Em um mundo perfeito, a Cristal dos X-Men estaria na boca do povo fã de cultura pop desde sempre — em todas as mídias, de HQs e filmes, a games e música. Principalmente essa última.
Artistas como Donna Summer, Cher, Village People, Kiss, Grace Jones, Bo Derek e o ator Robin Williams poderia estar reunidos em um filme da super-heroína cantora no começo dos anos 80. Quiseram os deuses da disco music que isso não ocorresse.
E assim, em vez de carne e osso e voz, a cantora fictícia Alison Blaire seguiu como personagem de papel na cultura pop, ao fazer parte de um dos grupos mais
famosos de mutantes dos quadrinhos americanos de super-heróis, os X-Men, incluindo seus filmes, desenhos e games.
Alison Blaire / Dazzler / Cristal
O poder de Alison Blaire, a Cristal, é transformar som em luz. A luz por conta de uma das maiores editoras de quadrinhos de super-heróis dos EUA. E o som por conta de uma das maiores e mais loucas gravadores dos EUA.
A personagem foi criada pela Marvel Comics e a gravadora Casablanca Records no final dos anos 1970 para aproveitar a onda disco music, e agora, mais de 40 anos depois, ainda ressoa de modo sonoro bastante alto e saliente na discografia gráfica da Marvel, em papel e película.
Cristal está nos quadrinhos mais recentes dos X-Men na Marvel, nos eventos bombásticos de House of X e Powers of X, e apareceu no último filme (ruim) dos X-Men da Fox, em julho de 2019, X-Men Fênix Negra — adaptação de uma história na qual, inclusive, fez sua primeira aparição nas HQs.
Para quem não é dos gibis, você deveria ter visto a cantora em X-Men Apocalipse (2016). Sorte dela que não rolou, pois o filme é uma bomba.
Na foto abaixo os atores que interpretam Ciclope e Jean Grey estão vendo a capa do disco da Cristal. A cena foi cortada do filme.
A Cristal tem uma pequena aparição no filme X-Men – Fênix Negra (2018), interpretada pela atriz Halston Jean Schrage, em uma cena de rápida cantoria com os alunos de Xavier.
A atriz teve trabalhos em Cidades de Papel, Goosebumps, Orville). Ela também aparece no videoclipe da música Extraordinary Being, de Emeli Sande, que faz parte da trilha sonora
Imaginem uma Taylor Swift que solta laser dos olhos e rajadas de fóton das mãos. E que brilha e se torna mais poderosa a cada som que absorve. E ela sendo cantora, é só fazer as contas.
Uma Kate Perry ou Beyonce mutante, uma x-man (X-WOMAN) lado a lado aos artistas da trilha sonora de verdade dos filmes, numa metalinguagem poderosa para capitalizar fãs do nicho musical.
Realmente, a Fox nunca soube explorar o ouro que tinha nas mãos com a franquia X-Men.
Casablanca Records
Cristal (Dazzler, no original) foi criada por um comitê, um processo pouco usual na hora de se fazer um super-herói na Marvel. Os responsáveis pela maior porção criativa foram o escritor Tom DeFalco e o desenhista John Romita Jr.
A intenção da editora era surfar a onda disco, e ter um gibi só da heroína, mesmo que a moda já estivesse mancando. A mira estava na cantora Donna Summer.
A Casablanca Records, gravadora de Los Angeles, dominava as paradas de sucesso da era disco no meio dos anos 1970. A casa também tinha dance, rock, funk e eletrônico em seu catálogo, e a lista de artistas, além de Sonna, era de respeito: Kiss, Village People, Cher, Lipps Inc., Parliament (que tinha George Clinton) e muitos outros.
Os proprietários eram Neil Bogart, Cecil Holmes, Larry Harris e Buck Reingold, que deixaram o selo Budha Records da gravadora Warner para criar a empresa.
Parte da mitologia dos anos malucos de uso descontrolado de drogas em gravadoras nos anos 70 é por conta de Neil Bogart.
Lendas da indústria indicam que ele tinha até uma secretária para anotar os pedidos de drogas. Dinheiro entrava e saia num ritmo alucinante, e ele topava os negócios mais loucos para tentar promover a gravadora.
