MAGNETO WAS RIGHT | Errado como vilão, certo como herói?

Magneto, um homem de muitas faces, muitos nomes, muitas origens. Desconhecido, cigano, judeu. Criança, adulto, velho, criança e adulto de novo. Pai, padrasto, mentor. Sobrevivente, lutador, herói e vilão. Max e Eric. Magnus. Mutante. Magneto.

Tal qual seu poder magnético, o personagem é um dos mais cinzentos da editora Marvel Comics, e atrai com seu magnetismo uma gama enorme de atributos e camadas, uma figura bastante enriquecida criativamente por diversos roteiristas ao longo dos 60 anos de sua criação.

Magneto surgiu como vilão de heróis adolescentes em The Uncanny X-Men #1 (1963), na estreia da equipe. O roteirista e editor Stan Lee e o artista (e co-roteirista nunca creditado) Jack Kirby estavam construindo o Universo Marvel, onde em cada centro de pesquisa científica, acidente industrial e doméstico ou mesmo uma caminhada na rua davam superpoderes para as pessoas, em sua maioria com uma enigmática inclinação para se tornarem combatentes fantasiados do crime.

X-Men #1 (1963)
Magneto
A primeira aparição de Magneto nos quadrinhos, por Stan Lee e Jack Kirby

Com os X-Men foi um pouco diferente. Lee e Kirby estabelecem uma nova raça no Universo Marvel, a evolução genética natural dos seres humanos: os mutantes. Eles são homo sapiens, mas são homo sapiens superior, seres como nós, mas com uma mutação nos genes, que lhe dão habilidades incríveis (ou terríveis) e que causam temor e preconceito na população comum em geral.

O cerne dos X-Men: jovens na época da puberdade (não sem razão, o despertar dos poderes se davam ao mesmo tempo que a sexual) em uma escola especial, onde aprendiam mais sobre seus dons, e que em certo momento juraram proteger o mundo. Essa proteção era o teor super-herói do título. Os X-Men são liderados pelo Professor Charles Xavier, mentor dos jovens, idealista de uma visão de coexistência pacífica entre mutantes e humanos. E ele afirma que Magneto é a primeira ameaça a isso.

E para fazer o contraponto de ideal e idade, o vilão é alguém mais velho, já pleno do controle de seus poderes, e que quer atacar a humanidade. Magneto é essa figura, o Mestre do Magnetismo, e quer um mundo mais seguro para seu povo mutante, que sofre perseguição e crimes de ódio.

A arma para lutar contra isso na visão de Magneto é assumir o comando de uma base militar americana e ameaçar a humanidade com mísseis, algo que o personagem iria recorrentemente fazer. Magneto tem uma visão pragmática da proteção dos mutantes: a melhor defesa é o ataque. A primeira edição dos X-Men ainda seguiu literalmente a cartilha de super-heróis, com mocinhos vs. bandido. Magneto cita o termo homo superior aqui já, bem como o termo “uncanny” (“fabuloso”, como traduzido no Brasil) já é referenciado por um militar quando os X-Men derrotam o vilão em 15 minutos.

Mas ao longo desses 60 anos, Magneto seria enriquecido com uma vasta história de vida, por diferentes roteiristas, o que modificaria constantemente essa visão de vilão.

Pelo atual status narrativo da Marvel Comics, Magneto é Max Eisenhardt, nascido no fim dos anos 1920 em uma família judia alemã. Na ascensão nazista ao poder durante os anos 30, a família sofreu perseguições e fugiu para a Polônia, mas não conseguiu escapar da invasão germânica durante a Segunda Guerra Mundial. Max perdeu os pais e a irmã, e acabou no campo de concentração nazista de Auschwitz.

Foi nesse lugar de terror que ele conheceu seu primeiro amor, Magda, uma garota romani, com quem começa seu primeiro romance. Ambos conseguem escapar em 1944. Em histórias anteriores, Max era sinti (sinta ou sindi), um dos três principais grupos do povo genericamente chamado de cigano (os outros são rom — do qual Magda pertence — e caló).

Juntos, têm uma filha, Anya, que morreria tragicamente, ocasião em que Max desenvolveria por completo seu enorme poder mutante, ao matar dezenas de pessoas que o perseguiam e impediram de salvar sua filha de um incêndio. Magda foge com temor de seu amado, mas ela ainda faria parte da vida dele de maneira muito especial.

Cigano é um termo (hoje visto como problemático) que designa um conjunto de populações que têm em comum a origem indiana e a língua romani, originária do noroeste do subcontinente indiano, e que ainda carece de aprofundamento de estudos para revelar todas as suas complexidades socioculturais. Historiadores calculam que os nazistas mataram cerca de meio milhão de ciganos durante a Segunda Guerra Mundial. De qualquer maneira, o fato de Max ser um judeu ou sinti diz muito sobre o horrível estigma de perseguição que ele sofreu.

Stan Lee e Jack Kirby montaram o background dos X-Men aos poucos. Logo em X-Men #4 (1963), Magneto derruba o governo de Santo Marco, um país fictício da América Latina no Universo Marvel, e se torna ditador do local, com direito a tropas de soldados claramente inspiradas nos nazistas intimidando a população. Vendo agora, é chocante, dada a origem de Magneto que acabamos de contar.

Magneto
X-Men #4, Magneto e a estreia da Irmandade de Mutantes Malignos
O chocante mood nazista de soldados sob comando de Magneto em Santo Marco

Essa dicotomia se dá pela própria mecânica dos quadrinhos de super-heróis ao longo do tempo: uma vez que foi estabelecido um decorrer de acontecimentos em “tempo real” para os personagens na continuidade onde vivem, para alguns roteiristas é preciso revisitar o passado dos personagens em busca de novas histórias, ajustar conceitos e criar novos, ou mesmo apagá-los e reescrevê-los para acomodarem as narrativas atuais. E Magneto se mostrou um imã poderoso para tudo isso.

