O Questão é um vigilante implacável que atua no cenário urbano da DC Comics, com uma visão de mundo que mesclava conceitos filosóficos do Objetivismo na Charlton Comics, e depois um Zen carregado de violência na DC.
Trata-se de um super-herói criado pelo artista Steve Ditko para a editora Charlton nos anos 1960, e que carregou alto teor político da visão de seu criador, fã de Ayn Reid.
O Questão é considerado um dos personagens mais complexos criados nas HQs de heróis — foi reformulado por Alan Moore para criar o Rorschach, em Watchmen.
Ditko foi um dos gigantes do mercado de super-heróis, co-criador do Homem-Aranha e Doutor Estranho da Marvel Comics, escritor e desenhista de histórias de terror e ficção científica, e que também inventou outros personagens com conceitos interessantes na DC Comics além do Questão.
Anos depois da criação objetivista de Ditko, o Questão continuaria sua trajetória no final dos anos 1980 na editora DC Comics, agora em uma filosofia de Zen-Budismo, causalidade e vigilantismo, um mix sensacional criado pelo roteirista Denny O’Neil — outro gigante das HQs, responsável por fases clássicas e cult do Batman e Arqueiro Verde — e a arte espetacular de Denys Cowan, um dos artistas mais dinâmicos da indústria, dono de um traço seco e ágil, poderoso e rápido.
O Questão cavou seu próprio nicho dentro do Universo DC com a ajuda de O’Neil e Cowan, e suas aventuras urbanas abordavam racismo, feminismo, política, problemas sociais, corrupção policial e política, em um mood bastante distante do mundo colorido de heróis da DC.
O Questão
de Steve Ditko e Ayn Reid
Alisa Zinov’yevna Rozenbaum é o nome completo de Ayn Reid. Foi escritora, dramaturga, roteirista e filósofa. Norte-americana de origem judaico-russa, ela ficou mais conhecida por desenvolver seu sistema filosófico, batizado de Objetivismo.
Ela também escreveu romances: The Fountainhead (A Nascente, de 1943) e Atlas Shrugged (A Revolta de Atlas, de 1957), por qual é mais conhecida. Publicou várias coleções de ensaios até sua morte, em 1982.
Trata-se de uma das mais polêmicas pensadoras da política. Ela defendia a razão como o único meio de adquirir conhecimento, rejeitava fé e a religião, se opunha ao coletivismo e estatismo, bem como ao anarquismo.
Via com bons olhos o capitalismo laissez-faire, que definiu como o sistema baseado no reconhecimento dos direitos individuais, e o realismo romântico.
Era fã de Aristóteles, Tomás de Aquino e liberais clássicos. Rand descreveu o Objetivismo como “o conceito do homem como um ser heroico, com sua própria felicidade como o propósito moral de sua vida, com a realização produtiva como sua atividade mais nobre e a razão como seu único absoluto“.
Ditko já tinha feito um herói mirando no Objetivismo de Ayn Reid, o incrível Mr. A, para expressar seus valores e filosofia de um mundo preto e branco de leis — literalmente, já que a HQ era preta e branca –, de modo completo e livre de amarras.
A primeira aparição dele foi na revista Witzend #3 (1967). O nome do personagem tem origem na expressão “A é A”, um jeito popular de se referir à Lei da identidade usada em lógica e filosofia, particularmente por Ayn Rand.
A Witzend era uma publicação independente, capitaneada por diversos projetos, e liderada pelo quadrinista Wally Wood, outro dos grandes artistas dos quadrinhos americanos, com passagens na Marvel, DC, EC Comics e muitas outras editoras.
Foi o criador do uniforme vermelho do Demolidor da Marvel (design tão colossal que se mantém até hoje) e deu os peitões para a Poderosa na DC.
Sua Witzend é a precursora dos quadrinhos independentes da cena americana. Era outro encrenqueiro, brigou com as grandes editoras. Era workaholic, fumava e bebia muito.
Foi inventor dos “24 quadros que sempre funcionam”, com ângulos e enquadramentos em um grid de páginas copiado por toda a indústria.
Em 1980 problemas de saúde, o deixam perto da invalidez. Na noite do Dia das Bruxas de 1981, Wallace Wood se matou com um tiro na cabeça.
Quando foi contratado pela Charlton Comics para reviver o Besouro Azul em Blue Beetle#1 (1967), Ditko quis incluir mais ideias próprias na HQ, e pensou um personagem menos radical que o Mr. A.
Assim, Steve criou Questão, mais combatente do crime, que poderia passar pelos filtros do Comics Code Authority, um código de autocensura do mercado que capava criativamente os autores de algo mais pesado, adulto e denso nos quadrinhos.
O personagem estrelou quatro números da revista, e quando a Charlton descontinuou o universo de heróis da empresa, o material que Ditko já tinha escrito e desenhado foi publicado em Mysterious Suspense, em outubro de 1968.
O Questão/Steve Ditko é cruel com vilões e pune o crime onde quer que ele aconteça. Suas ações são guiadas a partir de um ponto de perfeição randiano de objetivo lógico, livre de virtudes e vícios, segundo sua visão.
Ditko tinha acabado de sair da Marvel Comics, que explodia com seu Universo compartilhado, junto com o temperamento do artista, que entrava em conflitos com Stan Lee.
Das páginas de Marvel: A História Secreta, de Sean Howe: “(…) A linha mais séria, ‘Action Heroes’, da Charlton Comics, era lar de Steve Ditko, onde acabou utilizando a plataforma para apresentar o Questão, vigilante de direita liberto do irritante relativismo moral de Stan Lee (…) Steve estava livre para inserir lugares-comums randianos (Ayn Rand) em seus quadrinhos sem a interferência de Goodman ou de Lee (os diretores criativos da Marvel). Uma amostra, das páginas de Mysterious Suspense #1: ‘A maior batalha que a pessoa enfrenta, com constância, é a defesa de seus princípios, suas verdades, contra tudo o que tem de lidar! Nada derrota uma verdade!”.
Questão e a Charton Comics
A editora Charlton Comics foi fundada por John Santangelo, um imigrante italiano do ramo da construção civil, nos anos 1940, nos Estados Unidos.
A empresa ficou famosa no mercado ao publicar histórias em quadrinhos de terror, guerra, policiais, romance e ficção científica, e quando se aventurou pelo gênero colorido dos combatentes fantasiados do crime, os famosos super-heróis, ganhou destaque devido ao talento dos envolvidos nas histórias e arte.
O primeiro super-herói original da Charlton Comics, o Capitão Átomo, surgiu pelo talento de Joe Gill e Steve Ditko, em Space Adventures #33, publicada em março de 1960.
O artista Dick Giordano entrou na Charlton em 1957 como desenhista e roteirista. Em 1966, ele foi alçado ao cargo de editor e encarregado de criar mais revistas do estilo super-herói para a Charlton. Surgia aí a Action Heroes Line (“Linha dos Heróis de Ação”).
Houve resgate de antigos personagens da editora, como Capitão Átomo e Besouro Azul, que haviam sido abandonados em algum momento.
Foi Giordano quem deu as primeiras oportunidades para artistas como John Byrne e Jim Aparo e o roteirista Dennis O’Neil.
Em um editorial da revista do Questão (já na DC Comics), Giordano relembra que pediu para Ditko um herói com roupas casuais para atuar nos níveis das ruas, sem que parecesse um super-herói convencional.
“Eu me envolvi em algumas breves discussões, mas o Questão foi um ‘bebê’ criado por Ditko desde o começo. Eu criei a linha ‘Action Heroes’ para se afastar de qualquer cópia de Marvel ou DC. Exceto o Capitão Átomo, nenhum dos nossos personagens tinha superpoderes”.
A decisão de usar um grid de 9 quadros foi ideia de Dick também.
Mas no fim dos anos 60, contudo, a direção da empresa de John Santangelo iria em linha diferente.
Os títulos de super-heróis da Charlton foram cancelados gradativamente, e a publicação de material licenciado tomou conta das revistas.
Eles produziram quadrinhos com personagens da Hanna-Barbera (Flintstones, Zé Colméia) e do King Features Syndicate (Popeye), além de versões em HQ de várias séries de televisão.
A linha de heróis foi parcialmente recuperada na revista Charlton Bullseye, onde havia histórias de Capitão Átomo, escritas por Roger Stern e feitas por Ditko, com tintas de Johh Byrne, e do Questão, feitas por Alex Toth, um dos mestres dos quadrinhos, verdadeira lenda nos EUA, autor de diversas tiras celebradas e personagens clássicos dos quadrinhos e desenhos animados americanos.
A revista era inspirada nas publicações de fanzine próprias das duas grandes editoras, a Friends of Old Marvel – FOOM e The Amazing World of DC Comics, e foi capitaneada por Bob Layton, desenhista e escritor.
Ela trazia HQs, artigos, pin-ups e entrevistas, mas não passou do número 5.
O Questão
de Denny O’Neil e Denys Cowan
O roteirista Denny O’Neil, depois da Charlton, já era um gigante do mercado.
Nos anos 1970 tinha feito Batman e Arqueiro Verde, em fases reverenciadas por público e crítica, feitas em conjunto com o genial artista Neal Adams (a arte-final foi de Dick Giordano).
Nos anos 1980, foi pra Marvel, onde foi o responsável por títulos como Doutor Estranho e Homem-Aranha — criou a Madame Teia e o Homem-Hídrico –; fez de Jim Rhodes o novo Homem de Ferro e criou a armadura Centurião de Prata; fez o Demolidor, onde criou o Lorde Vento Negro, inventor do processo de revestimento de ossos de adamantium (oi, Wolverine), e sua filha, Yuriko Oyama, que se tornaria a Lady Letal, inimiga do mutante, e muito mais. Denny trabalhou em algumas edições do título com o desenhista David Mazzucchelli.
