Quando o desenhista Marc Silvestri teve a ideia de criar mutantes aprimorados ciberneticamente, que ele pensava em chamar de Cyber Force, (às vezes grafado como Cyberforce) ele conversou com seu editor Bob Harras, um dos responsáveis pelo megassucesso dos X-Men, título dos heróis mutantes da editora Marvel Comics, a locomotiva de vendas e prestígio na indústria de quadrinhos de super-heróis no começo dos anos 1990.
A arte de Marc Silvestri, dinâmica e cheia de poses estilosas e cenas de ação espetaculares, com uma cinética que poucos artistas conseguem passar para o papel, era veloz e urgente, ao mesmo tempo que respeitava o limite das formas humanas estilizadas.
Ele aliava criativos ângulos e escolhas de espaço e preenchimento de sombras e contrastes, e fez um dos melhores trabalhos nos quadrinhos de super-heróis da indústria.
Com a Cyber Force, uma equipe de mutantes ciborgues renegados que lutam contra uma corporação robótica maligna, Marc Silvestri tomou de assalto os quadrinhos de super-heróis, junto com personagens de outros colegas artistas, na editora Image Comics, que abalou as estruturas das duas maiores, Marvel e DC Comics, que nunca mais seriam as mesmas.
Em 1992, a série Cyber Force começou a ser publicada e não demorou muito para a imprensa especializada começar a vender o material como “eles dariam um pau nos X-Men se brigassem”.
Essa mood de briga seria o tom adotado pelo mercado por muito tempo. E brigas está no cerne da editora Image Comics como um todo.
First, DC e Marvel
Marc Silvestri nasceu em março de 1958, na cidade de Palm Beach, Florida, EUA.
Começou a carreira desenhando revistas da First Comics, uma editora americana independente do começo dos anos 1980,que publicou HQs como American Flagg!, Grimjack, Nexus, Badger, Dreadstar e Jon Sable. Um de seus fundadores foi Mike Gold, que depois seria editor de grandes títulos e linhas na DC Comics.
Artistas como Frank Brunner, Mike Grell, Howard Chaykin, Joe Staton, Steven Grant, Timothy Truman e Jim Starlin começaram suas carreiras na First.
Na DC Comics, os trabalhos criados por Marc Silvestri (que no início de carreira assinava como Mark Silvestri) foram Ghosts #104 (1981), House of Mystery #292 (1981), The Unexpected #222 (1982) e Weird War Tales #113 (1982).
Na Marvel, Marc Silvestri fez Master of Kung Fu #119 (1982), e edições de Rei Conan e uma graphic novel (formato de prestígio, maior e com papel de qualidade superior) em Marvel Graphic Novel #17: Revenge of the Living Monolith (“A Vingança do Monolito Vivo“), ambas de 1985.
Também fez algumas edições de Web of Spider-Man (revista do Homem-Aranha), uma edição de Manto e Adaga e três edições de X-Factor, todas em 1986. Na última, entrou em contato com os mutantes dos X-Men, onde construiria seu sucesso junto com a equipe.
O artista se tornaria um grande narrador visual de ação, aspecto que já podia ser visto no crossover dos X-Men/Vingadores, de 1987.
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Marc começou em Uncanny X-Men #220 (1987), título onde desenhou diversos arcos clássicos e importantes, como a saga Queda de Mutantes; a fase dos X-Men “Austrália” (onde passaram a viver como “fantasmas vivos” após morrerem na saga anterior); um arco da Ninhada (os Alien da Marvel); a primeira aparição da nação escravagista de mutantes Genosha e seus Magistrados; a impactante Inferno, que afetou inclusive outros títulos da Marvel, e que revelou os segredos de Madelyne Pryor e reuniu depois de anos os X-Men com o X-Factor (os X-Men originais); além das “novas mortes” dos X-Men e parte de sua reconstrução.
Junto com o roteirista Chris Claremont, sob o comando da editora Ann Nocenti, Marc Silvestri e o arte-finalista Dan Green fizeram uma das melhores fases dos X-Men no final dos anos 1980.
