X-MEN | O Inferno de Jonathan Hickman

O run do escritor Jonathan Hickman nos X-Men da Marvel chegou ao fim de modo eficiente e revelador com a mini saga de 4 edições chamada Inferno.

Desde 2019 no comando da imensa revolução que promoveu nos mutantes — com a mega saga House of X e Powers of X –, o escritor conseguiu reposicionar os X-Men como uma potência sci-fi governamental e militar no mundo do Universo Marvel.

Política, ação, lutas, religiosidade e discussões sociais nunca estiveram tão presentes na mitologia X, que teve seu escopo alçado até às estrelas, com até mesmo o domínio mutante do planeta Arakko (antigamente conhecido como Marte).

Depois de tanto tempo, é seguro dizer que os X-Men de Jonathan Hickman foi uma das melhores fases de todos os tempos nos gibis da Marvel e dos X-Men, logo atrás da fase 1980 dos X-Men de Ann Nocenti, Chris Claremont, John Romita Jr., Marc Silvestri e Dan Green, que também fizeram uma fase Inferno na equipe.

Inferno de Jonathan Hickman tem arte de Valerio Schiti (que estava fazendo a a arte da revista S.W.O.R.D. antes), além de participações especiais de RB Silva (desenhista brasileiro, que fez Powers of X) e Stefano Caselli (desenhista que trabalhou por muito tempo com Hickman em Guerreiros Secretos, o primeiro “grande” título dele na Marvel). Ficou faltando o Pepe Larraz, que desenhou House of X.

Jonathan Hickman Inferno

Jonathan Hickman Inferno
Artes promocionais de Inferno de Jonathan Hickman, antes de seu lançamento
Jonathan Hickman Inferno
Capa da primeira edição de Inferno de Jonathan Hickman

Mas como como Jonathan Hickman termina seus X-Men com Inferno?

A despedida de Jonathan Hickman

Jonathan Hickman Inferno
As várias vidas de Moira McTaggert

A narrativa não-linear recupera elementos apresentados em HoX/PoX, como as linhas de design explicativas das vidas de Moira X, e mais importante, o desejo secreto das máquinas.

E presente desde os primeiros momentos de HoX/PoX, a situação-bomba de Sina explode num verdadeiro Inferno para os X-Men nesta saga, onde promessas são quebradas, algo instituído por Jonathan Hickman desde o começo de seu run. O que se poderia esperar de um perigoso jogo com a mais mortal das jogadoras, Mística?

Jonathan Hickman Inferno
Uma jogadora como Mística não ficaria em xeque por todo esse tempo

Hickman foi também sagaz ao mostrar o que esperávamos acontecer no fatídico encontro de Sina e Mística com Moira, mas na realidade ser completamente diferente do que realmente é. A sequência visual do artista Valerio nos leva a uma conclusão segura, mas somos surpreendidos.

Temos uma batalha épica do Professor X e Magneto contra o Nimrod 2021 e a Sentinela Ômega/Karima, em algo há muito esperado pelos x-fãs: o líder dos X-Men e o Mestre do Magnetismo, lado a lado, em uma luta contra seus inimigos. Excelente arte de Valerio.

E os antagonistas serem Nimrod e Karima não é mera coincidência — sem surpresas aqui, já que Jonathan amarra suas tramas de modo notável, herança de seu passado designer, que ainda opera aqui com força.

E justiça seja feita: o trabalho de design de logos, capas e páginas é do designer Tom Muller, um dos grandes responsáveis também pelo sucesso da linha das revistas dos X-Men.

O designer Tom Muller e seus trabalhos

House of X / Powers of X (2019)

Antes, um breve panorama do que Jonathan Hickman construiu até aqui.

Jonathan Hickman Inferno
A capa de House of X #1

Em Dinastia X e Potências de X (as traduções adotadas no Brasil para House of X e Powers of X, respectivamente, e que não mais usaremos aqui por razões de…ruim demais), nós descobrimos que Moira MacTaggert, uma cientista humana, amiga íntima de longa data e ex-namorada do Professor Charles Xavier, uma grande aliada dos X-Men, na verdade era uma mutante, com a mais incrível das habilidades: o poder de reencarnar e lembrar de tudo o que viveu em cada vida.

