AMANDA WALLER | O poder da política em Esquadrão Suicida

Os motores dos quadrinhos de super-heróis tiveram a política como gasolina desde a mais tenra idade, como Amanda Waller bem sabe e como Superman, nascido em 1938, pouco mais de um ano antes do começo da Segunda Guerra Mundial.

E quando os Estados Unidos entrou definitivamente na guerra, em 1941, mesmo ano em que é publicada Capitão América, da Marvel Comics , não devemos tomar como surpresa que o “superpoder” de Amanda Waller no Esquadrão Suicida ser a política.

Amanda Blake Waller é uma das personagens ficcionais mais duronas dos quadrinhos de super-heróis americanos, já vista em desenhos animados, filmes e séries, sempre atrelada aos contextos do Esquadrão Suicida.

Não tem Mulher-Maravilha, não tem Mulher-Gavião, não tem Canário Negro, não tem Vovó Bondade, nem outra figura feminina — ou masculina — na DC que se iguale em relevância. E ela não tem poder algum, a não ser o maior de todos: a política.

Primeira aparição nos quadrinhos (literalmente) de Amanda Waller. Criada por John Ostrander, na arte de John Byrne. O diálogo é uma resposta dela para uma citação racista com referência à plantações americanas de algodão
Uma das melhores imagens da DC Comics: Amanda Waller dando uma coronhada na boca da Vovó Bondade, uma velha demônia do planeta infernal Apokolips, e treinadora dos lutadores mais casca grossas do maior vilão da DC, Darkseid

Amanda Waller é uma mulher humana comum, negra, divorciada, mãe de dois filhos, vinda literalmente de baixo, e que galgou a escadaria burocrática do governo americano do Universo DC, até a posição de comando dos mais perigosos e escusos departamentos secretos governamentais, que ditam a dinâmica de superseres e o poder constituído na narrativa ficcional da DC Comics.

Com efeito, seu poder supera o do Presidente dos Estados Unidos, e até mesmo do Batman.

E se as representações de Amanda Waller fora dos quadrinhos — a mais proeminente vista em Esquadrão Suicida (2016), o bagunçado filme de David Ayer, com uma interpretação ótima da atriz Viola Davis, repetida em O Esquadrão Suicida (2021), de James Gunn (cineasta responsável pelos filmes dos Guardiões da Galáxia da Marvel Studios).

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Amanda Waller, em arte promocional de Luke McDonnel para a DC Comics, artista que deu a identidade do Esquadrão Suicida na maior parte do tempo de John Ostrander nos roteiros

Esquadrão Suicida, Ronald Reagan,
Amanda Waller e os anos 1980

A Presidência de Ronald Reagan nos Estados Unidos teve início em 20 de janeiro de 1981, quando foi empossado como o 40º Presidente.

Reagan nasceu no estado do Illinois em 6 de fevereiro de 1911, e após ter sido governador da Califórnia entre 1967 e 1975, foi vitorioso nas eleições presidenciais de 1980, derrotando o então Presidente Jimmy Carter que buscava uma reeleição.

Ronald Reagan foi ator e atuou em Hollywood por 30 anos. E como é de costume nos EUA, ele sofreu uma tentativa de assassinato, por John Hinckley Jr., posteriormente declarado insano. Reagan foi o primeiro presidente em serviço que foi baleado e sobreviveu a uma tentativa de assassinato.

Ele já tinha 70 anos de idade, e junto com o presidente soviético Mikhail Gorbachev, ditavam a última década da Guerra Fria, o maior conflito geopolítico mundial desde a Segunda Guerra. Reagan acelerou o fortalecimento das Forças Armadas e liderou a Invasão de Granada (1983), o que se tornou a maior operação militar americana desde a Guerra do Vietnã.

A “Doutrina Reagan” também forneceu apoio ideológico às forças paramilitares que se ergueram contra governos esquerdistas, particularmente na América Central e no Afeganistão.

Reagan bombardeou a Líbia (1986) e se enrolou no caso Irã-Contras (1986). No fim de seu mandato, em 1989, o Muro de Berlim caiu, junto com a Cortina de Ferro e o império soviético, no esfriamento da Guerra Fria.

O Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan, e Mikhail Gorbachev, o Presidente da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, ainda nos anos 1980, durante a Guerra Fria

É sob o peso de tudo isso que no universo imaginário de seus quadrinhos de super-heróis, a DC Comics criou Amanda Waller, uma figura-chave para entender diversos aspectos que podem ser postos em paralelos de cultura pop e política.

É preciso contextualizar Reagan, pois isso eclipsa outro fator importante da personagem. Pois, antes de representação feminina e racial, Amanda Waller reflete as posições políticas de direita dos EUA.

Tamanha era a importância de Ronald Reagan que a revitalização da própria direita americana é atribuída a ele.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Arte promocional da DC Comics para o Esquadrão Suicida

E ler os mais de 60 números da primeira série do Esquadrão Suicida comandada por Amanda Waller é mergulhar em um rico universo, cheio de dinâmicas de ação em missões de assassinato em países do Terceiro Mundo na América Latina, contra terroristas no Oriente Médio, em espionagens no União das Repúblicas Socialistas Soviéticas – URSS, e até mesmo operações secretas black ops dentro do território dos EUA, com o direito óbvio de assassinatos de políticos americanos.

Para fazer o Esquadrão Suicida, o roteirista John Ostrander se baseou diretamente no filme Os Doze Condenados (1967), de Robert Aldrich, um clássico do cinema, com uma equipe de soldados descartáveis reunida para levar a cabo missões perigosas contra as forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial.

Nota-se também influências claras da série Missão Impossível, que passou na TV de 1966 a 1973.

O Esquadrão Suicida de Amanda Waller foi criação de John Ostrander e a estreia aconteceu na mini-série em quadrinhos Lendas, a primeira saga pós-reboot de Crise Nas Infinitas Terras.

