Quando o roteirista Chris Claremont construía sua longa mitologia na revista dos X-Men, da Marvel Comics, ele criou centenas de personagens, e entre eles estava o coronel Alexei Mikhailovitch Vazhin.
Ele é membro da alta cúpula militar da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, e também um agente da Komitat Gosudarstvennoi Bezopasnosti, a KGB, a agência secreta de espionagem soviética.
Vazhin surge em The Uncanny X-Men #123 (1979), numa história em que aparece o Arcade, o americano super-rico e entediado que mata pessoas em jogos perigosos que usam grandes instalações cheias de armadilhas, ilusões e robôs.
Inacreditavelmente, ele consegue prender os X-Men, e quando é a vez de Piotr Nikolaievitch Rasputin, o mutante russo Colossus sofrer, Arcade opta por torturar o russo com a presença de um militar da URSS: Alexei Vazhin.
Mas, no caso, aqui, ele não passava de um robô.
A história tem roteiro de Chris Claremont e arte de John Byrne.
Mais tarde, Claremont usou Vazhin de modo efetivo nos X-Men, num nível de equivalência com o super-espião Nick Fury, o diretor da agência militar internacional SHIELD, organização que em teoria supera outros órgãos de segurança dos Estados Unidos e do mundo.
No caso, Vazhin está em igual posição pela KGB, que concentra os níveis executivos russos se tivessem uma SHIELD também.
Vazhin teve algumas aparições relevantes na mitologia que Claremont desenvolveu nos anos que ficou no comando dos X-Men (1975-1991), com destaque para histórias envolvendo os mutantes russos Colossus e sua irmã, Illyanna Rasputin, a Magia dos Novos Mutantes, bem como outros super-seres da URSS/Rússia, como os Supersoldados Soviéticos e a Guarda Invernal.
O destaque de Alexei Vazhin fica por conta da participação dele no andamento e desfecho da Saga da Ilha Muir, com o perigoso e poderoso Rei das Sombras por trás de tudo.
Essa é a saga na qual Chris Claremont amarra todas as pontas soltas de anos de desmantelação e mortes que os X-Men sofreram em vários acontecimentos anteriores.
Na Cortina de Ferro
Chris Claremont nunca explicou como um zé ruela ricaço como o Arcade sabia da identidade de Vazhin, uma das figuras mais enigmáticas do mundo da espionagem da URSS para fazer o tal robô atormentar Colossus. O mais provável é que o maluco tenha obtido tal informação da mente do mutante.
De qualquer maneira, a primeira aparição real de Alexei Vazhin aconteceu em Marvel Team-Up Annual #2 (1979), numa história do Homem-Aranha com o Hulk.
Bruce Banner entra em contato com um homem de óculos e caolho, e o reconhece como Alexei Vazhin, um major e agente secreto da KGB, segundo uma lembrança sua quando viu arquivos de Glenn Talbot, um militar que caçava o Hulk no começo da “carreira”.
Vazhin corrige Banner, dizendo que agora é coronel, e quer ajuda dele — e do Hulk — contra militares russos renegados que estão prestes a desenvolver uma bomba de anti-matéria, liderados pelo Coronel Nikolai Kutzov, que tem ao seu comando alguns operativos com super-poderes.
O caminho do Verdão e do Homem-Aranha e de alguns super-seres soviéticos eventualmente se cruzam, e temos nossa porradaria costumeira. Os roteiros são de Chris Claremont e desenhos de Sal Buscema.
Os heróis russos no caso são Estrela Negra (Laynia Petrovna), seu irmão Vanguard (Nikolai Krylenko) e o Dínamo Escarlate (Dimitri Bukharin). Em breve, eles se juntariam a Ursa Maior (Mikhail Ursus) e formariam os Supersoldados Soviéticos, a resposta da URSS para os Vingadores dos EUA.
A equipe dos heróis russos foi criada por Bill Mantlo e Sal Buscema, e estreou em um combate contra o Golias Verde em Incredible Hulk #258-259 (1981), numa capa desenhada por Frank Miller.
Na história, os heróis russos e o Hulk se veem no meio dos planos de um perigoso ser tecnológico chamado A Presença, um das ameaças mais antigas da URSS. Ele era um cientista soviético, Sergei Krylov, que enlouqueceu com os experimentos cibernéticos e com tecnologia gama que realizava.
Ele também é pai de Estrela Negra e Vanguard, que são mutantes. Mantlo é hábil em inverter as expectativas, quando revela que o Professor Phobos, um pretenso tutor de soldados no programa de super-seres da URSS, pode não aparentar ser quem é.
A Marvel não amarrou Alexei Vazhin com os Supersoldados Soviéticos nessa época, preferindo usar militares genéricos na cadeia de comando.
Vale citar que Bruce Banner acabou se tornando o Hulk (Incredible Hulk #1, de 1962) após ser atingido em cheio pela radiação de uma explosão de uma bomba gama, e tal explosão foi provocada pela sabotagem de um agente secreto soviético que iria roubar os planos da bomba dos militares americanos.
Ele era Igor Drenkov, que na confusão causada pela explosão, conseguiu escapar. Ele demoraria anos a reaparecer na cronologia.
Alexei Vazhin estreia nas tramas dos X-Men em The Uncanny X-Men #194 (1985), arte de arte de John Romita Jr., na estreia de Nimrod no mundo dos mutantes, o sentinela ultra-avançado vindo do futuro de Dias de um Futuro Esquecido, junto com mais uma luta do Fanático com os X-Men.
Vazhin é mostrado como um dos chefões da KGB, interessado em analisar as atividades e dinâmicas dos super-heróis americanos, bem como a relação com os mutantes.
Ele recebe o relatório da luta dos X-Men, Fanático e Nimrod (mostrada na edição), e sabe que os X-Men arriscam a vida para salvar o mundo. Sabe que o governo americano vai contra eles. Sabe que Magneto não confia em nenhum governo, pois sempre tentam destruir a raça mutante.
E parece particularmente interessado em como os X-Men arriscam o pescoço para salvar um mundo em que todos os humanos preferem ver mutantes presos ou mortos.
Vazhin não prevê boas coisas vindas no horizonte, e considera um apocalipse se aproximando.
Ao que parece, Chris Claremont queria escalonar uma discussão política para além da Cortina de Ferro, como era chamada a linha imaginária que dividia o mundo capitalista do mundo comunista nos países europeus sobre influência dos EUA e URSS.
Vazhin parecia mais sóbrio em sua analítica política em relação às autoridades americanas, que nesse ponto já promoviam a reconstrução dos Sentinelas e preparavam a promulgação da Lei de Registro Mutante.