Isso possibilitou a ela vivenciar várias vidas. Moira percebe logo na segunda (quando descobriu que era uma mutante afinal), ainda no útero de sua mãe, que ela era especial, e que teria problemas.

Moira muda os X-Men para sempre

Ainda mais porque em todas as vidas que experimentou, os mutantes sempre acabam extintos pela humanidade, ou por meio das máquinas, e até mesmo por uma síntese dos dois — que se transformam em um novo tipo de ser humano híbrido.

O futuro dos mutantes e da humanidade é muito mais complexo do que parece

Hickman é muito hábil aqui, ao determinar nosso destino inevitável de criar a inteligência artificial em algum momento — isso será conquistado em algum ponto, e representará não só a ruína para a raça mutante, como para a humanidade também.

A criação da inteligência artificial é inevitável, e isso afeta diretamente ter Sentinelas e Nimrod por aí

Em uma de suas vidas, Moira decidiu dedicar-se à encontrar uma cura para sua mutação, pois a considerava uma doença. E ela até conseguiu, porém, não teve tempo de usar, pois foi impedida pela Irmandade de Mutantes, que atacou o local.

Nessa linha narrativa-temporal, a vidente Sina, companheira de Mística no grupo, ainda estava viva (no Universo Marvel regular, Sina foi morta em The Uncanny X-Men #255, de 1989).

Em uma das suas vidas, Moira acaba cruzando o caminho de Sina, Mística e a Irmandade de Mutantes

Sina se apresenta a Moira, e de imediato a velha entende o poder dela de reencarnação. E diz que irá encontrá-la e matá-la em todas as vidas em que tentar agir contra a sua própria espécie. Além disso, a mutante revela que consegue ver apenas dez vidas para Moira, e que ela morreria na décima vida, antes dos seus poderes se manifestarem.

Moira, em sua vida atual (justamente a décima, a atual no Universo Marvel regular de agora), entendeu que o jeito de garantir a sobrevivência seria a união de todos os mutantes — heróis, vilões, todo e qualquer um que seja.

É dela a idealização de união total, a ideia de juntar todos em um lugar, a ideia de uma nação.

Os maiores inimigos dos X-Men tem que se curvar à Krakoa se quiserem fazer parte da nação

E se você parar para prestar atenção realmente, Jonathan Hickman cria um soft reboot no Universo Marvel e nos X-Men, ao fazer Moira revelar toda sua existência, segredos e anseios para um jovem Charles Xavier, antes de todas as histórias dos X-Men que lemos durante todos esses anos na Marvel (1963 até 2019).

Munido do conhecimento adquirido — e a despeito de todos os conflitos vistos em todas as revistas dos X-Men até então — Xavier se reaproxima de antigos aliados e inimigos — como Magneto — e elabora um plano secreto que leva décadas para se concretizado.

Krakoa deu e dará certo no Universo Marvel, até no futuro — caso isso se mantenha editorialmente, é claro

Mas ele consegue, e Krakoa, a nação mutante, emerge na geopolítica da Terra, ao mesmo tempo que Moira fica nas sombras, escondida de todos, menos de Xavier e Magneto. Ela exige essa discrição e outra coisa: que nenhum mutante com poderes precognitivos esteja em Krakoa. E isso incluí até mesmo ressuscitar pessoas com esses poderes — os mutantes agora conseguem ressuscitar qualquer mutante morto graças a um elaborado uso de habilidades de cinco mutantes especiais (um deles é Proteus, filho de Moira, que, aliás, estava morto também).

Ao longo de toda a fase de Hickman em HoX/PoX e dos escritores que se seguiram, Charles Xavier e Magneto, em segredo dos demais X-Men, tem coordenado missões para impedir o surgimento do(s) Nimrod, o(s) sentinela(s) de última geração, que tem como objetivo caçar mutantes, e que representam um ponto de inflexão na História, quando a inteligência artificial será insuperável e trará o apocalipse inevitável para humanos e mutantes.