A Casablanca queria mais exposição em qualquer canto de mídia — até no mundo dos quadrinhos. Ela já tinha obtido sucesso com quadrinhos da banda de rock Kiss, que ganhou dois especiais bem-sucedidos, em que chegaram a interagir com alguns dos heróis Marvel.
Uma nova parceria foi acertada, com a Marvel Comics encarregada de criar uma “Disco Queen” nas HQs, e a Casablanca uma cantora no mundo real, que assumiria essa persona.
O recém-inaugurado departamento de cinema da Casablanca também faria um filme da heroína — que por sinal, cresceu tanto, que teve dedo até em grandes filmes, como O Expresso da Meia-Noite, de Alan Parker.
A trilha sonora desse longa foi conduzida por Giorgio Moroder, um dos grandes nomes da música disco e eletrônica, e lançada pela Casablanca.
Atrasadas no rolê, as empresas fizeram o projeto de Cristal mesmo assim, até porque muito tempo e trabalho tinham sido investidos para ser descartada. As ambições eram grandes, com HQ, discos e filme atuando em conjunto para a promoção de Cristal.
Romita Jr. (informalmente chamado por aqui no Brasil de Romitinha, já que é filho do grande artista John Romita Sr.) frequentava as boates disco, e foi designado para criar a identidade visual da moça.
Ele queria usar como base a Grace Jones, modelo, atriz e cantora, muito famosa nos EUA dos anos 70, e colocou pinturas em seu rosto, como a dos integrantes do Kiss.
Um comitê formado pelo publisher Stan Lee, o editor-chefe da editora, Jim Shooter, e advogados da Marvel e da Casablanca foram dando mais e mais ideias.
Até que tudo virou outro negócio quando a atriz e modelo Bo Derek demonstrou interesse na personagem, depois de ter contato com o projeto, que já circulava pelas bocas e mãos do mundo do entretenimento.
Bo já tinha atuado em Orca – A Baleia Assassina (1977), seguido de Mulher Nota 10 (1979).
Donna Summer, Harlan Ellison, Cher, Robin Williams…
Entre as lendas do período em questão, dizia-se que a própria Donna Summer iria fazer a turnê da Cristal, Disco Queen – parte ela mesmo, e a outra parte a caráter. Um processo da cantora contra a gravadora enterrou tudo em definitivo.
De acordo com editor Jim Shooter, o tratamento do roteiro cinematográfico da Cristal incluía papeis para a Cher, os comediantes Rodney Dangerfield e Robin Williams, as bandas Village People e o Kiss, todos artistas sob contrato da Casablanca.
A gravadora ainda permitiu a contratação de quem quisessem para escrever o roteiro, e a Marvel pensou alto, com o Harlan Ellison, cultuado escritor de ficção científica, na mira.
E o bolo foi engordando.
Vingadores, Kiss, Homem-Aranha, Village People…
Os Vingadores e o Homem-Aranha iriam aparecer, em uma salada que ainda envolveria uma Rainha de Fogo contra uma Rainha Bruxa (a Cher iria interpretar essa), com guerra entre suas tropas — formadas por integrantes do Kiss e o Village People, e não esqueçam o Robin e o Rodney aí no meio — em uma terra fantástica, misturada com Nova York distópica e pessoas cavalgando unicórnios.
Na versão carne e osso e menos lisérgico e “pé no chão” do filme, Cristal não teria seus poderes de som e luz. Teria o poder de fazer as pessoas dizerem a verdade. Sim, infelizmente é verdade isso.
E Bo Derek exigiu que seu marido dirigisse o filme, um diretor de longas medianos, e completamente sem talento. Era o fim do envolvimento da loira no projeto, pra desprazer dos executivos, que ainda tentariam outra loira, a atriz Darryl Hannah para o papel. Sem sucesso.
A queda do disco
O projeto avançava e a era disco recuava. No verão de 1979, quase 100 mil pessoas compareceram no infame evento ‘Disco Demolition Night‘, em Chicago, onde a galera trazia um LP de disco para ser destruído em uma explosão, tudo por conta de uma promoção maluca de um time de beisebol, para atrair mais pagantes aos jogos em seu estádio.
A moda disco music, vinda do soul e funk, encontrava muita resistência por conta dos fãs de música mais cretinos, e, ao que parece, de beisebol. Meses depois, o gênero disco realmente enfraqueceu, com a popularização de outros estilos.