Em The Uncanny X-Men #199-200 (1985), o vilão mutante Erik Magnus Lensherr, o Mestre do Magnetismo, Magneto é preso pela recém-formada Força Federal — o grupo de criminosos que era a Irmandande de Mutantes, e agora black-ops a serviço do governo americano, sob comando de Valerie Cooper, a assistente presidencial para assuntos super-humanos e mutantes –, para responder por seus crimes.
Ele é julgado por uma Corte Internacional por crimes contra a humanidade — entre eles, autoridades russas e a Conselheira de Defesa de Israel, Gabrielle Haller, amiga de longa data de Magneto e do Professor Charles Xavier.
Mas no decorrer do processo, que tem o ataque dos Fenris, dois irmãos mutantes terroristas, filhos do criminoso nazista Barão Von Strucker, e Magneto é declarado inimputável pelos crimes.
Essa edição também marcou a despedida de Xavier dos X-Men, que teve que ser levado ao espaço para se salvar de ferimentos fatais.
Ele ficaria anos com Lilandra, a Majestrix dos Shiars, uma das raças mais poderosas e influentes do Universo Marvel. E ele deixou para Magneto o comando de sua escola.
Magneto já tinha cometido vários crimes até então, como contra a URSS, visto em Uncanny X-Men #150 (1981), quando afundou o submarino Leningrado nos mares russos e destriu a cidade de Varykino, ao criar um vulcão no meio dela.
Em 1987, a Marvel fez o crossover X-Men/Vingadores, no qual os Vingadores, em nome das Nações Unidas, tentam prender Magneto novamente.
E dessa vez os Supersoldados Soviéticos se envolvem diretamente, já que a URSS ficou insatisfeita com os resultados dos processos vistos no julgamento anterior, e mandou a equipe pessoalmente prender Magneto.
No meio disso tudo, os X-Men tem que proteger Magneto e conseguir um novo julgamento justo, dessa vez conduzido por autoridades inglesas, francesas e suiças. Gabrielle Haller foi a advogada de defesa de Magneto aqui.
Tanto os eventos do julgamento de Magneto em Uncanny X-Men #200 de Claremont, como esse novo julgamento de X-Men/Vingadores (escrito por Roger Stern e desenhado por Marc Silvestri), não tiveram a participação de Alexei Vazhin, a despeito do peso político soviético de suas tramas.
Em 1989, Claremont escreveu uma história do passado de Colossus em Classic X-Men #29, arte de June Brigman. Piotr visita seus pais depois de um longo tempo com os X-Men, e é acusado pelos amigos de desprezo pelo país (na época, a URSS estava envolvida na Guerra do Afeganistão, como podemos vemos no documentário Rambo III).
Claremont já estabelece aqui que Vazhin é o diretor do 13º Diretorado, uma divisão da inteligência secreta russa.
O Rei das Sombras
O Rei das Sombras alega ser a manifestação psíquica coletiva do lado negro da humanidade, existindo desde tempos imemoriais.
Ele teve seu primeiro contato com um jovem Charles Xavier no Cairo, Egito, quando a entidade tomou o corpo do mutante psíquico Amahl Farouk, em uma história mostrada em Uncanny X-Men #117 (1978), que também foi a estreia do personagem. O roteiro foi de Claremont com arte de Byrne.
Xavier conhece o vilão quando quase é roubado por uma criança, ninguém menos que uma jovenzinha Ororo Munroe, a futura Tempestade.
Ao usar seus poderes telepáticos na menina, ele sente o contato da entidade, e os dois tem uma luta terrível no Plano Astral, uma dimensão onírica, onde os pensamentos da humanidade ficam. E Xavier sai como vencedor — aparentemente.
Claremont trabalhou de novo com o vilão, com o Rei das Sombras querendo vingança contra a derrota que sofreu, indo atrás dos Novos Mutantes, os jovens alunos de Xavier. Ele aparece em The New Mutants #6 (1983), quando começa a sondar a vietnamita Shan Coy Mahn, a telepata Karma.
E em The New Mutants 29-34 (1985), o Rei das Sombras domina a jovem, que fica hiper obesa no processo e tenta matar seus colegas. A arte aqui é de Bill Sienkiewicz.
Depois de uma longa sequência de suplícios por conta da saga Massacre de Mutantes, os X-Men encontraram seu fim em Dallas, EUA.
O mutante inventor e xamã cheyenne Forge “mata” os heróis no final da saga Queda de Mutantes, em Uncanny X-Men #227 (1987), quando usou a energia vital deles — com consentimento –, para destruir o Adversário, inimigo psíquico extra-dimensional que guarda algumas semelhanças com o Rei das Sombras.
FORGE | O Cheyenne xamã mutante inventor militar cyborg dos X-Men
Os X-Men depois seriam ressuscitados pela entidade Roma, e permaneceriam escondidos usando o disfarce de mortos para protegerem seus amigos e familiares, ao mesmo tempo que se defendem dos seus inimigos.
Mesmo assim, os heróis foram perseguidos ou afetados por diversas situações, como é o caso citado da Tempestade, ou “mortos” e de novo “ressuscitados” pelo Portal do Destino, um poderoso artefato místico dado por Roma aos heróis, destruído por Donald Pierce, o líder dos cyborgs assassinos de mutantes Carniceiros.
Muitos anos depois, em Uncanny X-Men #253 (1989), também roteiro de Claremont, com arte de Silvestri, o Rei das Sombras retorna.
Ele assume o controle do corpo do agente do FBI Jacob Reisz, e coloca um longo plano de vingança em ação.
Vale citar também que ele queria controlar Tempestade, nessa época regredida à infância por conta da maquinação de uma vilã chamada Babá.
Curiosamente, foi essa intenção do vilão em querer Tempestade que fez o Forge ter contato com o Rei das Sombras, quando o índio, que também é xamã, estava em sondagens pelo Plano Astral.
Forge sai derrotado, mas descobre que Tempestade está viva, o que faz ele querer procurar por ela.
Forge é convocado por Valerie Cooper para ir com a Força Federal para a Ilha Muir, região da Escócia, onde tentariam proteger a geneticista Moira MacTaggert.
Em Uncanny X-Men #254-255 (1989), uma equipe improvisada do que restou dos X-Men e associados, mais a Força Federal, enfrentam os Carniceiros, que foram pra ilha matar qualquer um relacionado aos X-Men.
Na luta, o ciborgue Racha-Crânio é destruído por Forge, mas a mutante vidente cega Sina é morta pelo poderoso mutante psíquico Legião, que é David Haller, filho de Xavier e Gabrielle Haller.
David sempre sofreu com esquizofrenia e personalidade múltiplas, mas parece estar ainda mais louco do que o costume. Depois da luta, Forge e Banshee foram uma parceria para realizar uma busca pelos X-Men mortos e perdidos.
Em Uncanny X-Men #259 (1990), Moira tenta fazer Legião usar o poderoso equipamento de rastreio mental de mutantes Cérebro para encontrar os X-Men perdidos, e o Rei das Sombras acaba encontrando David, aumentando assim sua zona de influência.
