Quando a multimilionária Abigail Horton morre, ela deixa um testamento que movimenta uma intrincada rede de mistério e interesses, que envolvem sua filha Cynthia, perigosos assassinos e um velho amigo seu, Oliver Queen, um dos mais conhecidos super-heróis do Universo DC, o incrível Arqueiro Verde, em uma HQ escrita por Mike W. Barr e desenhos de Trevor Von Eeden.
A trama é uma narrativa cheia de clichês ao estilo da escritora britânica Agatha Christie (1890 — 1976), uma das mais famosas romancista, contista, dramaturga e poetisa da história, mas que funciona perfeitamente nesta minissérie de história em quadrinhos, publicada em 4 partes pela DC Comics. A mini foi lançada em 1983, que além do roteiro de Barr e desenhos de Trevor Von Eeden, conta com arte-final de Dick Giordano e edição de Len Wein.
E mesmo depois de 40 anos, o roteiro desenhado por Trevor Von Eeden encanta pela simplicidade e dinamismo de diagramação, que consegue acomodar certas sofisticações de argumento em uma criativa arte elegante e cinética por parte do artista.
Sua composição visual cheia de ângulos e takes é um deleite, com cortes e recortes espertos, o que torna essa mini do Arqueiro Verde um tesouro pouco conhecido dos quadrinhos dos anos 1980 da DC Comics.
A primeira aparição do Arqueiro Verde ocorreu na revista More Fun Comics Vol #73 (1940), criado pelo roteirista Mort Weisinger e o artista George Papp, a princípio como parte Batman, parte Robin Hood, com complexo de Peter Pan. Mort já tinha criado o Aquaman, Johnny Quick (uma espécie de Flash) e outros na revista, que já era casa de outros heróis como o Senhor Destino e o Espectro.
E mesmo assim o Arqueiro Verde teve sucesso o suficiente para ser capa de diversas edições de More Fun Comics. Diversos roteiristas ajudaram a enriquecer a mitologia do personagem, como Jack Kirby, Dennis O´Neil, Neal Adams, Mike Grell, o que acabou por tornar o personagem um dos mais queridos da DC.
Na história da mini em 4 partes feita por Barr, Oliver Queen luta de dia pela justiça como o colunista do jornal impresso Daily Star (outro jornal de Metropolis, tal qual o Planeta Diário), mas a noite patrulha as ruas de Star City (a DC Comics frequentemente cria cidades fictícias para seus personagens atuarem, tal qual os modelos primordiais Superman-Metropolis e Batman-Gotham City) como o vigilante Arqueiro Verde.
Mas é como Queen que ele é abordado por Deidre Wagner, uma advogada, e descobre na leitura do testamento de Abigail que ele agora é dono de 34 milhões de dólares (!). Não demora nada para ele se tornar alvo de assassinos contratados. Nessa época, Queen não era mais um milionário nos quadrinhos.
Mas foi quando ele tinha muito dinheiro e nada na cabeça que Abby se aproximou do cara, por motivos de trabalho de suas corporações. A amizade dos dois ajuda a ambos — ela a superar a viuvez e ele com uma amiga sincera. Barr não se furta ainda a jogar uma divertida tensão sexual entre os dois, com a barreira de idade no meio do campo. Isso não impede de Abby de “empurrar” sua filha Cynthiapara o rapaz. Os jovens chegam a namorar, mas eles são intransigentes demais: ela gosta de ópera, ele não. Ele gosta de jazz, ela não.
Eles terminam e logo depois Oliver Queen embarca em sua famigerada viagem que daria “origem” a sua persona de Arqueiro Verde, em um flashback muito legal e funcional, inserido de modo orgânico dentro da trama, que tem como força-motriz a surpresa de Cynthia e seu marido, Lord Sinclair, além de Ted, outro filho de Abby, e Max Stein, irmão da falecida e tio deles, com Oliver Queen como herdeiro da fortuna de Abby.
É claro que isso só traz problemas para o herói, que precisa correr para solucionar esse mistério de herança. Será que algum deles está envolvido? Junte isso com sinais no chão, segredos industriais do falecido marido de Abby, Theodore, e atentados seguidos contra o Arqueiro Verde, feitos por mercenários russos a agentes da CIA (agência de espionagem americana — que um diz ser na verdade “a Agência“, mesmo nome de uma organização que ia demorar a estrear nas HQs da DC — Vigilante #36, de 1986).
Quem também aparece na mini de Barr é o Conde Vertigo, que aqui é estabelecido como um dos principais inimigos do herói. O vilão também foi criado por Trevor Von Eeden, junto com o escritor Gerry Conway, em World’s Finest #251 (1978), em uma história da Canário Negro (Dinah Lance), parceira e namorada do Arqueiro Verde. Aliás, nessa mesma revista tinha uma aventura do herói junto com seu parceiro mirim, Roy Harper, o Ricardito, também escrita por Conway, mas com arte de Jerry Bingham.
A Canário Negro aparece na mini (Ricardito não), mas ela tem um papel de coadjuvante distante. Mais alguns anos à frente, ela própria estrelaria um título solo, também com arte de Trevor Von Eeden.
A origem vista nesta mini reconta eventos mostrados em Adventure Comics #256 (1959). Posteriormente, a origem do Arqueiro Verde seria revisada diversas vezes, em aventuras contadas em Green Arrow: The Wonder Year (1993), de Mike Grell, e Green Arrow: Year One (2007), de Andy Diggle e Jock.