Um esgotamento natural. A Casablanca começou a decair financeiramente, e a empresa abandonou a carreira nem nascida de Cristal.
Das telas de cristal para as páginas de papel
O comitê criativo que fez as bases da personagem foram os escritores Tom DeFalco (que trouxe a ideia de poderes baseado em luzes) e Roger Stern (que concebeu o nome Dazzler/Cristal), com o artista John Romita Jr. responsável pela parte visual.
A Cristal enfim estreia nos quadrinhos da Marvel Comics em Uncanny X-Men #130 (1979), roteiro de Chris Claremont e John Byrne, que também desenha a história — a capa é de John Romita Jr. E seria no grupo de mutantes que ela faria sua fama nas HQs.
Nascida em Nova York, desde jovem Alison manifestava interesse em música e canto, e direcionou seus esforços nessa área.
Mesmo se descobrindo mutante, durante uma aula de canto, quando era menina, e temendo a exposição que isso acarretaria com sua carreira, ela encarou o desafio de usar o poder em suas apresentações.
O nome artístico que adotou acabou sendo seu codinome nos X-Men futuramente (dazzler em tradução livre pode ser fascinante, deslumbrante).
Alison descobriu seus dons mutantes em meio ao seu ingresso na indústria musical, e é em um de seus shows que a moça encontra pela primeira vez os X-Men.
Seu envolvimento com os mutantes se dá em meio a um conflito com o Clube do Inferno, a maçonaria mutante que veste espartilho e roupas vitorianas. Entre seus interesses, estão comandar a política e a economia do mundo inteiro.
A narrativa faz parte de nada mais nada menos que a Saga da Fênix Negra, publicada no final dos anos 1970 na revista dos X-Men citada no começo da matéria, um dos grandes clássicos da Marvel. E é depois desse encontro que começam as aventuras solo de Cristal relatadas em sua revista.
Depois da participação na Saga da Fênix Negra, Cristal voltou em Uncanny X-Men #128 (1981), numa aventura em que Kitty Pryde é raptada por Caliban, arte de Dave Cockrum.
É o mesmo ano do lançamento de Dazzler, o título próprio da Cristal, que teve 42 edições, de 1981 a 1986, e que foi conduzida por vários profissionais da Marvel, como a editora Louise Simonson, Jim Shooter, os escritores Tom de Falco, Danny Fingeroth e Archie Goodwin, e os artistas John Romita Jr. e Frank Springer.
O primeiro vendeu impressionantes 428 mil exemplares.
O mais surpreendente é que foi o primeiro gibi diretamente para vendas em comic shop, e não bancas de jornais e revistas como o usual (a manobra viria a ser conhecida como mercado direto, as comic shop são lojas exclusivamente de vendas de HQs).
Isso posiciona a primeira edição da revista de Cristal como uma das pioneiras da publicação do gênero, modalidade inclusive copiada pela editora concorrente, a DC Comics.
Essa manobra comercial daria nova vida financeira para o mercado de quadrinhos americanos como um todo por décadas.
O grande destaque fica para o artista Bill Sienkiewicz, que produziu algumas das melhores capas da Marvel Comics dos anos 1980 — Dazzler edições #27 até 35.
Cristal viveu muitas aventuras em seu título próprio, e a Marvel fez questão de relacioná-la com pequenos e grandes personagens da editora.
Cristal encontra o Doutor Destino, Escudo Azul, Marvel Boy, Galactus, Terraz, Mulher-Hulk, Encantor, Mulher-Aranha, Anjo, Homem-Absorvente, Inumanos, Vampira (na época ainda com a Irmandade de Mutantes), Punho de Ferro e Luke Cage, até que cruza com o caminho dos X-Men de novo.
Durante esse tempo, Alison Blaire fez algumas participações especiais em algumas revistas de outros heróis da Marvel, com destaque para Avengers #221 (1981), escrita por David Micheline e desenhada por Bob Hall, na qual Cristal é considerada para entrar no line-up dos Vingadores, junto com outros heróis.
Bill também fez a capa de Marvel Graphic Novel #12 – Dazzler: The Movie (Cristal, o Filme), lançada em 1984, escrita por Jim Shooter e desenhada por Frank Springer e arte-finalizada por Vince Colletta (um dos piores artistas da Marvel, conhecido por APAGAR os desenhos dos artistas para ter menos trabalho, com seu estilo “arenoso” e assassino — infelizmente ele fez a maioria da arte-final do título próprio da Cristal também).