Alexei Vazhin retornaria apenas nas edições de Uncanny X-Men #263-264 (1990).
As edições mostram Forge tentando resgatar Banshee e Jean Grey (na época com o X-Factor), raptados pelos Morlocks, os mutantes subterrâneos de Nova York, na época liderados por Masque.
Em uma situação paralela, Alexei Vazhin tem um encontro com Valerie Cooper.
Alexei quer saber mais das várias divisões e facções mutantes estabelecidas na América. Ele sabe que a questão não se trata mais sobre criminosos comuns, mas de forças políticas e militares que querem dominar o mundo.
Vazhin sabe que os homo sapiens podem sair perdedores, mesmo ele citando exemplos como Genosha, a ilha africana onde mutantes são escravizados. Cita a saga Atos de Vingança, evento da Marvel que jogou vilões inéditos contra os heróis na tentativa de derrotá-los, e imagina que um próximo confronto pode devastar o mundo.
Vazhin tem um segundo encontro com Valerie. Ele diz que identificou 3 facções: A Frente de Libertação Mutante, Apocalipse e Senhor Sinistro. E mais importante: fala sobre uma quarta, o Rei das Sombras, cuja atividades como operativo da KGB (!!!) mostraram que ele na verdade é um mercador de poder que trabalha ao mesmo tempo para todas as agências do globo.
Vazhin sabe que o Rei das Sombras é maligno. Extremamente. E procura por pistas de seu paradeiro, e que ao custo de dois de seus melhores agentes, foi identificado em ação nos EUA.
Alexei avisa para Val que o comunique caso saiba de algo, já que sem armas nucleares para se defender — graças a desarmamento atômico — os americanos tem uma contraparte biológica à altura, pois se eles tem um Thor ou Destrutor, para que uma bomba?
Na edição, junto com Vazhin, aqui temos a estreia da major Debra Levin, sua assistente direta.
O roteiro das edições é de Chris Claremont e as artes de Bill Jaaska e Mike Collins.
Chris não detalha como seu deu essa relação anterior de Vazhin com o Rei das Sombras, menos ainda como ele era um operativo da KGB.
Será que o caolho descobriu que um de seus agentes secretos estava dominado mentalmente pelo vilão, e de alguma foram ele tomou conhecimento da magnitude de seu poder?
Em Uncanny X-Men #265-266 (1990), vemos Valerie Cooper já dominada pelo Rei das Sombras/Jacob Reisz. Aqui também o vilão cria os Farejadores, seres humanos escravos com níveis de perversidade extremos.
A pequena Ororo Munroe, ainda sem memórias de seu passado, leva uma vida de ladra, mas o Rei das Sombras a quer.
A menina só sobrevive graças a outro misterioso ladrão, Gambit, na estreia dele do Universo Marvel. Em pouco tempo, os dois ladrões se tornam amigos inseparáveis. As artes são de Jaaska e Jim Lee.
Em Uncanny X-Men #296 (1990), temos a confirmação que o Rei das Sombras dominou mentalmente o Legião, quando Moira pediu para ele usar o Cérebro na tentativa de encontrar os X-Men perdidos.
Os X-Men e X-Factor
Chris Claremont também escrevia o título do Excalibur, que mostravam aventuras de alguns X-Men, como Noturno, Lince Negra e Fênix/Rachel Summers (sobreviventes da saga Queda de Mutantes) pela Europa e outras dimensões.
Em Excalibur #33 (1990), Vazhin é visto nas sombras ponderando as questões políticas do Reino Unido, ciente que o Rei das Sombras pode ter alguma influência ali. A arte é de Ron Wagner.
Em Uncanny X-Men 273 (1991), logo após os eventos de Programa de Extermínio, onde o status político de perseguição aos mutantes de Genosha é derrubado, temos uma reunião de alguns dos X-Men com o X-Factor (Tempestade retorna à sua forma adulta aqui).
Vemos Jean Grey usando o Cérebro para tentar achar os outros X-Men perdidos, e ela tem um rápido encontro com o Rei das Sombras. Ela só não morre porque Psylocke a salva.
Depois de anos no espaço, o Professor Charles Xavier finalmente retornou à Terra, em Uncanny X-Men #275-227 (1991), onde ficamos sabendo que Xavier se tornou parte dos Piratas Siderais e lutava com os Shiars contra os Skrulls.
No fim das lutas, Xavier decide retornar para a Terra exatamente porque sentiu uma presença residual do Rei das Sombras quando reencontrou sua aluna Tempestade.
No número #278, os X-Men decidem ir para a Ilha Muir se preparar para o combate, enquanto que Xavier vai atrás do veículo oficial dos X-Men, o Pássaro Negro, na época, com o Excalibur (que não participou também da saga do Rei das Sombras, a despeito de serem formados por X-Men).
Mas o vilão controla o mutante Colossus para tentar Xavier, que consegue contornar a situação e liberta seu aluno russo. Em X-Factor #69 (1991), roteiro de Fabian Nicieza e arte de Andy Kubert, temos aquela que é a parte final da Saga do Rei das Sombras.
É a última peça dos trabalhos de Chris Claremont na desmantelação e reunião total dos mutantes, iniciada em diversos eventos como Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes, Inferno e outras mortes e renascimentos por conta do uso do Portal do Destino.
O começo da revista mostra Xavier reunindo os x-men originais — o X-Factor — com a ajuda de Alexei Vazhin, além de autoridades americanas e soldados da SHIELD, para fazer uma força-tarefa para invadir a Ilha Muir e derrotar de uma vez o Rei das Sombras.
O problema é que o agente do FBI Jacob Reisz e Valerie Cooper também estão com eles, deixando o Rei das Sombras à par de todos os planos, já que nem Xavier nem Jean sente sua presença. Além disso, os X-Men que foram antes para a ilha já estão sendo derrotados e dominados mentalmente.
Não fosse por Forge, que desenvolveu uma forma de bloquear a influência, tudo estaria perdido antes de começar.
Reisz se revela como o Rei das Sombras e tenta matar Xavier, e pede para que Valerie dê um tiro nele. Mas ela era na verdade Mística disfarçada, que mete um tiro na cabeça do agente.
Com isso, o vilão passa integralmente para o Legião, que simplesmente explode a ilha inteira. A maioria dos X-Men, X-Factor e agentes da SHIELD ficam fora de combate.
A situação fica tão crítica que Alexei Vazhin considera fazer um ataque nuclear na ilha para aniquilar qualquer possibilidade de sobrevivência do vilão.
Com muito custo, Forge consegue usar a adaga psíquica em Lorna Dane, a mutante magnética Polaris, que era o nexo físico para o Rei das Sombras ficar em nosso mundo.