A história de origem de Amanda Waller na revista definiu aspectos essenciais de outros personagens atrelados ao Esquadrão Suicida, que também fizeram sua estreia na HQ.

Lendas foi a oportunidade perfeita de reapresentar todos os personagens da DC Comics, livres de mais de 50 anos de peso de cronologia, em novos contextos.

Por exemplo, a Mulher-Maravilha fez sua primeira aparição pós-Crise aqui, com arte de John Byrne, que também desenhou Amanda Waller em sua primeira aparição visual.

A criação de Amanda Waller
no Universo DC pós-Crise

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Amanda Waller com o Capitão Bumerangue, Pistoleiro e Tigre de Bronze. Arte de Luke McDonnel

Amanda Waller é uma mulher de pavio curto, de meia-idade, grossa e autoritária. É uma manipuladora competente e excelente jogadora articulista, dona de raciocínio rápido e inteligente.

Ser gorda a faz ainda mais distante dos esteriótipos das heroínas boazinhas e gostosas do senso comum do universo de super-heróis sexualizados. 

Em sua escalada pelo poder nos degraus burocráticos em Washington, capital dos EUA, criou influência na Casa Branca, e propôs a criação de um escritório secreto militar chamado Força Tarefa X, que serviria ao presidente e ao país.

Ela também propôs fazer uso criativo e inteligente dos supervilões encarcerados pelos super-heróis que pipocam por toda a Costa Leste e Oeste dos EUA.

Os criminosos gastavam dinheiro dos contribuintes pelos enormes custos das prisões especiais para mantê-los detidos, e o governo tinha demandas de missões secretas que não poderiam ser feitas pelas forças militares e especiais convencionais.

Esses criminosos poderiam ser de alguma maneira úteis ao país, já que com seus poderes, poderiam realizar as missões.

A Força Tarefa X poderia cuidar da logística das operações para executar essas missões, e é assim que o Esquadrão Suicida é montado. O nome do grupo vem do cunho suicida das missões, dado os níveis de perigo envolvidos para elas sejam feitas.

Esquadrão Suicida Amanda Waller

Uma contrapartida seria a redução de pena criminal dos vilões que topassem as missões.

A inteligência emocional e militar, a estratégia de liderança, logística e tática mental de Amanda Waller lhe davam credibilidade para ter mãos de aço e mente implacável para controlar o seu Esquadrão Suicida, e ela conseguiu o que queria, quando o próprio presidente Ronald Reagan aprova a ideia.

Para forçar os vilões a obedecer as regras e ordens, uma bomba é implantada na cabeça deles. Claro, o controle fica nas mãos de Amanda Waller.

O Esquadrão Suicida
de John Ostrander e
Amanda Waller

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Esquadrão Suicida, arte de Luke McDonnel, anos 1980, DC Comics

É comum certos roteiristas de histórias em quadrinhos de super-heróis usarem presidentes da vida real nos cargos correspondentes, mas de nenhuma maneira isso era regra. O tempo dos quadrinhos se dá de maneira diferente da vida real.

Você não vai ver o Batman virando o Batvovô, por exemplo. Os personagens de gibis são ativos comerciais que devem ser mantidos jovens eternamente para venderem revistas e darem dinheiro.

É um beco criativo sem saída, mas que alguns roteiristas como John Ostrander conseguem driblar com elegância. E ele conseguiu com Amanda Waller e seu Esquadrão Suicida.

Ostrander, nascido em 1949 em Chicago, Estados Unidos, fez seminário para ser padre (abandonou por razões de: mulheres), trabalhou como jornalista e no teatro — foi ator, diretor, dramaturgo (nome dado ao roteirista da área) e sempre gostou de pesquisar muito sobre qualquer coisa que se propunha a fazer.

Seus primeiros trabalhos na área de quadrinhos foram na editora First Comics nos anos 1980. “Sargon, Mistress of War“, uma história da série Warp!, foi sua estreia, graças ao editor Mike Gold, um dos criadores da First Comics e amigo de longa data.

Mas a grande obra de Ostrander na First Comics foi a co-criação de Grim Jack, com o roteirista e desenhista Timothy Truman. A primeira aparição do personagem foi em Starslayer #10 (1983), mas logo ele ganharia vida própria. John Gaunt é o Grim Jack, um ex-militar e agora pistoleiro/espadachim de aluguel em um futuro pós-apocalíptico.

Grim Jack se tornou um sucesso na First Comics, e Ostrander chamou a atenção do mercado. Em convenções de quadrinhos, ele ficou próximo de Robert Grennberger, um editor da DC, que tinha trabalhado na Crise nas Infinitas Terras, a mãe de todas as megassagas, que reorganizou editorial e comercialmente mais de 50 anos de cronologia das histórias em quadrinhos publicadas pela empresa, escrita por Marv Wolfman e desenhada por George Perez.

Mike Gold nessa altura já tinha saído da First Comics e estava na DC, onde seria o responsável por História do Universo DC, uma espécie de bíblia pós-Crise e Lendas, a primeira grande saga do novo universo DC.

Ele também foi editor de vários dos melhores títulos da DC no pós-Crise, como o Questão (roteiro de Dennis O´Neil e arte de Denys Cowan), Arqueiro Verde (do artista e escritor Mike Grell), o Gavião Negro (escrito e desenhado por Tim Truman, o melhor amigo de John), Falcão Negro (roteiro e arte de Howard Chaykin).

O Questão de Dennis O´Neil e Denys Cowan. Edição de Mike Gold. Um dos melhores trabalhos dos quadrinhos de super-heróis

Gold também editou os primeiros números dos novos títulos do Flash (Wally West pós-Crise, na primeira vez com o manto de seu tio, escrito por Mike Baron e desenhado por Jackson Guice) e Xeque-Mate e Patrulha do Destino, ambos escritos por Paul Kupperberg, roteirista importante nessas etapas de readequação do Universo DC, mas nem tão brilhante quanto os outros, mas com um trabalho de destaque imenso com o Vigilante, o “Justiceiro” da DC Comics, um dos poucos personagens que passou intacto pela Crise, que Mike editou do número #35 até o fatídico #50.