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Marc Silvestri encerrou sua passagem no título com Uncanny X-Men #220 (1989). O desenhista Jim Lee assumiu a revista depois dele, conseguindo o inimaginável: deixar ainda mais dinâmico e popular os mutantes, em um design e mood que ditaria os rumos do mercado para toda a década de 90 praticamente.
Em 1990, Marc Silvestri assumiu a arte de Wolverine, um dos mais populares X-Men. Ele começou — graças ao deuses do gibi também com o arte-finalista Dan Green, que complementa seu trabalho com perfeição — em Wolverine #31.
Ilustrando os roteiros de Larry Hama, Silvesti fez histórias de temática urbana, ninjas, monstros, androides, viagem no tempo para a Guerra Civil Espanhola, insuspeitos parentescos com Dentes de Sabre (argh!), agentes secretos, o passado de Logan como Arma X, o alien gordão Mojo e a dramática morte de Mariko Yashida, um dos grandes amores da vida de Wolverine. Silvestri ficou até o número Wolverine #57, de 1992.
Image Comics
As engrenagens do destino mudariam o percurso de Silvestri em 1992.
Junto com outros desenhistas na Marvel, Marc Silvestri era uma das peças responsáveis diretamente pela explosão de vendas e popularidade de certos títulos da editora na época: Os Fabulosos X-Men e suas equipes derivadas X-Force e X-Factor, o Homem-Aranha, Justiceiro e Hulk.
Em 1992, a Marvel passava de seus 30 anos (uma idade “moderna”, com a estreia do Quarteto Fantástico em Fantastic Four #1, de agosto de 1961, como marco na editora), com uma terceira geração de desenhistas na empresa, pós-Jack Kirby, Don Heck etc (primeira) e John Byrne, Neal Adams, John Buscema etc (segunda).
Marc era de uma geração-fã (a primeira de muitas), voluntariosos e ávidos por desenhar seus heróis de infância: Jim Lee (Justiceiro, X-Men), Todd McFarlane (Hulk, Homem-Aranha), Rob Liefeld (Novos Mutantes, X-Force), Whilce Portacio (Justiceiro, X-Factor, X-Men), Erik Larsen (Homem-Aranha) e Jim Valentino (Guardiões da Galáxia) eram seus colegas na Marvel, fazendo exatamente isso.
As vendas “normais” de revistas Marvel na época eram de 100 mil a 300 mil edições — dizem que vendas abaixo de 250 mil unidades eram passíveis de cancelamento.
A título de ilustração, hoje em dia um número acima de 10 mil é considerado milagre.
Com a arte dos desenhistas citados, como a de Todd McFarlane no Homem-Aranha, essas vendas nos anos 90 batiam 1 milhão.
A Marvel também via esse poder, e de olho em mais lucro, e mais importante, lucro rápido, deram mais liberdade para os desenhistas, o que incluiu eles ditarem mudanças de roteiro a favor do desenho. Mais que isso: até títulos novos os desenhistas poderiam “escrever”, já que a arte era o que importava.
Com uma nova revista chamada simplesmente Spider-Man (1990) escrita e desenhada por Todd McFarlane, a Marvel viu 2,5 milhões de exemplares vendidos.
Em 1991, Rob Liefeld reformulou os Novos Mutantes e alcançou enorme sucesso, mas quando os transformou em X-Force, chegou a inacreditáveis 2 milhões de exemplares vendidos.
Mas a maior vendagem ainda estava por vir.
X-Men #1, de 1991, com arte de Jim Lee, vendeu 8 milhões de edições — os números são questionáveis, e com razão, já que eram viciadas por questões de capas variantes e pedidos exagerados de comic book shops –, mas é a quantidade que ficou convencionada na época.
Entre os 50 títulos de HQs de super-heróis mais vendidos, 44 eram da Marvel — com as artes desses caras.
No Top 10, só um gibi não era da Marvel e deles (Robin, da DC Comics).
Todd McFarlane olhou o cenário e viu um padrão. Conversou com seus colegas de prancheta. Rob Liefeld, jovem ligado nos 220volts 24h por dia, e Jim Lee, um sul-coreano pragmático e bom de contas, e junto a eles Portacio, Larsen e Valentino, além de Silvestri, armaram um plano. Eles iam ser os próprios chefes.
