A pesquisa Perfil do Jornalista Brasileiro 2021 é um retrato valioso e rico do cenário do jornalismo brasileiro, baseada nas respostas de mais de 7 mil profissionais de imprensa.
Os dados do estudo indicam que o perfil do jornalista brasileiro ainda é majoritariamente mulheres (58%), brancas (68,4%), solteiras (53%), com até 40 anos.
A pesquisa é uma construção coletiva liderada pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro), da Universidade Federal de Santa Catarina, e articulada nacionalmente pela Rede de Estudos sobre Trabalho e Profissão (RETIJ), da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor).
Como resultado desse trabalho colaborativo, 7.029 jornalistas responderam ao questionário entre 16 de agosto e 1º de outubro de 2021. a grande maioria em território brasileiro.
O perfil de jornalista mulher branca solteira com quase 40 anos mudou um pouco em relação a um levantamento brasileiro feito em 2012, pelos mesmos realizadores: a participação feminina reduziu em seis pontos em comparação ao estudo de 10 anos atrás.
O jornalista brasileiro
Dos profissionais que atuam na mídia, 37,1% atua como repórter e 23,4% como editor/a, e mais de dois terços afirmam possuir o registro profissional – 77,3%.
Temos que começar pelo que interessa vivendo em uma democracia burguesa: dinheiro.
O valor pago para ser jornalista no Brasil é lamentável. A renda mensal de 60% dos entrevistados é inferior a R$ 5,5 mil por mês e apenas 12% recebem acima de R$ 11 mil.
Esse dado joga luz em cima de um contraste terrível: 42,3% têm ensino superior completo, 28,6% têm especialização e 14,7% que têm mestrado.
Os profissionais formados em Jornalismo são 92%, com os 8% restantes divididos entre Publicidade e Relações Públicas. Menos de 1% dos jornalistas da pesquisa não tem diploma de Jornalismo.
Existem 327 cursos universitários do gênero no país, segundo o coordenador geral da pesquisa, professor Samuel Pantoja Lima (UFSC), em declaração postada no site onde a pesquisa pode ser baixada. São 216 páginas de um rico material.
Por falar em riqueza, o valor monetário diz muito sobre o atual estado jornalístico enquanto processo criativo e burocrático.
Sem os pilares de sustentação financeira das empresas jornalísticas em boas condições, elas não se furtam a pagarem pouco a (poucos) profissionais sempre estressados com deadlines, pautas de última hora e pescoções intermináveis em plantões, isso quando não fazem trabalho dobrado, acumulado pela falta de colegas em vagas que são extintas e nunca repostas.
A pesquisa incluiu essa precarização do trabalho, as condições laborativas que afetam a saúde e os efeitos das inovações tecnológicas, observando as principais mudanças apresentadas na última década.
O volume de vínculos CLT e as formas precárias de trabalho chegam a 24% (freelancers, prestação de serviços sem contrato, PJ e MEI). Quanto à jornada de trabalho brasileiro, o percentual de jornalista com carga diária superior a 8h permanece alarmante: 42,2%.
A situação de estresse no trabalho é alta: 66% sentem isso, com 40% dos jornalistas relatando inclusive assédio moral no trabalho. A porcentagem de assédio sexual foi de 11%.
O Perfil do Jornalista Brasileiro 2021 constatou forte presença de jornalistas em funções fora da mídia no jornalismo brasileiro, como assessoria de imprensa, marketing e comunicação corporativa.
No conjunto da categoria, os dados evidenciaram a multifuncionalidade como uma característica dos jornalistas brasileiros: 76% dos entrevistados trabalhavam com internet, mas apenas 38,6% tinham como atividade-fim veículos online.
A categoria era também formada por vínculos de trabalho formais e informais dentro e fora da mídia, muitas vezes trabalhando em dois ou mais empregos ao mesmo tempo.
Segundo o Perfil do Jornalista Brasileiro 2021, 54,5% dos entrevistados trabalhavam na mídia e, do total deste grupo, 26,8% atuavam com vínculos considerados precarizados em sua natureza: freelancers (11,9%), prestadores de serviço (8,1%) e pessoas jurídicas (6,8%).
Em sua maioria (43,3%), eles trabalhavam entre 8 e 12 horas por dia somando com outros 40,3% que trabalhavam de 5 a 8h diárias, chega-se a 83,4% de jornalistas laborando além da jornada legal de 5h/dia.