Já Greenberg editava as revistas Who’s Who: The Definitive Directory of the DC Universe, a enciclopédia da DC dos seus milhares de personagens no pós-Crise, o novo Starman (roteiro de Roger Stern e arte de Tom Lyle), Espectro (roteiro de Doug Moench, que depois Ostrander assumiria), a Poderosa, edições do Batman e Action Comics (uma das casas do Superman) e adaptações em quadrinhos das séries de TV Star Trek/Jornada nas Estrelas e V. Um destaque de Greenberg foi Atlantis Chronicles (1990), escrito por Peter David e com arte incrível de Esteban Maroto.

Capa de uma das edições de Who’s Who

Ostrander queria de início trabalhar com os Desafiadores do Desconhecido — quatro seres humanos comuns em aventuras fantásticas (Quarteto Fantástico antes da Marvel na DC? SIM!, até porque criados por Jack Kirby em 1957) — mas o título já estava reservado para outros trabalhos futuros.

]A princípio, John não gostou de Esquadrão Suicida, implicando com o nome (“quem que vai querer participar de um grupo com esse nome?”), mas depois que assistiu ao filme Os Doze Condenados, teve a ideia de usar os criminosos da DC como parte da equipe.

A tal revista que Ostrander queria, Os Desafiadores do Desconhecido, demoraria anos para sair, apenas em 1991, escrito por Jeph Loeb e arte de Tim Sale, em uma das primeiras parcerias da dupla.

Os Desafiadores do Desconhecido, pós-Crise, publicado em 1991. Roteiro de Jeph Loeb, arte de Tim Sale. A capa é do artista Brian Bolland

O primeiro trabalho de John Ostrander na DC foi Lendas (1986-1987), e por ser um “iniciante” na empresa, Mike Gold colocou o veterano roteirista e editor Len Wein junto com ele, mas a trama toda é de Ostrander.

A arte ficou por conta de John Byrne, ex-superstar da Marvel e recém-chegado na DC para revitalizar o Superman pós-Crise. Byrne era um velho conhecido por entrar nos roteiros das histórias que desenha também.

O Superman de John Byrne

Apesar de John não confirmar, a aparição do vilão Sunspot (que tinha a cara de Jim Shooter, editor da Marvel e desafeto pessoal de Byrne) na HQ indica que ele mexeu na trama à sua maneira.

Lendas serviu de introdução do Esquadrão Suicida no Universo DC, que logo depois teria seu título próprio, ainda em 1987, com edição de Greenberg.

Por conta da Crise, e a chance de retrabalhar vários personagens do zero, a DC publicava também um título chamado Secret Origins, que contava histórias de origem dos heróis e vilões.

Como Greenberg também editava essa revista, o Esquadrão Suicida teve uma edição sua, e ela serve de “número zero” do novo título do Esquadrão Suicida (apesar de ter saído bem depois do lançamento da revista principal).

Robert também escreveu Secret Origins Vol 2 #28 (1988), que serve de prelúdio de Suicide Squad #14, na história de origem de Sombra da Noite, integrante do Esquadrão na época. Os desenhos são de um jovem Rob Liefeld.

É em Secret Origins Vol 2 #14 que sabemos mais a respeito de Amanda Blake, e como que ela criou o Esquadrão Suicida. Ela nasceu, se criou e fez família em Cabrini-Green, um dos bairros mais pobres e perigosos de Chicago, com uma população majoritariamente negra. Seu marido era Joseph Waller, e tiveram cinco filhos.

Os programas sociais ajudavam a família Waller, Joe Jr. jogava basquete e tentava se afastar da criminalidade, mas ao reagir a um assalto, foi assassinado. Meses depois, Damita, a filha mais velha do casal, é estuprada e trucidada por um criminoso chamado Doceiro.

A polícia sabe quem é o autor, mas nada pode fazer sem testemunhas. Joe não aguenta o sofrimento e raiva da impotência, e decide fazer justiça com as próprias mãos, e atira no Doceiro, que antes também atira. Joe também morre, e Amanda jura que nunca mais vai perder outro membro e sua família.

Ostrander criou Amanda Waller baseado em suas experiências de voluntariado em Cabrini-Green (Mike Gold ia junto também), e entendeu mais um pouco dessa realidade, onde a criminalidade e problemas de justiça social eram bem diferentes do resto dos EUA.

Mesmo às vezes querendo se matar, Amanda trabalhou duro, formou os gêmeos e a caçula na faculdade, e depois se formou em Ciências Políticas. Ela se aproximou de um candidato ao Congresso, Marvin Collins, e conseguiu um emprego de diretora de campanha. Conseguiu eleger o deputado, subiu nas escadas da burocacria de Washington, até chegar perto do Presidente dos Estados Unidos, Ronald Reagan.

Em algum momento, ela topou com arquivos secretos sobre “Esquadrões Suicidas” anteriores, e consegue ter uma reunião com Reagan.

Amanda Waller se reúne com o Presidente Ronald Reagan para criar o Esquadrão Suicida. Junto está um dos conselheiros do presidente, Sargento Steel

Nesse ponto, Ostrander constrói com maestria eventos já estabelecidos, aventuras publicadas, revisões e inserções inéditas para amarrar tudo de maneira inteligente e lógica.

Seu lado pesquisador aqui aparece com força, já que ele morava perto dos escritórios da DC, e foi na biblioteca ler tudo a respeito do que a editora tinha feito relacionado aos personagens — Ostrander é fã de cronologia, mas não se prende à ela.

