A Força Federal, equipe de vilões sancionada pelo governo americano para missões escusas nas revistas dos anos 1980 na Marvel Comics, antecipa alguns aspectos que o Esquadrão Suicida, da concorrente DC Comics, só traria mais de um ano depois em suas revistas.
A primeira aparição do Esquadrão Suicida da DC foi na HQ The Brave and the Bold #25 (setembro de 1959). Super-heróis ainda não eram o colosso da cultura pop que são hoje, e na verdade, na época, estavam em baixa.
Os membros eram soldados e cientistas no cenário do pós-Segunda Guerra Mundial.
Quando a editora DC promoveu a megassaga Crise nas Infinitas Terras, que reorganizou editorial e comercialmente suas revistas — e uma cronologia de 50 anos –, um novo Esquadrão Suicida surgiu na saga seguinte, Lendas, em Legends #3, de janeiro de 1987, pelas mãos dos roteiristas Len Wein e John Ostrander e arte de John Byrne, seguida por uma revista própria, escrita por Ostrander e com arte de Luke McDonnel, Esquadrão Suicida, no mesmo ano.
O grupo era encabeçado pela poderosa figura política e implacável Amanda Waller, líder da Força Tarefa X, um escritório político secreto que promovia missões black-ops com super-vilões, obrigados a executá-las por força de bombas instaladas em seus corpos.
Algumas vezes eles ganhavam comutação de pena se terminassem as missões com sucesso. Era raro, pois o nome do esquadrão não era à toa, e muitos não regressavam com vida.
As histórias de Ostrander em Esquadrão Suicida precedem muitos temas adultos que nas HQs de hoje são arroz com feijão.
Era algo inédito, ver um grupo de criminosos fazendo missões escusas para o governo americano, com sanção para atuar e assassinar pessoas no complexo industrial-militar e cenário geopolítico dos anos 80, do Oriente Médio a URSS/União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, de países do Terceiro Mundo da América Latina a congressistas americanos.
Para fazer seu Esquadrão Suicida, Ostrander teve grandes influências dos Os Doze Condenados (1967), de Robert Aldrich, um clássico do cinema, com uma equipe de soldados descartáveis reunida para levar a cabo missões perigosas contra as forças do Eixo na Segunda Guerra Mundial, e da série Missão Impossível (1966-1973), sobre agentes secretos em missões, err, difíceis de serem cumpridas.
Nos 66 números que escreveu do Esquadrão, Ostrander executou uma representação sem igual no mainstream americano de quadrinhos.
É geopolítica com supervilões se ferrando em prol do governo americano, e super-heróis que mais atrapalham que ajudam. São tramas de espionagem e ação na gelada e arruinada URSS, em países miseráveis da América Latina, combates contra fanáticos de religiões hindus assassinas, espiões e matadores do mercado terrorista árabe, e até conflitos internos de políticos americanos corruptos.
Mas foi na revista dos X-Men da Marvel, em The Uncanny X-Men #199, de novembro de 1985, escrita por Chris Claremont e desenhada por John Romita Jr. e Dan Green, que a equipe de vilões da Irmandade de Mutantes, formada por Mística, Avalanche, Pyro, Blob, Sina e Espiral, mostrou alguns desses conceitos antes, na forma da Força Federal.
Os mutantes malignos ganharam perdão presidencial dos EUA pelos seus crimes, em troca da realização de missões secretas para o governo.
A revista comandada por Claremont preparava terreno para grandes arcos, nos quais a Força Federal teriam enorme importância. Chris criou a equipe, mas nem todos os personagens.
Política e quadrinhos
A política sempre esteve presente nos quadrinhos dos X-Men, desde sua criação em 1963, pelas mãos de Stan Lee e Jack Kirby.
E foi trabalhada nos quadrinhos de super-heróis em geral à exaustão, em diferentes contextos e graus de sucesso.
Tivemos obras seminais do gênero com política, como Watchmen (1986-1987), onde o escritor Alan Moore estabelece o “Keene Act“, lei que proíbe a atividade de mascarados combatentes do crime; Batman – O Cavaleiro das Trevas (1986), de Frank Miller (roteiro e arte), com o Morcego e outros heróis forçados a se retirar de cena pelo governo, que chancela apenas o Superman como vigilante superpoderoso em atividade; o Esquadrão Suicida (1987-1992), onde John Ostrander cria a “Keene Act” (referência direta à Watchmen), que regula a atividade super-humana perante o governo, com identidade secreta garantida e prisão especial para superpoderosos, passíveis de supervisão direta do governo (o que ajudaria depois os planos de Amanda Waller em montar a Força Tarefa X); A Era de Ouro (1993), onde o roteirista James Robinson trabalha a paranoia americana anticomunista no pós-Segunda Guerra Mundial, o que acaba desmantelando a Sociedade da Justiça (o primeiro supergrupo de heróis dos quadrinhos); e Reino do Amanhã (1996), onde o escritor Mark Waid mostra o apocalipse que ocorre quando super-heróis não se importam com supervisão do governo, nem com orientação de outros heróis, e até mesmo com as pessoas comuns que deveriam proteger.
Todas as obras citadas são da editora DC Comics. Pelo lado da Marvel, talvez a saga mais emblemática tenha sido Guerra Civil (2006), de Mark Millar, onde a comunidade de super-heróis cindiu quando o governo dos EUA exigiu que todos os super-heróis e superseres se registrassem.