A aventura de X-Men #4 de novo conversa com o militarismo, mostrando a visão de Magneto nessa época. É assim que ele tenta mostrar a superioridade da raça mutante. Sem conseguir antagonizar sozinho contra os jovens X-Men, dessa vez ele está acompanhado da Irmandade de Mutantes Malignos, em uma declaração autoconsciente da vilania de todos. Seus integrantes: Groxo, o “bobo da corte” do ditador Magneto; o ilusionista Mestre Mental, cuja verdadeira aparência é decrépita; e os gêmeos Mercúrio, um velocista, e a Feiticeira Escarlate, uma personagem coringa do Universo Marvel, cujo poderes são os que o roteirista da vez decidir.

A presença dos dois na equipe não era sem motivos, já que anos depois eles seriam estabelecidos como filhos de Magneto com Magda, em mais um papel de pai para ele. No desfecho da aventura de X-Men #4, que continuaria por mais 3 edições, Magneto, derrotado, lança uma bomba nuclear em São Marco, para matar os X-Men e toda a população, mas Mercúrio impede essa tragédia.

Magneto retornaria diversas outras vezes para antagonizar com os X-Men, e até com outros heróis do Universo Marvel, como os Vingadores. Vale citar que em X-Men #5, a Feiticeira Escarlate destrói a base de Magneto, o Asteróide M, uma gigantesca estação espacial em órbita da Terra. No entanto, o vilão reconstruiria essa base outras vezes.

Magneto seria um vilão recorrente em várias outras edições. Além de X-Men #1 e #4-7, tivemos também o Mestre do Magnetismo em X-Men #11, 17-18 (1966), 43-45 e Avengers #53 (todas de 1968), em uma aventura tripla dos X-Men e Vingadores, e X-Men #63 (1969), aqui como senhor de uma base na Terra Selvagem, um paraíso tropical pré-histórico escondido no meio da Antártida, cheia de seres humanos convivendo com dinossauros, onde o vilão cria mutantes artificiais.

Antes de deixar Lee e Kirby, é preciso dizer que a dupla tinha uma visão bem particular de Magneto. Kirby afirmou que não via os vilões que desenhava (e escrevia) como vilões, e sim como pessoas que desenvolveram problemas. Lee também não via Magneto como vilão, e sim como alguém que defendia os mutantes contra racistas, e que via a sociedade como injusta e ineficaz em combater esses problemas. Por isso, Magneto então assumiria esse papel.

Magneto
Magneto na arte de Jack Kirby

Quando o roteirista Chris Claremont assume o comando da revista dos X-Men em 1975, ele desenvolveria Magneto como Lee e Kirby jamais fizeram. Era o meio dos anos 1970, uma década que transbordava violência, altos índices criminais e pobreza nas maiores cidades da América, mesmo depois de grandes revoluções da década anterior, com lutas pelos direitos civis, negros e gays, tudo coroado pelo espírito do Paz e Amor.

X-Men #94, a estreia de Chris Claremont nos roteiros

Mas tudo isso foi morto a a tiros — literalmente. Em 1965 Malcolm X foi baleado e morto. Em 1969 Martin Luther King Jr. foi baleado e morto. Houve manifestações estudantis nos Estados Unidos contra o conservadorismo na política e na educação, e em 1970, a Guerra do Vietnã completava 15 anos, com centenas de milhares de mortos. Na segunda maior universidade do estado de Ohio, a Kent State, a Guarda Nacional interviu em um protesto que se espalhava pela cidade, e matou 4 estudantes e vários feridos.

A atmosfera estava tão carregada que era impossível para Chris Claremont escrever um gibi convencional de super-herói com mutantes perseguidos só por serem diferentes. As histórias dos X-Men precisavam refletir essa efervescência magnética. Os elementos estavam postos: visões diferentes de encarar o preconceito, militarismo e guerra, e a força da juventude enquanto transformadora. No caso de Magneto, sua violência gerava violência. E Xavier era um X constante numa equação que tentava encontrar um equilíbrio.

Essa foi a base com que Claremont trabalhou os dois personagens, que ficaria marcada como uma dualidade entre dois modos de visão social sobre racismo e preconceito.

Malcolm Little, mais tarde Malik el-Shabazz, mais conhecido como Malcolm X (1925 — 1965) foi um dos mais ferrenhos ativistas dos direitos humanos nos Estados Unidos, além de ministro muçulmano e defensor do Nacionalismo Negro. Ele conseguiu mobilizar brancos e negros na conscientização sobre os crimes cometidos contra a população afro-americana. Ele rejeitava a estratégia de não-violência do movimento de direitos civis e dizia que os negros deveriam se defender. O islamismo tinha enorme influência sobre seu pensamento, discursos e métodos.

Martin Luther King Jr. (1925 — 1968), nascido Michael King Jr., era o outro lado da moeda nessa luta. Pastor batista e ativista político, se tornou a figura mais proeminente e líder do movimento dos direitos civis nos Estados Unidos desde 1955, através da não-violência e desobediência civil, inspirado por suas crenças cristãs e o ativismo de Mahatma Gandhi, outra grande figura de ativismo social e pacifismo, na Índia.

Martin Luther King e Malcolm X

Os paralelos entre Malcolm e Martin foram perfeitos para os X-Men, e mais ainda para suas figuras mais representativas, com Xavier e King como iguais em um discurso de coexistência pacífica, e X com Magneto e sua luta ferrenha aos moldes de “vamos sobreviver e prevalecer custe o que custar”. Mais que o embate obrigatório entre a equipe e o vilão, o confronto de palavras entre os dois deu a tônica na mitologia dos quadrinhos dos X-Men, e que fariam a fama de Magneto como o maior antagonista de todos os tempos.

Os Novos X-Men, que estrearam em Giant Size X-Men, enfrentaram Magneto já na edição #104. Em Uncanny X-Men #112-113 Magneto constrói sua terceira base na Terra Selvagem e uma segunda versão do Asteróide M. Em Uncanny X-Men #125 (1979), Magneto, ferido e se recuperando depois do confronto anterior, é mostrado revendo seus arquivos em um computador. Misteriosamente, em certo momento Magda aparece na tela. E Magneto não faz cerimônias de apagar o registro e dizer que ela era “apenas humana”, a despeito dela ter sido o primeiro amor de sua vida e mãe de sua amada Anya.