Havia um grupo durante a Segunda Guerra Mundial, composto de soldados problemáticos e indesejáveis. Eles chegaram a ter missões e aventuras na Ilha Dinossauro, na operação “A Guerra que o Tempo Esqueceu“, pois realmente havia dinossauros no lugar, que poderiam se alastrar pra fora dali.

Os soldados eram indisciplinados, mas foram contidos e comandados pelo coronel Richard Montgomery Flag. Em 1951, a paranoia comunista nos EUA levou os políticos a apertarem os heróis da Sociedade da Justiça, que se recusaram a entregar suas identidades secretas e vidas privadas para o governo. E eles se aposentaram à força.

O Presidente dos EUA na época, Harry Truman, ficou sem referência alguma para combater ameaças, e idealizou a Força Tarefa X, que teria duas equipes: uma civil e outra militar. O Argent seria o lado civil, em operações secretas contra vilões mascarados.

Um sinistro homem chamado Controle ficou como responsável, um oficial de alta patente da antiga OSS (“Escritórios de Servições Estratégicos” em português, o antecessor da CIA, a agência secreta americana).

Harry Truman, Presidente dos Estados Unidos no pós-Segunda Guerra, na criação da primeira Força Tarefa X, que teria duas equipes: Argent e o Esquadrão Suicida

O lado militar ficou com o coronel Jeb Stuart, que alocou o grupo de Flag, já o chamando de Esquadrão Suicida. Eles combatiam cientistas loucos e monstros.

E o Argent lidava com criminosos fantasiados. Flag casou e teve um filho, Rick Flag Jr., mas depois que a esposa morreu em um acidente para salvar o menino, ele perdeu a vontade de viver. Se matou em uma missão. Flag Jr. seguiu a carreira militar, e se aproximou do coronel Jeb Stuart, o melhor amigo de seu pai.

Apesar de John Ostrander não ter feito os Desafiadores do Desconhecido, ele fez Flag ser companheiro de Kyle “Ace” Morgan, um dos Desafiadores, na época em que ambos eram jovens pilotos da Força Aérea.

Quando passou num programa para ser astronauta, Flag conhece Karin Grace, que seria o grande amor de sua vida.

Jeb Stuart reativa o Esquadrão Suicida e chama Flag para compor a equipe, que já tinha o físico Jess Bright e o astrônimo Hugh Evans. Karin também entra.

E é essa equipe que fez a maior parte das missões heroicas e secretas dos Estados Unidos por um tempo, até os super-heróis retornarem às atividades.

A HQ de estreia do Esquadrão Suicida, em The Brave and The Bold #25, de 1959

A Força Tarefa X (que nessa altura estava sem a Argent, que sumiu do mapa sem deixar vestígios) teve sua última missão no Camboja, quando enfrentaram o Abominável Homem das Neves (!) em um templo enterrado na neve. Hugh e Jess morrem, e Flag e Karin não conseguem mais ficar juntos.

É importante citar que no material original (as imagens acima), o Esquadrão Suicida era apenas Rick Flag (nada de Jr.), Karin, Hugh e Jess, e todos eram agentes pós-Segunda Guerra Mundial, nos anos 1950. Foram as revisões da DC e a nova costura de Ostrander que espaçaram o tempo da equipe e ampliaram os conceitos apresentados.

Capa de um encadernado recente da DC para o Esquadrão Suicida original. Arte de Darwin Cooke

Como o governo ia acabar com as verbas da Força Tarefa X, Rick ficou à deriva e foi designado para entrar no grupo Heróis Esquecidos, um grupo composto por Cave Carson (dos Desafiadores do Desconhecido), Homem-Animal, Congo Bill (um caçador que vira um homem-gorila), Dane Dorrance (do grupo de aventureiros Demônios do Mar), a Dolphin, que se envolveria em histórias do Aquaman, o Homem Imortal e Rip Hunter, um viajante do tempo.

Eles ficaram juntos até Crise nas Infinitas Terras. A equipe foi criação do escritor Marv Wolfman e do artista Gil Kane, e estreou em Action Comics #552 (1984). Depois de Crise, Amanda se aproxima de Flag e o chama para ser o novo líder do novo Esquadrão Suicida que montou.

Os Heróis Esquecidos

Quando Amanda consegue ter uma reunião para convencer Reagan de criar o Esquadrão Suicida, a equipe já tinha estreado em Lendas e feito sua primeira missão.

Na reunião também está presente o Sargento Steel, um militar conselheiro do presidente e recorrente em histórias de espionagem da DC.

O personagem é original da editora Charlton Comics, criado por Pat Masulli em Sarge Steel #1 (1964). Quando a editora foi comprada pela DC no começo dos anos 80, todo o line-up de personagens Charlton foi inserido na Crise, e grande parte deles ganharam títulos próprios, como o já citado Questão.

Sargento Steel, originalmente da editora Charlton Comics, e inserido na DC Comics, junto com Amanda Waller e o Esquadrão Suicida

Uma sensacional entrevista recente com John Ostrander feita pelo canal Mundo Gonzo (link) revelou alguns detalhes bem interessantes a respeito da carreira do escritor.

Por exemplo, foi um pedido pessoal dele para que a Batmoça, a Bárbara Gordon, ficasse viva depois de A Piada Mortal (1988), uma obra-prima da DC, escrita por Alan Moore e desenhada por Brian Bolland, cujo plano original era matar a personagem.

Nas mãos de Ostrander, Bárbara se tornou a Oráculo, a maior hacker do Universo DC, não apenas fonte de informação para Amanda Waller, mas para grande parte dos heróis da Bat-família e até fora dela.

John diz que outros roteiristas adoraram o conceito, pois isso cortava caminhos criativos para as histórias, pois nem todos os super-heróis tem dotes detetivescos para se ancorarem em suas aventuras contra vilões.