A maior concentração de jornalistas do Brasil está na região Sudeste, especialmente nos três estados mais populosos (SP, RJ e MG) com 61,5% dos profissionais.
O maior percentual verificado pelo Perfil do Jornalista Brasileiro 2021 continua habitando São Paulo, que conta com 36,5% dos jornalistas do Brasil.
O estado é seguido por Minas Gerais (11,6%) e Rio de Janeiro (11,1%). Eles são os únicos com percentual de jornalistas na casa dos dois dígitos.
Completando o Sudeste, o Espírito Santo concentra 2,4% dos jornalistas brasileiros e é o 9º Estado com maior volume de profissionais.
A presença de pessoas negras entre jornalistas no Brasil cresceu de 23% em 2012 para 30% em 2021, num provável reflexo das políticas de ação afirmativa no acesso ao ensino superior. Esta é a estimativa da categoria por cor-raça: brancos/as – 67,8%, pardos/as – 20,6%, pretos/as – 9,3%, amarelos/as – 1,3%.
A situação política dos jornalistas entrega números reveladores de como se dá a realidade social no qual estamos inseridos. Das 2.017 respostas válidas dos jornalistas, 68,6% indicaram não ter nenhuma filiação e 31,4% de respondentes possui filiação sindical.
Quanto a partidos políticos, 89,7% não estão filiados. Mas os que se identificam como esquerda são 52%; de centro são 25%; enquanto que direita são 1,4%. Jornalistas que se declararam de extrema direita correspondeu a 0,1%.
Dos mais de 7 mil jornalistas que responderam a pesquisa do Perfil do Jornalista Brasileiro de 2012, mais de 70% disseram que não atuam mais ou nunca atuaram na área de jornalismo. Ou seja, de 10 colegas, 7 deles estão desconectados da área, completamente fora da luta social da categoria em sua totalidade.
É importante destacar aqui que o próprio contexto de pandemia da Covid-19 intensifica as dificuldades, adicionando à precarização já existente efeitos psicológicos devidos às pressões comuns do trabalho combinadas ao luto e ao excesso de trabalho decorrente de colegas se demitindo ou sendo demitidos, com pouco ou nenhum apoio das empresas.”
Professor Samuel Pantoja Lima, o coordenador do Perfil do Jornalista Brasileiro 2021
Os resultados do O Perfil do Jornalista Brasileiro de 2012são baseados em 7.029 respostas, a partir das quais – após etapa de saneamento – foram consideradas 6.650, sendo 6.594 vindas de todas as unidades da federação e 56 de jornalistas que atuam no exterior. A pesquisa possui margem de erro inferior a 2%, em intervalo de confiança de 95%.
O estudo envolveu 17 pesquisadores voluntários de todas as regiões brasileiras e recebeu o apoio das principais organizações nacionais da categoria: ABI, ABEJ, ABRAJI, APJor, FENAJ – e Sindicatos filiados, e SBPJor, assegurando a inédita visibilidade à pesquisa e viabilizando seu alcance nacional. Lima acrescenta:
Essa é uma grande contribuição ao campo de pesquisa em jornalismo no país, que permite, além de atualizar dados referentes às características demográficas, políticas e de trabalho desses profissionais, constatar transformações ocorridas no perfil de profissionais do jornalismo, comparando os novos achados com o estudo pioneiro, realizado há 10 anos, em 2012.”
Análise
(textos extraído diretamente do Perfil do Jornalista Brasileiro 2021)
O surgimento das plataformas digitais transformou o cenário da comunicação humana em escala global.
A revolução tecnológica, iniciada nos anos 1970 com a automatização das redações, impactou profundamente o Jornalismo como forma social de conhecimento e profissão. Observando este cenário, os autores acadêmicos Mark Deuze e Tamara Witschge sugerem que se acrescente a questão clássica “o que é jornalismo” uma segunda questão: “no que ele está se tornando?“.
Os pesquisadores destacam quatro tendências contemporâneas que evidenciam essa metamorfose no jornalismo:
a) uma reorganização dos ambientes de trabalho
b) a fragmentação das redações
c) a emergência de uma sociedade “redacional”
d) a ubiquidade das tecnologias midiáticas
Cada uma dessas tendências influenciou no redesenho do Jornalismo, especialmente do mercado de trabalho, ainda que de forma diferenciada nos distintos países e regiões — o cenário brasileiro não escapa dessas distinções.