Na metade dos anos 80, Denny voltou para a DC, onde virou editor dos títulos do Batman. Recebeu também duas ofertas de trabalho de reformulação no pós-Crise nas Infinitas Terras (1985), a saga mãe de todas as megassagas, um reboot criativo e comercial para condensar 50 anos de cronologia e dezenas de mundos paralelos.
O lançamento e relançamento de diversos títulos foi o próximo passo, nas mãos dos maiores artistas da época — John Byrne em Superman, George Pérez em Mulher-Maravilha, Frank Miller em Batman, Mike Grell em Arqueiro Verde, Timothy Truman em Gavião Negro, J.M. DeMatteis e Keith Giffen em Liga da Justiça (com participação do Besouro Azul — a iniciativa também introduziu o line-up de personagens da Charlton na continuidade oficial e única dessa nova DC).
O’Neil poderia escrever a nova revista do Capitão Átomo (co-criado por Steve Ditko na Charlton) ou do Questão na nova casa DC Comics.
Ele preferiu o nível realístico de ação nas ruas, o que permitiu a O’Neil mais liberdade de temas a serem abordados.
Dick Giordano já era um chefão na DC, e ele escolheu pessoalmente Denys Cowan para ilustrar a futura revista, que partiria de onde Steve Ditko o tinha deixado na Charlton.
Mas o Questão/Ditko, pelo Objetivismo, abraça certos temas da direita e conceitos nada cinzentos de escolhas.
A saída para O’Neil foi dar uma morte simbólica à esse legado, ao deixar o super-herói à beira da morte, o que ocasiona uma mudança de personalidade quando ele retoma sua vida e atividades de vigilantismo.
Como o Questão é mostrado já em atividade desde o número #1, isso implica que O’Neil deixa em aberto a possibilidade que as histórias Questão/Charlton pré-Crise ainda valerem de alguma maneira na DC Comics.
Nos primeiros números, em um caso que parecia corriqueiro, o Questão — cuja identidade civil é o repórter investigativo de televisão Vic Sage — se envolve com criminosos ligados à Lady Shiva, uma das mais letais inimigas do Batman, mercenária-mestra em muitas formas de combate, criada por Dennis O’Neil (e Ric Estrada nos desenhos) em Richard Dragon, Kung-Fu Fighter #5 (janeiro de 1976).
Vic apanha até ficar um bagaço, leva um tiro na cabeça (!) e é jogado em um rio. Como que por milagre, ele consegue sobreviver.
A mesma Shiva, com ajuda do Batman, o resgata, e o encaminha no “modo do guerreiro“, já que viu “algo” nele que valia a pena ser salvo.
Assim, Sage aperfeiçoa suas técnicas de luta com Richard Dragon, o maior artista marcial de toda a DC Comics, personagem criado também por O’Neil (arte de Jim Berry) em Richard Dragon, Kung-Fu Fighter #1 (maio de 1975), para aproveitar a onda de filmes de artes marciais que dominavam o cinema na época.
No momento da cronologia, Dragon estava aposentado e confinado a uma cadeira de rodas (!), mas mesmo assim ensina tudo que Vic Sage precisa, até aperfeiçoar seus questionamentos, acalmar seu temperamento, e direcionar sua raiva para uma forma lúdica e agressiva de Zen-Budismo para lutar contra o crime.
Richard Dragon foi criado originalmente por O’Neil e Berry na novela Dragon’s Fists (1974), antes de trazê-lo para o Universo DC.
Zen é o nome japonês da tradição Ch’an, de origens taoistas, e que surgiu na China por volta do século VII.
Geralmente o Zen é atrelado ao budismo do ramo mahayana. A prática básica do Zen japonês é o zazen (literalmente, “meditar sentado”), tipo de meditação contemplativa que visa a levar o praticante à “experiência direta da realidade” através da observação da própria mente.
Com isso, se enfatiza autocontrole rigoroso, a prática da meditação, a percepção da natureza da mente, a natureza das coisas, e a expressão pessoal dessa intuição na vida cotidiana.
Assim, temos um Questão em plena forma física e mental para que O’Neil construa grandes histórias de temática urbana e realística, material muito distante de super-heróis e supervilões de cuecas pra fora da calça.
O Vic Sage de O’Neil tem uma inteligência muito acima da média, e seus dons detetivescos se aproximam do Batman.
A série foi lançada em 1987 (mesmo ano do “semireboot só de começo” do Batman, a premiada Batman Ano Um, de Frank Miller e David Mazzucheli), em um longo run (trabalho) que conta com a arte incrível de Denys Cowan, um dos melhores desenhistas da indústria de quadrinhos de super-herói.
Dono de um traço seco e dinâmico, Cowan é perfeito nas grandes cenas de luta e o realismo sujo das histórias do Questão, muito dela adultas e sombrias, passadas em Hub City, cidade decadente e perigosa, que o escritor descreve como violenta, corrupta e pecadora, talvez bem mais do que a mais popular Gotham City.
Cabe salientar que é uma tradição comum na DC Comics de dar uma cidade de atuação para seus heróis, e Hub City sempre foi onde o Questão atuou.
As capas também era de Cowan, e muitas vezes teve a arte-final de Bill Sienkiewicz, um dos desenhistas mais alternativos dos quadrinhos, em uma pegada artística que casava perfeitamente com o desenho de Cowan.
Com a filosofia oriental que aprendeu e seu trabalho de jornalismo na televisão, Vic Sage cria um método muito particular de combate ao crime, com aventuras que ilustram de modo notável essa tarefa.
O’Neil estabelece que Vic trabalha como repórter na rede de TV KBEL de Hub City. O Questão, diferente de outros super-heróis, mergulha em conflitos com temas como racismo, religião, feminismo, criminalidade, política e mídia.
No número #8 de Questão, um aviso passou a acompanhar todas as edições: “Suggested For Mature Readers“, “Sugerido para leitores mais velhos“, o que mostra que a DC Comics já entendia que o conteúdo dela não era mais para o público convencional infanto-juvenil.
The Saga of Swamp Thing #20, o começo do escritor Alan Moore no Monstro do Pântano, tem data de capa de janeiro de 1984, e foi o primeiro a abordar assuntos densos e complexos mais adultos, mas o personagem Vigilante, de Marv Wolfman, criado na revista dos Novos Titãs, com abordagens sombrias de crime, corrupção, política e conflitos sociais, aparece antes, em publicação própria de novembro de 1983.
No número #39 de Vigilante, março de 1987 (sete meses antes de Questão #8) , já aparece o aviso de “Sugestted mature readers“.
No Monstro do Pântano #31, de dezembro de 1984, foi a primeira vez que a DC publicou outra chamada, “Sophisticated Suspense“, “Suspense sofisticado“.
Vários elementos que Ditko introduziu na Charlton se mantiveram aqui, como a icônica máscara ficar aderente à pele graças a um gás, que é liberado na fivela do cinto de Sage, que não tem um uniforme de super-herói.
Quando não luta com a roupa que veste no momento, ele usa um terno, gravata e um chapéu, que compõe um visual icônico quando sua máscara de não-face está visível.
A origem está no professor e cientista Aristotle Rodor, criador da pseudoderme, o material que é feita a máscara.
O professor o criou junto com o Dr. Twain para servir de pele sobressalente para pessoas feridas e queimadas, mas substâncias tóxicas nos primeiros modelos inviabilizaram o comércio — menos para Twain, que o vendeu para países do terceiro mundo mesmo assim. Sage usou seu trabalho para investigar e denunciar o criminoso, e se reaproximou de Rodor, de quem foi aluno na época da faculdade.
Eles formam uma parceria, e o professor lhe dá a máscara quando começa a combater o crime.
Trata-se de um dos grandes designs das HQs de super-heróis, já que a “não-face” perturbadora reflete os questionamentos que vem junto com ela — “quem é esse cara sem cara?”
Na edição anual The Question Annual #2, Denny O’Neil estabelece retroativamente que o nome original de Vic Sage era Charles Victor Szasz, um órfão problemático criado em uma instituição católica.
Eventualmente ele faz faculdade de jornalismo — foi colega de Lois Lane, por quem era apaixonado, e aluno do professor Rodor –, até decidir virar um combatente do crime.
O nome Charles Victor Szasz para o Questão cria certa confusão na DC Comics, pois é o mesmo nome de Victor Zsasz, um perigoso serial killer, inimigo do Batman.
É no trabalho que Sage desenvolve um interesse romântico, Myra Fermin, que ele já conhecia no período “pré-Morte por Lady Shiva”.
O relacionamento se torna mais complicado quando ela se torna prefeita de Hub City em determinado momento.
A relação com seu professor, Aristotle Rodor, é uma das bases com que Vic tenta manter a sanidade ao conciliar todos esses papéis — a linha divisória em seu vigilantismo com o assassinato de oponentes várias vezes é debatida, ao impedir um mergulho fatal na escuridão.
E a filosofia Zen-Budista e a violência são ganchos ótimos para O’Neil discutir isso mais a fundo. O Questão se mantém principalmente no chão sujo das ruas, e poucos super-heróis coloridos aparecem na revista, com exceção do Batman e Arqueiro Verde/Oliver Queen, que Denny maneja à perfeição para fazer parceria com o herói sem face.