Xavier do passado, Xavier do presente, Nimrod do futuro, e o futuro da própria humanidade

Xavier e Magneto também estavam desviando o máximo possível de atender o único desejo da perigosa e traiçoeira Mística quando ela aceitou se aliar à Krakoa: que ressuscitassem sua companheira, Sina.

O grande xadrez de Moira com Mística e os mutantes precognitivos como Sina em Krakoa explode em Inferno

Inferno (2020-2021)

Edição 1

Jonathan Hickman Inferno
Moira TEM que matar Mística

O começo de Inferno consiste de Moira exigindo a morte de Mística. Xavier e Magneto estão relutantes quanto a isso. E o final, com Mística introduzindo Sina diante do Conselho de Krakoa, é de perder as palavras, tal qual todos ficaram também. Uma construção muito poderosa de Hickman e Valerio.

Jonathan Hickman Inferno
E é claro que Mística dribla isso, e ainda ressuscita Sina

Edição 2

Sabemos mais do passo a passo de Mística em seu engenhoso plano de ressuscitar Irene Adler/Sina, que retorna um tanto que diferente desde sua última aparição, quando foi assassinada por David Haller, o Legião, em Uncanny X-Men #255, quando os Carniceiros invadiram a Ilha Muir (de propriedade de Moira) para matar todos e qualquer um relacionado aos X-Men.

Sina prevê sua própria morte em The Uncanny X-Men #254

E ela morre nas mãos do sempre instável mentalmente Legião. Moira está presente quando Tom traz o corpo dela para Mística

Nessa época, todos os X-Men estavam mortos ou perdidos sem memória por aí no mundão. Aliás, é nesse número que Forge e Banshee decidem ir atrás dos heróis, o primeiro passo de Chris Claremont em remontar peça por peça os X-Men, no qual resultaria no aclamado run com Jim Lee, que alcançaria o auge no lançamento de X-Men #1, de 1991.

Forge tem uma visão e uma luta com o Rei das Sombras em The Uncanny X-Men #253, e descobre que Tempestade não estão estava realmente morta depois dos eventos de A Queda de Mutantes, onde foi ele quem inclusive a “matou” e aos outros X-Men para derrotar o Adversário
Depois do confronto com os Carniceiros na Ilha Muir e a morte de Sina e de outros, ele se junta com Banshee para procurarem os X-Men, já que Lorna Dane, a Polaris, lhes disse que os X-Men ainda estavam vivos por aí
Toda a procura deles pelos heróis culminará na aclamada fase do desenhista Jim Lee com os X-Men
O enorme sucesso fez os X-Me se dividirem até em duas equipes: a Azul e a Dourada

Edição 3

Sina e Mística enchem o saco de todos os membros do Conselho, Irene importuna as irmãs Stepford (fala até mesmo o destino de algumas delas) e causam muito em Krakoa.

Hickman faz um ajuste de idade na personagem, já que Raven Darkholme, a Mística, a queria na mesma idade quando elas se conheceram — quando morreu, a Irene devia ter uns 70 anos. Era um bom exemplo de relação homossexual lésbico, e mais, de relação geracional, que se perde aqui agora.

Temos mais um sensacional organograma de design da linha de tempo de Karima Shapandar, a Sentinela Ômega, que se revela muito mais importante para a trama do que imaginamos.

Hickman amarra sua história e presença muito bem desde os eventos fatídicos de HoX/PoX, assim como Nimrod e suas confusas encarnações passadas, presentes e futuras.

O roteirista cria uma espécie de nova versão de Dias de um Futuro Esquecido, a saga dos X-Men escrita por Claremont e desenhada por John Byrne, presente em The Uncanny X-Men #141-142 (1981). Foi quando uma Kitty Pryde velha do futuro (o ano era 2019) retornou mentalmente no tempo para impedir que Mística e Sina e o resto da Irmandade matassem o senador Robert Kelly, a fim de impedir um futuro pós-apocalíptico em que os Sentinelas matavam mutantes, dominaram os humanos e destruíram o mundo.