Estudos apontam para uma crescente precarização da profissão, sob o peso das novas tecnologias da informação, de novos hábitos do consumo de informações (jornalística e em geral) e do cenário de escassez de recursos para financiar a indústria da informação ainda centrada no modelo empresa e no financiamento da atividade profissional com a venda de anúncios publicitários e assinaturas.
Na última década, só se intensificou a crise por que passa a indústria da informação jornalística no Brasil e no Ocidente.
Entre 2006 e 2017, o faturamento dos jornais norte-americanos com publicidade caiu de US$ 49 bilhões para US$ 16 bilhões.
Com a criação das gigantes digitais (Google, YouTube, Facebook, Apple, Twitter etc.), mais de dois mil diários foram fechados nos EUA, nos últimos 15 anos, e o número de empregados em redações de jornais caiu de 74 mil em 2006 para 39 mil em 2017.
A dimensão da crise da indústria jornalística americana, principal mercado do mundo, coloca em questão a ideia de que a solução para as dificuldades se resumiria a encontrar uma fórmula para resolver o modelo de negócios, centrado na captação de publicidade, complementado com assinaturas e vendas avulsas.
Na segunda década dos anos 2000, a resposta que a indústria mainstream buscou dar à crise foi um misto de iniquidade com incompetência: o foco foi na redução do número de profissionais atuando no mercado e, para suprir a carência cada vez mais acentuada de força de trabalho qualificada (e em número compatível) nas redações, os empresários acenaram com a bandeira da multifunção sem multissalário, evidentemente.
O enxugamento de redações jornalísticas decorrente das reestruturações frente à informatização e digitalização das empresas de mídia já era registrado entre os anos 1970 e 1980; porém, ao longo do tempo, essas inovações deixaram de representar melhorias para a dinâmica de trabalho
Novos modelos de negócios jornalísticos, ainda experimentais e pouco frequentes, buscam garantir autonomia de trabalho, qualidade jornalística e sustentabilidade econômica.
O Perfil do Jornalista Brasileiro de 2012 ainda elenca outros textos de análises complexas que valem cada segundo do seu tempo para ser lido.
Jornalismo com palavras escritas
Há mais aspectos que podemos explorar em paralelo com essa pesquisa, em especial o jornalismo que faz uso das palavras escritas.
Conteúdo lido é melhor que falado?
Ler matérias em sites, portais e blogs é melhor que ouvir um podcast ou assistir a um vídeo no YouTube?
A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil indica que o país perdeu, nos últimos quatro anos, mais de 4,6 milhões de leitores, segundo dados de 2015 para 2019.
O brasileiro lê, em média, cinco livros por ano, sendo aproximadamente 2,4 livros lidos apenas em parte e, 2,5, inteiros. A Bíblia é apontada como o tipo de livro mais lido pelos entrevistados e também como o mais marcante.
A porcentagem de leitores no Brasil caiu de 56% para 52%. Já os não-leitores, ou seja, brasileiros com mais de 5 anos que não leram nenhum livro, nem mesmo em parte, nos últimos três meses, representam 48% da população, o equivalente a cerca de 93 milhões de um total de 193 milhões de brasileiros.
As maiores quedas no percentual de leitores foram observadas entre as pessoas com ensino superior – passando de 82% em 2015 para 68% em 2019 -, e entre os mais ricos. Na classe A, o percentual de leitores passou de 76% para 67%.
Os dados foram levantados pelo Instituto Pró-Livro em parceria com o Itaú Cultural.
Big techs e jornalismo no perfil do jornalista brasileiro
A ferramenta básica para a manipulação da realidade é a manipulação das palavras. Se você pode controlar o significado das palavras, pode controlar o povo que usa essas palavras.”
Philip K. Dick
As redes sociais investem muito dinheiro para a gente ficar no feed ad infinitum, no piloto automático. Mais tempo ali, mais lucro para elas.
Obra-prima em termos de pensamento original e pesquisa, A Era do Capitalismo de Vigilância, de Shoshana Zuboff, apresenta ideias alarmantes sobre o fenômeno que ela nomeou capitalismo de vigilância.
Os riscos não poderiam ser maiores: uma arquitetura global de modificação comportamental ameaça impactar a humanidade no século XXI de forma tão radical quanto o capitalismo industrial desfigurou o mundo natural no século XX.
A estratégia de grandes empresas de tecnologia baseia-se na mineração e análise de nossas identidades e ações — muitas vezes sem nosso consentimento —, que são então sintetizadas em dados e usadas para prever nosso comportamento futuro.