Magneto
Os Novos X-Men vs Magneto, em Uncanny X-Men #104

Corroído pelo ódio irracional, em Uncanny X-Men #150 (1981), em mais um confronto com os X-Men, Magneto dá um ultimato para as principais nações do mundo desarmarem seus armamentos nucleares, em uma inversão do que ele fazia antes. Agora ele está preocupado com o que os mutantes podem herdar dos seres humanos e suas guerras. A União Soviética decide retaliar o quanto antes, e como punição, Magneto afunda submarino Leningrado matando todos a bordo e cria um vulcão na cidade russa de Varykino, presumivelmente matando seus habitantes. Magneto mata o homem com sua tecnologia e mata o homem com a natureza. Não há escapatória para seu ódio.

Magneto
Magneto intima vários governos da Terra: Estados Unidos, Inglaterra, União Soviética, China, Arábia Saudita e o Quênia
Magneto
A URSS decide retaliar e Magneto afunda o submarino Leningrado, matando todos a bordo
Magneto
Ele também faz emergir um vulcão em uma cidade russa

Ou assim parece, já que Claremont faz questão de mostrar a divisão mental em que ele se encontra. Em certo momento, a heroína Ororo Munroe, a Tempestade, encontra o vilão dormindo tranquilamente, e reflete o quanto ele é humano. Ela odeia o fato deles não poderem ter amizade. E para proteger o mundo, ela tem que matá-lo ali mesmo.

Mas Tempestade hesita e ele reage. Na luta que se segue, Magneto quase mata Kitty Pryde, a mais jovem integrante dos X-Men, uma menina de ascendência judaica de apenas 13 anos. Ao ver o que estava fazendo, ele se arrepende e cessa as hostilidades. Cheio de remorso, se lembra dos horrores que sofreu no Holocausto, e mais uma vez cita Magda.

Já em Uncanny X-Men #161 (1982), temos a primeira menção ao nome de Magneto, Magnus, parte de um enigma que só seria descoberto muitos anos depois, em X-Men #72 (1997). Nessa história dos anos 90, escrita por Joe Kelly, descobrimos que Magneto decidiu abandonar seu nome alemão judeu, Max Eisenhardt, e adotar um novo, com reminiscência ciganas, Erik Magnus Lensherr. Quem cria essa nova identidade é um falsário romeno, Georg Odekirk. E é como um cigano que esse Erik se movimentaria pela Europa, livre de Max, que estava sendo procurado pelas mortes decorrentes da tragédia com Anya. Temos mais uma camada de personalidade aqui em Magneto, agora um homem de dois nomes.

Retomemos agora a história de Uncanny X-Men #161. Erik Magnus Lensherr se estabelece em um hospital psiquiátrico em Haifa (a maior cidade do norte de Israel, e a terceira maior cidade do país, depois de Jerusalém e Tel Aviv). É aqui que Magnus conhece Charles Xavier, na época já um telepata experiente, e que ajudava pessoas traumatizadas com a Segunda Guerra. Os dois eventualmente se descobrem mutantes, e mesmo discordando um do outro de como os mutantes devem se encaixar na sociedade, se tornam melhores amigos.

Além da primeira vez de vermos o nome Magnus sendo usado, também foi nesta edição que Claremont estabeleceu a amizade de longa data entre os dois e que Magnus era um sobrevivente do campo de concentração de Auschwitz (número 214782). Os dois amigos viviam uma rotina de paz, com Xavier enamorado de uma moça israelense, Gabrielle Haller, que Xavier trata dos traumas de guerra.

Charles Xavier e Magnus se conhecem
E eles se tornam grandes amigos, debatendo o futuro da raça mutante

Mas o horror nazista procura de algum jeito Magneto, seja como Max ou como Magnus. Mas ele já não era um menino indefeso, e sim um adulto pleno, no auge de seus poderes. O Barão Von Strucker é um dos vários vilões nazistas da mitologia do Capitão América (como o Caveira Vermelho e a linhagem do Barão Zemo). E ele estava procura de Gabrielle, que uma vez livre de seu estado de trauma catatônico (graças a Xavier), poderia indicar onde estava o ouro acumulado e escondido dos nazistas, já que ela tinha essa informação. Mas o que Strucker não esperava era encontrar um mestre que controla metais no meio do caminho.

A ruína de Magnus começa aqui, e Magneto não a vê. Ele não percebe que sua visão supremacista o aproxima mais do nazista Strucker e o distancia de seu amigo Xavier, em uma dicotomia cega que apenas ele não enxerga. Xavier perde seu maior amigo e ganha seu maior rival. Magneto se vinga de seus algozes e constrói sua própria perdição de erros futuros com a fortuna deles — é depois de tudo isso que temos as aventuras mostradas em X-Men #1 e edições seguintes. Percebam como os temas trágicos de ciclos se renovam na vida de Magnus. Para proteger seu povo, ele recorre ao método do inimigo.

Magneto
Magneto se apossa do ouro nazista roubado na Segunda Guerra Mundial e com ele começa a forjar seu futuro

Em Fantastic Four #240 (1981), escrita e desnehada por John Byrne, vemos o nascimento de Luna, filha de Mercúrio, um mutante, e Cristalys, uma Inumana (outra raça de superseres do Universo Marvel, bem mais antiga do que os mutantes, e criados artificialmente pelos alienígenas Kree). Para o espanto dos pais e do Quarteto Fantástico (Reed Richards ajudou no parto) e dos leitores, a garotinha é…humana, sendo que Richards teoriza que os genes mutantes e inumanos se anularam na concepação da criança.