“Imagem é tudo“, dizia uma propaganda da Canon (marca de máquinas fotográficas) na época, com o tenista André Agassi, e serviu de lema para os desenhistas criarem a Image Comics, onde a imagem seria rei. O logo da editora foi criado por Rob Liefeld.
A Image Comics representou uma mudança de paradigma na indústria de quadrinhos de super-heróis.
Era a primeira vez, desde o começo do mercado (Action Comics #1, estreia do Superman, editora DC Comics, 1938), que os desenhistas ganhavam caminhões de dinheiro, e se viram no controle do transatlântico que era a indústria de HQs de super-heróis.
Eles agora queriam mais liberdade para contar suas histórias, e como donos do poder, decidiram concentrá-lo num negócio próprio.
A história tem ares de fantasia, mas foi tudo real. Silvestri e os outros desenhistas eram verdadeiros rockstars para os fãs. Lojas de venda de quadrinhos nos Estados Unidos (comic book shops) com filas quilométricas de compradores, com direito a gritaria e cobertura televisiva de helicóptero.
Marc Silvestri finalmente poderia fazer seus próprios super-heróis. Ele podia fazer seu Cyber Force.
Cyber Force, de Marc Silvestri
O primeiro título da Cyber Force saiu em 1992, como um minissérie de 4 edições, pela Image Comics em associação com a Malibu Comics, a editora que deu o apoio para a entrada em campo no mercado para os fundadores da Image.
Marc, Jim Todd e os outros queriam jogar seguro, então para testar o público e sua reação, optaram por começar pequeno. Seria a única vez que fariam isso.
Os desenhos de Cyber Force foram de Marc Silvestri e os roteiros foram de seu irmão, Eric Silvestri. Marc produziu as revistas sob o selo Homage Studios, a “casa” de Jim Lee na Image Comics. A arte-final nos desenhos de Silvestri foram de Scott Williams, parceiro de longa data de Lee.
As 4 edições mostravam heróis renegados contra uma corporação do mal.
Eram os mutantes Ripclaw (Robert Berresford), um índio nativo-americano com garras de metal líquido, Velocidade (Carin Taylor), uma jovem e carismática velocista, o grandalhão Impacto (Boomer O’shea), a lutadora letal Cyblade (Dominique Thibaut), o poderoso atirador de rajadas energéticas Termal (Dylan Cruise), líder da equipe, fora o militar de três braços biônicos Morgan Stryker.
Todos eles eram mutantes, e que foram raptados pela corporação Cyberdata, que os transformou em ciborgues, com intenção de criar uma elite de supersoldados para, é claro, dominar o mundo.
Stryker e cia. eram para ser dessa elite, os S.H.O.C.s (Special Hazardous Operations Cyborgs), mas eles conseguiram escapar, e desde então, lutam contra essa a Cyberdata.
Uma operativa deles é Balística (Cassandra “Cassie” Lane), que depois na trama descobrimos ser irmã de Velocidade, quando ela eventualmente muda de lado e fica junto aos heróis.
Marc Silvestri, é claro, criou os integrantes para espelhar os X-Men.
Por isso, sem surpresa alguma, temos um louco com garras (Ripclaw/Wolverine), um grandalhão superforte de metal (Impacto/Colossus), uma mulher letal em artes marciais com lâminas energéticas (Cyblade/Psylocke), um homem-canhão de plasma (Termal/Destrutor) e um supersoldado biônico armado até os dentes (Stryker/Cable).
Depois da quarta e última edição, saiu uma edição #0, uma revista com roteiro de Marc e Eric Silvestri, mas com arte de Walt Simonson, um dos artistas da segunda geração da Marvel, da qual Marc sempre foi grande fã — a arte dos dois são muito parecidas, angulosas, dinâmicas e cinéticas.
As últimas páginas da #0 ainda mostravam o Codename: Stryke Force, com arte de Brandon Petterson, uma equipe especial de mercenários liderada pelo Stryker, e escrita por Marc Silvestri.
Eventualmente, Silvestri criou seu próprio selo na Image Comics, a Top Cow Productions (“vacona”, em tradução livre — melhor nome).
