro Azul/Ted Kord, com Tora tendo um improvável interesse romântico pelo irascível Guy Gardner.
O espírito livre de Bia a faz flertar bastante, sem nunca manter compromisso com ninguém. E não é exagero dizer que sua libertinagem ficava numa linha bem perigosa de cruzar, mas as problemáticas de sexualização, misoginia e sexismo aqui nunca alcançaram níveis grotescos. Giffen, deMatteis e Maguire conseguiram equilibrar muito bem a Fogo, e é uma delícia sua passagem por toda a fase.
Uma mudança importante ocorreu durante a saga Invasão! (1988-1989), quando Bia é afetada de modo significativo por causa da explosão da Bomba Genética, obra dos invasores alienígenas.
Um cientista da raça Domínion descobre o que dá poderes aos seres humanos na Terra: o gene chamado Metagene, presente em uma pequena parcela da população. Uma vez ativado, por meios radioativo, químico, genético, estresse físico ou psicológico, ele dá ignição a uma transformação que resulta em super poderes.
Foi o que aconteceu com Bia na sua origem: ela tinha o metagene e ele foi ativado quando sofreu a explosão do composto bélico lá em sua derradeira missão de agente secreta.
A Bomba Genética visava descontrolar o Metagene nos metahumanos da Terra (nome dado na DC aos superseres em geral). Bia é uma das mais afetadas e chega até a entrar em coma.
Quando desperta, seus poderes mudam bastante. Eles agora são incendiários de fato, com ela podendo incendiar o próprio corpo e disparar rajadas cáusticas de fogo de cor verde.
A bomba também ativou o metagene em quem o tinha latente. Maxwell Lord foi um deles. E ele agora pode controlar mentes, ainda que a um esforço enorme. E isso significaria enormes problemas no futuro.
Algo emocional também está ligado a esses novos poderes, com Bia maximizando esses poderes incendiários quando fica muito irritada ou com medo. Ela recebe até treinamento do Senhor Milagre e da Grande Barda para controlá-los — um treinamento nível Fúrias Femininas de Apokolips!
Fogo viveu diversas aventuras clássicas com a Liga da Justiça Internacional, a maioria delas escritas por J.M. deMatteis e Keith Giffen. E o mood humorístico sempre foi rei aqui.
E além do desenho de Kevin Maguire, dono de um traço realista e de feições criativas, reais e ímpares, teve também a arte de Adam Hughes, que conseguia ser ainda mais cinematográfico e realista que Maguire.
A última edição de Giffen e deMatteis foi no número #60.
E o escritor e desenhista Dan Jurgens assume a revista em Justice League America #61 (abril de 1992). E ele mantém Fogo no line-up.
Jurgens foi também um dos escritores da saga A Morte do Superman, que entre o fim de 1992 e 1993, tomou as revistas Superman: The Man of Steel #18, Justice League America #69, Superman #74, Adventures of Superman #497, Action Comics #684, Superman: The Man of Steel #19 e Superman #75.
Em Justice League America #69, vemos que monstro Apocalypse massacra todos que encontra pela frente, incluindo toda a Liga da Justiça.
Fogo ainda “perdeu” seus poderes no combate, ao esgotar suas rajadas no vilão, sem conseguir pará-lo.
Jurgens fica apenas até Justice League America #78 (agosto de 1993), quando o sofrível roteirista Dan Vado assume os roteiros, e quanto menos falarmos disso, será melhor. Gerard Jones é outro roteirista que trabalharia no título.
Na edição #88, escrita por Vado, Fogo não consegue evitar a morte de sua melhor amiga, Gelo, assassinada pelo Overmaster (Mestre das Trevas).
A última edição que Fogo aparece na Liga da Justiça é em Justice League of America #113 (1996).
É quando Beatriz retorna ao Brasil, para tentar restabelecer-se como a principal super-heroína do país.