Em entrevista para o Comics Journal, Trevor Von Eeden diz que adorou a arte-final que Dick Giordano fez em seus traços na mini, e que ama a personalidade de Oliver Queen, apesar de ter sido um desafio para ele desenhar o seu uniforme da época, criado pelo artista Neal Adams.
DC COMICS, 1983
Em 1983 a DC Comics ainda estava longe de se estabalecer como uma das maiores editoras de quadrinhos com obras seminais nas listas de melhores HQs de todos os tempos, como Watchmen, Batman – O Cavaleiro das Trevas, Crise nas Infinitas Terras (todas de 1986) e outras.
Mas vários títulos da DC alcançaram ou alcançariam números significativos de edições seguidas nesse ano, como The Brave and The Bold #200, Mulher-Maravilha e Legião dos Super-Heróis no #300 (a revista da Legião tem desenhos de vários artistas, incluindo Trevor Von Eeden), e até mais, como a já citada Adventure Comics, no número #500.
Outras encontravam seu fim, como as citadas Bold e Adventure; a primeira fase do inesquecível Esquadrão Atari, equipe sci-fi com roteiros de Gerry Conway para promover o videogame Atari (!); Night Force, a “Tumba do Drácula” da Marvel na DC, pelo mesmos criadores (!!), Marv Wolfman e Gene Colan; Weird War Tales, a revista de terror + guerra da DC, no número #124, e o último número de House of Mystery, no #321, um dos mais clássicos títulos de terror da editora.
A DC também reimprimiu a clássica passagem (tinha menos de 10 anos!) de Dennis O´Neil e Neal Adams na revista do Lanterna Verde com o Arqueiro Verde, originalmente publicados em Green Lantern/Green Arrow #76-89 (1971 — 1972).
A revista dos Novos Titãs introduziu a personagem Terra (New Teen Titans #26) e o Batman conheceu Jason Todd, o segundo Robin, em Batman #357 (ele depois seria apagado no reboot de Crise e reapareceria modificado depois). O Morcego também brigou com seus companheiros de Liga da Justiça e cria um novo grupo, Os Renegados, com roteiro de Mike W. Barr (cujo preview aparece na já citada The Brave and The Bold #200).
Outros títulos que estrearam em 1983 foram DC Graphic Novel, uma série que publicava histórias que não faziam parte da continuidade regular do Universo DC — com a notável exceção do número #4, que trouxe The Hunger Dogs, a conclusão de Jack Kirby para suas histórias do Quarto Mundo, deixadas sem conclusão em sua passagem nos anos 1970; os aventureiros espaciais Omega Men na revista de mesmo nome, por Wolfman, Roger Slifer, Tod Smith e Mike DeCarlo (foi aqui que surgiu o Lobo); o justiceiro urbano Vigilante, também de Wolfman, com arte de Keith Pollard, entre outros.
Em 1983 a DC Comics também lançou Ronin, um projeto bastante inovador de graphic novel em 6 partes, em formato sofisticado, sem propagandas, com roteiro de arte de Frank Miller, que tinha se tornado um superstar dos quadrinhos em sua passagem pelo Demolidor, da Marvel Comics. Ronin seria a ponta de lança de diversas outras HQs que mudariam o mercado americano — e mundial — de quadrinhos para sempre.
A DC também estava em vias de comprar a editora de quadrinhos de super-heróis Charton Comics, que tinha um plantel razoável de propriedades intelectuais, com uma dúzia de personagens interessantes, como o Questão (de Steve Ditko), Capitão Átomo, Pacificador, Besouro Azul, Sargento Steel e outros, e que seriam parte raiz da nova DC pós-Crise das Infinitas Terras.
CHARLTON COMICS | Revistas piratas de músicas, máfia e super-heróis
ARQUEIRO VERDE
Na concepção original de Mort Weisinger e George Papp, o Arqueiro Verde era um milionário que enfrentava o crime com um parceiro-mirim, Roy Harper, o Ricardito (Speedy no original), com a ajuda de um monte de monte de equipamentos visualmente baseados em…flechas. Oliver tinha um Flecha-carro e um Flecha-avião, guardados em uma Flecha-Caverna. Como se nota, era uma cópia descarada do Batman. Claro, isso era para ter o mood de super-herói acoplado, pois suas verdadeiras influências eram outros personagens.
O primeiro foi The Arrow, da Centaur Publications, um dos primeiros super-heróis criados na Era de Ouro dos Quadrinhos, lançado em 1938, o mesmo ano de Action Comics #1, na estreia do Superman, o pai do gênero. Esse Arrow surge em Funny Pages #21, com roteiro e arte de Paul Gustavson. Depois tivemos o Flecha Dourada, da editora Fawcett Comics, criado por Bill Parker e Pete Costanza em Whiz Comics #2 (1940), mesma edição que estreou o Capitão Marvel (décadas antes da Timely/Atlas adotar o nome Marvel Comics).
Havia também o seriado The Green Archer, lançado em 1940, dirigido por James W. Horne e estrelado por Victor Jory, Iris Meredith e Dorothy Fay, baseado no romance de mesmo nome de Edgar Wallace, publicado em 1923 (há 100 anos!!!) — e que já tinha sido adaptado em outro seriado, de mesmo nome, em 1925.