Dias de um Futuro Esquecido, uma das mais clássicas sagas dos X-Men. Reparem em Mística e Sina na imagem

Mais importante ponto até aqui: TUDO que Moira planejou deu certo: a “Era de Krakoa” nesse momento do Universo Marvel regular dará certo e nessa vida os mutantes vencem e derrotam os humanos e máquinas.

Mas Hickman é engenhoso, e faz um Dias de um Futuro Esquecido reverso.

Karima, a Sentinela Ômega (uma ciborgue que até já foi aliada dos X-Men) é uma das sobreviventes do futuro dessa Era de Krakoa atual. E ao ver a aniquilação da sua raça pelos mutantes, ela deseja impedir que isso aconteça.

Jonathan Hickman Inferno
O segredo da Sentinela Ômega sobre o atual futuro mutante da Marvel

Então ela transfere a sua consciência para a sua versão mais jovem, pouco antes dos eventos de HoX/PoX, e começa a trabalhar para impedir a ascensão dos mutantes.

É assim que Karima, a Sentinela Ômega, se torna a maior inimiga dos X-Men na atualidade.

É Karima quem fundou a Orchis. É ela a responsável pelo Projeto Nimrod, que Charles e Magneto falharam em impedir — e que acabou surgindo mais cedo aliás.

Jonathan Hickman Inferno

Uma edição sensacional e fundamental de Inferno de Jonathan Hickman para a mitologia dos X-Men.

Edição 4

A luta de Xavier e Magneto contra Nimrod e Karima é uma das mais legais dos X-Men nos últimos tempos.

Jonathan Hickman Inferno
Karima e Nimrod revelam a verdadeira face das máquinas
Jonathan Hickman Inferno
Que luta!

Jonatahn Hickman surpreende e recupera um antigo conceito de Chris Claremont, relacionado à uma história publicada em The Uncanny X-Me #185, com Forge, Vampira, Tempestade e Henry Peter Gyrich (agente federal americano que sempre quis acabar com os X-Men), em uma fase desenhada por John Romita Jr., o que se revela um verdadeiro inferno para todos os envolvidos.

Trata-se da arma “neutralizadora” que Forge, na época ainda à serviço do governo americano, desenvolveu para retirar poderes de mutantes. A intenção era usar em Vampira, uma ex-criminosa que tinha acabado de se juntar aos X-Men, mas ela é usada à revelia de Forge em Tempestade, um tiro disparado por Gyrich.

Tempestade ficou sem poderes por anos por causa disso. 

Um dos momentos mais dramáticos dos X-Men

A história ainda se junta á Guerra dos Espectros, saga da Marvel em 1984 que tratava da invasão alienígenas desses perigosos seres à Terra

Por motivos de ser engenhoso e legal demais, não contaremos aqui o desenrolar dos fatos para estragar a experiência. É muito criativo. Leia.

Também é muito legal ver como Cifra deixa em xeque a Sina e Mística apenas com palavras bem ditas, e o destino de Moira balança de um lado e para o outro, com diálogos e uma situação de tensão incrível antes de um final em aberto dos mais satisfatórios.

Jonathan Hickman Inferno

Com Moira novamente por aí, podemos esperar mais desdobramentos íntimos com pessoas relacionadas à ela, como seu filho Kevin MacTaggert, o já citado Proteus, a filha adotiva Rahne Sinclair (a Lupina dos Novos Mutantes) e mesmo seu antigo namorado, Sean Cassidy, o Banshee.

Pós-Hickman, Pós-Inferno

Com o fim de Inferno, Jonathan Hickman oficialmente deixa o “X-OFFICE” dos X-Men, como é chamado informalmente o grupo de editores e escritores que cuidam das histórias em quadrinhos dos X-Men na Marvel.

Em entrevista ao site AIPT, o editor-chefe dos X-Men, Jordan D. White, explicou que a saga Inferno de Jonathan Hickman na verdade representou apenas parte de um primeiro arco de sua trama que ele planejou dos seus X-Men.