Essas informações são vendidas para outras empresas, para que estas possam oferecer bens e serviços direcionados ao nosso perfil, mas também moldar nosso comportamento, manipulando nossos desejos, necessidades e visão de mundo. Essa é a estratégia-padrão dos principais sites hoje, como Google, Facebook, Apple, Microsoft e Amazon.
Um dos efeitos disso é o sumiço do foco. É cada vez mais raro encontrar o que realmente gostamos, já que somos bombardeados por todos os lados dos produtos formatados pelos gestores de conteúdo que trabalham com o algoritmo para nos prender na mecânica psicossocial dela.
Isso vai além das redes sociais, pois nem mesmo buscadores escapam disso, com arquitetos de SEO direcionando o que procuramos para seus domínios, sejam eles o que precisamos mesmo ou não.
Mais que informação ruim ou mal-apurada, o que faz mais sucesso é informação sintetizada. Memes.
O conceito de meme surgiu pelo escritor britânico Richard Dawnkins, em seu livro O Gene Egoísta (1976). Ele chamava de meme os elementos de informação que passam de pessoa pra pessoa — no caso, na época, canções, ditados populares, lendas e folclores. Seria um “vírus da mente”.
O conceito foi ressignificado pelas redes sociais, e domina até hoje como forma de linguagem primal na internet.
O meme mudou a própria profissão de jornalista, enquanto mecânica desconstrutora.
Não basta fazer a pauta, é preciso contar os bastidores da apuração em stories no Instagram ao longo do dia — a despeito de quem faça isso bem e de modo orgânico e criativo. Ele ainda deve ser esparramado em thread no Twitter, deve ser transformado em um storytelling no Linkedin, em um ciclo infinito de spin-offs.
A situação do mercado cada vez mais saturado e precarizado leva a competição feroz onde cão come cão em busca de vagas pejotizadas ancoradas em permuta quando não há dinheiro.
Este texto do laboratório de jornalismo da Niemen explica mais sobre o “self branding” do jornalista e como ele faz vítimas nesse processo. Afinal, quem é Barry Sussman na elaboração das matérias do Escândalo Watergate perto dos jornalistas superstars Woodward e Bernstein?
O mercado de tecnologia, que só cresceu desde a bolha do pontocom nos anos 2000, parecia o mais valioso do planeta.
Mas notícias recentes mostram que algo mudou.
Covid-19, pandemia e lockdown para conter a ameaça virótica, e a Guerra da Rússia x Ucrânia, estão movimentando as peças da geopolítica mundial com impactos terríveis na cadeia econômica global, algo que nem a crise bancária de 2008 provocou.
Nos últimos meses estamos vendo demissões em massa em startups. As desvalorizações bilionárias em big techs e quebras generalizadas acontecem devido ao aumento de juros em patamares recordes, já que a diminuição dos incentivos para investimentos arriscados, algo inerente à renda variável e ao universo de startups, é inevitável.
Os investidores estão mais seletivos nas suas escolhas, mais rigorosos onde aplicar dinheiro, dando mais atenção a investimentos seguros do que rodadas em negócios inovadores que nascem em escritórios de mobiliário modernoso.
Essa deterioração engloba qualquer startup de jornalismo, por óbvio. E mesmo com uma eventual saúde financeira boa, essas empresas de tecnologia estão sendo tapeadas pelas big techs.
O Núcleo Jornalismo trouxe no começo do mês uma série de matérias repercutindo os acordos feitos entre Meta e empresas de telecomunicação ao redor do mundo para oferecer o Facebook sem custo adicional, no formato conhecido como zero-rating.
Isso preveniu o nascimento da internet aberta em muitos países, conforme avaliação da ex-executiva da área de Integridade Cívica do Facebook Frances Haugen, que deu uma entrevista ao Núcleo no dia 4 de julho.
“O Facebook roubou – eles fizeram escolhas intencionais para prevenir a internet aberta de nascer em muitos, muitos países ao redor do mundo porque eles optaram pelo zero-rating. E isso é profundamente errado“, disse Haugen.
Há mais entulhos no armário. As mais recentes atualizações do Instagram (17.07.2022): nenhum conteúdo de amigos no feed; memes de TikTok de contas que você não segue; propagandas nativas e patrocinadas; e todos os vídeos vêm com som 110% no talo. Inclusive há influenciadores deixando a plataforma.