Sem essa âncora, o Rei das Sombras é derrotado por Xavier no Plano Astral novamente.
A edição seguinte, X-Factor #70, seria emblemática por ser o ponto zero para uma nova fase dos X-Men e do X-Factor. O número seguinte de X-Factor seria uma equipe totalmente reformulada, com mutantes a serviço do governo, liderados por Destrutor (e Forge mais pra frente).
Os X-Men teriam duas revistas, a já clássica Uncanny X-Men e outra intitulada simplesmente X-Men, essa com desenhos de Jim Lee, que com seu design estiloso marcaria a indústria de quadrinhos de super-heróis para sempre.
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E de tão poderosa e influente a arte de Lee, que o sucesso de vendas, público e crítica fez Chris Claremont perder espaço para o desenhista, que começou a apitar nos roteiros, tal qual foi com John Byrne nos anos 1980.
Claremont então deixa o título dos X-Men, que comandou desde 1975.
Em 16 anos ele criou uma mitologia que tornou os X-Men uma potência mundial.
Mas se Claremont se foi, Alexei Vazhin não.
Colossus e Magia
Nas edições #17-19 de X-Men, em 1993, o roteirista Fabian Nicieza e o desenhista Andy Kubert usaram Alexei Vazhin novamente, dessa vez numa história envolvendo Colossus e Illyanna Rasputin, que na época tinha regredido à infância.
Vazhin e o governo russo precisavam de ajuda contra a perigosa ameaça do destruidor de mentes Escalpelador.
Sem a assistência dos Supersoldados Soviéticos, nem a possibilidade de usar supersoldado recém-despertado Ômega Vermelho (já dominado), Vazhin acha que pode acelerar geneticamente a pequena Illyanna para torná-la Magia novamente, e salvar a cidade de Neftelensky do suplício mental que o Escalpelador impôs no local, que periga se alastrar para toda a Rússia.
Participam da história também a Estrela Negra (Laynia Petrovna) e Revanche, em sua estreia nos quadrinhos — ela é a assassina chinesa Kwannon, que trocou de corpo com Betsy Braddock, a Psylocke, quando a w-xoman passou pelo Portal do Destino.
Agentes renegados russos chegaram a matar os pais de Peter e Illyanna para capturá-la, deixando Colossus à beira da loucura por causa dos assassinatos. A aventura, desnecessariamente pesada e cruel, marcaria o mutante blindado russo para sempre.
Ainda em 1993, em X-Men Unlimited #2, de novo escrita por Fabian Nicieza, dessa vez com arte de Jan Duursema, temos Alexei Vazhin, Valerie Cooper, Henry Peter Gyrich e outros figurões da política elaborando um plano para matar Magneto, na época vilanesco novamente. Gabrielle Haller também faz parte desse comitê, mas é contra matá-lo.
Na engenhosa trama, temos um agente assassino, Adrian Eiskalt, a serviço de dessa força-tarefa política, com uma roupa especial de não-metal, que vai tentar matar Magneto.
Nicieza já estava bastante íntimo dos personagens russos da Marvel, pois um ano antes dessas revistas, foi o escritor da edição especial Soviet Super Soldiers (1992), um título do Supersoldados Soviéticos, com arte de Angel Medina e Javier Saltares
O roteirista colocou todos os personagens russos possíveis, entre heróis e vilões, da Marvel, em uma aventura contra ameaças ao país. Mas Alexei Vazhin não apareceu aqui.
De novo Chris e Vazhin
Foi apenas nos anos 2000, no retorno de Chris Claremont à Marvel, que Alexei Vazhin também retornou.
Em Uncanny X-Men #383-384 (2000), arte de Adam Kubert, o coronel retornou como Diretor do 13º Diretorado, órgão substituto da (agora) extinta KGB. Ele procura ajuda dos X-Men, cobrando um antigo favor que fez para a Liga de Ladrões, diretamente à Gambit, atual líder do grupo.
Vazhin precisa de ajuda dos X-Men para dar conta de escravagistas mutantes russos (que parecem ser aliens) e que sequestraram a major Debra Levin.
Chris Claremont trata Vazhin e Debra literalmente como o “Diretor Skinner” e “Scully” em seu roteiro, referência direta ao seriado Arquivo X., excelente obra de espionagem e conspirações secretas na cultura pop.
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Estranhamente, Claremont faz Vazhin ser alvejado, ao que parece de modo letal, por atiradores inimigos, e não mostra mais o que aconteceu com ele no decorrer do arco, que dura 6 edições. Até mesmo Debra é deixada de lado.
Em X-Treme X-Men X-Pose, uma edição one-shot, Vazhin é um dos enrevistas por uma equipe de TV para falar de mutantes — a mesma equipe que documentou a morte dos X-Men em Dallas durante a saga Queda de Mutantes.
Claremont também escrevia outro título dos mutantes, o X-Treme X-Men. No número #32 (2003), com arte de Igor Kordey, temos o retorno de Alexei Vazhin, junto com Valerie Cooper, Alistaire Stuart (da Inteligência Britânica) e outro agentes, de novo pedindo ajuda para Gambit e Tempestade contra outros extremistas anti-mutantes.
Ela dá a ideia de construir uma força-tarefa internacional contra essas ameaças.
Curiosamente, um ano antes Claremont tinha resgatado o Rei das Sombras em X-Treme X-Men Annual #1 (2002), mas Vazhin não tem participação alguma nela.
O coronel ficou no radar de outros escritores, e foi usado por David Hine no título District X, que mostrava o mutante do futuro Lucas Bishop como um tira do FBI (!), junto com um parceiro humano, Ishmael Ortega, um tira de Nova York, no tal Distrito X, perto de NY, totalmente dominada por gangues mutantes.
Com arte de David Yardin, Alexei Vazhin aparece nos número #8, 10 e 14 como contato de Bishop para algumas missões.
Na revista What if Magneto had formed The X-Men with Professor X together? (2005), o roteirista e o desenhista Tom Haney fazem uma história imaginando como o Universo Marvel seria se o Professor Charles Xavier e Magneto formassem os X-Men juntos.
Ela é a outra versão da história oficial vista em The Uncanny X-Men 161 (1983), também com roteiro de Claremont, com arte de Dave Cockrum.
O vilão nazista Barão Von Strucker, alguns anos depois do fim da Segunda Guerra Mundial, precisava de mais dinheiro para financiar as atividades da Hidra, a organização pós-nazista e terrorista que criou.
Ele rapta a jovem israelense Gabrielle Haller, amiga de um também jovem Charles Xavier, que usava seus poderes mentais para cuidar dos traumas e estresses dos sobreviventes da guerra, e do jovem Erik Magnus Lensherr, o futuro Magneto, que cuidava dos metais do hospital onde Xavier ficava, em Haifa (onde conheceram Gabby).