Ela só foi reaparecer de modo grotesco em Martian Manhunter #10 (1999), escrita por John Ostrander e desenhada por Mike Perkins. Trata-se do título estrelado por Ajax, e uma repórter entrevista Bia no RJ a respeito da atuação do herói na América do Sul, e como ele afetava seu destaque como protetora do Brasil.
A condução da história é das piores possíveis, a despeito do talento de Ostrander, que fez uma das melhores obras da DC Comics, Esquadrão Suicida.
Em 2003, houve uma tentativa de revitalizar a Liguinha, de novo com os criadores Giffen, deMatteis e Maguire.
Maxwell Lord quer criar “os heróis das pessoas comuns”, e reúne novamente o Gladiador Dourado, Besouro Azul/Ted Kord, Homem-Elástico (e sua esposa, Sue Dibny), Capitão Átomo, Mary Marvel e, claro, Fogo.
Bia agora dividia o protagonismo feminino da equipe com a Mary Marvel, a garota que detém parte do poder de Shazam! com o Capitão Marvel. Sem a Gelo por perto, Mary se tornou a companheira de quarto de Fogo, que mais se tornou uma espécie de “baby-sister” do que amiga da personagem.
A revista se chamava Formerly Known as the Justice League, e internamente Lord os chamava de Super Buddies, “Super Amiguinhos” numa tradução livre. Foi, de certo modo, um retorno às origens de Beatriz da Costa/Fogo como Green Fury, já que o desenho animado Super Amigos é sua casa de origem (no caso, a HQ da série).
No começo de 2005, no título JLA: Classified, onde vários escritores e desenhistas criavam histórias soltas dos heróis da Liga, tivemos uma segunda parte do Formerly Known as the Justice League/Superamiguinhos, de novo por Giffen, deMatteis e Maguire.
As aventuras deles vão até o número #9. Entre elas, Fogo tem a chance de resgatar Gelo do Inferno (!), mas não consegue.
Esse respiro de humor foi o último para Fogo e todos os heróis do Universo DC, pois uma nova Crise estava por vir.
Fogo na Crise Infinita
Ainda nos meses iniciais de ano, tivemos o especial Countdown to Infinite Crisis, escrita por Geoff Johns, Greg Rucka e Judd Winick, com artes de Ed Benes, Phil Jimenez, Rags Morales, Ivan Reis e Jesús Saíz (Benes e Reis são brasileiros, como Bia).
Entre as diversas tramas, a mais chocante foi a última, quando o Besouro Azul/Ted Kord descobre que alguém está reunindo informações sigilosas de todos os super-heróis e super-vilões da Terra.
E ele é ninguém menos que Maxwell Lord. De um empresário picareta ainda visto na retomada da Liguinha em JLA: Classified, ele se tornou um estrategista militar, e em determinado momento, se apossou do controle do Xeque-Mate, uma das organizações mais poderosas do mundo da espionagem do Universo DC, onde criou uma agenda própria: agora ele era contra todo e qualquer meta-humano do planeta, preocupado apenas em varrer eles da face da Terra.
Ele quer q Ted Kord se reúna a ele por ser um simples humano (Ted não tem metagene), e quando o herói se recusa, o mata com um tiro na cabeça.
Esse chocante acontecimento é reverberado no especial de 6 edições The OMAC Project (2005), escrita por Rucka com desenhos de Saiz.
Lord, além de tomar o Xeque-Mate, controla o Irmão-Olho, um satélite ultrapoderoso de vigilância criado pelo Batman. Max também tem poder sobre a tecnologia OMAC, que transforma seres humanos comuns, infectados previamente, em máquinas assassinas.
E ele usa o Irmão-Olho para rastrear as ameaças que considera para seu plano e usar os OMACs para eliminá-las.
O termo OMAC e Irmão-Olho são conceitos criados pelo escritor e desenhista Jack Kirby nos anos 1970 para a DC Comics, e trazidos aqui modificados.
No decorrer de uma revista paralela, Wonder Woman #219, Lord controla mentalmente o Superman e o joga contra a Mulher-Maravilha. A amazona, sem opções, opta por matar Maxwell Lord para livrar o Azulão do controle mental e escapar com vida.