O título regular da Cyber Force começou em 1993, e as primeiras edições tiveram um crossover com a equipe de super-heróis criada por Jim Lee, os Wild C.A.T.S., no arco “Killer Instinct” (Wild C.A.T.S #5-7 e Cyber Force #1-3), onde descobrimos que Ripclaw e Warblade, o também louco com garras, criado por Jim Lee, têm mais em comum do que imaginavam.
O título da Cyber Force durou até 1997, com 35 edições e dois anuais, fora diversas participações em outros títulos de heróis e personagens da Image e edições especiais.
A revista regular contou com diversos outros roteiristas e ilustradores ao longo do tempo, como David Finch. A última edição, por exemplo, teve roteiro de Brian Houglin e arte de vários artistas — nenhum deles era Marc Silvestri.
Logo que a Cyber Force foi lançada, outros projetos e HQs com outras temáticas tomaram conta do tempo de Silvestri, que era o gestor executivo da Top Cow, o que deve ter deixado pouco tempo para ele ficar nas pranchetas de desenho.
Assim, Marc Silvestri faria trabalhos pontuais a partir de agora, e alguns deles nem eram para seu selo, como veremos a seguir.
Marc e Marvel, de novo
Em 1995, Marc Silvestri, junto com o editor David Wohl e os escritores Brian Haberlin e Christina Z e, principalmente, o artista Michael Turner, lançaram um dos maiores sucessos do selo Top Cow, a HQ Wicthblade, uma trama policial com aventura envolvendo artefatos místicos, com uma protagonista incrível, a detetive Sara Pezzini.
Em 1996, Marc Silvestri já estava de novo desenhando os mutantes da Marvel, num insuspeito crossover com Star Trek/Jornada nas Estrelas. “Foi uma coisa que me fascinou de início porque sou fã antigo de Jornada, e obviamente, tenho um envolvimento com os X-Men. Bob Harras me procurou com a proposta e achei que seria ótimo.”
A trama mostra Proteus (inimigo dos X-Men), que é enviado para um plano extradimensional e encontra Gary Mitchell, o ex-melhor amigo do Capitão James Kirk, da série clássica de Star Trek. Proteus, que tem o poder mutante de possuir corpos e distorcer a realidade, toma conta de Gary e funde os dois mundos da franquia.
Esse movimento de volta ás origens coincide quando a Marvel deu uma bolada de grana para Jim Lee e Rob Liefeld reformularem os heróis da editora em uma saga chamada Heróis Renascem, com os heróis Marvel, mortos na saga Massacre, agora renascidos em um novo universo à parte do Universo Marvel regular. Marc Silvestri chegou a ser sondado, mas ele já estava mergulhado em seus outros projetos na Top Cow.
Capitão América, Vingadores, Homem de Ferro, Hulk, Thor e Quarteto Fantástico tiveram novas aventuras pelas mãos de Jim e Rob. Os outros fundadores não ficaram nada felizes com isso, mas a coisa toda, quando altos valores de dinheiro está envolvido, não tem tanto problema assim, não é mesmo?
Anos antes, Marvel e DC tiveram que se movimentar muito para tentar se recuperar da porrada que a Image Comics provocou no mercado.
A Marvel foi de Era do Apocalipse para tentar recuperar suas vendas, numa saga inventiva onde parte de seus títulos foram modificados temporariamente, até o fim do arco.
A DC foi ainda mais longe: fez do Lanterna Verde/Hal Jordan um vilão, quebrou a coluna do Batman e matou o Superman, com uma saga bombástica de ressurreição do herói.
No mesmo ano, o roteirista Garth Ennis e Silvestri lançaram Darkness, outro grande sucesso da Top Cow, uma trama de máfia estrelada pelo assassino Jackie Estacado, que descobre ser dono de um imenso poder místico relacionado à escuridão.
A Top Cow e a Marvel promoveram um crossover entre seus personagens, onde seus mutantes cibernéticos e outros encontravam Wolverine, Elektra, Motoqueiro Fantasma e até o Surfista Prateado, na saga O Reino do Demônio (1997).