E se antecipa a dizer que nada foi alterado do que Hickman queria, apenas que os planos postos na mesa ganharam mais vulto e foram estendidos com base no desenrolar atual dos acontecimentos e receptividade do público.

Hickman planejava, por exemplo, destruir Krakoa em pouco tempo, mas o sucesso imenso do novo status dos mutantes no Universo Marvel como conceito mudou tudo.

Krakoa, a nação-mutante da Marvel Comics

De acordo com Jordan, Jonathan Hickman planejou três arcos, mas nunca disse quanto tempo cada um deles iria durar, e Inferno abreviou tudo isso. “Na verdade, no início, não chamávamos isso de três atos. Chamamos isso de ‘ano um’, ‘ano dois’, ‘ano três’“, disse Jordan na entrevista. “Tipo, o ‘ano um’ pode durar 10 anos“, explicou na matéria, o que diz muito sobre os X-Men pós-Inferno de Hickman. Aliás, Jordan garante que Jonathan ajudou a planejar os próximos três anos de histórias.

Resta saber agora quem irá ocupar o lugar de força-motriz criativa de Jonathan Hickman nos X-Men após Inferno.

Gerry Duggan? Tini Howard? Benjamin Percy? Al Ewing? Kieron Gillen?

Jonathan diz que não assumirá mais títulos mensais dos X-Men, mas que ainda estará por perto deles, na “Next Big Marvel Thing™” (“a próxima grande atração da Marvel“), que ainda está para ser revelada. Será ele o arquiteto do bombástico evento de X-Men vs. Vingadores vs Eternos já anunciado?

Lembrando que o roteirista Kieron Gillen está aplicando o mesmo mood Hickman de sci-fi cósmico grandioso épico de ação nos Eternos, uma HQ que está bastante legal, com artes sensacionais de Esad Ribic.

As estruturas organizacionais dos Eternos, pelo designer Clayton Cowles, nos mesmos moldes de design de Tom Muller nos X-Men

As promessas de 2022 são boas para os X-Men. A nova fase se chamará Destiny of X — aliás, Destiny é o nome original em inglês da personagem Sina

A nova fase trará um título semanal (ainda com alguma participação de Hickman) ainda a ser detalhado, novos títulos que continuam os anteriores (como Knights of X para o extinto Excalibur) e muitas outras novidades, como o título Immortal X-Men, que parece ser aquele que continuará diretamente os eventos pós-Inferno.

Essa revista tratará sobre o Conselho de Krakoa e suas dinâmicas (será tipo Game of Thrones?) e será escrita por Kieron Gillen, com ilustrações do desenhista brasileiro Lucas Werneck, que recentemente trabalhou no título The Trial of Magneto, onde a Feiticeira Escarlate se redimiu de todos os problemas causados em Dinastia M (2005).

Arte promocional dos X-Men pós-Inferno, baseada no clássico quadro da Santa Ceia (afresco de Leonardo da Vinci para a igreja de Santa Maria delle Grazie em Milão, Itália, 1495–1498)

Essas derivações de revistas estão presentes desde o começo dos planos de Hickman. Durante a “Primeira Era de Krakoa” (pós-HoX/PoX), tivemos vários títulos. A começar pelo próprio Hickman, que não ficou apenas com a saga inicial: ele mesmo escreveu o título principal dos X-Men (2019), com arte de Leinil Francis Yu, em 21 edições que ampliaram e detalharam os conceitos de Krakoa e o mundo impactado por ele.

Além desse X-Men, Hickman co-escreveu com Ed Brisson várias das 23 edições de New Mutants, um dos grupos preferidos de Jonathan. A arte ficou por conta do desenhista brasileiro Rod Reis. É incrível que Hickman e Brisson tenham conseguido criar algo bom e interessante com os Novos Mutantes, sempre carentes de boas histórias.