Em todos eles o mito de Robin Hood era retrabalhado. Uma das maiores lendas da Inglaterra, Robin Hood era um fora da lei hábil no arco e flecha e que vivia na floresta de Sherwood. De lá ele partia para as cidades roubar da nobreza para dar aos pobres. Teria vivido no século XII, nos tempos do Rei Ricardo Coração de Leão e das grandes Cruzadas. O filme As Aventuras de Robin Hood (1938), com o ator Errol Flynn no papel principal, se tornaria uma dos filmes mais clássicos de Hollywood, e inspirção certa para George Papp criar o Arqueiro Verde visualmente.
O Arqueiro Verde já surgiu com o Ricardito em More Fun Comics #73, mas a origem da dupla só seria revelada 16 edições depois. Oliver Queen é um especialista em artefatos indígenas (!), e quando encontra Roy Harper, um garoto branco treinado no arco e flecha por uma tribo (!!), decidem enfrentar criminosos. Em suas aventuras, encontram uma cidade feita de ouro, que Queen toma para si para ficar milionário (!!!).
O Arqueiro Verde muda de revista, e a partir de Adventure Comics #250 (1958), o Arqueiro Verde e Ricardito tiveram uma sequência de histórias desenhadas por Jack Kirby, com roteiro de Bill Finger (o VERDADEIRO criador do Batman, a despeito de Bob Kane levar todo o crédito), que acabou por criar a origem definitiva do herói: Oliver Queen era herdeiro de uma fortuna, naufragava em uma ilha deserta e teve que se virar com um arco e flecha para sobreviver. Quando consegue ser resgatado, decide combater o crime com suas novas habilidades. Ricardito surge só depois, um garoto treinado por navajos, uma das muitas etnias indígenas do povo originário da América.
Em 1969, o artista Neal Adams cria o visual definitivo do personagem, com suas barba e bigode ao estilo Van Dyke e um uniforme tão característico que se tornaria padrão, tudo em The Brave and the Bold #85. O amigo de Neal, o roteirista Dennis O’Neil, replica isso nas revistas da Liga da Justiça, da qual o Arqueiro Verde participa, e já em Justice League of America #75, faz ele perder sua fortuna. E ele acaba posteriormente a se tornar um defensor de causas sociais para os menos favorecidos, sob uma ótica mais à esquerda da política.
É nesta fase que Ollie começa uma rivalidade amigável com seu colega Gavião Negro/Katar Hol em questões políticas (o brigão alado “é de direita”) e um relacionamento amoroso com Canário Negro/Dinah Lance, o amor de sua vida.
E é neste contexto que Dennis O´Neil e Neal Adams criam a já citada Lantern/Green Arrow, que fazem os dois heróis percorrer e descobrir a verdadeira América, na cia. de um Guardião do Universo. Oliver tem que lidar com o vício de heroína de seu parceiro Roy e enfrentar problemas reais de racismo, desigualdade social e violência em histórias que se tornaram um divisor dos quadrinhos em geral.
Apesar de revolucionária para a época, Green Lantern/Green Arrow acabou cancelada. O Arqueiro Verde virou um puxadinho na revista do Flash, depois em World’s Finest Comics, onde o personagem, ainda sem dinheiro, virou colunista na Daily Star, momento em que a mini de Barr e Eeden acontece.
A DC Comics nunca deixou claro se havia um Arqueiro Verde na Terra 1 e na Terra 2, as duas principais continuidades regulares onde os personagens habitavam, separados essencialmente por vários deles envelhecendo desde as suas primeiras aparições na época da Segunda Guerra Mundial, enquanto outros eram mais jovens, além dos sem definição — caso do Arqueiro Verde. De qualquer maneira, na megassaga Crise nas Infinitas Terras, ocorre a morte de um Arqueiro Verde da Era de Ouro, ainda em seu uniforme kirbyano.
Antes de ser reformulado depois da Crise, Oliver Queen aparece no clássico Batman – O Cavaleiro das Trevas, lançada no mesmo ano. O roteiro e arte de Frank Miller estabelece poucos super-heróis na trama, mas o Arqueiro Verde é um deles. Bem mais idoso (se o Batman tem 55 anos, Oliver possivelmente tem 70 ou mais), o “bilionário que virou comunista” não tem mais o braço esquerdo, resultado de uma briga com o Superman (!), contra o qual ele desempenha um papel-chave no clímax da história.
Batman – Cavaleiro das Trevas acabaria por se tornar uma das melhores HQs de todos os tempos do mercado americano de super-heróis, dividindo o espaço do Top 1 com Watchmen, lançado no mesmo ano, de Alan Moore e Dave Gibbons.
PÓS-CRISE NAS INFINITAS TERRAS
A minissérie Green Arrow: The Longbow Hunters (1987) restabelece o Arqueiro Verde na nova continuidade da DC Comics no pós-Crise de modo magnífico. Oliver Queen manteve parte de seu passado pré-Crise, com a maioria de suas histórias ainda valendo, como a mini de Barr e Trevor Von Eeden, o que foi diferente de muitos outros, como os gigantes Superman e Mulher-Maravilha.
O escritor e desenhista Mike Grell faz uma trama bem mais madura com um Oliver Queen enfrentando perigos mais reais, como tráfico de drogas, redes de prostituição, gangues, máfia, políticos corruptos, sem a presença de supervilões.