John Ostrander em uma sensacional entrevista para o canal de YouTube Mundo Gonzo
Amanda Waller com Bárbara Gordon/Oráculo, junto com o resto do Esquadrão Suicida

Sem surpresas, Ostrander diz que os personagens que não poderiam ser mortos no título do Esquadrão Suicida eram Amanda Waller, Pistoleiro e Capitão Bumerangue — que ele sempre se surpreendia em quanto ele podia ir mais baixo em sua personalidade lamentável, à medida que desenvolvia as histórias com suas diferentes situações apresentadas.

O lado pesquisador de Ostrander se reflete, por exemplo, nas minúcias da história da equipe na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas com a mal-fadada missão com Nêmesis.

O escritor pesquisou sobre a extensa linha de trem mostrada na aventura, bem como a prisão onde a mulher-alvo do Esquadrão estava sendo mantida presa. O lado seminarista de Ostrander também está presente na equipe com o personagem capelão de Belle Reve.

Como vimos, John Ostrander é um cara branco, que estudou teologia para ser padre e depois se tornou agnóstico. Ele também foi ator como Reagan, uma profissão que exige se fingir de algo que não é, de representar uma ficção a maior parte do tempo. Ostrander pegou a primeira HQ para escrever aos 26 anos.

Elaborou histórias de faroeste, ficção científica, tramas policiais e de misticismo, sempre entremeadas com algum aspecto político da época.

Em seu trabalho com Lendas, vemos Amanda Waller surgir como líder da Força Tarefa X, que então controlará o Esquadrão Suicida.

Durante os eventos da história, um Novo Deus, um ser cósmico divino, vindo de um mundo infernal chamado Apokolips, começa uma campanha para difamar os super-heróis, e minar sua credibilidade perante ao público.

Disfarçado de um proeminente apresentador de TV, esse inimigo incita a população, que compra a ideia e começa a rejeitar e perseguir os heróis. Ostrander escolhe aqui ter Ronald Reagan na cadeira presidencial, como na vida real. E é ele quem aparece para tomar uma atitude.

Ele não tem outra opção a não ser proibir as atividades dos super-heróis, enquanto a situação não se resolver.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Magia, Capitão Bumerangue, Amanda Waller e Arrasa-Quarteirão em Lendas

Amanda Waller vê que diversos perigos estão se acumulando sem a presença dos super-heróis, e põe em prática a ativação do Esquadrão Suicida.

Liderados em campo pelo militar Rick Flag (remanescente de um antigo grupo que deu origem ao Esquadrão), a equipe é composta pelos vilões Arrasa-Quarteirão e Pistoleiro (um brutamontes super forte e um perigoso atirador psicopata, os dois inimigos do Batman), Capitão Bumerangue (inimigo do Flash), a bruxa Magia e Tigre de Bronze — esse último se chama Ben Turner, e não é criminoso, e sim um lutador marcial que sofreu lavagem cerebral para virar um assassino, e que está em busca de redenção.

E aprendemos logo de cara o principal mote não-oficial do Esquadrão Suicida: nem todos voltam vivos das missões: Arrasa-Quarteirão morre na história, ao enfrentar o monstro gigante Enxofre.

A conclusão de Lendas restabelece os heróis, e sedimenta a posição nas sombras de Amanda, situação que lhe é confortável, e que ela atuaria por um longo tempo. Logo depois da sage, é publicado o primeiro número da revista do Esquadrão Suicida.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Nem o Batman pode com Amanda Waller

No comando do Esquadrão, Amanda Waller obteve muito sucesso em diversas missões. Arrogante e desafiadora, a mulher gerava conflitos por conta disso, entre ela e os seus superiores, oque ocasionava disputas de poder na hierarquia. Mas ela sempre se mostrava certa. Presidentes eleitos e mesmo o Batman ficavam em xeque com Waller.

Logo nas primeiras histórias da revista própria do Esquadrão, o presidente Reagan teve que mandar a Liga da Justiça Internacional para impedir o Esquadrão Suicida de resgatar um de seus membros, Nêmesis, de uma prisão soviética.

Foi a primeira vez que as equipes se encontraram e se enfrentaram na história da DC. A treta foi tão feia que Batman abandonou a Liga depois disso. Vale a pena conhecer ela mais de perto. Confira abaixo.

Liga da Justiça Internacional, contemporânea do Esquadrão Suicida

E Nêmesis pode se gabar de ter sido um dos poucos seres humanos que peitou Amanda Waller e viveu para contar a história.

O personagem é um ilustre desconhecido das fileiras da DC Comics, mas tem sua importância devidamente destacada nesta matéria do blog, que complementa muito do que o mencionado sobre o Esquadrão Suicida nesta matéria.

Esquadrão Suicida Amanda Waller

NÊMESIS | O agente secreto super espião da DC Comics

Nos 66 números do Esquadrão Suicida, Ostrander executou uma representação sem igual no mainstream americano de quadrinhos. É geopolítica com supervilões se ferrando em prol do governo americano, e super-heróis que mais atrapalham que ajudam.

São tramas de espionagem e ação na gelada e arruinada URSS, em países miseráveis da América Latina, combates contra fanáticos de religiões hindus assassinas, espiões e matadores do mercado terrorista árabe, e até conflitos internos de políticos americanos corruptos.

E quem mandava em tudo era Amanda Waller. E não, nunca que os comandados dela eram os mocinhos da história — muito longe disso na verdade.

Esquadrão Suicida. Texto de John Ostrander e arte de Luke McDonnel
Esquadrão Suicida Amanda Waller
Arte promocional da DC Comics para o Esquadrão Suicida
Esquadrão Suicida Amanda Waller
Capa do único anual do Esquadrão Suicida, onde descobrimos que fim levou a organização Argent
O Esquadrão Suicida de John Ostrander. Arte de Michel Fiffe

Depois da primeira série escrita por John Ostrander, Amanda Waller sempre foi ligada por roteiristas seguintes à cúpula política e órgãos de supervisão de atividades envolvendo seres superpoderosos.