Essa graphic novel de Shooter aproveitou alguns pontos do script do filme nunca feito da personagem. Está situada cronologicamente entre os números 34 e 35 da série regular.
Bill também foi capista da minissérie Beauty and the Beast (1985), escrita por Ann Nocenti e desenhada por Don Perlin e Kim DeMulder, onde Cristal e o Fera se vem envolvidos em uma arena de gladiadores (!) e têm que lutar por suas vidas.
Chris Claremont também escrevia o título New Mutants, a revista dos Novos Mutantes. E ele novamente usou a personagem. Nas edições #29-31, Sam Guthrie, o Míssil, é apresentado pela sua namorada, a cantora de rock Lila Cheney, uma teleportadora de nível galáctico (!!), para Alison Blaire, a Cristal, que estava com ela em turnê em shows por aí.
Sam e Illyanna precisam de ajuda pois os Novos Mutantes estavam presos numa arena de gladiadores, a mesma que Cristal ficou presa com o Fera na minissérie dos dois. A trama depois se revela uma perigosa armação da entidade maligna Rei das Sombras, que, com efeito, chega a possuir a Cristal. Vale citar também que Bill também capas e artes internas de New Mutants #17-31, 35-39 e 52.
Em 1986, a Marvel lançou uma nova revista com os “aposentados” Ciclope e Homem de Gelo, os (agora) ex-Defensores Fera e Anjo, e ninguém menos que Jean Grey, recém-ressuscitada pelo Quarteto Fantástico em Fantastic Four #286, lançada no mesmo ano, escrita por Chris Claremont e John Byrne, quem também desenhou a aventura.
Em X-Factor #1, escrita por Bob Layton e desenhada por Jackson Guice, todos eles se reúnem sob o nome de X-Factor, uma organização que busca dar “soluções” para problemas com mutantes, mas que na verdade é uma cobertura para os X-Men originais cuidar e orientar de mutantes que são perseguidos e em risco de morte.
Os planos originais da Marvel Comics eram ter os quatro caras, e Alison Blaire, a Cristal, como a integrante feminina, tanto que é exatamente assim que a revista dela, Dazzler #42, termina: com Fera — de quem estava bastante íntima desde os eventos de Beauty and the Beast — fazendo um convite para que ela se unisse à equipe.
Quando o título da Cristal, Claremont pegou a personagem para si, e a partir de Uncanny X-Men #210 (1986), com ela (agora morena) em turnê com a Lila Cheney. Aqui ela começa a ser importunada pela mutante possessora Maligna. Essa edição é a que antecede a saga Massacre de Mutantes, que afetaria os X-Men para sempre.
Cristal ficaria com os X-Men por um longo tempo agora, participando de grandes aventuras e sagas com eles, onde: ela escapa do Massacre de Mutantes; enfrenta o Fanático com Vampira; é caçada junto com os X-Men pelos Carrascos; enfrentam a Força Federal na antecipação da saga Queda de Mutantes, onde salvam o mundo do demônio extra-dimensional Adversário ao custo das próprias vidas.
Mas eles são ressuscitados pela entidade cósmica Roma em UXM #227, e eles se estabelecem na Austrália, na informalmente chamada Era Outback da equipe. Escondidos do mundo, invisíveis a qualquer identificação eletrônica ou mística, a formação dos X-Men agora é Cristal, Destrutor, Psylocke, Longshot, Tempestade, Wolverine, Vampira e Colossus.
É de longe uma das melhores representações visuais da equipe: 4 caras e 4 minas — dois fortões com Vampira e Colossus, o sanguinário Wolverine, a telepata inglesa Psylocke, Longshot, o acrobata extradimensional sortudo e futuro interesse amoroso de Alison, o homem-canhão de plasma Destrutor (olhe a homenagem ao nome do blog aí) e Rainha dos Ventos Tempestade, dona da porra tudo como líder do melhor grupo da Marvel.
Com roteiros de Chris Claremont, desenhos do artista Marc Silvestri, com arte-final de Dan Green.