Oliver saiu de Star City e agora mora em Seattle (estado de Washington), uma das cidades mais perigosas dos Estados Unidos na época, assolada pela criminalidade e casos de serial killer e matanças. Ele e Dinah agora cuidam de uma floricultura chamada Sherwood, mas à noite é o Arqueiro Verde quem sai pras ruas. Ele raramente é nomeado assim na HQ, além de abandonar suas tranqueiras de flechas especiais, usando um arco e flechas comuns.
A HQ tem cenas gráficas de violência, morte e seminudez, em uma arte ainda mais elaborada do que o autor já fazia no título Guerreiro (Warlord, 80 edições, 1976 — 1987). Grell também introduz a ninja arqueira japonesa Shado em The Longbow Hunters, personagem que seria peça fundamental do lore do personagem daqui pra frente.
A minissérie em 3 edições, publicada em formato prestige, abriu caminho para um novo título do Arqueiro Verde. Com Mike Grell no comando do roteiro e arte de Ed Hannigan, a revista solo continuou no mesmo mood, com a adição de novos elementos, como o perigoso pistoleiro Eddie Fyers.
Vale citar que estamos em uma Seattle pré-grunge, mas em uma cidade que já tinha dado ao mundo da música artistas de jazz como Ray Charles, Quincy Jones, Ernestine Anderson e outros, além de artistas de hip hop como os rappers Sir Mix-A-Lot e Macklemore.
Mike Grell escreveu e desenhou 80 números de Green Arrow, de 1988 até 1993. A DC imprimiu na capa de The Longbow Hunters o aviso “Suggested for mature readers“, “sugerido para leitores maduros“. E fez o mesmo para a série regular Green Arrow, bem como a do Questão (a partir da edição #8) e do Vigilante (no #44), ambas de 1987, além de várias outras. E assim foi com esse aviso até Green Arrow #62, de 1992.
Oliver Queen quase nunca está de máscara. Ele mata. Ele ama. Ele erra. Ele acerta. Ele é irritado. Ele é mulherengo. Ele é falho. Ele é um ser humano comum no universo de supercuecas coloridas por cima das calças no Universo DC. Grell aumentou os tons urbanos reais de violência e discussão social sobre o que significa ser um vigilante e combatente do crime em um gibi de super-herói, em tramas cheias de ação, mistério e escolhas difíceis.
Até os coadjuvantes seguiam esse mood mais “realista”, com Dinah praticamente sem usar seu poder sônico e o uniforme, se tratando pelos nomes e não codinomes, e até participações especiais seguiam isso, como quando Hal Jordan, o Lanterna Verde, apareceu para visitar Ollie. Uma exceção foi em Green Arrow #27-28 (1990), onde Grell cria um crossover do Arqueiro Verde com o já citado Guerreiro (criado por ele mesmo, em 1st Issue Special #8, de 1975).
Até fora da revista o Arqueiro Verde foi usado com parcimônia, permanecendo em seu “universo particular” em Seattle na maior parte do run de Grell. Uma notável exceção ocorreu pelas mãos de Dennis O´Neil, que o fez participar algumas vezes da revista do Questão que ele escrevia, outra grande obra das HQS da DC Comics nos anos 1980, desenhada por outro mestre dos quadrinhos, Denys Cowan.
QUESTÃO | O Objetivismo na Charlton e a zen-violência na DC Comics
Mike Grell criou com seu Arqueiro Verde como uma evolução espiritual da minissérie de 1983 de Mike Barr e Trevor von Eeden. Se a editora pudesse integrar a mini, a The Longbow Hunters e a edição #1 de Green Arrow em um especial, qualquer fã de quadrinhos seria mais feliz e teria chance de ter um material ímpar do Arqueiro Verde.
Depois da despedida de Mike Grell em Green Arrow #80, o roteirista Kevin Dooley assumiu, seguido de Chuck Dixon. A arte ficou por conta de Jim Aparo, um dos desenhistas mais clássicos do Batman dos anos 70 e 80. Uma das participações mais importantes de Oliver nessa fase foi ser peça-chave para a derrota do seu outrora amigo Hal Jordan, ex-Lanterna Verde e agora autodenominado Parallax, na saga Zero Hora (1994), um soft reboot da DC.
E vale citar um arco de histórias que culmina em Green Arrow #100-101 (1995), roteiro de Dixon e arte do brasileiro Rodolfo Dammagio, com Oliver Queen, o Arqueiro Verde, em apuros contra o Superman em uma situação impossível de se resolver, envolvendo uma bomba aclopada ao braço de Ollie em um helicóptero sem controle, em uma referência clara ao Batman – Cavaleiro das Trevas (!), mas que acaba com a morte do personagem (!!).
Claro, ele retornaria anos depois, em um novo título de 2001, escrito por Kevin Smith e arte de Phil Hester, na única fase que consegue chegar perto do que Barr e Grell conseguiram. Outros escritores como Brad Meltzer e Scott Beatty continuaram essa fase. Logicamente o título continuou pelo resto dos anos 2000 e 2010 por diversos outros criativos, eventualmente sendo rebootado nos Novos 52. Mas nenhum deles teve qualidade suficiente a ponto de nos determos para falar mais.
TREVOR VON EEDEN
Trevor Von Eeden era um jovem estudante negro em Nova York, cidade onde vivia desde os 11 anos (ele se mudou com os pais da Guiana para os Estados Unidos), quando se tornou o artista mais jovem a ser contratado pela DC Comics em sua época, aos 17 anos. Ele chegaria a estudar medicina, mas seria nos quadrinhos que ele faria história.