Em 1998, a Top Cow lançou Fathom, criação de Michael Turner, uma trama submarina cheia de aventura.
Em 2004, Marc Silvestri desenhou o fechamento da saga do escritor escocês Grant Morrison nos X-Men, em New X-Men #151–154.
Um ano depois, Silvestri lançou uma nova série na Top Cow, uma HQ-thriller de assassinos superpoderosos chamada Hunter-Killer, escrita por Mark Waid (Marc desenhou as seis primeiras edições).
No mesmo ano, Marc fez as capas das edições da minissérie X-Men: Deadly Genesis, escrita por Ed Brubaker e desenhada por Trevor Hairsine.
A volta da Cyber Force
Apenas em 2005 a Cyber Force foi ressurgir, junto com um dos maiores grupos de super-heróis de todos os tempos: a Liga da Justiça, da DC Comics.
JLA/Cyberforce saiu como edição única escrita por Joseph Kelly e arte de Doug Mahnke — Silvestri fez apenas a capa.
Em 2006, a Cyber Force finalmente retornou. Com roteiros de Ron Marz, David Wohl e Marc Silvestri, tivemos uma pequena saga chamada Rising From the Ashes (“Nascido das Cinzas“) em 6 edições, com os mutantes cibernéticos da Cyber Force agora lutando contra alienígenas.
Uma edição #0 foi lançada, e é a única com arte interna de Marc Silvestri. Todas as outras tem arte de Pat Lee.
Os personagens sofreram ajustes de design na arte de Lee, um desenhista com características de mangá (o quadrinho japonês). Tivemos novos acontecimentos na vida dos integrantes, com Termal, Stryker e Impacto como personagens recorrentes, incluindo a morte dramática do último.
Em 2007, foi a vez de Marc Silvestri fazer um retorno às origens e fechar um círculo. Ele promoveu um crossover de seus mutantes cibernéticos com os mutantes da Marvel.
Cyberforce/X-Men teve o roteiro de Ron Marz e as artes ficaram a cargo de Pat Lee, com Marc Silvestri fazendo apenas uma capa — variante ainda por cima.
Talvez o artista tenha preferido desenhar os X-Men em si, já que nesse ano ele ilustrou algumas edições da saga X-Men: Messiah Complex (Complexo de Messias), além de fazer outras capas para outros X-títulos.
De 2009 a 2010, Marc Silvestri fez o crossover CyberForce/Hunter-Killer, escrita por Mark Waid e desenhada por Kenneth Rocafort, com 5 edições lançadas.
Ainda em 2009, Marc desenhou a edição especial Uncanny X-Men/Dark Avengers, um crossover que reuniu os heróis mutantes com os Vingadores comandados por Norman Osborn.
No mesmo ano, a Imagem lançou a minissérie Image United, onde Marc Silvestri desenhou seus personagens da Cyber Force junto aos heróis dos outros seis fundadores da editora, em uma grande HQ-festa, onde cada um desenhava seus personagens com seus próprios traços, sob o layout de Erik Larsen.
20 anos de Cyber Force
Em 2012, a Top Cow comemorou 20 anos de existência, e Marc Silvestri reviveu a Cyber Force.
Mas dessa vez foi um reboot, uma manobra comercial e editorial onde os conceitos são reformulados para despertar novos interesses de público e venda. A iniciativa da empresa foi chamada de “Top Cow Rebirth“, e se ancorou numa campanha de financiamento coletivo.
Silvestri, dono do roteiro, imprimiu uma pegada mais cyberpunk em sua nova Cyber Force, orientando a arte dos desenhistas nesse sentido, capitaneado pelo artista Khoi Pham.
Silvestri fez as capas dessa terceira série da Cyber Force. A trama era pós-apocalíptica, com Carin Taylor, a Velocidade, tendo que escapar das autoridades de Millennium City e buscar ajuda para impedir o fim do mundo.
Nisso, ela encontra várias caras conhecidas para quem acompanhou a antiga Cyber Force, aqui num design um pouco diferente. Foram 11 edições dessa série. Em 2015, essa HQ ficou disponível no serviço digital LINE Webtoon, com mais capítulos adicionais, escritos por Matt Hawkins.