Benjamin Percy escreveu o primeiro título de Wolverine (2020) desde o começo do pós-HoX/PoX, com desenhos de Viktor Bogdanovic e Adam Kubert, artista clássico do herói nos anos 90. Já foram 19 edições e vem mais por aí, já que Percy vai continuar na “Segunda Era de Krakoa” em 2022 com uma revista chamada “As X Vidas/Mortes de Wolverine“, em uma trama que está para ser melhor detalhada.

Percy também escreveu X-Force (2019), com arte de Joshua Cassara, em 26 edições cheias de sangue, morte e missões secretas. Ver o Wolverine dividido ao meio após ser cortado por um portal de Krakoa é apenas uma das pérolas da série.

Uma das revistas derivadas de House of X/Powers of X

Hellions (2020) teve 18 edições e foi escrita por Zeb Wells e desenhada por Stephen Segovia, em uma trama absurda do Senhor Sinistro com sua própria equipe, cheia de personagens relutantes, como Psylocke e Destrutor, muito mal-aproveitado aqui (pra variar). Ponto para o perigoso retorno de Madelyne Pryor, a antiga clone de Jean Grey, a ex-Rainha dos Duendes que deu início à saga Inferno, a primeira com esse nome, escrita por Chris Claremont em 1988 (The Uncanny X-Men #240-244).

“Algumas vezes um bom planejamento leva uma vida inteira”
A Saga Inferno dos anos 1980 é uma das grandes histórias dos X-Men e da Marvel, e não tem relação alguma com a obra derradeira de Jonathan Hickman, a não ser o nome

Aliás, bom citar que num primeiro momento a Marvel optou em espelhar certos moods visuais da saga Inferno 1989 com a Inferno 2021 em materiais promocionais (como a foto de capa dessa matéria), apesar de nada terem a ver uma com a outra, a não ser o nome.

Gerry Duggan começou no pós-HoX/PoX em Marauders (2019), a revista dos novos Carrascos, antigos inimigos sanguinários dos X-Men, e que aqui apenas dá nome ao título. Gerry e o desenhista Matteo Lolli fizeram grandes histórias da capitã Kitty Pryde e dos outros heróis mutantes singrando os mares atrás dos inimigos dos mutantes em sua geopolítica krakoana. Foram 26 edições de Marauders, que ainda continuará em 2022.

Duggan ficou à frente também de Hellfire Gala (2020), a saga que mostrou ao mundo humano e aos outros heróis a conquista de Marte pelos mutantes, além de dar uma nova equipe civil de X-Men para proteger os humanos a partir de uma base em Nova York.

A nova equipe dos X-Men para o mundo humano

Duggan também escreve a série regular dessa equipe na revista chamada simplesmente X-Men, que já está em sua sexta edição. Ela promete fortes emoções, a julgar pela capa da edição #10, arte de Pepe Larraz, abaixo.

E essa capa para X-Men #10?

Duggan talvez seja a melhor aposta em ser o “novo Hickman.”

Fallen Angels (2020), escrita por Bryan Hill e desenhada por Szymon Kudranski, com aventuras solo de Kwannon, a assassina asiática do Tentáculo que por anos estava fundida com Betsy Braddock, a Psylocke (atual Capitã Britânia).

Tini Howard escreveu Excalibur (2019), que teve 21 edições. Ela e o artista Marcus To mostraram os mutantes de Krakoa e suas relações com os mundos extradimensionais e os caminhos da magia. Bem inesperado mas bem criativo e desenhado.

Ela também ficou à frente da saga X de Espadas (2020), o Mortal Kombat dos X-Men contra os mutantes de Arakko, a ilha-irmã de Krakoa, que ficou milênios escondida em uma dimensão demoníaca.

A roteirista ainda trabalhou em uma revista da segunda fase dessa era, X-Corp (2021). Foram 5 edições, com arte de Alberto Foche (e capas lindas de David Aja), com Anjo e Monet em intrigas corporativas das relações comerciais de Krakoa com os nações humanas da Terra.

Arte. Estilo. Design. David Aja tem de sobra

Simon Spurrier escreveu Way of X (2021), com Bob Quinn desenhando as 5 edições, onde vimos Noturno e o Legião (o assassino de Sina) finalmente aparecendo em Krakoa, além da volta de Massacre, o megavilão dos anos 90 que mudou o Universo Marvel nos anos 90 para sempre.