A moça supostamente teria informações de onde estaria o ouro roubado e acumulado no nazismo.
Essa história é importante pois foi o primeiro encontro de Xavier e Magnus, e como eles construíram sua amizade e debatiam sobre o assunto mutante. Charles e Gabby ficaram próximos também, e seriam namorados, inclusive tendo um filho, o já citado David Haller, o Legião.
Xavier e Magnus vão atrás de Gabby quando ela é raptada, lutam contra Strucker e a salvam. É nesse momento, frente a frente contra um monstro nazista — ele e Gabby são sobreviventes dos campos de concentração –, que Magnus decide radicalizar. Ele pega o ouro para si, amputa Strucker com sua própria Garra de Satã, o enterra vivo, e rompe com a amizade com Xavier.
Em pouco tempo, Erik Magnus Lensherr ressurgiria como o vilão Magneto.
Na história alternativa de 2005, Claremont faz Xavier e Magneto usarem o ouro para construir boas relações com os humanos. Charles então se torna uma figura poderosa nos bastidores da política americana, tratando do assunto mutante com Nick Fury, Alexei Vazhin e outros membros da alta cúpula mundial. Há bastantes diferenças nesse campo, e a Cortina de Ferro aqui parece ter sido bem mais tênue aqui.
Os X-Men nessa formação tem Sábia, Kitty Pryde, Colossus (um agente secreto, operativo de Vazhin, treinado pela Viúva-Negra), Hank McCoy (que não foi “transformado” em Fera), Wolverine, Mística e uma Jean Grey que parece já ter relações com a Fênix.
A ameaça aqui fica por conta de uma aliança entre Bolivar Trask, o cientista criador dos Sentinelas, com o Clube do Inferno (sociedade secreta mutante maçônica sadomaso com pretensões de dominação mundial) e os Carrascos, aqui formados por Dentes de Sabre, Ciclope e Destrutor.
De novo Colossus
O escritor Christopher Yost usou Alexei Vazhin na edição especial de X-Men Origins: Colossus (2008), feita com o artista Trevor Hairsine, para revelar mais sobre o passado de Piotr Nikovalietch Rasputin, o Colossus.
E ficamos sabendo aqui que Vazhin já monitorava a família Rasputin desde sempre, talvez pelo fato de Mikhail Rasputin, o filho mais velho da família, um dos primeiros cosmonautas da URSS, também ser mutante, e ser amigo de Vazhin.
Mais ainda, aqui temos o primeiro contato de um jovem Alexei Vazhin com o Professor Charles Xavier, que lhe explica as nuances de dinâmicas dos assuntos mutantes em uma época que isso ainda era raso demais.
Com efeito, é mostrado aqui, de outro ângulo, como Xavier se aproxima de Piotr para recrutá-lo para os X-Men, como visto na clássica Giant Size X-Men (1975), mesmo com “protestos” de Vazhin.
Alexei Vazhin e Hidra
Por conta dos eventos de Secret Invasion #8 (2009), na chamada Invasão Secreta, Norman Osborn foi o “grande salvador” ao matar a Imperadora Veranke, dos Skrulls, que queriam dominar a Terra.
Ocorreram mudanças de posição política e militar no Universo Marvel por causa disso. Logo, a SHIELD de Nick Fury foi substituída pela HAMMER, com Osborn no comando (Fury foi posto pra correr).
Osborn chega a criar seus próprios Vingadores (ele usa uma armadura do Homem de Ferro e se autointitula Patriota de Ferro) e tem até mesmo uma equipe secreta de grande vilões para ter mais poder ainda.
Na revista Secret Warriors #1 (2009), escrita por Jonathan Hickman e desenhada por Stefano Caselli, conhecemos um grupo black-ops montado por um Nick Fury foragido, os Guerreiros Secretos, que descobrem uma grande conspiração da Hidra.
Hickman vem da área do design, e é grande fã de mapas e desenhos esquemáticos.
E nas mudanças políticas, Alexei Vazhin ficou como diretor SVR, (Foreign Intelligence Service, “serviço de inteligência estrangeiro”, do inglês/russo). Trata-se do primeiro nível de hierarquia de inteligência russa — o 1º da escala do já citado 13º Diretorado que Vazhin controlava.
Mas acontece que a Hidra se infiltrou em todas as comunidades de inteligência militar e agências secretas do mundo — um dos temas da revista dos Guerreiros Secretos. E, aparentemente, eles tem cabeças dentro do SVR, e uma delas é Vazhin.
Ou é o contrário, vai saber — esse plot não foi aprofundado o suficiente.
Um ano depois, a Marvel lançou a minissérie Darkstar & The Winter Guard (2010), escrita por David Gallaher e desenhada por Steve Ellis, e Vazhin estava no comando da equipe.
Darkstar é o nome original da já citada heroína russa Estrela Negra. Laynia Petrovna manteve esse codinome por um longo tempo — ela surge como membro dos Campeões em Champions #7 (1976), criação de Tony Isabella e George Tuska e, além dos Supersoldados Soviéticos, fez parte até dos X-Men.
Ela foi morta pelo ladrão assassino supersoldado Fantomex em New X-Men #128 (2002), numa história escrita por Grant Morrison.
No número #0 de Darkstar and The Winter Guard, a equipe de super-heróis russos da Guarda Invernal, composta por uma nova Estrela Negra (Sasha Roerich), Ursa Maior (Mikhail Ursus), o Guardião Vermelho (Anton, uma espécie de Capitão América russo) e o Dínamo Escarlate (Boris Vadim) enfrentam a ameaça do Presença.
Na aventura, a Guarda Invernal tem que enfrentar também um monstro gama terrível, que é ninguém menos que Igor Drenkov, o agente soviético que “criou” o Hulk. Ele mata o Dínamo Escarlate, mas no fim é destruído pela Estrela Negra.
Na mesma edição, a Marvel trouxe encadernada uma história antiga, publicada em Incredible Hulk #393 (1992).
Na época, o Hulk estava com a personalidade de Professor (um mix de Banner com os outros Hulks), e procura Igor para se vingar, e acaba lutando contra os heróis do Protetorado do Povo, outra equipe de super-seres russos, formada pelo Guardião Vermelho (Josef Petkus), Perun (uma espécie de Thor russo), Fantasma, o androide Vostok (tipo o Visão russo) e o Dínamo Escarlate (Dimitri Bukharin).
Ainda nessa edição #0, a Guarda Invernal — agora com Galina Nemirovsky como Dínamo Escarlate — enfrenta os criminosos Volga, Dama de Ferro (Melina Vostokoff), Homem de Titânio (Boris Bullski), Unicórnio (Yegor Balinov) e a Leopardo da Neve.
Estrela Negra morre no combate, e outra mulher, Reena Stancioff, assume o manto da heroína.