O rapaz, fã de trabalhos de John Buscema, Neal Adams e Alex Toth, eventualmente começou sua carreira como desenhista em fanzines, em 1977. E foi um amigo que o convenceu a mandar desenhos para a DC. Ele iniciou na editora em Black Lighting, a revista do Raio Negro, o primeiro super-herói do mercado americano a estrear sua própria série solo, ainda em 1977.
O roteiro de Tony Isabella (um homem branco) ainda pontuava clichês e situações problemáticas com a ótica atual, mas o pioneirismo é inegável. O roteirista, recém-saído da Marvel, onde já tinha escrito vários personbagens negros, como Luke Cage e Misty Knight (ele é co-criador da personagem), foi designado especialmente para o projeto de Black Lightning na DC.
As ideias originais eram terríveis, e envolviam um soldado branco que se tornava negro quando furioso (!!!). Tudo foi descartado e Isabella bolou a história de Jefferson Pierce, um medalhista olímpico que ao se aposentar das atividades esportivas decidiu se tornar professor.
Ele passa a lecionar na Garfield High School, uma escola de ensino médio de Metropolis (sim, do Superman), no Beco do Suicídio, um dos bairros mais perigosos bairro da cidade. A situação social do vizinhança é uma desgraça, e Pierce decide fazer justiça com as próprias mãos.
Com a ajuda de seu amigo Peter Gambi (um alfaiate e especialista em equipamentos eletrônicos), um traje especial é feito, que permite o disparo de raios elétricos, e assim Jefferson se torna o Raio Negro. A DC revisitaria isso em oportunidade futuras, com a origem na verdade sendo genética, tornando Jefferson um meta-humano “de nascimento”, sendo assim um dos primeiros (e poucos) mutantes no Universo DC.
A DC já tinha personagens negros antes, mas nenhum era protagonista de um título solo regular. Antes de Raio Negro, os personagens negros da DC eram o soldado Jackie Johnson, dos gibis de guerra do Sargento Rock, surgido em Our Army at War #113 (1961), criado por Robert Kanigher e Joe Kubert; o jovem titã Mal Duncan (Teen Titans #26, de 1970), de Kanigher e Nick Cardy; Vykin, do Povo da Eternidade (Forever People #1, de 1971), de Jack Kirby; e o Lanterna Verde John Stewart (Green Lantern #87, de 1971), de Dennis O´Neil e Neal Adams, criado na já citada fase que o Lanterna Verde Hal Jordan e o Arqueiro Verde andavam juntos.
Era muito pouco em relação ao material que a Marvel promovia em suas HQs: o Pantera Negra, em Fantastic Four #52 (1966), criado por Stan Lee e Jack Kirby; o Falcão/Sam Wilson, em Captain America #117 (1969), de Lee e Gene Colan; Misty Knight, em Marvel Team-Up #1 (1971), criada pelo Tony Isabella e Arvell Jones; Luke Cage, em Hero for Hire #1 (1972), por Archie Goodwin, John Romita Sr. e George Tuska; Blade, em Tomb of Dracula #10 (1973), por Marv Wolfman e Colan; o Irmão Vodu, em Strange Tales #169 (1973), de Len Wein e Colan; Deathlok, em Astonishing Tales #25 (1974), por Doug Moench e Rich Buckler; Tempestade (Giant Size X-Men, de 1975), por Wein e Dave Cockrum, e muitos outros.
Trevor Von Eeden ainda estava em começo de carreira, então seu desenho na revista do Raio Negro é o de um iniciante, o que somado ao roteiro pueril de Isabella, não faz de Black Lightning uma série de destaque em meio a outros materiais.
Um arte-finalista melhor poderia ter ajudado, já que Vince Coletta, um dos piores do mercado — onde ficou por um longo tempo — foi o principal nesse trabalho, além de Frank Springer, esse sim um artista excelente, mas que não parece ter pegado o jeito do lápis de Eeden.
De qualquer maneira, uma briga com a produtora de desenhos animados Hanna-Barbera iria por tudo a perder na revista. Quando criou o Raio Negro, o roteirista Tony Isabella assinou um contrato que lhe garantia royalities de uso do personagem. Produzido pela Hanna-Barbera, o desenho animado Super Amigos era um sucesso desde seu lançamento em 1973, ao trazer diversos super-heróis da DC para as telinhas em uma adaptação bem divertida e colorida da Liga da Justiça. Mas era preciso atualizar o line-up de temporada em temporada.
Super Friends (1973-1974) foi a primeira, e a segunda foi All-New Super Friends Hour (1977-1978). E eles queriam o Raio Negro (junto a diversos outros personagens representativos-clichês, como Samurai, Chefe Apache e El Dorado — nas HQs da série tivemos até nossa representante brasileira, a Fúria Verde, que mais tarde virou a Fogo, dentro da continuidade regular da DC). Mas nem a DC queria pagar os royalities de uso, nem a Hanna-Barbera.
As empresas fizeram o que corporações fazem, e simplesmente inventaram o seu próprio Raio Negro, chamando o personagem de Black Vulcan, batizado no Brasil de Vulcão Negro na dublagem. Ele, é claro, é negro e solta raios elétricos. Isabella não gostou e se vingou em Black Lighting #10, com a história “The Other Black Lightning” (“O Outro Raio Negro“), onde uma golpista chamada Barbara Hanna (RISOS) contrata um ex-jogador de futebol americano para se passar pelo herói.