O nascimento de Luna, filha do mutante Mercúrio e a inumana Cristalys, por John Byrne

Na minissérie Vision and the Scarlet Witch (1982), o escritor Bill Mantlo desenvolveu 4 edições focadas na Feiticeira Escarlate e Visão, ambos Vingadores, um casal formado por uma mutante e um androide. E na última edição, temos a revelação que Wanda Maximoff, a Feiticeira Escarlate, e Pietro Maximoff, o Mercúrio, são filhos de Magneto.

Pois quando Magda fugiu dele, estava grávida de gêmeos. Mais que ter sua família de volta, e de quebra um genro androide, Magnus descobre que tem até uma neta, a Luna. Confrontado pela ironia da vida e pela imprevisibilidade das emoções, Magneto reavalia suas ações, entende que há mutantes bons e maus e humanos bons e maus, e agora quer buscar um novo caminho. Tudo por causa de Luna, uma nova “Anya” por assim dizer.

Magneto
Magneto conhece sua neta, Luna, filha de Mercúrio, seu filho mutante (ainda era) e Cristalys, uma Inumana

Com esse novo modo de pensar, Magneto é abduzido pelo onipotente entidade chamada Beyonder para os eventos de Guerras Secretas (1984), onde os X-Men e até outros heróis mais resistentes, como o Capitão América, viram uma nova faceta de sua personalidade, que poderia realmente ser boa.

No fim da saga, Magneto é teletransportado para sua base, o segundo Asteróide M (aquele de UXM #113), mas acontece que ele tinha sido destruído inadvertidamente pelo alien Warlock (primeira aparição) em uma aventura dos Novos Mutantes, em The New Mutants #21 (1984).

Assim, ele cai do espaço seriamente ferido no Atlântico Norte, de onde foi resgatado por Lee Forrester, uma capitã de barco. Recuperado, Magneto se aproxima dos X-men novamente, já que a entidade Beyonder mais uma vez reapareceu.

Em Uncanny X-Men 199-200 (1985), Magnus reencontra antigos amigos no Memorial Nacional do Holocausto, em Washington, Estados Unidos. Ele está junto com Kitty, cujos avós foram vítimas dos nazistas. Mas a aventura descamba para a prisão de Magneto pelas mãos da Força Federal (uma nova Irmandade de Mutantes, liderada por Mística, agora reformada como uma força-tarefa black ops do governo americano), no primeiro julgamento do personagem, onde admite seus erros na sua conduta anterior (a HQ diz que ninguém morreu no vulcão criado na cidade russa).

O primeiro julgamento de Magneto, em Uncanny X-Men #200

Aqui Magneto é abordado como um “novo homem”, já que anos atrás, em uma aventura vista em Defenders #15-16 (1974), a revista dos Defensores, escrita por Len Wein, ele tinha sido revertido corporal e mentalmente a um estado de bebê, junto com outros membros de sua Irmandade, por um poderoso mutante artificial criado pelo próprio vilão, o Alfa. A geneticista humana (ainda era) Moira MacTaggert cuidou dele durante esse tempo, até que ele foi revetido à forma adulta por Erik Escarlate, um agente do Império Kree, em X-Men #104 (1977).

Mesmo assim, Magneto aceita ser julgado para ele levar a culpa e não o povo mutante. Mas o julgamento é “cancelado” pelo ataque dos irmãos gêmeos Fenris, filhos mutantes de Strucker, que buscam vingança por seu pai. Percebam que ironia é o centro gravitacional de Magneto nas mãos de Claremont, que com suas ações de vilania, só cria problemas que se voltam contra ele. 

O escopo de idade retorna aqui, com Charles Xavier deixando sua escola de jovens mutantes — tanto X-Men quanto os Novos Mutantes — aos cuidados de Magneto, dando um voto de confiança gigantesco ao antigo amigo.

Magneto
Xavier repassa o comando de sua escola para Magneto

A condução de Magneto na Escola Xavier se mostraria um desastre em vários momentos, especialmente para os Novos Mutantes, que morrem e são apagados da existência por Beyonder, em The New Mutants #37 (1986). Quando são revividos, retornam com sérios transtornos mentais.

As ameaças contra os mutantes são perigosas e constantes: temos a saga da época, Massacre de Mutantes (1986), no qual os Morlocks, mutantes que vivem refugiados no subterrâneo de Nova York, impiedosamente chacinados pelos Carrascos, mutantes assassinos contratados do Senhor Sinistro, um vilão que se tornaria uma das maiores ameaças aos X-Men muito em breve; Nimrod, um poderoso robô assassino de mutantes vindo do futuro; e o próprio governo americano, que sancionou a racista Lei de Registro Mutante; tudo isso faz  Magneto aceitar um convite para integrar o Clube do Inferno, uma sociedade secreta mutante maçônica que busca controlar o mundo.

A Lei de Registro Mutante, de autoria do Senador Robert Kelly, no final da edição de Uncanny X-Men #181 (1984)
Nimrod chega do futuro de Dias de um Futuro Esquecido para o presente do Universo Marvel regular em Uncanny X-Men #191 (1984)
Pixo em Uncanny X-Men #196 (1984), com Nimrod e “morte aos mutantes”
Nimrod na capa de Uncanny X-Men #209 (1986)
Os Carrascos

Os Carrascos promovem um massacre de mutantes contra os Morlocks

Magneto

Uncanny X-Men #210 (1986), Magneto é convidado para se juntar ao Clube do Inferno
Destrutor retorna para os X-Men também. E Magneto visualiza uma guerra terrível por vir
Magneto se junta ao Clube do Inferno em Uncanny X-Men #219 (1987). Ele explica para Destrutor que essa aliança pode ajudar nos tempos perigosos que enxerga no horizonte mutante

Anos depois, Claremont escreveu a história que nos apresentou finalmente Anya, em Classic X-Men #12 (1987). Trata-se de uma das melhores histórias dos X-Men com o personagem, com um final emblemático e que resume de maneira definitiva Magneto. Erik Magnus Lensherr vive em Vinnytsia, cidade no centro-oeste da Ucrânia, onde tentam reconstruir a vida depois de escapar do campo de concentração nazista. Com o nascimento de Anya, tudo estava caminhando para ficar tudo bem. Mas na primeira manifestação dos poderes magnéticos de Erik, quando ele reage a uma chantagem contra seu empregador, a tragédia do destino se faz acontecer.