Grande parte do arquiteto disso tudo foi o roteirista Chris Claremont, que operou sob o comando da editora Ann Nocenti, uma das melhores profissionais do mercado. Ela tem que ser creditada pelo sucesso. No outback australiano, eles expulsam os cyborgs assassinos de mutantes Carniceiros de lá; enfrentam a Ninhada; conhecem Genosha; participam da saga Inferno; enfrentam o Molde-Mestre; vão para a Terra Selvagem enfrentar Zaladane; e na volta, para escapar da morte certa pelas mãos dos Carniceiros, que procuram revanceh, Alison Blaire morre (de novo).
Sua morte e ressurreição acontece em Uncanny X-Men #250 (1989), quando ela atravessa o Portal do Destino, renascendo em outra vida. Claremont mostra o que aconteceu com ela nas edições #259-260 (1990), com ela sendo providencialmente resgatada por Guido, guarda-costas de Lila, nas imediações de sua mansão, em Malibu.
Sem memória alguma de sua vida anterior, ela retoma sua carreira no show business, até que chama a atenção de um fã doentio, Eric Beale, o mesmo diretor que a desejava, visto lá em Marvel Graphic Novel #12.
Vale citar que em UXM#260, Forge e Banshee promoviam a sua busca pelos X-Men mortos e desaparecidos, e uma das primeiras pistas foi justamente Cristal, que aparece em uma pintura em uma capa de revista, indicando que ela está viva e bem. E os dois decidem ir atrás dela, Claremont inclusive iria trabalhar de perto a dupla com a cantora, mas já nessa época seus planos para os X-Men sofriam interferências editoriais, e esse plot não avançou.
Foi o fim do run mais significativo de Alison Blaire, a Cristal, exatamente pelas mãos de Chris Claremont, roteirista que melhor trabalhou com a personagem.
O flerte de Alison com Longshot se tornou bem sério, a ponto dela abandonar a Terra e ir para a Mundo de Mojo, onde ela ajudou o companheiro nas guerras intermináveis contra o vilão.
Com efeito, ela fica grávida de Longshot. Isso é mostrado em X-Men #10-11 (1992), escrita por Scott Lobdell e desenhada por Jim Lee, em seu último trabalho antes de deixar os X-Men para fundar a Image Comics.
Em X-Men #46-47 (1998), Lobdell traz os X-Babies para a cena, junto com outros vilões de Mojo. No fim da história, é Cristal aparece para ajudar. Com efeito, é a Majestrix do MUndo de Mojo, ainda envolvida nas guerras e políticas da dimensão doida de Mojo, junto com seu agora marido Longshot. Sua gravidez — ou filho — não são mais mencionados.
Uma enorme confusão criativa e de roteiristas deixaram toda a história bem complicada, com o tal neném perdido no fluxo do tempo (!).
Ele cresceria para se tornar o guerreiro Shatterstar, e seu material genético serviria de base para a criação de Longshot, seu próprio pai, no passado (!!).
E Alison teria suas memórias a respeito da gravidez e do filho obliteradas (!!!). Apenas mais um dia comum nos X-Men da Marvel.
Cristal retorna para os X-Men na saga Eve of Destruction, em Uncannny X-Men #111-113 (2001), ainda com Lobdell no comando dos X-Men. Ela deixou o Mundo de Mojo, que foi destruída em um cataclisma nunca explicado (e depois revertida, de novo, coisas do Universo X).
Alison decide ficar na Terra e retomar sua carreira, que vê abalada pelos eventos da Dizimação, quando a Feiticeira Escarlate sumiu com o gene mutante de milhões de pessoas na Terra — restando apenas 198 mutantes com poderes, Cristal entre eles.
Mas Alison se reergue, e em New Excalibur, a nova revista do Excalibur, Cristal lidera a equipe desde o número #1 (2006), durando 24 edições (2007), todas escritas de novo por Chris Claremont. Em uma das aventuras, ela reencontra Longshot, sem memórias de sua vida anterior.
Eles se reaproximam, e Cristal retorna aos X-Men, quando eles estavam estabelecidos na ilha de Utopia, na costa da cidade de São Francisco, EUA, enquanto que Longshot entra para o X-Factor.
Alison retorna aos X-Men em Uncanny X-Men #504 (2008), com Ed Brubaker e Matt Friction nos roteiros, e fica até a edição #534 (2011).
Nesse meio tempo, ela participou da saga Necrosha, e ganhou uma edição especial, Necrosha Aftermath: Dazzler, escrita por Jim McCann e desenhada por Kalman Andrasofsky.