Isabella foi demitido logo depois, e Dennis O´Neil foi chamado para ser seu substituto. Mas a “Implosão DC”, com diversos títulos sendo cancelados pelas baixas vendas na época, encerrou a trajetória do Raio Negro em Black Lightning #11. Trevor Von Eeden desenhou todas as edições, do 1 ao 11.
Como se nota no vídeo, o ator Richard Roundtree como o personagem Miles Quade no filme Terremoto (1974), um dos grandes clássicos do cinema-desastre, pode ter sido a inspiração gráfica para o Raio Negro, cujos designs iniciais foram feitos por Trevor Von Eeden
No mesmo ano de 1977, Trevor Von Eeden desenhou o Arqueiro Verde pela primeira vez, quando o personagem morava em World’s Finest Comics, nas edições #248-249, com roteiro de Gerry Conway (e de novo com a infeliz arte-final de Vince Coletta). A Canário Negro estava presente, e dividia as histórias secundárias do título.
Isso se repetiu em diversas outras edições, como a #251, na estreia do já citado Conde Vertigo, #254-255, #263-266, #268, #269 (1ª vez que o Arqueiro Verde aparece na capa, com arte de Rich Buckler), #270 (1º confronto do Oliver com o Conde Vertigo, com a arte de Trevor Eeden muito mais valorizada pela arte-final de Bob Smith) e #272-273. Nessa época, Trevor desenhou uma história em Mystery in Space #114 (1980), que ele diz ser um de seus preferidos até hoje.
Até que a partir de várias edições entre #274–281 (1981-1982), Eeden desenhou várias aventuras do Arqueiro Verde roteirizadas por Mike W. Barr, prenunciando a obra que tratamos aqui. Já podíamos ver uma sinergia singular entre o texto de Barr e a arte de Trevor Von Eeden, com um desenho estiloso cheio de recursos e toques de animação e contrastes visuais de luz e sombra muito bem feitos.
Isso foi traduzido em outra obra das mais subestimadas da DC: a edição Batman Annual #8 (1982). Essa história se mostra tão boa e inventiva quanto a HQ do Ollie. A capa dessa revista do Batman tem arte de Trevor Von Eeden (uma das primeiras) e é pintada por Lynn Varley, namorada do artista na época, em seu primeiro trabalho na editora.
A história da HQ, “The Messiah of the Crimson Sun” mostra o Homem-Morcego tendo que lidar com terroristas, um plano ambicioso de engenharia espacial de um de seus maiores inimigos, Ra´s Al Ghul. Há muitas cenas criativas e cinéticas, com soluções gráficas muito originais.
De acordo com a entrevista do Comics Journal, Eeden desenhou o Batman como ele via o personagem: “(…) uma máquina de vontade pura, sem cicatrizes psicológicas ou sentimentos infantis de vingança (…)“, mostrando uma visão bem particular e poderosa do herói. Trevor Von Eeden ainda comenta que Batman Annual #8 é a HQ que mais se orgulha de ter feito na DC Comics.
Mas a obra mais sofisticada e de prestígio de Trevor Von Eeden na DC Comics foi a cultuada série Thriller (1983-1984), escrita por Robert Loren Fleming.
A série de 12 números mostrava agentes de uma organização chamada Seven Seconds (sete segundos) numa trama conspiracionista beirando o sobrenatural, com antagonistas tentando provocar um holocausto nuclear para destruir toda a vida na Terra.
Os slogans de Thriller entregavam a urgência da narrativa: “She has 7 seconds to save the world” (“ela tem 7 segundo para salvar o mundo“) e “You can’t read it fast enough” (“Você não vai ler a tempo“), tudo para desespero de sua protagonista Angie Thriller, a estrela da HQ.
A arte de Trevor Von Eeden está estupenda nesta HQ, com diversos efeitos gráficos elegantes e chamativos, com diagramação angulosa e recortes mais modernos.
Infelizmente, por diversas diferenças editoriais, Fleming saiu no número 7 e Eeden no número seguinte, com a série sendo concluída pelo escritor Bill Dubay e o artista Alex Nino.
Na entrevista do Comics Journal, Trevor Von Eeden diz que prefere a expressão “original” e não “arte experimental” quando se referem ao seu desenho em Thriller. “A experimentação está em sua cabeça, meio que pronta“, afirmou, exemplificando que o que ele botava no papel já estava de fato montado.
Eeden ainda desenhou as edições #287, #305 e #307 de World’s Finest Comics, em histórias do Superman e Batman — todas publicadas depois da mini do Arqueiro Verde. Ele fez também Detective Comics 518-519 (1982), desenhando uma história da Batmoça, e no #558 (1986) fez mais uma do do Arqueiro Verde. Vigilante #14 (1985), teve capa e arte interna de Trevor Von Eeden, um título que trazia vários temas adultos e sombrios desde 1982, precendendo em muitos anos o selo Vertigo.
Eeden desenhou a edição de Batman #401 (1986), com roteiro de Barbara Kandall, e no número #404 (já em 1987), Frank Miller começaria um pequeno run que se tornaria outro cássico dos quadrinhos, no que ficaria conhecido como Batman Ano Um.
A arte foi de David Mazzuchelli, mas Frank tinha convidado Trevor Von Eeden antes para ser o artista do arco. Trevor recusou, e afirma na entrevista que não guarda arrependimentos quanto a isso, já que adora o trabalho de David em Batman Ano Um, ainda mais com as cores de Richmond Lewis, namorada de Mazzuchelli na época.