Enquanto isso, em The OMAC Project, Fogo, Mary Marvel, Soviete Supremo/Dimitri Pushkin, Ajax, Metamorfo, Gladiador Dourado e Lanterna Verde/Guy Gardner tentam encontrar a conexão entre Lord e a morte do Besouro Azul.
Nos combates contra os OMACs ativados por Lord, ela é gravemente ferida, mas é salva pelo sacrifício de Dimitri.
O final desse especial mostra uma gravação enviada para a imprensa mundial da Mulher-Maravilha matando Max Lord, o que joga a opinião pública contra ela.
Muitos outros eventos acontecem em paralelo com os super-heróis da DC, que desemboca na Crise Infinita (2005-2006), onde antigos personagens afetados pela Crise nas Infinitas Terras retornam e causam um evento apocalítico em todo o Universo DC, com alguns efeitos até retroativos.
Com isso, Crise Infinita também foi um reboot para alguns personagens, e Lord foi um deles, o que explica o novo mood espião psicopata genocida dele. Desde o começo Lord odiava os heróis, e fez de tudo para manter a Liga da Justiça Internacional ineficaz (o que explica subjetivamente o teor humorístico dela), além de catalogar toda a informação que conseguia dos heróis e vilões.
E tudo piorou por conta da saga O Retorno do Superman (1993), quando a mãe de Lord foi morta na aniquilação de Coast City na saga. Ele começou a odiar os metahumanos ainda mais.
No fim dos trágicos acontecimentos de Crise Infinita, temos um pulo cronológico de 1 ano no Universo DC.
Para explicar esse hiato, a editora lançou uma série semanal chamada 52 (1 ano tem 52 semanas). Bia fica se recuperando dos seus ferimentos contra os OMACs, e seu amigo Gladiador Dourado luta contra a depressão para tentar continuar um super-herói, depois de tantas tragédias.
Espionagem na DC Comics e Fogo no Xeque-mate
Em algum momento, Beatriz é recrutada por Amanda Waller, uma das maiores figuras da espionagem da DC, para um renovado Xeque-Mate, agora sob a supervisão das Nações Unidas
E Bia finalmente tem seu passado de agente secreta aproveitada no título Checkmate (2006), escrito também por Greg Rucka.
Amanda Waller é uma das líderes da organização, na posição de Rainha Negra, sendo Fogo sua Cavaleira Negra. E claro, não sem os joguinhos de Amanda, que chantageia Bia com algo de seu passado. Uma das primeiras missões de Fogo foi recuperar o Irmão-Olho, que havia caído no sul da Arábia Saudita.
O roteirista Greg Rucka também trouxe o personagem King Faraday, um dos primeiros espiões criados nos quadrinhos de super-heróis, e até mesmo na cultura pop como um todo — ele surgiu anos antes do mais famoso de todos, James Bond, o 007.
Rucka desenvolve muito mais o passado de Beatriz. Waller faz uso de chantagem contra Bia, já que a brasileira tinha na verdade origem argentina, pois seu pai estava envolvido nos massacres das ditaduras militares de direita dos anos 1970 na América do Sul, nos contextos da Operação Condor, um programa anticomunista dos EUA que envolveu assassinatos, tortura e desaparecimentos forçados de pessoas e figuras políticas em países da região.
O pai de Bia ainda está vivo, e ele nunca respondeu por esses crimes.
Assim, Fogo é obrigada a se tornar uma agente mais do que fiel a fim de proteger seu pai. Em uma das várias missões que teve que realizar como assassina, ela acaba por matar carbonizado 50 agentes Kobra (organização terrorista da DC, criada por Jack Kirby, anos antes do similar da franquia de brinquedos Comandos em Ação/G.I. Joe).
Em outra situação, Fogo tem que encobrir um golpe em Santa Prisca (país fictício da América Central), mas não suporta mais a pressão, e enfim entrega seu pai, escapando assim da manipulação de Amanda.