Seja como eventual líder do Esquadrão Suicida, que teve outros volumes e títulos criados por outros autores, ou outras agências secretas do Universo DC, como o Xeque-mate, ou mesmo como Secretária de Gabinete do então Presidente Lex Luthor.

No caso, Luthor entrou no lugar de George Bush quando esse disputou com Al Gore, nas eleições presidenciais americanas de 2000). Como já foi dito, às vezes as histórias seguem o mundo real, às vezes não.

Amanda Waller desempenhou papéis centrais em narrativas de espionagem na DC durante todos os anos 1990 e 2000, até nas últimas sagas Crise Infinita e Crise Final, onde tudo realmente mudou de vez.

Conspiração Janus é uma das sagas mais legais da DC no pós-Crise
Esquadrão Suicida Amanda Waller
Conspiração Janus, a primeira saga que envolveu o mundo da espionagem da DC
George Bush (pai) reorganiza o esquema das agências secretas governamentais, dissolve a Força Tarefa X e diminuí o poder de Amanda após os eventos da Conspiração Janus
No começo dos anos 90, Amanda Waller montou o Shadow Fighters (“Lutadores das Sombras”), para impedir o demônio Eclipso de provocar um apocalipse nuclear, no título próprio do vilão
Amanda Waller no Executivo da Presidência Lex Luthor no Universo DC. Arte de Jim Lee nos anos 2000
Esquadrão Suicida Amanda Waller
O Esquadrão Suicida na saga Convergência em 2015
Número final da revista Xeque-mate, que era comandado por Amanda Waller na época, em 2008

Reboots e a perda de identidade
do Esquadrão e de Amanda Waller

Esquadrão Suicida Amanda Waller
A nova Amanda Waller

No reboot promovido pela DC em 2011, Novos 52, Amanda Waller passou por um banho de loja e descarte criativo.

Esse projeto promoveu uma reformulação pesada em todo o universo de personagens da editora, que decidiu jogar fora mais de 60 anos de peso de cronologia das costas — de uma hora para outra, tudo que se sabia a respeito de algum personagem foi para o lixo.

De uma poderosa e implacável burocrata gorda capaz de enfrentar e derrotar o Batman, ela se tornou apenas uma agente de campo comum (e gostosona-padrão).

Esquadrão Suicida Amanda Waller
A DC decidiu sexualizar a personagem, que deixou o sobrepeso e centro de gravida política de decisão para se tornar uma gostosona agente de campo que põe a mão na massa

Amanda Waller ainda comanda o Esquadrão Suicida nos Novos 52, depois de ter envolvimento com a Equipe 7 (Team 7), grupo militar que era da Wildstorm, selo editorial do artista Jim Lee na editora Image Comics, e que foi integrado ao Universo DC depois de ser comprado.

Amanda também lidera a Liga da Justiça da América — separada da Liga da Justiça principal — e a A.R.G.U.S.,(Advanced Research Group United Support), uma organização de operações militares secretas do governo americano, que surgiu em Justice League #7, de maio de 2012.

Além de tudo isso, Amanda Waller foi reimaginada como sendo mais jovem, jogando fora o antigo visual e história de mulher comum. A pegada geopolítica e ambientação amoral e cínica foi pro vinagre. Escrito por Adam Glass e desenhado por Federico Dallocchio e Ransom Getty, a série do Esquadrão Suicida dos Novos 52 durou 30 exemplares.

No reboot seguinte (essa prática é milenar na DC), DC Renascimento, de 2016, Amanda Waller é líder da Força Tarefa X e continua no Esquadrão Suicida, mas outra vez essa representação fica aquém do que um dia a série já foi.

Para se ter ideia, o começo da trama mostra o personagem Vic Sage como líder do Esquadrão, o outrora herói Questão, completamente descaracterizado pela DC dos anos 2010 — para se ter ideia, nos Novos 52 ele foi apresentado como uma entidade cósmica primordial (!). Apenas mais um exemplo de como a DC se perdeu nos últimos anos.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Vic Sage, o Questão, como líder do Esquadrão Suicida. É, pois é

Apenas recentemente que seu visual antigo foi retomado, como podemos ver na saga Evento Leviatã, de 2019, saga criada pelo escritor Brian Michael Bendis e o desenhista Alex Mallev, sobre o mundo de espionagem da DC.

O trabalho de Bendis tem muitos erros, mas tem bastante acertos, como a velha Amanda de volta, bem como a restituição do Questão clássico pós-Crise e a retomada da mitologia (talvez) do Caçador, com a volta da Justiceira (Kate Spencer/Manhunter) e do próprio Leviatã em si, já que ele é o Caçador Mark Shaw.

O Evento Leviatã “recanoniza” o Questão/Vic Sage (o cara sem rosto) e a Justiceira/Kate Spencer/Manhunter (a moça de vermelho) no Universo DC
Amanda Waller no Universo DC com seu antigo visual, na saga Evento Leviatã, onde encontra o vilão

Um dos exemplos crassos dos problemas da DC em manter uma coesão narrativa, com o fato de Mark Shaw ter sido o Caçador/Manhunter e participar do Esquadrão Suicida sob comando de Amanda Waller, e ela e outros heróis não lembrarem do personagem quando sua identidade é revelada como Leviatã, o mais novo vilão do Universo DC

Amanda Waller fora das páginas

Pam Grier como Amanda Waller no seriado Smallville

Amanda Waller apareceu em carne e osso por aí também.

No seriado televisivo Smallville (2011/2011), que mostrava as histórias de Clark Kent, o futuro Superman, Amanda foi interpretada por Pam Grier, lendária atriz americana de destaque do movimento cinematográfico chamado blaxpoitation nos EUA.