Magneto
Erik e Magda Maximoff reconstroem sua vida após o inferno nazista, e criam a filha, Anya
Magneto
O despertar definitivo dos poderes de Magnus, com a terrível morte de Anya
Magneto
Magneto relembra esses momentos em um terrível pesadelo de recordações em uma noite na época atual em Paris, onde decide salvar uma mulher e sua filha do mesmo destino que acometeu Anya

Também em 1987, temos Uncanny X-Men Annual #10, uma aventura de Magneto e os X-Men no Mundo de Mojo, onde o vilão extradimensional, que também é um apresentador sádico de televisão (!!!), acaba por reverter todos os X-Men para suas formas infantis. Chris Claremont e o artista Arthur Addams promovem uma imagem bizarra de Magneto aqui, que com a lavagem cerebral que sofreu, se torna um aliado de Mojo (assim como os X-Men), em uma roupa com terríveis signos visuais nazistas. Essa história se passa antes do Massacre de Mutantes.

No mesmo ano de 1987, Roger Stern, que roteirizava a revista dos Vingadores, escreveu X-Men vs. Avengers,  minissérie em 4 partes, onde os X-Men enfrentavam Os Vingadores e os Supersoldados Soviéticos. Os super-heróis russos buscavam levar Magneto a um novo julgamento pelos crimes contra a nação soviética e os Vingadores no meio tentando intermediar o conflito (sem sucesso).

Magnus busca nos destroços do segundo Asteróide M um artefato capaz de alterar mentes. No fim, acontece um novo julgamento, do qual Magneto tentaria influenciar os juízes, e de novo escapa de ser punido pelos seus crimes. Sua absolvição aumenta ainda mais a histeria antimutante.

Vingadores vs X-Men vs. Supersoldados Soviéticos no segundo julgamento de Magneto

Em The New Mutants #51 (1987), Magneto entra definitivamente para o Clube do Inferno, visando a proteção dos mutantes do que ele vislumbra da destruição total.

Em 1988, Claremont promoveu a saga A Queda de Mutantes, onde os 8 integrantes dos X-Men — a líder Tempestade, Wolverine, Colossus, Destrutor, Longshot, Vampira, Psylocke e Cristal — mais Madelyne Pryor (ex-esposa de Scott Summers, o Ciclope), morrem diante do público de Dallas para salvar a cidade da ameaça extradimensional do demônio Adversário (Uncanny X-Men #227).

Seria o começo da fase informalmente chamada “Australia Team“, com os X-Men revividos e vivendo afastados de seus entes queridos para melhor combater seus inimigos. Magneto ficou de fora desse combate, e para ele, assim como o resto do mundo, os X-Men de fato estavam mortos.

Marvel Age #62, uma promo dos X-Men pós-Queda de Mutantes

Sua relação com os Novos Mutantes deteriora, como vemos em The New Mutants #61, parte de Queda de Mutantes, onde descobre que perdeu seu aluno Doug Ramsey, o Cifra, e mais ainda depois da saga seguinte, Inferno (1988-1989), quando os jovens heróis o renegam em The New Mutants #75.

Magneto e Doug Ramsey, o mutante Cifra, morto na saga Queda de Mutantes. Ele vê os horrores nazista novamente se aproximar, dessa vez para a raça mutante

Nessa edição, pra piorar, Sebastian Shaw quer Magneto fora do Clube, já que ele não comanda nem mais os X-Men e os Novos Mutantes. Magneto, o Rei Branco, derrota Shaw, o Rei Negro, e se torna o “Rei Cinza”. Também ficamos sabendo que, deliberadamente, Magneto subestimou os Carrascos, e que não quis ajudar os X-Men em Dallas, por achar um desperdício ajudar a humanidade naqueles eventos. O roteiro é de Louise Simonson, ex-editora de Claremont nos X-Men no final dos anos 1970 e começo dos 80, e roteirista do X-Factor e Novos Mutantes na época.

Na saga Atos de Vingança (1989-1990), as coisas começam a desandar de vez. Os super-vilões Caveira Vermelha, Rei do Crime, Mandarim e outros se reúnem sob o comando disfarçado de Loki, o deus nórdico da trapaça, em um engenhoso plano contra os super-heróis, que consiste em mandar um vilão contra um herói contra o qual ele nunca tinha enfrentado, na esperança de destruí-los.

Atos de Vingança, a megassaga da Marvel no fim dos anos 1980

Mas Magneto deixa claro que quer usar a destruição dos super-heróis como base para a supremacia mutante vindoura, conforme vemos nas edições de West Coast Avengers (a revista dos Vingadores) que fazem parte da saga, escrita e desenhada por John Byrne.

West Coast Avengers #53, com roteiro e arte de John Byrne
Uma aliança com os super-vilões para garantir o…futuro da raça mutante?

Aqui é preciso fazer um destaque para a insuspeita aliança de Magneto com o Caveira Vermelha, a identidade criminosa de Johann Schmidt, um oficial alemão nazista de alta patente que respondia ao próprio Adolf Hitler.

Em um interessante embate de palavras visto em Captain America #367, o Caveira confronta Magneto com seu falso moralismo, já que ambos querem sua raça-mestre como dominante. É um momento difícil para Magneto contra-argumentar, já que sua sede de vingança o leva ao mesmo patamar de seu odioso algoz.

Mas o roteirista Mark Gruenwald, um veterano das histórias do Capitão América, encontra uma boa resolução em um dos melhores finais definitivos para o vilão nazista, ao ser deixado para uma morte limpa em um bunker inacessível, apenas com ar e água, em meio a uma escuridão inescapável.