O final de Denny O’Neil para seu Questão é agridoce. Vic Sage abandona Hub City quando ela se torna perigosamente tóxica para suas atividades de vigilante, já que começou a desenvolver um grande desejo de matar.
Até Richard Dragon e Shiva aparecem para alertá-lo do perigo, de que ele irá morrer se ficar na cidade. Mas Sage não consegue convencer Myra a ir com ele, já que ela se sente responsável pelas crianças de Hub City, e prefere ficar quando tudo desmoronar.
O material de Denny O’Neil e Denys Cowan durou 36 edições, é dos melhores do mercado, um grande representante de obras-primas que a DC já produziu no gênero. A última edição saiu em abril de 1990. Durante todo esse tempo, Vic Sage enfrentou poucos vilões fantasiados.
Com efeito, os únicos que interagiu: Batman, que estava desde o começo de seu caminho de redescoberta (quando o ajudou a sair quase morto do rio) e do Arqueiro Verde, com quem construiu uma duradoura parceria, ainda que os dois poucos tenham em comum quanto a pensamentos e modo de agir.
A DC Comics tem seis coletâneas lançadas do Questão de Denny O’Neil e Denys Cowan na DC Comics:
The Question vol. 1: Zen and Violence (The Question #1–6)
The Question vol. 2: Poisoned Ground (Question #7–12)
The Question vol. 3: Epitaph for a Hero (The Question #13–18)
The Question vol. 4: Welcome to Oz (The Question #19–24)
The Question vol. 5: Riddles (The Question #25–30)
The Question vol. 6: Peacemaker (The Question #31–36)
Quanto ao material original de Steve Ditko com o Questão na Charlton Comics, a DC Comics publicou uma coletânea de 384 páginas das HQs da Charlton Comics: Action Heroes Archives, Volume 2 (DC Archives Edition).
Além das aparições regulares em sua revista própria, o Questão também fazia participações especiais em títulos de heróis que fazia parceria, como o Arqueiro Verde.
Ainda em 1990, após o fim do título regular, Dennis O’Neil e Denys Cowan retornaram para mais 5 edições, em The Question Quarterly, onde Vic Sage está vivendo no Brasil (!), em um fim do mundo nas florestas amazônicas, onde seus dramas existenciais e de questões ainda não lhe dão descanso.
Ainda mais quando ele é forçado a retomar sua não-face e ajudar pessoas que precisam de seu auxílio.
Questão
de Arte de Denys Cowan
Denys Cowan, além de ótimo desenhista, é muito importante no mundo dos quadrinhos por conta do seu trabalho diversificado em outras mídias, e por ser um dos grandes representantes do poder criativo negro num mercado que é dominado por gente branca.
O primeiro gibi que ele viu na vida foi uma edição de The New Gods, a revista dos Novos Deuses de Jack Kirby, dada pelo artista Derek Dingle, que ele conhecia por morar na vizinhança, em Nova York.
Já garoto estudava na High School of Art and Design, em Nova York, e alguém lhe arrumou um encontro com Rich Buckler, o artista que criou para a Marvel o Deathlok, um Robocop negro zumbi sem nariz que é um dos melhores trabalhos da editora (e que merece ser melhor reverenciado). Rich gostou da arte de Cowan, que tinha apenas 14 anos de idade na época.
Ele limpava o estúdio, buscava referências, apagava e reforçava traços, e seu pagamento era discos de música, o que ajudou a sedimentar o gosto de Denys por música também.
Seu primeiro trabalho nos quadrinhos foi em Weird War Tales #93 (novembro de 1980), revista de guerra e terror para a DC Comics, onde fez diversos outros títulos, como o Vigilante e DC Challenge, até ser escolhido em 1986 para o Questão, onde faria história.
A excelência do traço, a composição criativa, as cenas de luta e capas lhe garantiram duas indicações ao Eisner — o “Oscar” dos quadrinhos americanos — como Melhor Equipe de Arte (junto com seu arte-finalista Rick Magyar).
Em 1988, eles foram nomeados, mas perderam para Steve Rude, Willie Blyberg e Ken Steacy, por Space Ghost Special, personagem do desenho animado da Hanna-Barbera, da editora Comico (injusto: os únicos que poderiam ganhar de Denys e Rick seriam Kevin Maguire e Al Gordon, por Justice League International #1).
Em 1989, concorreram novamente, mas quem levou foram Alan Davis e Paul Neary, por Excalibur, um dos x-títulos derivados dos X-Men da Marvel (injusto de novo: os únicos com chances de ganhar de Cowan e Magyar seriam John Romita Jr. e Al Williamson, pelo Demolidor, em grande fase com Ann Nocenti, mais uma grande roteirista de temática urbana).
Cowan também fez uma história clássica do Batman em Detective Comics #598–600, de 1989: Blind Justice, onde co-criou com o roteirista Sam Hamm o personagem Henri Ducard, um dos vários professores que Bruce Wayne teve nas artes de guerra e lutas para se tornar o Batman.
O lore de Ducard foi a base criada para o mix dos personagens de Liam Neeson e Ken Watanabe na trilogia do Batman de Christopher Nolan.
Nos anos 1990, Denys Cowan foi para a Marvel, onde trabalhou no título de Deathlok, escrito por Dwayne McDuffie e Gregory Wright. Um ano depois, Cowan e McDuffie, grande escritor, também negro, fizeram uma HQ do cantor Prince.
Em 1993, Cowan se junta a Dwayne McDuffie, Michael Davis e Derek Dingle e criam a Milestone Media, que publicou uma série de HQs de super-heróis negros, onde temas como racismo e violência social eram abordados de forma inédita.
Static Shock, revista de um jovem com poderes elétricos, se tornou um sucesso gigantesco.
A capa do disco Liquid Swords (1997) do GZA, integrante do Wu-Tang Clan, um dos maiores grupos de hip-hop dos Estados Unidos.
A DC Comics fez uma parceria com a Milestone, e uma saga juntando os heróis das duas casas foi publicada, Quando Mundos Colidem (1994).
Com efeito, Dwayne McDuffie também trabalhava com animação, e Static Shock se tornou um desenho animado bastante popular, conhecido no Brasil como Super Choque.
O sucesso era tão grande que ele foi integrado ao universo do desenho animado da DC, e o Super Choque apareceu em episódios da Liga da Justiça e Liga da Justiça Internacional, onde McDuffie era o escritor de muitos deles, incluindo onde o Questão descobre a maior conspiração da série.
Cowan fez a arte de Steel, a revista do Aço, identidade heroica de John Henry Irons, um dos “herdeiros” do Superman após sua “morte”, um dos grandes eventos da DC Comics, e o Questão apareceu em alguns números da revista.
Cowan também enveredou por esse caminhos, responsável pela criação e desenvolvimento de animações, em diversos trabalhos da BET e Motown Animation and Filmworks para empresas como Fox, ABC, Disney e Nickelodeon.
Cowan ainda faz diversos trabalhos para a DC e Marvel, se mantendo atuante no mercado.
O “Questão”
em Watchmen de Alan Moore
O Questão tem diversas passagens importantes em outras obras-primas da DC Comics, inclusive — de certa maneira — no quadrinho que é considerado Top 1 de melhores de todos os tempos: Watchmen, lançada um ano antes do Questão de Denny O’Neil e Denys Cowan.
Watchmen é bíblia da desconstrução do mito, e ainda reverbera na indústria, por mais que ela signifique um bloqueio criativo mental em todos os escritores que dela bebem e emulam até hoje, sem nem chegar perto de sua qualidade e sofisticação.
Os planos originais do escritor Alan Moore, desde 1982 na DC Comics, em diversos trabalhos de excelência, como Monstro do Pântano e histórias soltas com outros personagens, como o já citado Vigilante (um “Justiceiro/Marvel Comics” bem mais trabalhado na DC), eram de construir uma história ambiciosa.
Quando Moore teve a primeira ideia para Watchmen, no entanto, os personagens que ele gostaria de usar eram de outra editora morta, a Archie/MLJ, dona do The Shield (o primeiro herói estilo Capitão América, criado bem antes de Steve Rogers), Hangman e outros.
Há até mesmo uma referência direta de Hangman em Watchmen, com o personagem Justiceiro Encapuzado.
Outra ideia de Moore era usar uma premissa com a pergunta “Quem Matou o Pacificador?“ em uma trama que usasse os recém-chegados da Charlton.
Mas isso esbarrou no escopo de sua proposta, que mataria e modificaria os personagens de maneira implacável e drástica. Dick Giordano, agora um chefão na DC Comics, não quis que os personagens dos quais era fã e tinha apego fossem drasticamente — e dramaticamente — usados na obra que viria.
A solução foi direcionar Alan e o desenhista Dave Gibbons para criarem novos personagens, análogos aos que iriam trabalhar originalmente.
Assim, em vez de ter o Questão da Charton em seu Watchmen, ou mesmo um novo pela DC Comics, Moore e Gibbons criaram o Rorschach, um vigilante muito mais psicótico e perturbado do que Vic Sage jamais chegaria como Questão.
De qualquer maneira, se temos a obra-prima dos quadrinhos de super-heróis, e uma das melhores HQs de todos os tempos, é por conta da decisão de proibir o uso do Questão na HQ, o que também nos leva a pensar que perdeu-se também de ter o Questão na maior história do gênero na indústria.
A série de Watchmen saiu em 1986 e se estendeu até em 1987, em 12 edições. Desconstrutora do gênero, a história traz influências de contracultura, história real, geopolítica e violência.
Conta com formas narrativas que ainda hoje são exploradas e discutidas. Venceu vários prêmios de quadrinhos, além de ser a única HQ a receber um Hugo Awards, o maior prêmio de literatura do mundo.