No título do Arqueiro Verde comandado por Mike Grell, Trevor Von Eeden desenhou Green Arrow #25 (1989), e no mesmo ano fez Secret Origins #43, recontando a origem de Rapina e Columba, com roteiro do casal Barbara e Karl Kesel. Os anos 90 começam para Trevor Von Eeden com a minissérie Black Canary #1–4 (1991–1992), da Canário Negro, com roteiro Sarah Byam, com uma arte um pouco mais estilizada do que a fez na mini do Arqueiro. A arte-final aqui também foi de Dick Giordano. Foi um sucesso, e no ano seguinte, a DC fez um título solo da heroína. Black Canary #1–7, 9–11 (1993) teve artes de Eeden, de novo com roteiro da Sarah e arte-final de Bob Smith. O número 12 foi a edição final.
Outro destaque de Eeden na época foi o arco Veneno, publicado originalmente em Legends of the Dark Knight 16-20 (1991), com roteiro de Dennis O´Neil. É uma das histórias mais pesadas do Homem-Morcego, no qual ele se torna um viciado em drogas, em uma trama que mistura paranóia, vício, rejeição familiar e claro, o complexo industrial-militar.
É nesta HQ que a perigosa substância que concede superforça viciante aparece no Universo DC, elemento essencial em histórias futuras do Batman, nas mãos de um de seus maiores inimigos, Bane. Eeden fez os lay-outs, com lápis de Russel Braun e tinta de José Luis García-López, um dos ídolos de Trevor.
Trevor também desenhou Green Arrow Annual #5 (1992), com roteiro de Sarah Byam e arte-final de Frank Springer, retomando a parceria da época do Raio negro.
Em 1993 Trevor Von Eeden marcou sua presença no primeiro número de Blood Syndicate, um dos vários títulos conduzidos pela Milestone Comics, um selo de quadrinhos publicado pela DC Comics, criado no mesmo ano, e capitaneado por Dwayne McDuffie, Denys Cowan, Michael Davis e Derek T. Dingle, todos artistas negros, em histórias temáticas sobre racismo e discussões sociais com o mood de super-heróis. No caso, Blood Syndicate era a história de uma gangue de superhumanos, com roteiro de McDuffie e artes de Von Edden, Cowan e Ivan Velez Jr.
Em Batman: Legends of Dark Knight #105-106 (1998), Trevor Von Eeden desenha uma história de C.J. Henderson, onde o Comissário Gordon enfrenta o Coringa, e faz os lápis das edições #149-153 (2002), com um de seus ídolos, José Luis García-López, fazendo a arte-final. A história escrita por J.M. DeMatteis mostra os primeiros anos de Robin/Dick Grayson.
Foi um dos últimos trabalhos regulares de Trevor Von Eeden para a DC Comics. Ele chegou a fazer trabalhos pontuais para a Marvel Comics, como Power Man and Iron Fist #56–59 (1979), Spider-Woman #23–24 (1980), Marvel Fanfare #2 (numa história do Quarteto Fantástico) e #3 (uma do Gavião Arqueiro, o “Arqueiro Verde” da Marvel), ambas de 1982, e X-Men Unlimited #34 (2002).
Para outras editoras, Eeden criou Black Hood Annual #1 (1992), Comet Annual #1 (1992), The Fly Annual #1 (1992), Legend of the Shield Annual #1 (1992), da Impact Comics; The Big Book of Little Criminals #1 (1996), The Big Book of Bad #1 (1998), The Big Book of the Weird Wild West #1 (1998), da Paradox Press; Graphic Classics African-American Classics #22 (2011), da Eureka Productions; e Stalker #1–4 (2012–2013), pela Gateway Comics.
Mas seu trabalho de maior destaque indepedente foi The Original Johnson #1–2 (2009–2011), da IDW Publishing, sobre a história real de um dos mais famosos boxeadores americanos. Trevor Von Eeden se moveu para a área comercial da publicidade, para onde focou sua carreira. Mas seu legado nos quadrinhos é inegável.
MIKE W. BARR
Mike Barr é americano e desde 1974 trabalha com quadrinhos, iniciando sua carreira na DC Comics em Detective Comics #444, em uma história do Homem-Elástico. Ele passou por diversos títulos, como House of Mystery e Weird War Tales. Em 1982, entraria para o rol dos grandes clássicos dos quadrinhos americanos, ao criar a série Camelot 3000, com o desenhista britânico Brian Bolland.
Camelot 3000 #1–12 (1982–1985) foi revolucionária. Em 1980, a Marvel já havia dado o primeiro passo para mudar o modo de se vender revistas em quadrinhos nos EUA, com a série da Cristal, vendida por meio do chamado Mercado Direto — modalidade em que o lojista encomenda a revista primeiro, baseada em pedidos de seus clientes, e depois se imprime. A HQ da cantora mutante vendeu incríveis 400 mil cópias e a DC tinha que fazer algo nessa linha.
Barr bebeu das melhores fontes literárias do Rei Arthur (escrituras de Sir Thomas Mallory) e em cima de uma das mais famosas lendas da Inglaterra, criou uma nova história que duraria exatamente 12 edições, a primeira maxisserie da indústria. Por escapar das bancas de jornais tradicionais, a obra pode até desviar do famigerado Comics Code, e assim a história tinha cenas gráficas de violência, nudez e até sexo (!), ainda que apenas sugerido.