Aparentemente, parecia não ter envolvimento de Alexei Vazhin nesses acontecimentos, pois o responsável executivo mostrado na história é o Coronel Bukharin, mas na edição #1 vemos que é o Coronel Alexei Vazhin que é o superior dele nas missões.
A Guarda Invernal também tem que lidar com um novo Protetorado do Povo, formado por Starlight (Tania Belinskaya), Vanguard (Nikolai Krylenko) e Powersurge (Illarion Ramskov), um tipo de Fanático russo, e se aliar a eles contra o Presença, que está corrompido pelos Espectros, perigosos seres alienígenas e místicos que matam e se disfarçam de seres humanos.
Alexei Vazhin e os Vingadores originais
A inspiração de Chris Claremont para criar o Alexei Vazhin provavelmente veio do seriado britânico de espionagem Os Vingadores (The Avengers, 1961-1969), onde vemos (ou não) no episódio The See-Through Man (05×04) o major e agente secreto soviético chamado Alexander Vazin, interpretado pelo ator Art Thomas.
Na trama, Vazin parece ter a fabulosa habilidade de ficar invisível. A série Os Vingadores tinha uma pegada meio camp, com o mundo da espionagem tratado de um modo mais libertino, liberal e bem-humorado do que o sorumbático e tenebroso mundo real de assassinatos e conspirações políticas, mas ainda assm funcionava.
A série serviu de influência para Claremont em outros elementos do universo X, a maior parte dele para representações de personagens femininas mais fortes, em especial do Clube do Inferno. O nome da Rainha Branca do clube, Emma Frost, vem diretamente de Emma Peel, interpretada por Diana Rigg, uma das protagonistas do seriado.
Algumas das roupas usadas por Emma na série foram inspirações diretas para Jean Grey como Rainha Negra e de outras integrantes do Clube. Aliás, a Diana Rigg era o melhor do seriado dos Vingadores.
Você pode conferir mais detalhes da influência do seriado dos Vingadores nos X-Men nessa thread do perfil do Twitter The Claremont Run, simplesmente um dos melhores trabalhos de análise das revistas escritas pelo roteirista nos X-Men e na Marvel como um todo.
Dame Diana Rigg’s portrayal of Mrs. Emma Peel in the 1960s British TV series "The Avengers" was both iconic and revolutionary. Rigg’s empowering combination of sex and violence influenced many female superheroes, including Claremont’s. 1/10 #xmen pic.twitter.com/NzkQiWbCga
— The Claremont Run (@ClaremontRun) September 11, 2020
Quanto ao seriado Vingadores em si, muitos da geração millennial e geração Z devem conhecer a atriz Diana Rigg pelo papel de Lady Olenna Tyrell, no seriado Game of Thrones (2011–2019), criado pelo escritor George R.R. Martin, grande fã de história em quadrinhos, em especial da Marvel — Stark tem também por lá não à toa
Aliás, é bom citar que Stan Lee e Jack Kirby criaram a equipe de super-heróis Os Vingadores/The Avengers (exatamente o mesmo nome) na Marvel Comics apenas em 1963, dois anos depois da estreia do seriado na TV.
James Bond, Nick Fury e George Smiley
Vale citar a fala de Valerie Cooper a respeito de Alexei Vazhin, quando ela se encontra com ele em The Uncanny X-Men #263:
I don’t believe it — the great Alexei Vazhin — James Bond, Nick Fury, and George Smiley rolled into one — your’e actually scared!”
Evidentemente, ela está devidamente (e obrigatoriamente) referenciado no título dessa matéria.
James Bond
James Bond dispensa apresentações. É o agente secreto mais famoso da cultura pop.
Bond é o agente 007 do serviço de inteligência britânica, o MI-6, um personagem criado pelo escritor Ian Fleming para o livro Cassino Royale (1953). Foi um sucesso de crítica e público.
Em menos de uma década, James Bond 007 entraria para sempre na cultura pop, ao se tornar uma das franquias mais potentes do cinema, com a estreia do filme O Satânico Dr. No (1962), com o ator Sean Connery no papel de 007.
Os filmes são feitos pela produtora oficial EON Productions, detentora dos direitos para as telas das histórias do espião, desde o acordo feito por Harry Saltzman e Albert Broccoli – produtores originais da série – com Fleming, no início da década de 1960.
Fleming foi militar e jornalista antes de se tornar escritor, e seus anos como agente da inteligência durante a Segunda Guerra Mundial lhe deram estofo para criar suas histórias de espionagem.
Fleming tirou o nome do agente de um de um livro predileto de sua esposa sobre ornitologia, Birds of the West Indies, e escreveu 12 livros e 2 contos de James Bond, antes de falecer, em 1964.
Conforme aponta o historiador Eric Hobsbawm, as histórias de espionagem foram um claro subproduto do ambiente de Guerra Fria e nelas os britânicos destacaram-se, compensando a queda de influência do país no sistema internacional.
Lançados entre 1962 e 1989, a maior parte dos 16 filmes de James Bond foram consideravelmente influenciados pelos conflitos da Guerra Fria, e dispensa comentários citar que a URSS foi pintada de vilã em muitos deles.
O primeiro filme deles, 007 contra o Satânico Dr. No (1962), faz clara referência à crise dos mísseis em Cuba. O segundo, 007 Contra Moscou (de 1963, e o título original é bem melhor: “From Russia With Love“, “Para Rússia, com Amor“), ainda tem agentes da SMERSH, acrônimo em russo que significa Morte aos Espiões), nome do departamento de contra-espionagem do GRU (Diretorado Principal de Inteligência) da União Soviética, criada por Josef Stalin.
Em 007 – Só se Vive Duas Vezes (1967), James Bond tem que achar rápido uma aeronave abatida e evitar um confronto de EUA e URSS.
A relação comunista é mais intrínseca do que se pensa. De acordo com informações de arquivos do MI5, o Serviço de Inteligência do governo britânico (o do mundo real mesmo), divulgados em 2010, o roteirista dos filmes do espião James Bond era suspeito de ser agente comunista.
Wolf Mankowitz era um “marxista convicto” e foi espionado por mais de uma década, segundo o MI5. Mankowitz participou na produção e elaboração do roteiro de Dr. No, de 1962, e também das produções outsiders Casino Royale (1967), fora da cronologia oficial.
O roteirista, que morreu em 1998, foi responsável por apresentar Cubby Broccoli a Harry Saltzman, dois produtores de cinema que criariam a EON Productions, que transformou o James Bond dos livros de Ian Fleming em uma potência cinematográfica internacional.
Nick Fury
Nicholas Joseph Fury Sr., mais conhecido como Nick Fury, foi criado por Stan Lee e Jack Kirby nas revistas da Marvel Comics em Sgt. Fury #1 (1963), em aventuras durante a Segunda Guerra Mundial, quando ele era sargento do Exército e liderava o Comando Selvagem.