Rucka usou a Fogo em 24 edições do Checkmate. Na edição #16 do título, Bia, depois de anos de angústia e tristeza pela perda de sua amiga Tora, finalmente a reencontra, quando a heroína gelada é milagrosamente ressuscitada nas páginas da revista de Aves de Rapina (Birds of Prey #106-07, de 2007).
Em 2008, a DC iria fazer mais um reboot, Crise Final, mas a história criada por Grant Morrison era tão maluca que ela não serviu aos propósitos da editora. O Universo DC pouco foi afetado pela saga de modo que um reboot faria.
Em 2009, a DC promoveu a megassaga A Noite Mais Densa (2009), onde o demoníaco Nekron ressuscitou centenas de heróis e vilões como Lanternas Negros, verdadeiros zumbis superpoderosos a serviço do vilão.
Besouro Azul/Ted Kord e Maxwell Lord foram alguns deles. Lord foi atrás da Mulher-Maravilha em específico.
No final da saga, surgiu mais uma cor nas fileiras do Exército dos Anéis: o Branco. E entre os Lanternas Brancos, só heróis, surpreendentemente estava Maxwell Lord também.
No mesmo ano, Fogo teve uma participação especial na minissérie Final Crisis Aftermath: Escape, escrita por Ivan Brandon, estrelada pelo Nêmesis, o agente secreto mestre dos disfarces da DC, que estava numa arapuca mental de espionagem nas mãos da Agência de Paz Global, outro conceito ligado ao OMAC original de Jack Kirby, e que aqui estava de alguma forma atrelado ao atual também.
Inclusive Fogo e Nêmesis têm que enfrentar alguns OMACs aqui, reminiscências da saga Crise Final.
Vale citar que Nêmesis era agente do Departamento de Assuntos Superhumanos, e era parceiro (e até amante!) da Mulher-Maravilha, que também era da mesma organização, atuando como a agente secreta Diana Prince, uma identidade criada pelo Batman para “esconder” a amazona do público após ela matar Maxwell Lord.
Por conta dessa ressurreição de Max Lord, tivemos mais um título da Liga da Justiça, a Justice League: Generation Lost (2010), escrita por Judd Winick, com arte de Aaron Lopresti, e participações de Giffen.
Foi mais uma chance de Fogo brilhar quente na DC Comics.
Os super-heróis se reúnem para caçar o vilão, e a maioria dos heróis da Liguinha retornam aqui. Fogo ainda estava como agente do Xeque-Mate, mas deixa a organização para se juntar aos seus colegas da Liga, incluindo sua melhor amiga Gelo.
Durante um encontro com o Max na antiga embaixada da Liga da Justiça Internacional, Fogo é rendida inconsciente ao lado de Gelo, Gladiador Dourado e Capitão Átomo.
E eles acordam apenas para descobrir que Lord usou suas habilidades mentais para apagar sua existência das mentes de cada humano no planeta, exceto para os presentes na embaixada. Isso tudo na primeira edição.
Beatriz tenta convencer a Mulher-Maravilha que ela matou Lord, mas a amazona se recusa a acreditar nisso.
Foram 24 edições com a maioria do plot tratando da caça à Maxwell. Outros heróis se juntaram à Liga como Batman, Mulher-Maravilha, Poderosa, Soviete Supremo/Gavril Ivanovich e o novo Besouro Azul, o jovem hispânico Jaime Reyes.
Na última edição, o Capitão Átomo consegue obrigar Lord a reverter o efeito mundial e todos se recordam dele. Mas ele consegue escapar das mãos dos heróis de novo.
Isso foi em junho de 2011.
Em julho, a DC publicou um especial em 5 edições chamado Flashpoint, escrito por Geoff Johns e desenhado por Andy Kubert.
E essa saga foi a preparação de mais um reboot na DC Comics, e Fogo não ficaria de fora.
Fogo nos Novos 52
No nova cronologia estabelecida na DC Comics tivemos o reboot Novos 52, onde todas as histórias pós-Crise foram jogadas no lixo. Pois é.