Em Questão #17, de junho de 1987, tivemos a primeira “aparição” de Watchmen no universo regular da DC, mais de 30 anos antes de Doomsday Clock.
O’Neil e Cowan mostram Vic Sage em uma viagem de avião rotineira, lendo uma revista do Watchmen (!).
De início, Sage acha a trama com Rorschach boa, mas depois que sonha e tenta copiar um pouco do estilo brutal do personagem, concluí quando acorda que ele é uma merda — “Rorschach sucks“. O nome da história dessa edição: “A Dream of Rorscharch“.
Questão e Dick Giordano
A desculpa dada por Giordano foi que os heróis da Charlton seriam usados em outras revistas. Mas nunca foram.
E foi-se embora a oportunidade perfeita de eternizar os heróis da Charlton no topo dos quadrinhos mundiais.
Giordano afirmou em entrevistas que a decisão de vetar os personagens era um de seus maiores arrependimentos, haja vista a importância que Watchmen ganhou — Giordano foi o editor dela inclusive.
Ao assumir a cadeira de edição da DC Comics em 1968, Dick Giordano trouxe parte dos artistas da Charton.
Entre eles, Jim Aparo, o desenhista do Fantasma, e ninguém menos do que Denny O´Neil, que faria história na editora em títulos como Batman e Arqueiro Verde, antes de fazer o Questão. Dick instituiu novas linhas para publicações cansadas, como Batman, Aquaman e Blackhawk (conhecido no Brasil como Falcão Negro) e deu sinal verde para que Steve Ditko criasse o Rastejante e Rapina & Columba.
No começo dos anos 80, tornou-se o editor de todas as revistas do Batman. Em 1983, era vice-presidente e editor executivo da DC, quando foi responsável por toda o renascimento editorial, artístico e comercial da editora na época.
É muito por conta dele que os heróis da Charlton apareceram na saga Crise Nas Infinitas Terras. Após Crise, vários dos heróis foram aproveitados em títulos solos e chegaram até mesmo a revistas de primeira linha, como Liga da Justiça (casos do Capitão Átomo, Besouro Azul) e Esquadrão Suicida (a já citada Sombra da Noite).
Dick esperava usar os heróis Charlton em uma revista chamada Comics Cavalcade Weekly, uma revista semanal de HQ, que nunca foi feita. A imagem abaixo é uma arte de Dave Gibbons, o artista de Watchmen, criada e nunca usada para a revista dos sonhos de Giordano.
Questão
anos 1990
A próxima aparição do Questão foi na revista The Brave and the Bold, em dezembro de 1991, em 6 edições especiais — o título é um dos mais célebres da DC, local de nascimento da Liga da Justiça, Esquadrão Suicida (o original pós-Segunda Guerra Mundial) e o Nêmesis (um dos personagens DC favoritos aqui do Destrutor).
Os escritores Mike Baron e Mike Grell — este responsável pela sensacional arte — construíram uma história conjunta do Questão com o Arqueiro Verde, herói que foi reformulado brilhantemente por Grell, assim como o Questão de O’Neil. Outro desenhista também atuou foi Shea Anton Pensa.
A série foi até junho de 1992. Esse foi o ano de estreia de um dos melhores desenhos animados de super-herói de todos os tempos, Batman – A Série Animada, dona de um estilo de design art-déco e noir que definiu a estética urbana sombria de maneira inigualável até hoje.
Nunca o crime em Gotham City foi tão sujo e escuro como nessa série, idealizada por Paul Dini e o artista e animador Bruce Timm.
Em Doom Patrol #42 (1991), revista da Patrulha do Destino, o escritor escocês Grant Morrison criou um personagem chamado The Fact, claramente inspirado no Questão, que retornou na minissérie Flex Mentallo (1996), também escrita por ele.
Ainda em 1996, Dennis O’Neil retomou o personagem em uma edição especial chamada The Question Returns, com arte do uruguaio Eduardo Barreto, outro grande artista do urbano realístico dos quadrinhos — fez uma série do Sombra para a DC, durante a época do Questão/O’Neil/Cowan.
Em 1997, a série animada do Batman ainda era popular, tanto que a DC Comics produziu uma série de quadrinhos da série animada, e até derivados, como a revista Adventures in the DC Universe.
No número #8, o escritor Steve Vance e o desenhista John Delaney mostraram uma aventura com o Gladiador Dourado e o Besouro Azul, dois grandes amigos e parceiros desde Liga da Justiça Internacional (1987), o melhor mood cômico das HQs de super-heróis.
E o Questão estrelou uma história secundária, Two B’s or Not 2 B’s…that is the Question.
Em 1998, Questão foi referenciado nesse desenho animado do Batman, no penúltimo episódio de The New Batman Adventures, a terceira e última temporada da série.
No episódio Beware the Creeper (03×22, o 108 do total), temos a primeira aparição de Jack Ryder, o Rastejante (Creeper), já citado personagem criado por Steve Ditko.
Há muitas similaridades entre os dois: identidade secreta de vigilante com uma aparência perturbadora, jornalistas de televisão e temática urbana e suja das ruas e crimes cometidos por seres humanos comuns.
O episódio foi escrito por Steve Gerber, grande roteirista de quadrinhos da Marvel nos anos 1970, criador do Howard, o Pato.
Vemos Jack Ryder usando uma roupa que lembra o Questão em determinado momento, e o nome da loja onde ele a pegou é Ditko’s Vintage Clothing, homenagem clara ao Steve Ditko, criador dos dois personagens.
Giordano tanto se arrependeu de não ter botado os personagens da Charlton em Watchmen, que acabou criando uma minissérie em seis partes chamada The L.A.W. (Living Assault Weapons), lançada em 1999.
Seu amigo de longa data na Charlton, Bob Layton, desenhou a derradeira obra dos heróis, uma aventura com o Questão, Besouro Azul, Pacificador, Sombra da Noite, Mestre Judoca e até o Sargento Steel — personagem do mundo da espionagem, atrelado na DC ao mundo escuso dos departamentos governamentais que ficam de olho nos superseres, como o Esquadrão Suicida.
Também em 2000, o escritor Greg Rucka (outro grande talento para o tema urbano em super-heróis) e o artista Rick Burchett fizeram a minissérie Batman/Huntress: Cry for Blood, em 6 edições.
Aqui, a vigilante Caçadora (Huntress) se vê em meio a uma trama de vingança e assassinato que a coloca em rota de colisão com o Batman.
E Vic Sage será de importância fundamental para que ela encontre seu caminho correto na atividade de vigilante.
Uma tensão sexual entre os dois é dada início nesta minissérie, nunca resolvida. Sage atua até mesmo mentor da moça, mandando ela para treinar sua raiva — e técnicas de luta — com Richard Dragon também.
A minissérie de Rucka é excelente e trabalha muito bem com Vic e Helena, a identidade civil da Caçadora. Ela era a filha do Batman/Bruce Wayne e Mulher-Gato/Seline Kyle da Terra-2, antes de Crise nas Infinitas Terras.
No pós-Crise, Helena Wayne se tornou Helena Bertinelli, herdeira de uma família mafiosa de Gotham City.
Ela teve uma minissérie de introdução em 1989, The Huntress, pelo escritor Joey Cavalieri e o desenhista Joe Staton, mas foi Greg Rucka quem lapidou melhor a personagem aqui.
Frank Miller e
Liga da Justiça Sem Limites
Junto com Watchmen, a minissérie em 4 edições de Batman: O Cavaleiro das Trevas (1986), de Frank Miller, é o páreo de Top 1 de melhores de quadrinhos de super-heróis de todos os tempos — e dependendo do dia e do humor de quem faz esse tipo de lista, uma ou outra ficam em primeiro.
Mostrando um futuro sombrio para Gotham City e um Bruce Wayne de 55 anos retomando o manto do Morcego, Miller mostrou e referenciou alguns personagens do Universo DC.
Mas não o Questão.
Em uma polêmica, confusa, provocativa e esquizofrênica continuação, Frank Miller criou Batman: The Dark Knight Strikes Again (2001-2002), aqui chamada simplesmente de Batman – O Cavaleiro das Trevas 2.
E Miller inseriu Vic Sage como um Questão liberal, tecnófobo e conspiratório anti-governo, acentuando pontos antes abordados por Steve Ditko (e mesmo Alan Moore com seu análogo Rorschach).
Ele é um contraponto para o Arqueiro Verde, mostrado como um liberal progressista, personagem que já tinha aparecido na obra de 1986.
Na televisão, o Questão foi personagem central da melhor saga do melhor desenho animado já produzido de super-heróis nesta mídia: a Liga da Justiça Sem Limites, de 2004, produto herdeiro direto da série animada do Batman, ainda com Paul Dini e Bruce Timm no comando.
Com voz de Jeffrey Combs, ele é o herói central da perigosa trama envolvendo o Projeto Cadmus, um programa governamental secreto dos Estados Unidos para se contrapor em poder à Liga da Justiça.
Chefiado por Amanda Waller, que comanda a Força Tarefa X (o uso do nome Esquadrão Suicida foi vetado por se tratar de produto infantil, mas ela chega a usar “esquadrão” em uma fala), o Cadmus se arma para proteger a população americana de uma eventual inclinação maligna dos heróis.
Quando o Questão descobre que o Cadmus já clonou a Supermoça, que a realidade paralela dos Lordes da Justiça (heróis da Liga de outro mundo que piraram e viraram ditadores quando um Lex Luthor Presidente dos EUA mata o Flash) na verdade pode ser o futuro, e que o “nosso” Lex Luthor está ajudando com planos, maquinações e equipamentos o Cadmus, ele é sequestrado e torturado, em cenas que nada tem de infantis.