Magneto vs Caveira Vermelha
Magneto junto com os outros super-vilões do Universo Marvel, mais uma vez ao lado do puro mal
A conversa do Caveira com Magneto, por Mark Gruenwald

Um dos melhores finais de combate entre dois personagens do Universo Marvel

O mood vilanesco de Magneto permaneceria a partir de então. Em Avengers West Coast #57 (1990), Magneto coopta mais uma vez Mercúrio e a Feiticeira Escarlate para lutar ao seu lado, contra os Vingadores, em histórias escritas e desenhadas por John Byrne, mas para a qual ele não deu continuidade, já que deixou o título. Magneto ainda teria uma aventura na Terra Selvagem com Vampira, Ka-Zar, Nick Fury e outros agentes da SHIELD, em Uncanny X-Men #274-275, onde acaba por matar Zaladane, uma vilã que tentou roubar seus poderes magnéticos.

Uncanny X-Men #273 (1991), Jean Grey e Ciclope comentam sobre os atos de Magneto

Magneto
Magneto com Ka-Zar e Vampira
Magneto sofre nas mãos de Zaladane, e relembra Anya e Isabelle, uma humana (brasileira!) a quem amou, e um confronto (nunca revelado) com o Rei das Sombras
Magneto renega o modo Xavier e mata sua oponente
Magneto decide abandonar sua redenção

E é como vilão que Magneto estrela o principal embate visto no arco inicial da mais nova revista mutante, X-Men #1-3 (1991). Claremont estava em vias de sair do título, já que o artista Jim Lee, com sua arte de alto impacto, era garantia de vendas e agora garantia de controle narrativo na revista.

Magneto é mostrado na história como uma figura messiânica, adorado tanto por mutantes que muitos deles se autodenominam Acólitos, palavra de cunho religioso que designa assistente ou seguidor que ajuda o celebrante em um serviço religioso ou procissão.

A icônica capa tripla de X-Men #1 (1991)
Magneto
O destino chama a responsabilidade de Magneto para com seu povo

Os X-Men se veem obrigados a confrontar o vilão, que tinha constrúido uma terceira versão do Asteróide M, pairando agora sob os céus da Eurásia. Para se proteger dos ataques eventuais das nações, que estão em pavor com uma pedra gigante magnética em cima de suas cabeças, Magneto decide recuperar os mísseis nucleares do submarino Leningrado. O que mostra de novo o militarismo inerente ao personagem. A Rússia não vê outra alternativa a não ser dar início ao que chama de Protoclos Magneto, uma série de ações envolvendo outros países em busca de destruir o que consideram um dos maiores terroristas do mundo.

Os Protocolos Magneto

Ele declara o Asteróide M uma nação soberana para todos os mutantes, e até Xavier e os X-Men são bem-vindos se eles assim o quiserem. Claremont e Lee também reaproveitam o plot de quando foi Magnus foi reduzido a um bebê, dizendo que ele pode ter sofrido alterações comportamentais, o que se revela falso depois.

Magneto declara o Asteróide M uma nação mutante
Valerie Cooper, Nick Fury e representantes russos, chineses e americanos durante os Protocolos Magneto

Pela primeira vez, ele coopta alguns X-Men para seu lado, usando esse método de alteração, mas ele também não funciona. Magneto é derrotado ao custo de um grande esforço dos X-Men, ao mesmo tempo que descobre que nem todos ao seu lado estão com ele, como a acólito traidor Fabian Cortez, que tenta explodir o Asteróide M com as ogivas nucleares russas. Apenas a força e poder de Magneto mantém a integridade do local.

Magneto força Moira a alterar o comportamento dos X-Men (na mesma página temos a primeira aparição do Ômega Vermelho — ainda em seu esquife)

ÔMEGA VERMELHO | 30 anos de um vilão ícone das HQs anos 90 e o fim da URSS

Magnus prevê guerra para Xavier, e decide ficar para trás com seus Acólitos. Em suas palavras, “não irão ao matadouro como ovelhas, e sim como tigres“.

Magneto prevê guerra

A “morte” de Magneto também foi a saída de Chris Claremont dos X-Men depois de 16 anos de construção de x-histórias.

CHRIS CLAREMONT | O arquiteto da fabulosa mitologia dos X-Men

Em uma entrevista, o escritor afirmou que estava consciente do paralelo feito entre Xavier e Magneto como Martin Luther King e Malcolm X, dada as ressonâncias sócio-históricas americanas dos anos 1970.

Mas que sua visão sobre os personagens era mais próxima da própria origem que estabeleceu para Magneto. Para Chris, Magneto era um equivalente de Menachem Begin, um terrorista israelense em 1947, mas que se tornou um político fundador do Likud (partido de extrema-direita do país) e o sexto Primeiro-Ministro de Israel, co-ganhador do Prêmio Nobel da Paz em 1978 (graças ao tratado de paz Egito-Israel). Por outro lado, Xavier estaria lado a lado com David Ben-Gurion, outro político israelense, um dos fundadores do Estado de Israel, e o Primeiro Ministro do país recém-criado. Antes ele tinha sido uma proeminente figura no mandato inglês na Palestina, até Israel ser criada, em 1948.

Como se nota, Magneto é um personagem tão poderoso que reverbera até com os mais atuais assuntos geopolíticos em questão, nos recentes conflitos entre Israel e Palestina. Curiosamente, foi nessa época que a outra origem de Magneto foi levantada.

A origem cigana de Erik Lensherr foi mostrada pela primeira vez em X-Men Unlimited #2 (1993), com roteiro de Fabian Nicieza, que tratava sobre o eminente retorno de Magneto na saga Atrações Fatais (1993), recuperado do embate de X-Men #1-3. No final, Magneto arrancou o adamantium do esqueleto de Wolverine e teve a mente apagada por Xavier, ficando catatônico por um longo tempo.