Depois da guerra, em mais uma missão militar, Fury foi inoculado com a Fórmula Infinito, que retardou seu envelhecimento, conforme uma aventura vista em Marvel Spotlight #31 (1976), escrita por Jim Starlin e desenhada por Howard Chaykin.
Fury se tornou agente da CIA em uma aventura mostrada em Nick Fury, Agent of S.H.I.E.L.D. #38 (1992), escrita por Eliot Brown e Bob Sharp, com arte de Jerry DeCaire. Suas atividades chamaram a atenção de um grupo de oficiais do governo americano e de outros países, bem como de empresários e políticos ao redor do mundo.
E ele recebeu e aceitou o convite para se tornar diretor da SHIELD, comforme mostrado por John Byrne na revista Marvel: The Lost Generation #10 (2000).
Sua atuação como agente da SHIELD começa em Strange Tales #135 (1965), por Lee e Kirby novamente. A partir do número #151 (1966), o desenhista Jim Steranko entra na revista, e seu traço inovador, dinâmico e cinematográfico, muda a revista para sempre.
As aventuras foram mostradas até o número #168 (1968), quando Steranko cria a nova revista Nick Fury – Agent of S.H.I.E.L.D, onde suas pirações gráficas alcançam o ápice, num dos melhores quadrinhos de super-heróis de todos os tempos. A revista durou 18 edições, mas Jim escreveu e desenhou apenas 5 delas.
Nick Fury manteve o status de Diretor da SHIELD por anos na Marvel, e assim ele participou da maioria das sagas da editora.
Fury perdeu seu status militar e de espião quando foi o ponto central da saga Pecado Original (2014). Ele matou o Vigia Uatu (!), tomou seus olhos (!!), assim tendo conhecimento ilimitado não só da Terra desde tempos imemoriais, como grande parte do Universo Marvel em si (!!!).
Ele foi punido por outros Vigias a tomar o lugar de Uatu como Vigia no setor espacial que a Terra está, e ele se tornou The Unseen, “acorrentado” para sempre na Lua.
Em Fantastic Four #25 (2020), escrita por Dan Slott e desenhada por Paco Medina, Uatu rescussita e o status de Nick Fury é alterado mais uma vez, com ele sendo agora um agente de campo do Vigia para a vinda da “Primeira Guerra”, que ainda não foi mais detalhada.
E, como já devem ter percebido, o Nick Fury das revistas da Marvel Comics é bem diferente do Nick Fury dos filmes do Marvel Studios.
Quando a Marvel criou o Universo Ultimate nos anos 2000, o Nick Fury desse universo teve design totalmente baseado no ator Samuel L. Jackson, na arte de Bryan Hitch. Sua primeira aparição foi em Ultimate Marvel Team Up #5 (2001).
Esse quadrinho/cena em especial chamou a atenção do ator e seu empresário, que chegaram a pensar em processar a Marvel.
Mas seria o próprio Samuel L. Jackson a ser chamado para interpretar o personagem nos filmes do Marvel Studios, que faz uma mistura de conceitos e design nas telonas dos materiais originais dos quadrinhos, para criar sua própria narrativa.
O ator na pele do personagem fecha o círculo de autorreferências. Nick Fury/Samuel L. Jackson estreou no primeiro Homem de Ferro, de 2008.
Como ele não era do universo regular da editora, e seu apelo com o sucesso dos filmes do Marvel Studios só crescia, a editora optou por “trazer” o personagem de algum modo.
E assim, ficou estabelecido que Nick Fury teve um filho anos atrás, nunca antes revelado. E ele era, ora só, negro. E que se tornou um militar. E um espião. E, que azar, também perdeu um olho.
O Nick Fury Jr., que na verdade se chama Marcus Johnson, estreou na Marvel em Battle Scars #1 (2011). Apenas depois que descobre seu legado, ele assume o nome do pai.
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George Smiley
O mais desconhecido, ironicamente, talvez seja o melhor. George Smiley é o agente secreto criado pelo escritor John le Carré (1931-2020), autor de quase 30 livros sobre espionagem.
O peso e detalhismo de suas tramas são as que mais se aproximam do universo real da espionagem. O escritor britânico naturalizado irlandês John le Carré é o pseudônimo de David John Moore Cornwell, ele mesmo um ex-espião.
Muitos dos livros de Carré estão no contexto da Guerra Fria, e quando a Cortina de Ferro cai, abraça temas que vão além da problemática causada pela desintegração da URSS, indo do terrorismo islâmico e a situação geopolítica do Panamá, para até mesmo nas maquinações da indústria farmacêutica no continente africano.
A estreia de George Smiley acontece no livro O Morto ao Telefone (1961). Logo depois, Carré publicou um dos seus melhores trabalhos, O Espião Que Saiu do Frio (The Spy Who Came in from the Cold), em 1963.
Ele retrata Alec Leamas, um agente britânico enviado para a Alemanha Oriental como um falso desertor para semear desinformação sobre um poderoso oficial de inteligência da Alemanha Oriental. É aqui que ele apresenta o Circus, o departamento responsável pelas atividades secretas militares do Reino Unidoem seu universo literário.
O livro ganhou uma adaptação para o cinema apenas dois anos depois, em 1965, pelo diretor Martin Ritt, com o ator com Richard Burton como o espião Leamas.
Em 1974, Carré publica O Espião Que Sabia Demais (título original: Tinker Tailor Soldier Spy). Na trama, os britânicos desconfiam de espionagem do exército soviético dentro do Circus.
Para investigar quem é a “toupeira” (o agente infiltrado), o já aposentado agente secreto George Smiley tem que assumir o trabalho. O livro foi um sucesso desde o começo, com aclamação da crítica e público.
O livro ganhou uma sensacional adaptação cinematográfica em 2011, dirigida por Tomas Alfredson e com um elenco estelar: Gary Oldman (magnífico como George Smiley), Colin Firth, Tom Hardy, John Hurt, Toby Jones, Mark Strong, Benedict Cumberbatch e Ciarán Hinds.
Complexo e inovador ao tratar temas sociais e políticos dos valores ocidentais-capitalistas e orientais-capitalistas, é uma das melhores obras do gênero de espionagem, com George sendo o mais impassível e analítico dos agentes secretos, longe da algazarra e carnaval do senso comum da cultura pop.
Tinker Tailor Soldier Spy é uma romantização de John le Carré sobre suas experiências durante as revelações nos anos 1950 e 1960 que expôs os traidores da inteligência britância conhecidos como “Os Cinco de Cambridge ” (The Cambridge Five): Guy Burgess, Donald Maclean, Anthony Blunt, John Cairncross e Kim Philby, todos espiões da KGB no Serviço de Inteligência Britânico.
O personagem Bill Haydon do livro é parcialmente derivado de Kim Philby, um oficial sênior e agente duplo que desertou para a União Soviética em 1963.