O arranjamento editorial ficou bastante confuso, e certos eventos e eixos narrativos ainda se mantiveram em alguns personagens, mas em teoria tudo era uma tábula rasa. Dessa vez foram quase 80 anos de cronologia pro vinagre.
Fogo foi aproveitada no novo título Liga da Justiça Internacional (Justice League International) pelo escritor Dan Jurgens (aquele mesmo que substituiu Giffen e deMatties), com desenhos do artista Aaron Lopresti, numa iniciativa da DC Comics em reaproveitar o título clássico.
A ONU convoca diversos heróis de vários países para se juntar em uma equipe em missões globais, o que vai de encontro ao status do nome do grupo (e de certo modo aos Guardiões Globais).
Foi a oportunidade de diversos outros personagens fazerem sua estreia em Os Novos 52. Jurgens trouxe, além da Fogo, a Gelo também; Godiva (antiga colega delas nos Guardiões Globais); Vixen (membro da Liga da Justiça “Detroit”, que foi a equipe de heróis no pré-Crise, e do Esquadrão Suicida pós-Crise) e o Gladiador Dourado (que é criação de Dan inclusive).
O Soviete Supremo/Gavril Ivanovich e o General Augusto de Ferro também fazem parte da equipe aqui.
Fogo participa de diversas aventuras, mas é colocada de lado quando se fere gravemente em um combate com OMAC (uma das muitas versões que a DC Comics fez neste novo reboot).
A revista durou 12 números, e foi a última aparição regular da personagem nos quadrinhos.
A DC fez (mais) uma reformulação em 2016, chamada Renascimento, que tentou consertar as cagadas editoriais e cronológicas dos Novos 52, resgatando elementos do pós-Crise, mas era tarde demais para Fogo. Ela nunca mais receberia destaque nas histórias.
Fogo (e Gelo) aparecem em uma passagem relâmpago em Heroes in Crisis #9 (2019), escrita por Tom King e desenhada por Clay Mann, infelizmente uma das piores sagas recentes na DC Comics; é resgatada em um flashback por Keith Giffen em Inferior Five #1 (2019), título que escreveu e desenhou, onde o Pacificador enfrenta super-vilões em uma aventura passada durante a saga Invasão!; aparece em um painel de Dark Nights: Death Metal #7 (2021), escrita por Scott Snyder e vários desenhistas (Fogo é desenhada por Yanick Paquette); e a sua mais recente aparição se dá em Justice League #71 (2022), em um painel com outros heróis, numa aventura escrita por Brian Michael Bendis e desenhada por Phil Hester, e no novo título do Alvo Humano, a The Human Target, escrita por Tom King e desenhada por Greg Smallwood.
Fogo em filme, Fogo na TV e Fogo na animação (finalmente!) da DC Comics
The blistering babe from Brazil!”
Roulette
Na animação da Liga da Justiça Sem Limites (2004-2006), que teve três temporadas com 39 episódios ao todo, tivemos enfim a estreia de Fogo no mundo dos desenhos animados, seu local de origem por assim dizer, já que ela veio da franquia Super Amigos (1973-1985).
Fogo integra a equipe depois da Invasão Thanagariana, quando o desenho incorporou o Sem Limtes ao nome.
Bia da Costa aparece já como sua identidade heroica vista na fase Liguinha e tem como parceira inseparável também a Gelo.
As duas participam de diversas aventuras mostradas na animação, como as lutas contra o androide Amazo, o mago Mordru, a invasão alien das aranhas tecnoorgânicas, o exército de Ultimen durante o ataque ao Satélite da Liga, a Legião do Mal e Darkseid.
Ela flerta em alguns momentos com o Flash/Wally West, mas nada fica muito mais sério do que isso. Fogo também é ótima no combate corpo a corpo, mas seu passado de agente secreta brasileira das HQs não é mencionado no desenho animado.
A citação do começo desse tópico vem do episódio Grudge Match, o episódio #35 da série, onde as heroínas da Liga da Justiça têm que enfrentar a vilã Roleta, que promove combates forçados e televisionados entre todas elas.