A trama se passava no futuro, com o Rei Arthur ressurgindo e indo atrás dos seus Cavaleiros da Távola Redonda para enfrentar as maquinações de Morgana Le Fey, aliada aos aliens que queriam dominar a Terra. Camelot abriu caminho para que Watchmen pudesse andar. Não foi pouco.
No ano seguinte, além da mini do Arqueiro, Mike Barr fez com o desenhista Jim Aparo a revista Batman and The Outsiders, com a já citada equipe Os Renegados, composta por Batman, Metamorfo, Geoforça, Katana, Halo, Divina e Raio Negro — as edições #15, #21 e #38, produzidas após a mini do Arqueiro, tem arte de Trevor Von Eeden.
O título surgiu para substituir a Brave and The Bold #200, que tinha sido cancelada. O editor Len Wein iria criar um novo título, mas Barr se voluntariou para conduzir a série. Marv Wolfman veio com a ideia de misturar personagens novos — Barr criou o manipulador de terra Geoforça (que se tornaria irmão de Terra, que Wolfman criara na revista dos Titãs), a lutadora japonesa Katana e cintiliante Halo — e antigos — Barr achava que o Raio Negro era perfeito para o Batman (que saiu da Liga da Justiça para liderar a equipe) e que o Metamorfo era tão diferente que oferecia um bom contraste.
A revista era divertida e contou com vários talentos. No número #32 (1986), o Batman deixa a equipe (na confusão da transição pré e pós-Crise), e a revista muda o nome para Adventures of The Outsiders no número #33. Nas edições #37-38 (arte de Eeden), temos a última história inédita da equipe. O título continua com republicações de antigas histórias até o #46, em 1987. Na verdade os Renegados tinha ido para outro título, chamado simplesmente Outsiders — Trevor desenhou a edição #24 (1987) — que durou até o número #28 (1988).
Mike Barr ficou no comando de todo esse run dos Renegados, mas em 1987 desenvolveu também uma história clássica do Batman, mostrada em Detective Comics #575–578, com artes de Alan Davis e Todd McFarlane, em um arco que ficaria conhecido como Batman Ano Dois, que continuava de certo modo os eventos de Frank Miller e David Mazzuchelli.
No mesmo ano, Barr criou com o desenhista Jerry Bingham a graphic novel Batman: Son of the Demon, conhecida no Brasil como O Filho do Demônio, que se tornaria uma das mais cultudas do bat–fandom. O Homem Morcego se vê mais uma vez envolvido em um plano diabólico de seu arqui-inimigo Ra´s al Ghul, mas tudo parece ser outra coisa quando Talia, a filha do vilão, revela seus verdadeiros sentimentos para o Batman. A trama dá pistas claras: os dois tiveram um romance, ela fica grávida e dá a luz um menino.
Por muito tempo a história foi tratada de modo velado na continuidade regular Pós-Crise do Universo DC. Depois da saga Zero Hora (1994), o editor Dennis O’Neil disse que a história tinha sofrido um retcon — ela nunca nem teria existido. Mas na saga O Reino do Amanhã (1996), que se passa em um futuro alternativo da DC, vemos um filho do Batman, Ibn al Xu’ffasch, e claramente sua mãe era Talia. Ele também aparece em The Kingdom: Son of the Bat #1 (1999).
Até que em Batman #656 (2006), pós-Crise Infinita, continuação da primeira Crise, o roteirista Grant Morrison introduz Damian, filho de Talia com Batman, mas dessa vez fruto de um estupro contra o herói, para fins de experiências eugênicas. Criado como uma criança assassina, eventualmente Bruce Wayne consegue “consertar” o garoto, que se torna até o novo Robin.
/ RAIO NEGRO. Depois do cancelamento de Black Lightning, o Raio Negro teve algumas histórias curtas lançadas em World’s Finest e Detective Comics — tal qual o Arqueiro Verde — por artistas como George Tuska, Rich Buckler, Marshall Rogers, Martin Pasko, J. M. DeMatteis e outros. Em Justice League of America #173-174 (1979), Gerry Conway e Dick Dillin produziram uma aventura onde Jefferson Pierce foi convidado a ser parte da Liga da Justiça. Ele recusa o convite, mas como vimos, ele entra em outra, Os Renegados, em Batman and the Outsiders #1.
Tony Isabella só voltou ao personagem em 1995, em um novo título do herói, que durou 13 edições, com arte de Eddy Newell. No novo título da Liga da Justiça em 2006, o roteirista Brad Meltzer e o artista brasileiro Ed Benes fazem o Raio Negro um membro da Liga da Justiça finalmente (outro é Roy Harper, antigo Ricardito e Arsenal, agora como Arqueiro Vermelho).
A origem de Jefferson Pierce foi recontada em Black Lightning: Year One (2009), minisserie em 6 edições de Jen Van Meter e Cully Hamner, e outra origem saiu em 2018, por Isabella e os desenhistas Clayton Henry e Yvel Guichet em Black Lightning: Cold Dead Hands, também em 6 edições. No mesmo ano saiu uma série live-action de TV do Raio Negro, protagonizada por Cress Willians e disponível no Brasil na Netflix. O seriado, que durou 4 temporadas até 2021, adaptou de forma coerente o personagem, com diversos dramas sociais como na HQ original de Isabella e Trevor Von Eeden, que fez uma participação especial na série como um juiz de direito.
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