Este artigo da VOX explora a originalidade (ou falta de) nas redes sociais, especialmente em tempos de TikTok. De acordo com o texto, existe uma linha tênue entre seguir uma tendência e copiar o que outra pessoa está fazendo como se fosse seu.
Outro lado: Erik Hoel escreveu este artigo para o Substack, onde discorre sobre a centralização dos feudos digitais e como consumimos todas as commodities de informação, mídia e entretenimento muitas vezes em um único lugar, e como as gigantes da tecnologia se movimentam para contornar isso.
E faz uma análise brilhante a respeito do Substack e o poder da newsletters, que já tem anos que mostra resiliência no cenário internetero.
E ainda nos mostra que “online writer” (“escritor online”) é termo melhor que “blogger” (“blogueiro). É a deixa para eu entrar.
Destrutor blog
Já elaborei bastante as razões do que faço e os porquês. Nesta matéria comemorativa de 100 posts, e nesta outra de 200 posts, por exemplo. Sintetizei tão bem que a reproduzo em parte a seguir.
A ideia de montar um blog em plena era morta de consumo escrito se baseou em um mixtape de assuntos, como fazíamos com as fitas cassetes e as músicas — de tecnologia e entretenimento, de mídia a política. Eu queria falar disso. Como jornalista brasileiro é isso que queria fazer.
Escrevendo.
Antes de artistas reclamarem do pica-pica e recorte de suas canções de álbuns pensados a ouvir de modo linear na agora muito populares playlists de streamings, já existia a fita cassete (K7) — um padrão de fita magnética p/gravação de áudio, surgida no começo dos anos 1960.
Quem inventou o K7 foi a Philips, empresa holandesa de tecnologia. A K7 tem uma importância colossal no cenário musical, pois propiciou a mobilidade aliada ao prazer de escutar o som.
Podíamos levar mais praticamente na casa dos amigos, e primeiros gravadores da Philips já eram portáteis, mas a Sony explodiu a indústria com a invenção do walkman.
Os toca-fita em veículos revolucionaram e popularizaram ainda mais o formato, pois a música se tornava a trilha sonora de passeios e viagens.
O que eu mais gostava (e todo o resto do mundo) era gravar minhas próprias tapes, pegando de rádio, reproduzindo de soundsystem, de double decks, cópias de amigos. Entre a década de 1970 e 1990, o cassete era um dos formatos mais comuns para gravação, junto aos LP’s e posteriormente aos CD’s.
Quando você começa um projeto — seja para leitura ou não –, não faltam opiniões.
A pressão por fazer mais, melhor e diferente do que você tem feito vem de todos os lados, até de você mesmo, caso não esteja com o espírito alinhado com seu propósito.
O poder comercial colossal que as big techs e redes sociais têm, antes pertencente à mídia jornalística, trouxe polarização, desinformação, problemas de saúde mental, discurso de ódio (em quantidades absurdamente maiores que o primeiro dono entregava), além da inevitável concentração de recursos.
Isso nos leva diretamente a outro fato: a exigência para o usuário de uma pretensa capacidade de julgamento a ser exercido por conta própria.
O simples fornecimento de dados não substitui a capacidade de avaliá-los, nem de saber avaliar se são confiáveis ou em que argumentos se baseiam. Longe de mim ser o gatekeeper, mas sempre quis compartilhar o que curto com os outros.
Logo, é desse jeito que faço as coisas. E não teria outro jeito se não fosse do meu.
De inspirações, busco a concisão estilosa e informativa do The Guardian, jornal britânico que, pra mim, é o melhor texto inglês jornalístico.
E o Nexo Jornal, o melhor jornal (digital) brasileiro pra mim. Análise, notícias, artigos e entrevistas com todas as áreas importantes da sociedade contemporânea, de modo claro e límpido. Fora que a série de vídeos no YouTube do jornal é fora de série.
Este vídeo que explica a China é um monumento.
Mas a maior parte do que consumo de informações é via newsletters.
No oceano de informação da internet, barquinhos, navios e iates de mídia têm que se destacar muito para serem notados.
Jornais, portais, sites de TV e rádio, blogs e podcasts de grande audiência têm que ter profissionais qualificados, ou preferidos do público, para segurar o interesse.
Mesmo os veículos oficiais podem se manter com apenas nomes, dependendo da reputação e prestígio que alcançaram.