É no título do X-Factor que (parte da) confusão do filho deles é explicada, em X-Factor #259 (2013), roteiro de Peter David. A viagem no tempo do filho deles e o apagamento de memórias, por exemplo.
No mesmo ano, no terceiro título de Uncanny X-Men, na edição #13, o roteirista Brian Michael Bendis e o artista Chris Bachallo transformaram Alison Blaire na Agente Cristal da SHIELD, a organização militar e de espionagem internacional da Marvel.
A nova diretora da SHIELD, Maria Hill, precisava de informações de dentro dos X-Men, devido as seguidas ações de Ciclope como líder dos mutantes.
De início relutante, Alison aceita a missão, acreditando que está fazendo o melhor para todos. Mas ela acaba sendo usada por Mística, que toma seu lugar e lhe faz de experimento genético, ao usar seu corpo para sintetizar as drogas MGH, que dão poderes temporários aos usuários.
Ela é resgatada pelos X-Men, e fica putaça com todos, companheiros mutantes e da SHIELD, de ninguém ter reparado que era Mística performando em seu lugar. Ela radicaliza o visual e as atitudes, se tornando uma cantora punk bagaceira.
A megassaga Guerras Secretas (2015) mudaria todo o Universo Marvel, tanto editorialmente como comercialmente — seria uma tentativa de unificação do universo regular com alguns aspectos do Universo Ultimate. No meio dos vários títulos lançados, esteve o A-Force, uma minissérie de 5 edições escrita por G. Willow Wilson e Marguerite Bennett, com arte de Jorge Molina.
Ele reunia as maiores heroínas da Marvel. E Cristal era uma delas. Como era um especial multiversal, as personagens aqui estavam mais livres do peso da cronologia, e Alison estava em seu mood disco queen, como em sua aparição original de Uncanny X-Men #130. O título foi um sucesso, e no fim das Guerras Secretas, a Marvel manteve o título A-Force, dessa vez com a Cristal punk putaça depois dos eventos com a SHIELD.
A escritora Willow (depois a Kelly Thompson) e o desenhista Molina retornam para mais 10 edições, com a menina ultra-poderosa Singularidade, ainda ciente de todos os eventos de Guerras Secretas, reencontrando suas amigas, que não são exatamente as mesmas de outrora. A situação com Alison é particularmente engraçada.
Alison com efeito se torna uma das protagonistas em meio a tantas, especialmente quando a Thor-Cristal, do Mundo de Batalhas da Guerras Secretas aparece no nosso mundo.
Sua luz e pureza são diametralmente opostas à raiva e depressão da Alison punk, que, pra piorar, está morrendo de POX-M, a doença que as Névoas Terrígenas causam nos mutantes, um plot que afligia todas as revistas da Marvel na época.
Cristal ganhou mais uma edição especial, Dazzler: X-Song (2008), escrita por Magdalene Visaggio e desenhada por Laura Braga, onde tenta mais uma vez voltar ao show business.
Em 2018, os X-Men agonizavam sem direção criativa alguma, e Cristal apareceu em algumas edições de Astonishing X-Men (#13-16-17), escritas por Matthew Rosenberg, junto com outros heróis.
Com a gigantesca reformulação editorial promovida pelo roteirista Jonathan Hickman na megassaga House of X/Powers of X (2019), o status mutante no Universo Marvel deu um salto aos bons e velhos tempos de antes, com eles como protagonistas da narrativa da Marvel.
Revistas cheias de ação, política, discussão social e aventuras retornaram, tudo sob a estrutura política de uma ilha-nação mutante, Krakoa, onde todos os mutantes, de heróis a vilões, constroem o futuro. E Alison Blaire, logicamente, está aqui.
OS X-MEN DE JONATHAN HICKMAN | Política é um poder mutante na Marvel
Cristal é luz e som!
Entre os fãs da carreira musical de Cristal nas HQs, estão o Fanático (inimigo dos X-Men); Colossus, Lince Negra e Pixie, seus colegas x-men; Hulk; Estrela Polar, integrante da Tropa Alfa, grupo de superseres canadenses e um dos primeiros heróis gay da Marvel; Rino, vilão do Homem-Aranha; Molly Hayes, do grupo Fugitivos.