Magneto arranca o adamantium que revestia o esqueleto de Wolverine
Magneto
Gabrielle Haller, agora uma alta funcionária do governo israelense, comentando sobre as origens de Magneto, aqui definida como sindi
Haller, com Alexei Vazhin, um dos head da inteligência russa, junto com Valerie Cooper e Henry Peter Gyrich, dois altos funcionários do governo americano, todos em busca de deter (matar) Magneto
Magneto contra os X-Men mais uma vez em Atrações Fatais

Mesmo sendo um personagem de grande importância no tecido narrativo do Universo Marvel, o primeiro título solo de Magneto foi protagonizado por outro personagem. O que explica muito também dele. Em 1997, Scott Lobdell, que assumiu os roteiros dos X-Men depois da saíde de Chris Claremont, e que elevou o dramalhão mexicano das x-novelas a níveis estratosféricos, escreveu X-Men -1, com arte de Carlos Pacheco, em uma aventura que mostra um encontro entre Xavier e Magneto antes dos acontecimentos de X-Men #1 e X-Men #4 dos anos 1960 em diante.

Magneto e Xavier discutem antes de darem início a toda a mitologia de histórias narradas nos títulos dos X-Men

Na minissérie chamada simplesmente Magneto (1998), o escritor Peter Milligan usa Joseph, um jovem clone de Magneto, como protagonista. O vilão tinha sido aparentemente morto em Atrações Fatais e a Marvel decidiu usar esse novo personagem para retrabalhar sua persona heroica de modo definitivo e sem voltas.

O que é um clone se não uma segunda chance reencarnada? O que é você ter sua juventude de volta para recuperar um tempo perdido? Essa temática riquíssima para um personagem tão controverso foi deixada de lado pela Marvel, que na época sofria com uma expansão violenta de mercado, que a levaria para a falência não fosse a compra da editora por acionistas de empresas de brinquedos, que, para salvá-la, venderam os direitos cinematográficos dos personagens para vários estúdios de cinema. Um deles, a Fox, ficou com os X-Men.

E em 2000 lançariam o primeiro filme de uma franquia que seria um sucesso, e que teve Magneto, interpretado por Ian McKellen, como força-motriz, ora inimigo, ora aliado, em praticamente todos os filmes, com Michael Fassbender interpretando um Magneto mais jovem em outros longas, todos interligados depois do lançamento de X-Men – Primeira Classe (2011).

Em X-Men #85-86 (1999), na saga Magneto War escrita por Joe Kelly, vemos Magneto, plenamente recuperado dos eventos de Atrações Fatais, de novo no comando de um país. Depois de mais uma vez se tornar uma ameaça global, e prestes a ser derrotado pelos X-Men, as Nações Unidas, vendo que nem duas bombas nucleares podem derrotá-lo, decidem dar ao vilão o controle de Genosha, uma ilha-nação do Universo Marvel, localizada na costa oeste da África.

Magneto
Arte promocional para Magneto War
Magneto
Magneto vs 2 bombas nucleares

O país estava arrasado por guerras depois que os X-Men libertaram sua população mutóide: mutantes feitos escravos sem mente pelos genoshanos. Há outro paralelo poderoso aqui: um povo oprimido e liberto, na penúria, agora com um líder forte no comando. Era o sonho de Magneto realizado.

Mas mesmo o poder de Magneto não impediu um castigo dos deuses na forma de uma terrível e sangrenta guerra civil no país, e em um arco chamado Eve of Destruction, iniciado em X-Men #111-113 (2001), escrito por Scott Lobdell, Magneto sequestra Xavier como bandeira para declarar guerra à humanidade mais uma vez, mas acaba por perder a batalha. O vilão aparentemente morre pelas mãos — garras — de Wolverine.

Grant Morrison assume os roteiros no número seguinte, renomada para New X-Men. E é em New X-Men #114 que começa a saga E de Extinção, onde Genosha é dizimada, com 16 milhões de mutantes mortos pelos robôs gigantes assassinos Sentinelas. E Magneto, que de fato não tinha morrido antes, acaba encontrando seu fim aqui, em X-Men #115.

A destruição de Genosha e a morte de 16 milhões de mutantes

Assim, a lenda acaba e outra começa no novo milênio que se inicia. Nas histórias seguintes, em New X-Men #135 (2003), Morrison faz um novo personagem que criou, o jovem e louco estudante telepata Quentin Quire, aparecer com uma camiseta com a frase “Magneto Was Right!” (“Magneto estava certo!“), em um design a lá Che Guevara, na famosa foto de Alberto Korda.

Isso começou a ficar popular entre os outros alunos da Escola Xavier, como forma de afirmação contundente de qual linha de pensamento ideológica faz mais sentido, ao enxergarem em Magneto uma figura de mártir. Magneto transcendeu e foi levado à verdadeira lenda.

Magneto
Um clássico moderno: “Magneto was right”, em New X-Men #135 (2003)

Mas como no Universo Marvel os status quo raramente duram, Magneto retornou como vilão no final do run de Morrison, e nas diversas danças criativas de então, foi vilão, herói e vilão novamente. Posteriormente, foi estabalecido que se tratava de outro personagem, Xorn, e não Magneto nessas ações.

Magneto retorna no clímax do run de Grant Morrison

Magnus de alguma maneira permaneceu vivo desde os eventos de E de Extinção, e novamente tentou reconstruir Genosha, dessa vez com Xavier, em um novo título do Excalibur (2004-2005), escrito por Chris Claremont, que de novo estava na Marvel com os X-Men.

Magneto não era Xorn e tampouco estava morto

Mas tudo mudaria com Dinastia M (2006), uma saga onde Magneto teve sua própria utopia, em um mundo onde ele era praticamente o senhor do mundo — quando uma perturbada Feiticeira Escarlate inadvertidamente transformou o mundo em uma utopia para os mutantes, reescrevendoi a realidade do Universo Marvel. No fim da saga, ela reverteu as mudanças, mas também apagou a mutação de milhões de mutantes, sobrando apenas 198 no Universo Marvel.