No caso, Fogo luta contra a Canário Negro, um confronto onde podemos ver todas as habilidades de Bia em ação.
A dona da voz de Fogo nessa animação da DC Comics foi da atriz e dubladora Maria Canall, que também dublou uma das personagens principais, Shayera Hol, a Mulher-Gavião.
Em 2008, a DC Comics teve mais uma série animada, Batman: Bravos e Destemidos (Batman: The Brave and the Bold), onde Fogo apareceu em vários episódios, como Terror on Dinosaur Island, numa aventura dela com o Homem Morcego (claro) e Homem-Borracha contra o vilão Cavalheiro Fantasma.
Mas o destaque fica para quando ela se torna membro da Justice League International, equipe que se assemelha com a original das HQs, com o Besouro Azul (Jaime Reyes), Gladiador Dourado, Guy Gardner, Aquaman, Ajax/Caçador de Marte, Capitão Marvel, Soviete Supremo e claro, a amiga inseparável Gelo. A voz da personagem nessa animação é da atriz e dubladora Grey DeLisle.
Temos até mesmo uma Fogo “do mal”, no episódio Deep Cover for Batman, com a aparição do Sindicato da Injustiça, onde aparece uma vilã igual à personagem, só que loira, com roupa preta e laranja, e que dispara fogo da boca.
Ainda no mundo da TV, tivemos uma referência bem legal de Fogo no seriado do Flash, no episódio Power Outage (01×07, 2014), onde descobrimos que várias pessoas morreram durante os eventos da explosão do acelerador de partículas que deu poderes ao herói velocista.
Beatriz da Costa é mencionada como uma das vítimas, bem como outros nomes civis famosos de heróis da DC, como Al Rothstein (antigo Nuklon, da Corporação Infinito, e atual Esmaga-Átomo), Grant Emerson (Detonador), Ralph Dibny (Homem-Elástico), Will Everett (Admirável) e Ronnie Raymond (Nuclear).
E desde que Ronnie apareceu vivo e em sua identidade heroica de Nuclear, está no ar a possibilidade de Bia também estar viva, e quem sabe até com poderes também.
Beatriz da Costa também aparece em um episódio do seriado de comédia Powerless (2017), quando a atriz Natalie Morales interpretou Bia como a personagem Green Fury. A série era uma sitcom da emissora NBC, e sua principal premissa era ser ambientada dentro do Universo DC. Foi estrelada por Vanessa Hudgens, e sem surpresa nenhuma, não fez sucesso, sendo cancelada pouco antes do fim.
E se Bia estava em baixa na segunda metade dos anos 1990 nos quadrinhos, ela foi pioneira em outras mídias. A Fogo leva o mérito de ser uma das primeiras heroínas da DC Comics no primeiríssimo filme da Liga da Justiça que a Warner fez, a Justice League International, lançado exclusivamente em seu canal televisivo em 1997.
A atriz que interpretou a personagem foi Michelle Hurd, e estava bem mais próxima do seu mood Flama Verde que a Fogo propriamente.
Os outros integrantes são Jonn Jonn´z, o Caçador de Marte, o Lanterna Verde/Guy Gardner, o Flash/Barry Allen e Eléktron/Átomo/Ray Palmer, que enfrentam o Mago do Tempo, interpretado por Miguel Ferrer. Gelo, a melhor amiga de Bia também estava na equipe, interpretada por Kimberly Oja. A produção é levemente baseada nos trabalhos desenvolvidos no título da Liguinha.
Michelle estava em começo de carreira quando fez a Fogo nesse filme da Liga. Ela participaria de seriados como Lei & Ordem: Unidade de Vítimas Especiais (1999-2001), O Jim é Assim (2004), interpretou a Courtney Brown em Plantão Médico (2006) e fez Gossip Girl (2007).
Os trabalhos mais recentes dela incluem Star Trek: Picard (2020), como Raffi Musiker, e Samantha Reyes no seriado do Demolidor da Netflix (2016).
/ GELO. E um pouco da Tora, que é tão legal quanto a Fogo.
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