Massacre foi um divisor na Marvel Comics, tanto editorialmente quanto comercialmente

Spurrier retorna para Legion of X, com desenhos de Jan Bazaldua. O Fanático está em Krakoa pelas artes divulgadas, o que significa que humanos são permitidos na ilha agora?

O escritor Al Ewing fez S.W.O.R.D. (2020) com o artista Valerio Schiti (isso que o credenciou para Inferno), e por 11 edições vemos o crescimento dos mutantes de Krakoa na proteção espacial da Terra — e muito mais que isso.

Atenção especial para Abigail Brand, que aparenta ser muito mais que é. E pela chocante morte do último número, que vale até o spoiler: o desgraçado Henry Peter Gyrich encontra seu fim aqui, ao ser jogado no espaço sideral sem proteção nenhuma.

Henry Peter Gyrich é morto. E esperamos que fique assim

Al escreverá X-Men Red, que tratará sobre os mutantes em Arakko/Marte.

Henry Peter Gyrich sempre foi uma pedra para os heróis da Marvel. O personagem foi criado por Jim Shooter e George Perez em Avengers #165 (1977), como membro da mais alta cúpula do Conselho de Segurança Nacional, bastante próximo da Presidência, e colocado no cangote dos Vingadores como elo do governo com a equipe. Atrapalhava mais que ajudava.

Depois que saiu dessa posição, Gyrich começou a perseguir os mutantes no nascimento do Projeto Despertar, a primeira iniciativa federal de construção dos Sentinelas, nascida imediatamente após os eventos da já citada saga Dias de um Futuro Esquecido. Foi essa a semente que culminaria no perigoso Nimrod.

Henry Peter Gyrich tratou diretamente com o Presidente dos Estados Unidos a criação do Projeto Despertar para fazer Sentinelas e caçaram mutantes, logo após a tentativa de assassinato do senador Kelly

Gyrich também teve relações burocráticas com os Thunderbolts (depois que os Vingadores foram “mortos” pelo Massacre nos anos 90), com o Pantera Negra, tentou caçar e matar o Hulk por várias vezes, esteve envolvido com a Iniciativa (pós-Guerra Civil) e teve o primeiro contato com a questão alienígena na Terra quando se juntou à S.W.O.R.D., já comandada por Abigail Brand na época.

Ele ainda manteve esse status quando esteve relacionado à Tropa Alfa, que estava integrada à S.W.O.R.D., ocasião em que caçou o Hulk de novo.

Nos últimos tempos, Gyrich se aproximou da Orchis, e tentava deter o poder crescente de Krakoa sobre as conquistas espaciais, fazendo uma pretensa aliança com Brand, que já sabia dos planos dele.

Pelo roteirista Al Ewing ter assassinado um personagem tão importante nas esferas de poder executivo do Universo Marvel, isso o credencia também para ser o “novo Hickman”, já que as repercussões da morte de Gyrich exigem uma retaliação proporcional.

O que será que vem por aí?

Mística em X-Men #20. Uma das grandes capas da Marvel Comics de 2021
Essa imagem diz muito sobre os X-Men de Jonathan Hickman, já que ele foi um dos roteiristas que mais utilizou os Illuminatti, grupo que reunia os “maiorais” de cada área: Xavier dos mutantes; Reed Richards e Tony Stark dos humanos e ciência; Dr. Estranho da magia; Namor dos sete mares; Pantera Negra de Wakanda; e Capitão América, que entrou por último no grupo, cortesia do próprio Hickman. Ficou faltando o Raio Negro dos Inumanos, que a Marvel parece estar escondendo há um bom tempo. A imagem acontece por ocasião do Hellfire Gala, quando os mutantes de Krakoa se abrem ao mundo. Xavier não está mais entre os Illuminatti, por óbvio

As três leis de Krakoa instituídas por Jonathan Hickman em sua fase, mas e agora depois de Inferno?
Obrigado por ler até aqui!

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