Top Cow e Image Comics
O volume de problemas que esteve por trás da inconstância da Cyber Force e suas publicações representam os problemas da própria editora que publicava as revistas.
Já em 1996, a Image Comics implodia sob a gerência dos sete artistas fundadores originais, pois eles não eram mais do que isso: artistas. Eles nunca foram executivos de contas e gestores.
Grande parte dos problemas vieram de indisposições editoriais e decisões equivocadas, e até atitudes desleais, como Rob Liefeld tentar “roubar” um artista da Top Cow — Michael Turner, no caso.
Eram sete grandes jogadores de basquete disputando uma bola em jogo. E Rob fazia todas as jogadas erradas, não fazia mais pontos como deveria e estava atrapalhando os outros. Silvestri decidiu sair da Image em 1996, e levou sua Top Cow com ele.
Mas Liefeld se antecipou e pediu demissão antes, o que deixou o caminho livre para Marc retornar. Jim Lee, o melhor desenhista da Image, era fã de Silvestri.
“Ele (Marc) foi chamado de o sujeito mais talentoso da Image. Em termos de habilidade pura, realmente está bem lá em cima. A dinâmica que traz a um trabalho sempre foi seu ponto forte“, disse Lee em uma entrevista para a revista Wizard.
Cyber Force só nos quadrinhos
Diferente de outras revistas da Image Comics dos outros fundadores, Cyber Force não saiu das páginas de suas revistas para outra mídia, como foi o caso de Wild C.A.T.S do Jim Lee, que teve desenho animado e videogame.
O mais perto que a criação mutante cyborg de Marc Silvestri chegou de um produto audiovisual foi uma conversa com a Fox Kids para uma animação baseada em seus personagens, já que o antes popular desenho animado dos X-Men estava nas suas últimas entre 1995 e 1996, e um substituto à altura poderiam ser os mutantes cibernéticos da Cyber Force.
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A intenção era um programa de 1 hora, com a outra meia hora destinada ao Youngblood, equipe de super-heróis do Rob Liefeld.
Dizem que artes, model sheets e character designs da animação da Cyber Force, bem como rascunhos de brinquedos e hominhos dos personagens pela Mattel (a atividade-fim de qualquer desenho animado infantil) chegaram a serem produzidas, mas o projeto não avançou.
No mundo dos videogames, a Cyber Force nunca chegou perto também.
Marc Silvestri fez o character design dos perosnagens do Fighting Force, um jogo de briga de rua desenvolvido pela Core Design e publicada pela Eidos para o console de 32-bits da Sony, o então estreante PlayStation, em 1997.
A Eidos era dona de Tomb Raider, jogo de aventura protagonizado pela incrível Lara Croft num mood Indiana Jones, e vários quadrinhos da personagem foram lançadas pela Top Cow, incluindo um crossover com a Witchblade.
Witchblade foi o produto mais transmídia de Silvestri na Top Cow: além do imenso sucesso do título regular da HQ, Witchbalde teve uma série filme para TV em 2001, um mangá em 2004 e um anime (desenho animado japonês) em 2006. A personagem nunca encontrou a Cyber Force, a não ser em edições mais que especiais, como Image United.
Cyber Force, 30 anos
Atualmente, Marc Silvestri tem um projeto via financiamento coletivo para mais um projeto da Cyber Force, por conta da comemoração de 30 anos da equipe em 2022.
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Cyber Force no Brasil
A Cyber Force saiu no Brasil, pela editora Globo, em uma massiva campanha de marketing da empresa, que era sustentada pela revista Wizard, uma publicação jornalística especializada de quadrinhos dos EUA, e que foi licenciada para uma versão brasileira.
A Wizard saiu em agosto de 1996 e em setembro a Cyber Force já estava nas bancas — não apenas ela, mas Codinome: Stryke Force, e também Gen 13 e Wild C.A.T.S. (ambos do selo Homage, de Jim Lee).
Mesmo com a propaganda da casa — a Wizard foi um enorme sucesso editorial — as revistas não decolaram. E Cyber Force foi cancelada no número 15. Pelo menos quase coincidiu com os materiais que apenas Marc Silvestri desenhou…
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