Ele é protagonista dos episódios que referenciam a maior parte da saga: Fearful Symmetry (o início da Saga do Cadmus), Question Authority, Double Date e Grudge Match, e faz aparições em Flashpoint, Panic in the Sky e Destroyer, o último episódio e grande final de Liga da Justiça Sem Limites.
Question Authority foi escrito por Dwayne McDuffie, o parceiro de Denys Cowan na Milestone e outras HQs, bem como a maior parte dos episódios que formam a Saga do Cadmus.
Todas as camadas políticas do Questão estão atenuadas aqui, e ele é muito mais um paranoico de teorias da conspiração do que qualquer outra coisa, um mood que funciona surpreendentemente bem para a série como um todo.
Ele é visto como esquisito pelos outros heróis, que pouco fazem para se aproximar dele. A tensão sexual do Questão com a Caçadora é bem resolvida aqui também, e os dois são um casal de fato, em situações e diálogos bem picantes.
A despeito de ser um seriado infantil, na verdade Liga da Justiça Sem Limites apresentava situações adultas e bem complexas.
Mais que isso, há acenos dos produtores ao mood Ditko do personagem. Quando ele decide se antecipar a um futuro assassinato de Luthor pelas mãos do Superman, o que desencadearia o apocalipse na Terra, Vic diz para o vilão: “Everything that exists has a specific nature, each entity exists as something in particular and has characteristics that are part of what it is. “A” is “A”. And no matter what reality he calls home, ‘Luthor’ is ‘Luthor’. If I’m to save the world, your existence must come to an end, before you take office”.
Trata-se de uma das mais ferrenhas e sombrias declarações do herói, prestes a matar (!) Lex. O desfecho descamba para uma das melhores tramas do seriado.
O sucesso da Liga da Justiça Sem Limites fez a DC publicar uma série de quadrinhos do desenho animado, Justice League Unlimited (2004-2008), que teve 46 edições. E o Questão aparece nas edições #8 (2005), #20 (2006), #31 e #36 (ambas de 2007).
Questão Xamã
No mundo dos quadrinhos, enquanto o Questão da Liga da Justiça Sem Limites fazia sucesso, a DC Comics decidiu dar uma mexida com o personagem, na minissérie The Question (2005), 6 edições escritas por Rick Veitch, antigo artista do Monstro do Pântano de Alan Moore, e que se aventurou pelos roteiros depois.
Ele criou com o desenhista Tommy Lee Edwards um Vic Sage com novas habilidades, como uma ligação xamânica com cidades (!), um teor alucinógeno no gás que adere/destaca a máscara (!!), uma capacidade de “andar em dois mundos” (!!!) e uma autoconsciência de matar os inimigos (!?).
Ele deixa Hub City, vai pra Chicago, e termina em Metrópolis, onde, claro, se encontra com o Superman, o qual consegue convencer a se drogar (!?!) para se salvar de um plano de Lex Luthor.
No final, Sage também acha uma boa ideia dizer para o Superman sobre seu crush com Lois Lane. É, pois é.
Veitch ficou famoso por assumir os roteiros do Monstro do Pântano depois da fase de Alan Moore, e saiu da DC quando uma história sua foi vetada: o Monstro na época estava “passeando” por mundos e tempos passados, e ele queria mostrar o personagem junto com Jesus Cristo (!), sendo parte da própria cruz onde o Rei dos Judeus estava crucificado. A editora nunca publicou a HQ.
52:
a Questão de
Renne Montoya
Em 2006, os escritores Grant Morrisson, Geoff Johns, Greg Rucka e Mark Waid, e vários artistas, como Keith Giffen e o brasileiro Joe Bennet, fizeram um dos mais ambiciosos e interessantes projetos da DC Comics, a minissérie 52, que mostrava o que aconteceu em seu universo após a saga Crise Infinita (2006), em 52 números semanais, o que deu um ano de publicação (já que 1 ano = 52 semanas). Foi de maio de 2006 a maio de 2007.
No tempo cronológico do universo DC e no nosso, a saga 52 conta o que aconteceu no primeiro ano após os eventos dramáticos de Crise Infinita.
Durante todo esse tempo, Gotham City ficou sem a proteção do Batman. E Vic Sage parte para lá para ser o novo protetor da cidade.
E aqui teremos a queda de Vic Sage, sua última questão com resposta, já que anos de cigarro cobraram seu preço: câncer.
E a detetive Renne Montoya está no centro de tudo isso. Ela é uma antiga policial de Gotham City por anos, criada para a série animada do Batman em 1992, e trazida para os quadrinhos no mesmo ano em Batman #475, do escritor Alan Grant e desenhos de Norm Breyfogle. Por anos foi coadjuvante das bat-histórias.
Em 2003-2006, foi uma das estrelas de Gotham Central (no Brasil, Gotham City Contra o Crime), série idealizada e escrita por Ed Brubaker e Greg Rucka, com arte de Michael Lark e Kano, sobre o cotidiano dos policiais de Gotham City, em abordagens humanas e realísticas de seres humanos comuns, agentes da lei, numa cidade cheia de malucos e psicopatas superpoderosos com um vigilante vestido de morcego agindo à margem da lei.
Greg Rucka (o mesmo de Batman/Huntress: Cry for Blood) foca em 52 uma Renee Montoya com seus próprios demônios a enfrentar, como vício em álcool e cigarros, e péssimo temperamento em suas relações íntimas e sociais.
Vic Sage se aproxima dela — tal qual foi com a Caçadora — para instruí-la no caminho da redenção e do guerreiro, assim como Shiva fez com ele, em uma longa jornada de autodescoberta para Renee, o que incluiu também treinamentos com Richard Dragon.
O final de Vic Sage é épico e triste, com uma Montoya desesperada para salvar seu “mentor” em Nanda Parbat, um dos lugares mais misteriosos e místicos da DC, em busca da cura de seu câncer, mas ela não consegue.
E assim, Vic Sage morre e passa o manto da máscara sem face para Renee Montoya. A personagem se torna uma pessoa melhor, combate a organização criminosa que segue a Bíblia do Crime, a Intergangue, se aproxima de Kate Kane, a Batwoman — as duas são lésbicas, questões bem posicionada pelos autores –, e se torna uma das mais importantes heroínas da DC na época, mesmo sem estrelar em título próprio.
O fim de 52 também mostra que 52 novas Terras paralelas à principal foi criada, retomando conceitos de Crise nas Infinitas Terras.
Grant Morrison inclui a Terra-4, com personagens parecidos com os da Charlton, mas ela não é a mesma Terra-4 pré-Crise, onde a DC os acomodou quando comprou a editora Charlton.
O Questão/Vic Sage também aparece em versões alternativas de outras dessas 52 Terras — na Terra-9, por exemplo, ele é o nome de um sistema de vigilância global (!).
Outro desenho animado que o Questão/Vic Sage apareceu foi na série Batman: The Brave and the Bold, dessa vez na voz de Nicholas Guest.
O seriado promovia encontros inusitados de personagens de lore diferente do Universo DC, em um visual bem mais cartoon e infantil do que na Liga da Justiça Sem Limites. No episódio Mystery in Space (01×14, 2008), ele e Gorilla Grodd, gorilão inimigo do Flash, são capturados pelo Equinox e são resgatados pelo Batman.
Em Mayhem of the Music Meister! (01×25) e The Knights of Tomorrow! (01×26), de 2010, o Questão e Batman vão para Apokolips, descobrir os planos que Darkseid tem feito para a Terra.
O Questão aparentemente comete suicídio (!) nesse episódio, mas em Darkseid Descending! (02×24, 2010) descobrimos que ele estava disfarçado de parademônio e estava bem. O vigilante sem face ainda fez participações especiais em Mitefall! (03×13, 2010).
Greg Rucka, o maior responsável pela Questão/Renee Montoya em 52, retoma a personagem nas edições de Detective Comics, do #854 (2009) ao #864 (2010).
A arte é de Cully Hamner, e a Questão Renee atua junto com a Caçadora. Vinte anos depois do encerramento do Questão de Denny O’Neil e Denys Cowan, em março de 2010, saiu a edição seguinte, #37, uma publicação especial, parte da saga A Noite Mais Densa (Blackest Night), criada por Geoff Johns, que promovia uma reformulação muito inventiva com a mitologia dos Lanternas Verdes, quando mortos ressuscitavam no Universo DC.
Nesta época, Vic Sage estava morto, e retorna como um perigoso Lanterna Negro. Montoya como a nova Questão, Shiva e Rodor têm que enfrentar esse Sage demoníaco, e só conseguem sobreviver quando suprimem suas emoções para torná-los invisíveis para a criatura.
No fim, o Lanterna Negro/Questão/Vic Sage é derrotado, e seu corpo é novamente enterrado en Nanda Parbat por Montoya e o Lanterna Azul Saint Walker. O roteiro é de Denny O’Neil e a arte de Denys Cowan, como nos velhos tempos.
O escritor Grant Morrison fez a saga Crise Final entre 2008 e 2009, em mais um tropo usando a clássica crise cósmica que o Universo DC sempre passa. Entre os vários acontecimentos, Montoya acaba recrutada para a Agência Global da Paz, uma organização secreta que se revela com escopo multiversal na trama.
Reboots:
questão de continuidade
As edições de Detective Comics de Rucka com a Questão/Renee Montoya foram compiladas em The Question: Pipeline, em 12 edições, lançados em 2011.