Seu envolvimento aqui também é de departamentos escusos do governo investigando superseres.

Já no seriado Arrow (2012/2020), do Arqueiro Verde, ela também apareceu, interpretada pela atriz Cynthia Addai-Robinson. Aqui ela era diretora do A.R.G.U.S., outra organização secreta que supervisiona os superpoderosos.

Bem antes do Esquadrão Suicida de David Ayer, Amanda Waller apareceu em Lanterna Verde (2011), interpretada pela atriz Angela Bassett.

O filme do herói policial espacial seria o primeiro longa que daria início ao Universo DC nos cinemas, mas foi um fracasso de público e crítica. Martin Campbell, o diretor, já declarou que aceitou a direção apenas por dinheiro.

Errado não está, mas o comprometimento com a qualidade foi pro espaço junto com a Tropa dos Lanternas Verdes.

Angela Basset como Amanda Waller no filme do Lanterna Verde, de 2011

A participação mais relevante de Amanda Waller fora dos gibis foi no desenho da Liga da Justiça Sem Limites, onde não tinha seu Esquadrão Suicida nomeado, mas era a equipe em si — provavelmente, o nome “suicida” deve ter sido censurado devido à audiência infantil que o produto abarca.

Amanda é mostrada a princípio como antagonista, no cargo de diretora do Projeto Cadmus, iniciativa governamental que vigia a atuação de superseres no universo do desenho.

Amanda Waller desenvolve diversos planos para espionar a Liga, para se fortalecer com armas, e ter superseres aliados às suas causas, e com efeito, chega a criar uma versão da equipe Esquadrão Suicida no episódio chamado Força Tarefa X.

O grupo é composto de Rick Flag, Capitão Bumerangue, Pistoleiro e Plastique, todos personagens que já foram do grupo nas HQs. E foi uma bela homenagem. Infelizmente, ninguém morre na missão, mas alguém se ferra, e é a Plastique.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Amanda Waller em Liga da Justiça Sem Limites. Design de Bruce Timm

Depois de diversos episódios tretando com a Liga, Batman revela para Amanda que ela havia sido manipulada por Lex Luthor por diversos momentos.

Ela revê suas posições, e passa a agir ao lado dos heróis. A Liga da Justiça Sem Limites foi a evolução da temporada anterior do desenho, exibido de 2001 a 2004.

E esse Universo Animado da DC é muito rico, uma das melhores transposições de mídia da indústria do entretenimento.

As temporadas de Batman (1992/1999), que começou esse universo, Superman (1996/2000) e Liga da Justiça representam o melhor das HQs em movimento, em sua mais pura essência de escapismo e diversão.

Há outros produtos derivados, como Batman do Futuro (Batman Beyond, 1999/2001), Projeto Zeta (2002), que mostra as aventuras de um robô mostrado em Batman do Futuro, e Super Choque (2000/2004).

Batman do Futuro se passa no futuro desse universo, e mostra um Bruce Wayne velho e aposentado, e o rapaz Terry McGuinnes assume o manto do morcego. E foi Amanda Waller quem criou ele.

Nêmesis apareceu na Liga da Justiça Sem Limites também (como coadjuvante, nem fala tem)

As histórias das animações se passam na mesma continuidade/universo, e no episódio da Liga da Justiça Sem Limites chamado Epílogo, ficamos sabendo que Amanda e Bruce Wayne ficaram muito amigos com o passar dos anos.

Temendo a ausência de um Batman, por conta da idade avançada do velho, Amanda dá um jeito de inserir o DNA de Wayne nos pais de Terry McGuiness, sem que a família soubesse.

O menino nasce e eventualmente se torna o Batman sem saber de toda a verdade, até este episódio em especial.

Os episódios Task Force X (02×17) e Epilogue (02×26) foram os mais próximos de conceitos originais de Amanda Waller e o Esquadrão Suicida fora das HQs.

Em 2009, Amanda apareceu no especial em desenho animado Superman/Batman: Inimigos Públicos, baseado no primeiro arco de história da revista Superman/Batman, na época em que Luthor era Presidente dos EUA.

Um ano depois, a Warner e DC promoveram o desenho Justiça Jovem, que apresentava um mix de tramas dos heróis da DC, com personagens da Liga da Justiça e dos Novos Titãs. Amanda Waller aparece como diretora da prisão de Belle Reeve.

Em 2014, saiu o especial Batman: Assalto ao Arkham, um filme animado lançado diretamente em vídeo, e que faz parte do universo do videogame Batman: Arkham. Amanda é líder do Esquadrão Suicida e é apresentada em sua versão clássica: gorda.

O filme animado Suicide Squad: Hell to Pay, lançado em 2018, e faz parte do novo universo de desenho animado da DC, que a exemplo dos Novos 52, teve um reboot, com adaptação animada de Flashpoint, a saga das HQs que jogou fora o universo pós-Crise e introduziu os Novos 52.

O filme Liga da Justiça: Ponto de Ignição foi lançado em 2013 e desde então adaptou diversas tramas da nova continuidade.

Hell to Pay, a exemplo de Batman: Assault on Arkham, é bem violento, e foca em eventos de Flashpoint, com a revelação do grande vilão por trás dos acontecimento que acometem o Esquadrão. Amanda Waller aqui é a versão modelo gostosa.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Suicide Squad: Hell to Pay, com a Amanda Waller versão Novos 52

O primeiro Esquadrão Suicida das HQs

O primeiro Esquadrão Suicida apareceu em setembro de 1959, nas páginas de The Brave and the Bold #25.

Na época, a revista mostrou seres humanos comuns, militares do pós-Segunda Guerra, um grupo composto por Rick Flag, pela sua namorada Karin Grace, Jess Bright e Dr. Hugh Evans.