O problema são as cambalhotas e malabarismos para se manter no topo, ao sabor dos ventos dos donos das plataformas, pois a cada dia, Google, Facebook e outras gigantes big techs mudam seus algoritmos de alcance, e entregar conteúdo fica cada vez mais difícil no feed do Face, no Youtube, no Instagram e mesmo no buscador do Google.
Para quem gosta de informação qualificada e comodidade, além de curadoria responsável e material de qualidade a ser consumido, assinar uma newsletter pode ser uma boa opção para escapar dos algoritmos, e saber o que precisa mais rápido.
A newsletter já é uma velha de internet. Trata-se do conhecido boletim informativo, um formato usado em comunicação interna e externa de empresas, como avisos, informações e notícias, e que no meio digital, tem sua base construída por e-mail.
Se você tem 50 pessoas e os e-mails dela, tem a (quase) certeza de que 50 pessoas poderão ver o que você quer comunicar (com a boa vontade do servidor não jogar no spam).
Para quem gosta de música, a jovem Dora Guerra tem impressões, reflexões e novidades ótimas em sua newsletter Semibreve. Que refresco é o vento que essa menina provoca com sua escrita!
Já a Gaía Passarelli comenta tudo em Tá Todo Mundo Tentando, com destaque para a cultura paulistana e brasileira em meio a reflexões pessoais, que é uma lindeza só acompanhar.
E não há ninguém melhor para comentar de marcas, publicidade e movimentações do que importa na internet do que a Beatriz Guarezi, em sua Bits to Brands. Uma inspiração, fora que ela é grande entusiasta do formato newsletter.
Um dos serviços mais usados é o Substack, uma plataforma online que fornece infraestrutura de publicação, pagamento, análise e design para suportar esses boletins de assinatura digitais, recebeu um investimento de 15 milhões de dólares em 2019.
Em 2020, o LinkedIn lançou uma ferramenta interna de newsletters dentro da sua plataforma. A newsletter Morning Brew, que traz notícias do mercado financeiro (de Wall Street ao Vale do Silício), teve o seu valor avaliado em 75 milhões de dólares em 2020. Seu lema é “fique mais inteligente em apenas 5 minutos” (em inglês, “Become smarter in just 5 minutes”).
Em 2021, o Twitter comprou a Revue (“rival” da Substack), e cortou a taxa pela metade para incentivar a monetização de quem criar com ela.
A revista Forbes inovou e lançou a sua própria plataforma de newsletters, que vai permitir que jornalistas ganhem dinheiro com assinatura, uma modalidade cada vez mais comum no mercado. Nos Estados Unidos, jornalistas de grandes jornais e revistas já montaram as suas próprias newsletters.
Já meu blog é uma operação jornalística nativa digital de um homem só — eu mesmo, Tom Rocha, onde faço o acompanhamento de cultura, política e tendências, com análises do consumo de informações e assuntos pop.
É uma descrição mais elaborada que encontrei pra substituir “críticas, resenhas e textos diversos”.
Tento contribuir na construção e desconstrução de assuntos para estabelecer novas ideias, transmitir um conhecimento do que julgo interessante a cada semana. É um exercício constante transformar tudo isso em raciocínio galvanizado na forma de postagens.
Falo de cinema, música, quadrinhos, tecnologia e mídia, em uma espécie de coleção/colação do que me é mais agradável, sem ordem específica, para curtir — um K7 de assuntos.
curadoria e textos: tomrocha (twitter e instagram)
jornalista, estrategista de conteúdo e escrevedor de coisas escritas.
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E obrigado por ler até o final =)
- Nem tudo são flores e diversão — não que isso fosse o objetivo do Perfil do Jornalista Brasileiro de 2022. Respeitosamente, deixo aqui um porém para o jornalista Dom Phillips, do The Guardian, assassinado passado. Ele e o indigenista Bruno Pereira (um dos maiores de sua geração) foram mortos na Reserva Indígena do Vale do Javari por uma rede de criminosos que atua na região, uma das mais afastadas da Amazônia. Estavam desaparecidos desde 5 de junho, e restos mortais dos 2 foram encontrados somente 10 dias depois. Foram torturados, baleados, queimados e esquartejados. E como qualquer jornalista sabe, o Brasil tem um histórico terrível contra jornalistas. Vladimir Herzog, Vlado, como era conhecido, foi assassinado pela ditadura militar no Brasil (1964 a 1985) no dia 25 de outubro de 1975.
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