As artistas
GRACE JONES. Ela é jamaicana e com uma bem-sucedida carreira de modelo, atriz e cantora nos Estados Unidos. Modelou para Yves St. Laurent e Kenzo, foi capa de revistas como Elle e Vogue, fez trabalhos com os fotógrafos Jean-Paul Goude, Helmut Newton, Guy Bourdin e Hans Feurer.
Era estrela da boate Studio 54, a meca da era disco nos anos 70, gravou os discos Warm Leatherette (1980), Nightclubbing (1981) e Slave to the Rhythm (1985). Foi a Zula, parceira do Conan no segundo filme protagonizado por Arnold Schwarzenegger, de 1984, e uma Bond Girl em A View to a Kill, aqui conhecido como 007 – Na Mira Dos Assassinos, estrelado por Roger Moore (a canção título é do Duran Duran), de 1985.
BO DEREK. Modelo e atriz, ficou famosa consagrando-se como o estereótipo da mulher fisicamente perfeita e símbolo sexual dos anos 80. Foi dirigida pelo então marido John Derek nos filmes Tarzan, the Ape Man (1981), Bolero (1984) e Ghosts Can’t Do It (1989). Mas o filme que a fez ser conhecida é a comédia romântica Mulher Nota 10.
O fato da Casablanca e Marvel desistirem de Bo Derek para o filme da Cristal foi exatamente a exigência dela para o marido sentar na cadeira de direção. Todos os filmes do cara foram fracassos de público e crítica, e as duas empresas jamais topariam esse negócio.
O nome verdadeiro de Bo é Mary Cathleen Collins. Ela não quis o papel na segunda versão de King Kong, em 1976, que acabou lançando outra loira famosa dos cinemas, a Jessica Lange.
DONNA SUMMER. É o nome artístico de LaDonna Adrian Gaines, cantora, compositora e pianista americana conhecida mundialmente por suas músicas de discoteca dos anos 70, e depois por dance music nos anos 80 e 90. Era seu o título de Rainha do Disco Music e Rainha da Dance Music.
Em toda sua carreira, vendeu mais de 200 milhões de discos. Foi a primeira artista a ter três álbuns duplos consecutivos a atingir o primeiro lugar nas paradas da Billboard nos Estados Unidos.
CHER. É o nome artístico de Cherilyn Sarkisian, cantora e atriz americana, famosa em toda a indústria de entretenimento mundial. Gravou dezenas de discos e atuou em diversos filmes. Tem em casa prêmios do Grammy, do Emmy, do Oscar, do Globo de Ouro, de Cannes e muitos outros.
Vendeu mais de 100 milhões de discos, e é a única artista que esteve na lista das 10 Mais dos EUA por seis décadas seguintes: dos anos 1960 a 2010. Leva o título de Deusa de Pop com justificativas.
KISS. Banda de rock de Nova York criada em 1973, é um dos ícones do rock´n roll. Suas pinturas faciais e espetáculos performáticos em palco, com instrumentos musicais soltando fumaça e roupas extravagantes, fizeram a fama mundial do grupo. O Kiss tem 24 álbuns lançados, com estilos de hard rock que vão até o heavy metal.
VILLAGE PEOPLE. É o famoso grupo musical gay americano que usa os esteriótipos do país para fantasias de seus membros (epa!), como caubói, policial, índio, motoqueiro etc. Tem grande popularidade da indústria musical, e foi criado por um produtor francês de olho no mercado de disco music americano dos anos 70. Não há quem não tenha ouvido os hits Macho Man, In the Navy, Go West e o Y.M.C.A.
Os atores
RODNEY DANGERFIELD. Jacob Rodney Cohen, comediante stand-up famoso nos EUA, foi ator, produtor e escritor, que trabalhava na linha de auto-depreciação. Era muito popular durante os anos 70 e 80.
ROBIN WILLIAMS. Nascido em Chicago, EUA, foi um comediante famoso e querido por inúmeros papéis nas telas de cinema, como Bom Dia, Vietnã, Sociedade dos Poetas Mortos, Alladin, Uma Babá Quase Perfeita, Gênio Indomável, Jumanji e vários outros filmes das décadas de 80, 90 e 2000. Causou comoção mundial quando cometeu suicídio em 2014.