Eles foram criados pelo roteirista Robert Kanigher (trabalhou com Mulher-Maravilha por 20 anos e o Flash/Barry Allen) e o desenhista Ross Andru (por muito tempo o artista do Homem-Aranha e desenhista do primeiro encontro Marvel e DC: Superman & Homem-Aranha). Foram seis edições de Brave and The Bold que o Esquadrão Suicida estrelou.

Nas inúmeras decisões editorais enquanto empresa para renovar e impactar seus produtos, a DC Comics promoveu revisões nas histórias, e hoje se convencionou dizer que esse Esquadrão Suicida substitui a Sociedade da Justiça da América no combate a ameaças monstruosas que rondavam o mundo, durante os anos 50 e 60.

A Sociedade da Justiça foi o primeiro grupo de super-heróis da história dos gibis americanos de heróis, e serve de modelo para todos os outros existentes até hoje.

A revisão feita na saga Crise Infinita (2005/2006) removeu Rick Flag desse primeiro Esquadrão. Como que fica então a explicação dele presente no Esquadrão Suicida de Amanda Waller? Questão de cronologia da DC.

O Primeiro Esquadrão Suicida dos cinemas

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Esquadrão Suicida versão 6a Série C, mas a Amanda Waller de Viola Davis se salva

Falar do Esquadrão Suicida de David Ayer de 2016, e dos Guardiões da Galáxia de 2014 James Gunn, com o último no comando do novo Esquadrão Suicida de 2021, é ligar e fechar um curto-circuito.

O primeiro trailer do Esquadrão de Ayer era sombrio e pesado, com um volume sinistro de narrativa misteriosa, embalados por uma versão dark de I Started The Joke (um single dos Bee Gees lançado em 1968, uma das canções mais famosas da banda).

Era um tipo de animal bem específico,  e aparentemente bem perigoso. Mas quando Guardiões da Galáxia saiu, com uma enorme bilheteria graças a uma temática sci-fi espacial com jeitão B, bem-humorada e com uma trilha sonora setentista muito bem colocada, fez um sinal de alerta acender na Warner.

Esquadrão Suicida Amanda Waller
Viola Davis como Amanda Waller é o maior acerto de casting da Warner/DC nos cinemas

Guardiões competiu direto com Batman v Superman – A Origem da Justiça, um filme pesadíssimo e longe do mundo colorido dos super-heróis, de roteiro violento e raso, com alto impacto visual, um fracasso de crítica — mas não de público.

Os executivos queriam agradar gregos e troianos, então picotaram o filme de Ayer até não poder mais — com efeito, se fala de uma empresa de videoclipe que fez uma nova edição do filme, mais pop, mais chiclete, mais colorida, e com violência infantil nível Sessão da Tarde. Ele sair nos cinemas e não fazer sentido não é surpresa nenhuma.

Sites e jornalistas especializados afirmam que Lobo da Estepe seria o vilão do filme (e faria a ligação com a Liga da Justiça, filme igualmente ruim de 2017) e que dividiria o posto de antagonista para outro ainda maior, o Coringa de Jared Leto, que teria mais participação no longa.

O que vimos nos cinemas não foi o Esquadrão Suicida que Ayer pensou e filmou. O que não diminuí em nada a culpa dos envolvidos em estragar um grupo tão importante para os quadrinhos.

No trailer abaixo, você pode conferir como que o Esquadrão Suicida poderia ter sido. Muitas cenas nem estão no corte final. Em 2021, a Warner cedeu e lançou a Liga da Justiça de Zack Snyder, o famigerado Synder Cut. Será quem um dia veremos o Ayer Cut?

Apesar do fracasso do Esquadrão Suicida de David Ayer em 2016, a Warner deu uma nova chance para o grupo, com O Esquadrão Suicida (2021), com Viola Davis como Amanda Waller novamente, além dos retornos de Jai Courtnay como Capitão Bumerangue, Margot Robbie como Arlequina e Joel Kinnaman como Rick Flagg. Os atores Idris Elba, John Cena, Storm Reid, David Dastmalchian, Daniela Melchior, Nathan Fillion, a brasileira Alice Braga, Joaquin Cosio, Mayling Ng, Flula Borg, Juan Diego Botto, Pete Davidson, Peter Capaldi, Taika Waititi (o diretor de Thor 3 Ragnarok), Steve Agee, Tinashe Kajese, Julio Ruiz e Jennifer Holland também estão no longa, dando vida a uma série de personagens obscuros que Gunn recuperou das páginas da revista de Ostrander e de vários outras HQs. O longa é muito melhor resolvido do que o primeiro, com diversão e carnificina em boas medidas, em um roteito não-óbvio, cheio de tiradas e cenas engraçadas, mostrando como um filme do Esquadrão Suicida deveria ser.

Esquadrão Suicida Amanda Waller

Todos esses aspectos abordados na matéria sobre a seriedade da personagem Amanda Waller enquanto ficção, devem ser entendidos em seus contextos. Ter histórias em quadrinhos pretensamente infantis e juvenis com essa temática e quilate era um ponto muito fora da curva nos anos 1980.

E ter uma mulher, uma negra, ainda mais fora do padrão de gostosa, no comando de tudo isso, mais ainda.

Amanda Waller é uma das melhores personagens dos quadrinhos, um termo que pode ser dito em voz alta e escrito com tranquilidade.

Esperemos mais histórias à altura dela.

No começo dos Novos 52, Amanda Waller não tinha mais Rick Flag como seu braço direito, e sim Steve Trevor, um militar ligado à mitologia da Mulher-Maravilha
Não temos mais o Esquadrão Suicida de Amanda Waller por John Ostrander, mas temos Copra, do artista Michel Fiffe, um material bem próximo, publicado pela Image Comics, e que está chegando aqui pela editora Pipoca e Nanquim
Esquadrão Suicida Amanda Waller
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