Foi a última aparição dos conceitos pós-Crise nas Infinitas Terras com o Questão Vic Sage e Renee Montoya na DC Comics.
Pois pouco depois, em setembro de 2011, a DC decidiu jogar fora 80 anos de cronologia, inclusive o material pós-Crise nas Infinitas Terras, no maior reboot já feito em sua história, com resultados desastrosos para a maioria de seus personagens.
Os Novos 52 estabeleceu novas identidades, lore e títulos para a imensa galeria de heróis e vilões e conceitos da DC. Infelizmente, o Questão/Vic Sage seria uma das maiores vítimas das novas direções criativas.
Diferente dos bons exemplos de reboots pós-Crise nas Infinitas Terras feitos no Superman de John Byrne e Mulher-Maravilha de George Perez, a DC cometeu muito mais erros do que acertos — Batman e Lanterna Verde mantiveram status estabelecidos anteriormente, mas muitos outros foram impactados de maneira terrível.
O pobre Flash/Wally West simplesmente sumiu, por exemplo. Mesmo quando Novos 52 acertava, errava: o novo Arqueiro Verde/Novos 52, de Jeff Lemire e Andrea Sorrentino, era muito legal, mas transformou Richard Dragon num vilão (!).
O Questão/Vic Sage agora é uma homem/entidade cósmica abstrata (!?!), que junto com Pandora e Judas Scariotes (sim, o traidor de Jesus Cristo), formam a Trindade responsável pela criação dessa nova realidade Novos 52 — é, pois é.
Na verdade, a identidade desse Questão é apresentada como “desconhecida”, ele é teleportado do nada de algum lugar do espaço e tempo, por crimes contra a humanidade, para se julgado em um nexo temporal junto com Pandora e Judas (que agora é a real identidade do Vingador Fantasma, um personagem místico que a DC nunca revelava quem de fato era).
Sete feiticeiros que controlam a magia na Terra aplicam uma punição no Questão, apagando sua face, o tornando mudo e cego, e o deixando perdido no mundo do século XXI por seus crimes.
Esse arremedo de versão do Questão/Vic Sage apareceu em New 52: FCBD Special Edition (2012), e foi criado por Geoff Johns.
Questão e o Esquadrão Suicida
A segunda tentativa da DC Comics em emplacar um novo Questão foi torná-lo líder do Esquadrão Suicida (2014), o segundo título da equipe nos Novos 52, ignorando por completo o que foi estabelecido antes como entidade cósmica.
Apesar da pegada pé no chão e urbana das aventuras de Vic Sage, ele nunca teve contato com a Força Tarefa X no pós-Crise, o órgão governamental que cuida do Esquadrão, mas a DC achou por bem agora no Novos 52 atrelar o personagem à equipe.
O escritor Sean Ryan foi o responsável por esse Esquadrão Suicida, com desenhos de Jeremy Roberts.
Até o número #16, Vic Sage é o líder do grupo. Ele é um agente secreto do governo, sem identidade heroica ou máscara de não-face, e trava conflitos por comando com Amanda Waller, que aqui em vez de uma burocrata gorda implacável como sempre foi no pós-Crise — um mood inédito e poderoso em meio a quadrinhos onde mulheres são hipersexualizadas — é uma agenta secreta gostosona.
Essa versão de Vic Sage é amoral e corrupta, e enxerga o Esquadrão Suicida apenas como ferramenta burocrática.
Ele força os vilões até os limites de suas forças, os tortura psicológica e fisicamente, e chega a assassinar uma assistente de Waller para encobrir crimes que cometeu na liderança do Esquadrão, grupo que ele inclusive tentou matar (todo mundo) mais de uma vez.
Dando mostra contínua da total falta de coerência narrativa e editorial da DC Comics, o Questão/Vic Sage/Entidade retorna em Trinity of Sin (2015), minissérie em 6 edições, escrita por J.M. DeMatteis e desenhada por Yvel Guichet.
Há participações de trocentos heróis, da(s) Liga da Justiça, Lex Luthor, Darkseid, Pandora e outros vilões, e na saga descobrimos um pouco mais dessa entidade, que se tiver a memória restaurada, pode representar uma ameaça ao Universo DC (!).
Ele nunca mais apareceu nos quadrinhos da DC, e nem o Vic Sage do Esquadrão Suicida.
Questão no “Watchmen” de Grant Morrison
Com mais uma reformulação criativa planejada pela DC, já que os Novos 52 foi um fracasso, em 2014 a editora publicou a saga Multiversity.
A saga foi escrita por Grant Morrison, que já tinha tentado um reboot na DC com Crise Final (2008), antes do Novos 52. Mas claro que Multiversity também não resolveu nada.
É sabido no meio especializado em quadrinhos que Grant Morrison e Alan Moore tem uma certa rivalidade criativa, com os dois pouco fazendo para esclarecer quem começou a briga e suas razões — apesar de Grant ser muito mais birrento com isso do que Alan, que pouco dá importância para qualquer coisa inócua como isso.
Por isso, não foi surpresa quando Morrison criou com o desenhista Frank Quitely a edição especial The Multiversity: Pax Americana #1 (2015), o seu “próprio Watchmen”, ao mostrar uma trama não-linear de assassinato com personagens da Charlton Comics da Terra-4 mostrada no final da saga semanal 52: um Questão/Vic Sage, um Pacificador, uma Sombra da Noite, até seu Capitão Átomo, Allen Adam — bem mais poderoso que o original, e visto em Crise Final.
Este Questão da Terra-4 da DC Comics mistura elementos do Mr. A de Steve Ditko e o Rorschach de Alan Moore, e ainda mantém a parceria do vigilante com o herói Besouro Azul, presente na Charlton Comics e ausente em todo o lore do Questão e Besouro desde que eles entraram na DC Comics.
Grant Morrison escreveu em seu livro Superdeuses (2012), a respeito da obra de Watchmen:
“O ‘Vigilante nos muros da civilização ocidental’: foi assim que a romancista Lathy Acker descreveu, generosamente e com certa hipérbole, Alan Moore. Watchmen tinha suas raízes no amor de Moore pelas vastas, intrincadas e autorreflexivas ficções de Thomas Pynchon e os filmes de superestrutura complexa de Nicolas Roeg, como Inverno de Sangue em Veneza. Tinha também muito em comum com a obra de Peter Greenaway, relembrando universos codificados e perfeccionistas do diretor britânico com quabra-cabeças, truques, arquitetura e simetria. Com Watchmen, Moore impôs um devastador ‘siga por aqui’ aos quadrinhos de super-herói americanos. Com seu talento clínico e sua análise fria da política externa interesseira dos Estados Unidos à guisa de uma história alternativa com super-humanos e combatentes do crime mascarados, ela foi lançada no coração da DC Comics e se permitiu detonar lá, no cerne do Sistema. Watchmen foi um acontecimento de dimensões apocalípticas da pop art, um assassino de dinossauros e devastador de mundos. Quando acabou — e suas reverberações ainda se sentem –, a lição que deixou para as histórias de super-heróis foi só uma: evoluam ou morram.”
Pra variar, mesmo com Multiversity ainda em campo, uma nova saga de preparação para outro reboot estava na mira da DC.
A saga Convergência fez uma verdadeira salada mista com todas as realidades e universo alternativos da editora, deixando tudo mais confuso e caótico, sem coerência canônica e narrativa nenhuma.
Mas que abriu possibilidades de retomadas editoriais. Neste contexto, Renne Montoya ressurge no Universo DC, e junto com a Caçadora e a Batwoman, enfrentam o Duas-Caras, clássico vilão do Batman.
O título foi Convergence The Question (2015), em 2 edições escritas por Greg Rucka e desenhada por Cully Hamner. Também podemos ver uma versão do Capitão Átomo e do Questão, com seus designs da Charlton Comics, na revista Convergence Blue Beetle, escrita por Scott Lobdell e desenhada por Yishan Li.
Questão em live-action?
Nesta mesma época, as séries live-action do canal de TV CW com os heróis da DC faziam algumas referências ao Questão — na verdade, à cidade dele, Hub City.
No episódio Unchained de Arrow (04×12, 2016), o seriado do Arqueiro Verde, Roy Harper — o antigo ajudante mirim (tipo Robin) do Arqueiro Verde nos quadrinhos — menciona que viveu em Hub City.
Ela aparece de novo em Genesis (04×20, 2016), onde Oliver Queen e Felicity Smoak viajam de fato para a cidade, para encontrar o imortal Esrin Fortuna, a pedido de John Constantine, para ajudar contra o vilão Damien Darhk.
Hub City é mencionada também em Who Are You (05×10, 2017) e Second Chances (05×11, 2017).
Em Legends of Tomorrow — série que reúne vários personagens de Arrow, Flash e Supergirl –, o episódio Left Behind (05×09, 2016) mostra que Ray Palmer e Kendra Saunders moraram em Hub City quando estavam perdidos no tempo
Segundo um dos responsáveis da série, Marc Guggenheim (que também é roteirista de quadrinhos), havia uma chance real de Questão/Vic Sage aparecer, mas a DC vetou o uso, pois tinha planos para os personagens.
Olhando o retrospecto de trabalho da Warner com as propriedades da DC Comics (oi, Zack Snyder e fracasso, como vocês estão?), é possível entender a razão do Questão nunca ter aparecido mesmo que ela tivesse “planos”.
Ainda como parte do universo do desenho animado de Brave and The Bold, o Questão/Vic Sage apareceu no especial de vídeo Scooby-Doo! & Batman: The Brave and the Bold (2018), sua aparição mais recente em mídia audiovisual.