Cristal em outras
mídias dos X-Men
X-Men: Pryde of the X-Men foi um piloto de desenho animado da Marvel, de 1989, em que Cristal era uma das integrantes da equipe. A voz da personagem foi feita por Alexandra Stoddart. A equipe era formada por ela, Colossus, Wolverine (que aqui era australiano), Ciclope, Tempestade e Noturno. A trama girava em torno de Kitty Pryde, então novata na equipe. O péssimo roteiro o fez fracassar, e o piloto ficou restrito aos fãs, antes em cópias piratas de VHS, e hoje no YouTube.
Na trama, eles têm que enfrentar Magneto e sua Irmandade de Mutantes, aqui formada por Groxo, Pyro, Blob, Rainha Branca (que solta raios) e o Fanático (quem nem mutante é).
Mas a animação rendeu alguns frutos. The Uncanny X-Men (1989) é um game para o console Nintendo Entertainment System (mais conhecido no Brasil como Nintendinho), produzido pela empresa de brinquedos LJN. É um game de ação com visão aérea, e usa o mesmo line-up do Pryde of the X-Men, menos a Cristal, que foi substituída pelo Homem de Gelo.
Já a Paragon Software colocou Cristal em dois games para computadores DOS, Commodore 64 e Amiga, os X-Men: Madness in Murderworld (1989) e X-Men II: The Fall of the Mutants (1990). Os dois são adventures games, e o primeiro aproveita parte do enredo de Pryde of the X-Men, e o segundo usa o arco das HQs Queda de Mutantes. Foi o último game da produtora, que faliu em 1991.
Todos eles eram jogos ruins, mas a Konami, softhouse japonesa de videogame famosa e dona de vários clássicos da indústria, fez X-Men (1992) lançado para os arcades (fliperama), baseado no grupo e na animação Pryde of the X-Men. E se tornou um dos preferidos dos gamers da época, famoso por permitir até 6 jogadores simultâneos, dependendo do estilo da máquina instalada. Cristal é uma das personagens jogáveis. É um game de porrada beat em up, surfando a onda da época. Ele nunca foi adaptado para os consoles da época, mas nos anos 2010 o game ficou disponível nas redes de download do PlayStation 3 e Xbox 360 e na iTunes App Store.
Mesmo com o fracasso de Pryde of The X-Men, e curiosamente no mesmo ano do game da Konami, a Marvel teve uma série animada produzida pela Fox entre 1992 a 1997. E Cristal tem uma pequena aparição no episódio Mojovision (02×11), quando os X-Men são raptados por Mojo e levados ao mundo do gordão alien. Cristal é uma das moças que aparecem no camarim de Longshot, algo parecido com…uma maquiadora?
Ela retorna — completamente em outro contexto — em The Dark Phoenix Saga, Part One: Dazzled (03×11), onde, tal qual sua primeira aparição nos quadrinhos, está no começo da Saga da Fênix. Ciclope e Gambit vão para uma boate, onde quem canta é Cristal. Na saída, ela se envolvem em uma confusão com capangas do Clube do Inferno, e chega a lutar com Donald Pierce no episódio.
Resolvida a treta, Cristal se joga nos braços de Ciclope, o que acaba deixando Jean desconcertada quando vê a cena, ficando vulnerável ao Jason Wyngarde, o Mestre Mental.
Ela também dá as caras no desenho animado Wolverine e os X-Men, também da Fox. Essa série, apesar de baseada em algumas histórias das HQs e suas situações, tomava diversas liberdades criativas em relação ao enredo, e Cristal aparece de maneiras diferentes do convencional.
Voltando aos videogames, a Raven Software homenageou a primeira aparição de Cristal em uma fase do game X-Men Legends II: Rise of Apocalypse (2005). A fase Dazzler’s Nightclub reproduz artisticamente a boate vista em Uncanny X-Men #130. Cristal não é jogável, e tem que ser protegida pelo jogador dos soldados do Clube do Inferno.
Já a Capcom, softhouse japonesa de games, famosa pelos seus jogos de luta e porrada, parceira de longa data da Marvel em jogos nos anos 90, principalmente usando os X-Men (o primeiro jogo foi do Justiceiro, resenha dele aqui), usou apenas uma vez a Cristal. Ela faz uma participação especial no final da personagem Felicia no game Marvel vs. Capcom 3: Fate of Two Worlds (2011).
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