Magneto
Magneto na arte de Mike Manhew, para The Pulse Special: House of M (2005), baseada em uma foto de Juan Carlos, rei da Espanha. A família real reclamou e a Marvel retirou as edições de banca e a relançou com uma nova capa, mais genérica. Vale relembrar que Juan Carlos foi nomeado pelo ditador Francisco Franco, apoiado na Guerra Civil Espanhola pelos…nazistas

Magneto não foi um deles, e ele passaria anos tentando reaver seus poderes. Para Magneto, ser mutante era ter poder — literalmente.

E é nesse status que ele tenta novamente construir uma nação, dessa vez ao lado de Ciclope, o “filho” de Xavier, seu arqui-inimigo e melhor amigo. Na aventura escrita por Matt Fraction em Uncanny X-Men 522 (2010), mais uma vez ele tem um momento íntimo com Kitty Pryde, que a salva de uma bala gigante. Ele se esgota com o esforço, mas aceita ajudar na construção de uma nova utopia, a ilha de mesmo nome dos X-Men liderados por Cicolpe.

Magneto já a conhecia mesmo sem saber, já que as bases de Utopia foram erguidas em cima dos destroços do primeiro Asteróide M, recuperado das águas da baía de São Francisco.

Em 2008, o roteirista Greg Pak escreveu 5 edições de X-Men: Magneto Testament, com arte de Carmine Di Giandomenico, onde é revelado o verdadeiro nome de Max e seu passado de sofrimento nas mãos dos nazistas.

Ainda em Utopia, vemos uma aventura em Uncanny X-Men #534 (2011), escrita por Kieron Gillen, com Magneto dando uma entrevista para uma jornalista de São Francisco, onde mais uma vez relembra seus atos vilanescos de outrora. Há uma interessante discussão a respeito de propaganda e relações públicas e suas raízes nazistas até o fato de Magneto ser um “Che Guevara vivo”, bem como a fala de “Magneto Was Right” trazida à tona novamente.

Magneto

Para mostrar sua mudança, dessa vez Magneto usa a força de sua natureza para se contrapor a natureza e salva a cidade de um terremoto, deixando milhares de seres humanos a salvo de um desastre, bem diferente de quando erigiu um vulcão na Rússia.

Mas como dito, a situação para os mutantes estava terrível nessa época. E na primeira vez que o personagem ganhou um título próprio, dessa vez estrelado por ele mesmo, Magneto (2014-2016), vemos a força que Magneto tem enquanto história.

O roteirista Cullen Bunn trabalha com a temática nazista, o assassinato de mutantes, tanto por racistas como por outros mutantes, e como Magneto lida com tudo isso, em uma série obrigatória para quem é fã do personagem.

Magneto
Magneto em uma das capas da sua série solo

Ele rememora todos seus grandes momentos, revê conceitos e pensamentos, mata homens e mulheres, mata humanos e mutantes, salva vidas humanas e mutantes, confronta um oficial nazista do seu passado misteriosamente trazido de volta à vida, tudo em ações condizentes com o personagem.

Bunn faz uma mudança de status quo significativa no fim do título, e na última cena da HQ, Magneto reconhece que errou, e que a visão de Xavier era a correta. E ele morre junto com todo o Universo Marvel regular no prelúdio de uma saga soft reboot chamada Guerras Secretas.

Na mais recente saga dos X-Men, House of X / Powers of X, iniciada em 2019 pelo roteirista Jonathan Hickman, Magneto é parte fundamental do conceito da ilha-nação de Krakoa, o primeiro país de fato dos mutantes, com política de fato integrada às histórias. Todos os X-Men, todos os mutantes do mundo (que quiseram) e todos os vilões mutantes (previamente anistiados, e que quiseram), são cidadãos de Krakoa, que é comandada por um conselho do qual Magneto faz parte.

Magneto
House of X #1 (2019), com Magneto na capa
Magneto
Magneto recebe embaixadores da França, China, Rússia, Reino Unido, EUA e de Israel no habitat krakoano em Jerusalem em House of X #1 (2019)
Magneto
“Vocês tem novos deuses agora” é a frase de Magneto para os embaixadores humanos, para não restar dúvidas de quem eles são agora
Magneto
Krakoa

E quando se diz que todos os X-Men e mutantes fazem parte, isso diz respeito aos mortos também, já que os mutantes desenvolveram os Protocolos de Ressureição, que permite trazer qualquer mutante de volta à vida.

No decorrer de diversas aventuras, a Feiticeira Escarlate (que nessa altura não era mais filha biológica de Magneto devido a retcons, mas que ainda o considerava como pai), dá um upgrade nesses Protocolos, e permite a ressureição até de mutantes que foram mortos há mais tempo do que o processo abrange. Essa trama, lançada nas x-revistas em 20211, envolveu ainda um terceiro julgamento de Magneto, já que ele era o principal suspeito de ter matado a moça (!).

Magneto
Arte de John Romita Jr. para o terceiro julgamento de Magneto (dessa vez por outros motivos)

E é com extremo pesar e lágrimas nos olhos que Max finalmente entende que a dor que o motiva, o despertar de Magneto em si, com a morte de Anya, não pode ser reparado. Pois a menina era humana, e não uma mutante, e portanto, impossível de ser trazida de volta à vida.

Tudo isso acontece em X-Men Red 3 (2021), escrita pelo roteirista Al Ewing. O paraíso mutante é o inferno das ironias para Magneto.

Magneto
O inferno de Magneto

Talvez seja esse o motivo que ele luta com tanta gana contra o poderoso Uranus, na saga Dia do Julgamento (2021), quando os Eternos (outro povo secreto do Universo Marvel, praticamente deuses) enfrentam os mutantes em lutas terríveis com os Vingadores tentando intermediar o conflito.

Magneto

Em X-Men Red #7, Magneto morre. E a última coisa que ele queria ver, e vê, antes de morrer, é Anya. O seu amor mais puro e verdadeiro. Uma humana.

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Magneto morre. E finalmente se encontra com Anya

Magneto, de fato, estava certo.

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Arte promocional de Jim Lee para os X-Men, com Magneto em destaque, na épóca da saída de Chris Claremont do título

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