A morte de Steve Ditko
Em junho de 2018, Steve Ditko morreu, aos 90 anos de idade. Steve era um dos quatro filhos em uma típica família de classe trabalhadora americana, de um carpinteiro e uma dona de casa de ascendência ucraniana.
Seu interesse por quadrinhos nasceu ainda quando era garoto, pois seu pai era fã das páginas de quadrinhos publicadas nos jornais, em especial O Príncipe Valente, de Hal Foster.
Ao comprar edições de revistas do Batman e Spirit, foi fisgado de vez, e quis entrar para o mercado.
Ele teve aulas com Jerry Robinson, o artista que criou o Coringa, e quando ele trouxe Stan Lee, editor da Atlas Comics — precursora da Marvel — muito provavelmente foi a primeira vez que Lee teve contato com a arte de Ditko.
Steve trabalhou com Joe Simon e Jack Kirby, criadores do Capitão América, e fez histórias de terror e sci-fi para a Charlton, além de super-heróis. Ele entra para a Atlas, e sua edição de estreia é Journey into Mystery #33 (1956).
Quando ajudou Stan Lee a fundar a moderna Marvel Comics com o Homem-Aranha (Amazing Fantasy #15, de agosto de 1962) e Doutor Estranho (Strange Tales #110, de julho de 1963), ele co-criou também os maiores inimigos do Teioso, como o Camaleão — que tinha semelhanças notáveis com o Questão no modus operandi da máscara –, Dr. Octopus, Duende Verde, Electro, Abutre, Mystério e Kraven, o Caçador.
De personalidade forte e convicções inabaláveis, Ditko acabaria em diversos conflitos com seus colegas na carreira de artista.
Ele deixa a Marvel depois de brigas constantes com Lee, vai para a Charlton (onde cria o Questão), faz trabalhos para a Warren Publishing em histórias de terror escritas por Archie Goodwin, depois para a DC, onde criou o Rastejante, Shade, o Homem-Mutável e Rapina & Columba.
Ele desenvolveria trabalhos independentes em editoras menores, mas mantendo freelance para as duas maiores editoras do mercado — na Marvel retorna para os títulos do Micronautas e Rom — duas franquias de brinquedo que tiveram histórias licenciadas pela Marvel com grandes artistas, como Michael Golden e Sal Buscema — e Homem-Máquina.
Em 1998, Ditko se aposentou oficialmente dos quadrinhos mainstream. Seu último trabalho para editoras grandes foi uma história de cinco páginas dos Novos Deuses para a DC, que era para ser lançada na série do Órion no início dos anos 2000, de Walt Simonson, mas que só foi publicado em 2008.
Steve Ditko sempre rejeitou aparições públicas. Era isolado do mundo, nunca ia em convenções, nem atendia imprensa, muito menos fãs. Acreditava que seu trabalho deveria falar por si.
Pessoas mais próximas a ele dizem que, aos 90 anos, ele seguia produzindo quadrinhos em seu estúdio — foi achado morto lá inclusive. Steve Ditko deixou um legado insubstituível, dono de um estilo inconfundível e personagens únicos.
Difundiu seus preceitos filosóficos de modo subliminar ou escancarada em centenas de histórias indie e para as mainstream Marvel, Charlton e DC Comics.
O retorno do
velho Questão
na DC Comics
No número #1005 de Action Comics, de janeiro de 2019, o roteirista Brian Michael Bendis e o desenhista Ryan Sook trouxeram o Questão/Vic Sage para a DC Comics de novo, em histórias do Superman.
Brian construiu sua vida nos quadrinhos da Marvel Comics, um grande escritor de temática urbana, como visto em Demolidor, que fazia com o desenhista Alex Maleev e com status de superstar na DC agora, tinha carta branca para fazer o que quiser.
Ele escolheu o Superman, e em determinado momento, retomou o bom e velho Questão pós-saga 52: Vic Sage está bem de saúde, sem sinais de câncer, com seu “uniforme” e a máscara de não-face.
Em novembro de 2019, na revista Lois Lane #3, Greg Rucka e Mike Perkins retomam Renee Montoya, ainda com o manto do Questão, e que, lógico, tem um encontro emocionante com Vic — ele literalmente está tão surpreso quando Renee com a ressurreição.
No mesmo mês, saía o número #4 da saga Evento Leviatã, que reuniu os maiores super-heróis urbanos (e outros) da DC contra a perigosa organização Leviatã, que destruiu todas as agências secretas e departamentos escusos do mundo.
Batman reúne um grupo de heróis que incluiu o Questão/Vic Sage, e no quarto número da saga, aparece também a Questão/Renee Montoya para ajudar.
O escritor de novo é Brian Bendis, com desenhos de Alex Maleev. Apesar de estar bem abaixo da qualidade que se espera de um roteirista como Bendis, arte de Alex Maleev é muito legal, e a dinâmica de interação dos personagens é bem construída por Bendis.
Vale destacar que o grande inimigo aqui se revela como o Caçador Mark Shaw, personagem criado por Jack Kirby e reformulado por John Ostrander no Esquadrão Suicida, no pós-Crise nas Infinitas Terras.
Shaw foi herói, vilão, espião, caçador de recompensas, serial killer, e agora em Evento Leviatã, supervilão.
Amanda Waller também participa da saga, e Bendis ignora várias premissas estabelecidas no pós-Crise, como Shaw e ela se conhecerem muito bem, já que eram colegas de equipe, mas que aqui parecem estranhos um ao outro.
Ao menos o roteirista ignora também o passado de Vic Sage como líder do Esquadrão Suicida no título de 2014. Evento Leviatã tinha uma ótima proposta, mas a execução e atropelos cronológicos jogam contra a obra.
É legal reforçar que o Caçador/Mark Shaw teve um título solo em 1988, lançado no pós-Crise (na verdade pós-Milênio, saga posterior), na mesma pegada do Questão/O’Neil/Cowan.
Junto com o Questão/Vic Sage, Arqueiro Verde/Oliver Queen e o Vigilante/Adrian Chase, o Caçador/Mark Shaw formavam uma linha de aventuras urbanas e realísticas nos quadrinhos de super-heróis da DC Comics — e ainda que Shaw tenha origens extraterrestres robóticas (!) em seu lore, é uma pena que seu caminho não tenha cruzado com o de Vic Sage antes.
A Morte de Denny O’Neil e The Question: The Deaths of Vic Sage
No mesmo mês de novembro de 2019, em uma demonstração de respeito e reverência ao legado insuperável de Denny O’Neil e Denys Cowan, a DC Comics deu todo o destaque merecido ao Questão em The Question: The Deaths of Vic Sage, um material escrito por Jeff Lemire e desenhada pela dupla Denys Cowan e Bill Sienkiewicz.
São 5 edições especiais onde, com efeito, é retomado o Questão/O’Neil/Cowan, em histórias que fazem referências à períodos específicos da vida do personagem e seus dilemas característicos — Lemire trouxe também “Os Questões” de Ditko, Veitch e dos Novos 52.
Ela também é profética e ao lidar com assuntos políticos, racismo e violência policial contra negros.
Este é um dos poucos títulos do selo DC Black Label (um pretenso selo adulto da DC que abarca o que seria o antigo selo Vertigo) que não está inserido no universo do Batman, Superman e Mulher-Maravilha.
Quando saía a terceira edição de The Question: The Deaths of Vic Sage, em junho de de 2020, o grande Dennis O’Neil faleceu (causas naturais, aos 81 anos), o que torna a publicação ainda mais emblemática. Os artistas deram declarações que foram publicadas nas edições seguintes.
Cowan:
“Denny fez parte da minha vida nos quadrinhos desde o primeiro dia. Jim Shooter (editor-chefe da Marvel) nos apresentou. Fiz por mais de um ano a revista Power Man and Iron Fist (título do Luke Cage e Punho de Ferro) e Denny foi muito paciente para me transformar em um profissional com deadlines (datas finais de entrega de trabalho). Foi Dick Giordano quem me ofereceu o trabalho do Questão, e quando ele abriu a porta de uma sala para mostrar quem seria o roteirista, mal pude acreditar que era o O’Neil de novo! Foram os três anos mais duros da minha vida, mas também os melhores. Nossa colaboração mudou meu jeito de trabalhar profundamente. Eu sabia que só dirigia as loucuras de Denny, mas ele era muito paciente, um excelente professor. Verdade seja dita, eu devo muito a ele, e jamais poderei pagar. Tive sorte de encontra-lo e contar tudo isso pessoalmente. Ele era um gigante“.
Sienkiewicz:
“Ele foi meu primeiro editor, no título Moon Knight (a revista do Cavaleiro da Lua, por qual Bill ficou conhecido na indústria), e como fã de seu trabalho, isso me intimidava pra c*****o. Ele me colocou no jogo. Mais que isso, me chamou para fora da vida de trabalho, e nos tornamos amigos. Ele me ajudou a ser um profissional melhor, um artista melhor, uma pessoa melhor. Eu aprendi muito com ele.
Lemire:
“É seguro dizer quem eu jamais escreveria o Questão se não fosse o Questão de Dennis O’Neil. E eu não digo isso apenas pela qualidade do seu trabalho, e sim seu talento de escrita e edição. Os quadrinhos modernos como temos hoje em dia não existiriam sem O’Neil. A lista de criadores que mudaram a indústria é pequena, e ter a chance de trabalhar com o lendário Questão e o desenhista Denys Cowan é um sonho que se tornou realidade. Eu nunca tive chance de encontrar ou trabalhar com Denny, mas sua presença guia todas minhas palavras. O trabalho de Denny e Denys é ambicioso, tem consciência social e estava à frente de seu tempo. É uma honra escrever essa história e adicionar mais um pouquinho à esse legado.”