David Cornwell trabalhou como oficial de inteligência tanto para MI5 e o SIS (MI6), e já afirmou em entrevistas que Philby traiu sua identidade para os russos, o que foi um fator decisivo em 1964 para o fim de sua carreira como agente secreto.
Alexei Vazhin no Marvel Studios
Se fosse para fazer uma aposta, o Destrutor iria numa possível aparição de Alexei Vazhin no seriado Invasão Secreta, que o Marvel Studios prepara para o streaming Disney Plus.
Trata-se de uma adaptação da HQ, com Nick Fury descobrindo uma conspiração envolvendo os Skrulls na Terra. A série deve focar bastante em espionagem. Logo, Alexei Vazhin seria perfeito para ser introduzido.
URSS e a estrutura do tempo nas HQs
Falar sobre soviéticos e russos numa mídia como os quadrinhos de super-heróis é mais difícil do que parece, e não estamos nos referindo às inevitáveis discussões a cerca do capitalismo e comunismo.
O problema real é a identificação temporal dos acontecimentos e como sobrepor isso nas superestruturas narrativas dos quadrinhos de modo funcional.
Stan Lee e a maioria dos outros escritores sempre deram um jeito de refletir de alguma maneira os acontecimentos do mundo real e impactos culturais da sociedade no Universo Marvel.
As imagens abaixo são de Namor The Submariner Annnual 1 (1991), escrita por Dana Moreshead e Mike Thomas, com arte de Phil Hester. São Os Invasores, grupo de super-heróis que atuou na Segunda Guerra Mundial, logo após o fim dos conflitos.
Eles estão com o Presidente dos Estados Unidos, Harry Truman; o primeiro-ministro do Reino Unido, Winston Churchill; e o primeiro-ministro da URSS, Josef Vissarionovich Stalin.
E estas são de X-Treme X-Men #31 (2003), roteiro de Chris Claremont e arte de Igor Kordey. Valerie Cooper dá uma palestra da atual situação mutante para o Presidente dos Estados Unidos, George Bush; o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin; e outros políticos, todos realmente os líderes de seus países em 2003.
E essa outra imagem abaixo é de The Uncanny X-Men #198 (1985), na ocasião em que Mística propõe a criação da Força Federal para Valerie Cooper. Reparem que ela se transforma no Presidente Reagan, o político que comandou os EUA por boa parte dos anos 1980.
Se Valerie Cooper estivesse com 30 e poucos anos quando do seu encontro com Mística, ela estaria cinquentona com Bush e Putin.
Chris Claremont co-criou com John Byrne o Alexei Vazhin como um homem na casa dos quarenta anos de idade, ainda na época da União Soviética dos anos 1970.
Então, no fim da URSS, em 1991, tanto no mundo real quanto no mundo Marvel, o coronel estaria beirando os sessenta anos de idade.
Logicamente, ele não foi retratado dessa maneira — ele ainda permanece quarentão — bem como Valerie Cooper.
Trata-se de um problema recorrente nos quadrinhos de super-heróis americanos, pois não só a Marvel, como a DC Comics e outros editoras que publicam quadrinhos de super-heróis (e até materiais mais distantes disso), não podem envelhecer suas propriedades intelectuais.
Seria um suicídio comercial. O modelo de negócios deles não permite que um Homem-Aranha se aproxime dos 40 anos de idade, nem que o Batman queira se aposentar quando chegar aos 60.
Eles todos tem que ser jovens para sempre para venderem revistas continuamente sem parar.
A imagem abaixo é de Black Widow: Deadly Origin (2010), escrita por Paul Cornell, arte de John Paul Leon. Vemos uma jovem Natasha Romanoff prestes a se tornar a agente secreta Viúva Negra, em uma conversa com Nikita Khrushchov, que liderou a União Soviética durante parte da Guerra Fria como Secretário-Geral do Partido Comunista da União Soviética de 1953 a 1964.
A explicação da Marvel para a aparência atual de Natasha, que permanece ainda na casa dos trinta anos, é que ela tomou uma versão do soro do supersoldado do Capitão América, criada pela dra. Dra. Lyudmila Kudrin. Esse artifício é muito comum de ser usado, mas obviamente não pode ser aplicado para todos os personagens.
Outras vezes medidas drásticas são tomadas. Na minissérie especial A História do Universo Marvel (2019), escrita por Mark Waid e desenhada por Javier Rodríguez, todos os personagens da Marvel relacionados à Guerra do Vietnã (1955-1977), foram deslocados para um conflito fictício, o Conflito de Sin-Cong, país imaginário que estaria acima do Vietnã do Norte e do Laos.
Assim, personagens como Frank Castle (o Justiceiro), Forge, Tony Stark (Homem de Ferro) e muitos outros que participaram da Guerra do Vietnã, na verdade participaram da outra.
Dessa maneira, a Marvel sempre pode usar essa guerra para deixar próxima da atual cronologia seus personagens relacionados.
Isso acontece graças à chamada “escala de tempo escorregadia” (sliding timescale), termo visto na edição Official Handbook of the Marvel Universe: Alternate Universes 2005 #1 (2005).
Ela é a explicação que quantifica a passagem de tempo no Universo 616 (o universo regular da editora Marvel Comics) baseado no início da “Era Moderna” do Universo Marvel, que começa com os eventos de Fantastic Four #1 (1961), a estreia do Quarteto Fantástico nas HQs.
Continuamente, o sliding timescale “escorrega” o tempo sempre pra frente com o passar dos anos.
No início, Reed Richards, Sue e Johnny Storm e Ben Grimm realmente pousaram o foguete e se tornaram os heróis em 1961, mas na medida que os gibis e as histórias, não só deles, mas dos milhares de personagens Marvel, se avolumaram com o passar dos anos, isso se tornou um problema.
Em uma entrevista para a revista Comics Interview #25, nos anos 1980, John Byrne disse que já fazia 7 anos que o Quarteto estava em atividade no Universo Marvel, desde a estreia deles, em 1961. O artista escrevia e desenhava o título.
Na edição Official Handbook of the Marvel Universe A to Z #2 (2008), o período informado do começo dessas atividades do Quarteto era de 13 anos, ou seja, o foguete de Richards pousou na Terra em 1995.
Baseado nessa premissa, os eventos sempre têm que ser ajustados. Em linhas gerais, a cada 6 ou 7 anos nossos, se passa apenas 1 dentro do Universo Marvel. Mas mesmo isso sofre revisões.
Uma das explicações mais recentes foi dentro dos próprios gibis. As imagens abaixo são de Ultimates #5 (2016), escrita por Al Ewing, com arte de Kenneth Rockafort. É uma explicação do tempo no Universo Marvel, usando algo parecido com o sliding timescale, dita pelo próprio Galactus.
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