Dennis O’Neil foi editor do Batman até os anos 2000.
Ele começou a carreira na Charlton Comics, nos títulos Thunderbolt #58–60 (1967) — o personagem que em Watchmen é o Ozymandias –, Abbott and Costello #1 (1968) e Space Adventures #2 (1968).
Seu Lanterna Verde/Hal Jordan e Arqueiro Verde/Oliver Queen, junto com Batman, ambos com Neal Adams, são a ponta de lança de uma nova era nos quadrinhos de super-heróis, conhecida como “Era de Bronze“, e seu Questão com Denys Cowan é herdeiro direto disso.
Ele também é creditado por ter criado personagens como Ra’s al Ghul e dado uma nova roupagem moderna a vilões como Duas-Caras e Coringa em sua fase com o Batman. O’Neil também fez O Sombra, série ilustrada por Michael Kaluta.
Denny criou o Guardião do Universo Appa Ali Apsa, que acompanha o Lanterna Verde/Hal Jordan e Arqueiro Verde/Oliver Queen em suas viagens para revelar os problemas sociais da América, e também deu vida ao Lanterna Verde/John Stewart (Green Lantern #87, 1971), numa época que havia poucos super-heróis negros no mercado.
O personagem foi o herói protagonista da Tropa no desenho da Liga da Justiça — e a fase Sem Limites, com o Questão. Denny também criou o Azrael em Batman: Sword of Azrael (1992), que viria a se tornar o Cavaleiro das Trevas depois da saga Queda do Morcego, quando Bruce Wayne foi quebrado por Bane.
Foi uma das mais longas sagas do Batman, que contou não apenas com os roteiros de Denny O’Neil, mas também com sua supervisão editorial e coordenação.
A Ordem de São Dumas, da qual Azrael faz parte, chegou até a considerar o Caçador/Mark Shaw como um novo Azrael, em histórias que planejavam para o personagem. O’Neil também é creditado como o inventor do nome Optimus Prime na concepção dos quadrinhos que a Marvel publicou sobre a franquia Transformers, da Hasbro.
Denny era um jornalista e rebelde hippie da contracultura. “Os quadrinhos tinham uma reputação ruim, o que para mim era ótimo“, diz ele em Pancadaria, de Reed Tucker, livro lançado em 2017.
Começou nas HQs em 1965, quando seu amigo Roy Thomas, o sucessor de ninguém menos do que Stan Lee como editor da Marvel, lhe chamou para ser seu segundo assistente editorial.
Em 1969, já na DC, Denny escrevia a revista da Liga da Justiça, e junto com Roy Thomas, que escrevia Os Vingadores para a Marvel Comics, promoveram um “crossover secreto” dos heróis nos títulos, à revelia dos editores.
Os Vingadores enfrentaram o Esquadrão Sinistro, e Denny, sob a mão pesada do editor Julie Schwartz, fez algo mais nebuloso, com inimigos análogos da própria Liga. Foi a primeira vez que os heróis Marvel e DC “se encontraram” na história da história dos quadrinhos.
Denny escreveu a primeira edição de Capitão Marvel, o herói da antiga editora Fawcett, agora na DC Comics, em 1972.
Ele era fã de filmes de kung-fu, e tinha apresentado uma proposta de série do gênero para a DC Comics em 1973, mas foi recusada por motivos burocráticas. Erro crasso da editora, que no mesmo ano tinha a obra-prima Caçador, de Archie Goodwin e Walt Simonson, estava sendo publicada.
Quando finalmente Richard Dragon, Kung-fu Fighter de Dennis saiu, em 1975, a onda de artes marciais no cinema começava a esfriar.
Com seu Questão, é de Denny o mérito de ter feito a primeira história em quadrinhos a conter uma lista encorpada de leitura recomendada, como O Tao da Paz (no qual se baseia a filosofia adotada por Questão/Vic Sage), na parte de trás.
É também de Denny a melhor síntese do poder do Marvel Studios e seus filmes de quadrinhos, conforme pode ser visto no livro Pancadaria.
“Stan uma vez me falou nos anos 1970 que o que ele tinha em mente para a Marvel era o que ele chamou de ‘agência de publicidade’. Se ele tivesse a chance de reescrever isso, ele poderia ter chamado de ‘sinergia’, em que tudo apoia o resto. Dessa forma, você não vai ver um filme de super-heróis, vai ver um filme da Marvel. Não é o mesmo com a DC. Com ela, você vai ver um filme do Batman, não um filme da DC. Com a Marvel, você vai ver um filme da Marvel.”
Ele teve também participação no Rastejante de Steve Ditko. Obviamente, nem tudo que ele tocava virava ouro.
A reformulação dele para Mulher-Maravilha, feita com Mike Sekowsky, no número #178 (outubro de 1968), foi terrível. A heroína abandona o uniforme de super-herói, adota trajes civis e da moda (!), com minissaia e tudo. Ela agora é Diana Prince e começa a operar em Nova York, tal qual os heróis Marvel.
Questão em Xeque
Em 2020, a DC lançou a minissérie em 12 edições Rorschach (o “Questão” de Watchmen), escrita por Tom King e arte sensacional de Jorge Fornes, que mostra o que acontece anos depois do desfecho original da saga de Moore, em uma trama de assassinato e investigação.
A obra vem na cola de Doomsday Clock (2017-2019), saga de Geoff Johns e Gary Frank, uma minissérie de 12 edições que integrou Watchmen ao universo regular da DC — a trama tinha pretensões de reboot e tem participações do Questão e outros personagens da Charlton, mesmo antes dele ter aparecido em Action Comics #1005, o que reforça a lambança editorial.
Apesar de nada em Rorscharch estar relacionado à Doomsday, é mais um passo da DC de explorar a marca dentro do seu universo.
A história está no selo Black Label, o mesmo de Question: The Deaths of Vic Sage.
A aparição mais recente do Questão/Vic Sage na DC Comics acontece neste junho de 2021, quando a editora publica a série Checkmate, título derivado do Evento Leviatã, que saiu só agora por conta dos problemas ocasionados pela pandemia de Covid-19 na DC.
A série mostra as consequência da saga Evento Leviatã, e ainda foca as atividades vilanescas de Mark Shaw.
Por conta disso, o Questão/Vic Sage, Batman, o Arqueiro Verde/Oliver Queen e outros heróis tentam reconstruir a agência de espionagem Xeque-Mate para combater o Leviatã e seus planos.
A mais nova saga-reboot da editora DC Comics é a Infinite Frontier, com diversos títulos lançados, ainda sem Questão em vista. Podemos ver indícios do que foi estabelecido em Multiversity de Grant Morrison e até mesmo de um dos momentos mais marcantes de Crise nas Infinitas Terras, com o Flash/Barry Allen reencontrando o Pirata Psíquico, que aparenta estar vestido como um Lanterna Negro — sem ser um zumbi.
A questão é:
O que reservam para o Questão/Vic Sage?
/ QUESTÃO DO RORSCHARCH. Nas palavras de Alan Moore: “Eu queria fazer ele (Rorscharch) como sê fosse algo tipo ‘é assim que o Batman seria no mundo real’. Mas eu me esqueci que para muitos fãs de quadrinhos, “feder”, “não ter uma namorada”, são coisas meio que heroicas! Então Rorscharch acabou se tornando o personagem mais popular de Watchmen. Eu fiz ele para ser uma mal exemplo. Mas eu lido com pessoas vindo até mim nas ruas dizendo coisas como “EU SOU Rorscharch. Essa é MINHA história.’ E eu fico pensando: ‘É, que ótimo. Você poderia apenas manter distancia de mim e nunca mais se aproximar enquanto eu viver?‘”. Isso também diz muito sobre como Alan enxerga o mercado e seus fãs doentes que se recusam a crescer.
/// SOBRE A ARTE DE DITKO. O que se segue é uma parte de um artigo escrito pelo professor Ken Parille para o The Comics Journal sobre a arte de Steve Ditko.
The Comics Journal, 5 de novembro de 2012
“Abstracionismo (1980, 1957)
Embora a arte de Steve Ditko seja na maior parte da vezes figurativa, podemos encontrar em seu trabalho alguma das páginas mais abstratas dos quadrinhos mainstream. Seu interesse pela arte abstrata surge em suas célebres histórias do Homem-Aranha e Doutor Estranho, mas também em narrativas obscuras como “The Dimensions of Greed”, da antologia Time Warp #3, lançada no início de 1980 pela DC Comics. Nesta história, Ditko emprega um conjunto vertiginoso de formas líquidas, angulares, geométricas e exageradas, todas desenhados com humor. Enquanto o seu trabalho freqüentemente aborde temas pesados (crime, justiça, etc.), também lembra as tradições mais leves e cômicas dos quadrinhos. Sua abstração é alegre.
(…) Ditko não se interessa em representar, de maneira literal ou convencional, o que o escritor pede. Ele reescreve e reinventa a narrativa enquanto a desenha, deixando o resultado final mais sutil e estranho do que o que o roteiro sugeria. Ditko é um dos poucos artistas que faz consistentemente algo especial a partir de textos medíocres e até horríveis – eu acho que ele leva os roteiros da Marvel e da DC muito menos a sério do que os escritores e editores, usando narrativas convencionais para explorar seu senso de humos visual não convencional… Muitas vezes os leitores se concentram nas preocupações temáticas de Ditko, ignorando a maneira como ele transforma as convenções, construindo novos mundos a partir de um vocabulário gráfico comum.”
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