Homem de Ferro e metade dos heróis eram a favor, e Capitão América e a outra metade contra, em uma trama que ecoa elementos do Reino do Amanhã.
Mas se a Guerra copia o Reino, as leis políticas em cima de seres superpoderosos começou na Marvel. Pois antes de todos eles, Chris Claremont também criou a primeira lei política nos quadrinhos mainstream, em X-Men.
Ele estava no comando do título desde Giant Size X-Men (1975), onde foram apresentados os Novos X-Men — a americana-africana Tempestade, o russo Colossus, o alemão Noturno, o japonês Solaris, o nativo indígena americano apache Pássaro Trovejante e o irlandês Banshee –, e gradualmente transformou a revista numa das mais poderosas obra da cultura pop, muito além de ser um dos melhores quadrinhos de heróis de todos os tempos. E política sempre esteve em sua mira, no contexto do governo querer supervisionar, controlar e até eliminar os mutantes, os quais via como ameaça.
Ronald Reagan
Ronald Reagan foi presidente dos Estados Unidos de 1981 a 1988. Um ator de sucesso em dezenas de filmes de Hollywood (!), como A Estrada de Santa Fé (1940) e The Killers (1964), que decidiu abandonar a carreira para ingressar na vida política, na segunda metade da década de 1960.
Seu governo se destacou pela implantação de medidas neoliberais e pela imposição de práticas que visavam o combate do comunismo fora dos EUA, em uma década marcada pela explosão de violência urbana, onde imperava a Guerra Fria.
Nos primeiros meses de seu governo, ele foi vítima de uma tentativa de assassinato em Washington.
No dia 30 de março de 1981, Reagan foi alvejado por John Hinckley Junior logo depois de sair de um hotel. Durante sua gestão, reduziu impostos, regulamentações para o meio ambiente e economia, gastos com programas sociais de auxílio à população mais pobre.
O aumento da disparidade social americana se acentuou aqui — ricos ficaram mais ricos e pobres ficaram mais pobres.
Reagan investiu maciçamente na área militar e sua política agressiva de combate ao comunismo ou contra qualquer prática de esquerda no planeta ganhou até nome informal: “Doutrina Reagan“.
Isso levou a intervenções em locais como Nicarágua e Granada, por exemplo, mas nada comparado ao Panamá.
Nos últimos anos de seu governo, Reagan promoveu represálias contra o governo panamenho de Manuel Noriega, colapsando a economia do país, após um ataque na embaixada americana. Noriega era conhecido pelas relações estreitas com a CIA e o tráfico de drogas, sendo treinado na espionagem e política pelos próprios agentes dos Estados Unidos.
O ditador fornecia armas e dinheiro para grupos anticomunistas da América Central com financiamento direto da CIA.
Vale o destaque por conta da importância do país. Em 1914, foi inaugurado o Canal do Panamá, um dos locais mais estratégicos do mundo, que liga o Oceano Pacífico ao Oceano Atlântico, e os EUA sempre mantiveram tropas militares no local. A relação de Noriega e Reagan acabou apenas porque o panamenho ficou ambicioso e autoritário demais.
Foi também nos anos 80 que o líder soviético Mikhail Gorbachev começou a implementar uma política de transparência que acabou por aliviar a tensão política da Guerra Fria e melhorar as relações entre os EUA e a URSS.
Ele iniciou uma reaproximação comercial com o Ocidente e uma série de longas conversas com Ronald Reagan e George Bush — sucessor de Reagan. Gorbachev tinhas planos de acabar com a ameaça nuclear até o ano 2000, e foi graças aos seus esforços pessoais que os arsenais nucleares das duas superpotências começaram a ser controlados, com uma inédita e inovadora fiscalização mútua.
Armamentos foram desativados e mísseis de médio alcance, abolidos. Gorbachev recebeu o Nobel da Paz de 1990 por isso.
Além dos EUA, Gorbachev fez reaproximações comerciais com Margaret Thatcher, a Dama de Ferro, primeira-ministra do Reino Unido.
Especialistas e analistas políticos consideram seu maior feito a abolição da Doutrina Brejnev, nome dado para uma série de decisões executivas como resposta soviética à Doutrina Truman (presidente americano no pós-Segunda Guerra, quando a Guerra Fria teve início, onde Reagan se inspirou).
Era disso que se tratava esse jogo de conflito geopolítico: zona de influência. Era a Doutrina Brejnev que limitava a autonomia dos países do leste europeu, colocando os partidos comunistas locais sob direta influência do Comitê Central do Partido Comunista soviético.
Ato de Registro Mutante
Tudo começa em Uncanny X-Men #141-142 (1981), onde foi publicada a saga Dias de Um Futuro Esquecido, uma das grandes sagas das HQs, co-escrita por Claremont e John Byrne, com arte desse, onde os X-Men tem quem impedir o assassinato do senador Robert Kelly pelas mãos da mais nova Irmandade de Mutantes: a líder Mística (criada por Claremont em Ms. Marvel #16, de 1978); Blob (criado por Stan Lee e Jack Kirby em X-Men #3, de 1964), e os estreantes Pyro, Avalanche e Sina, em suas primeiras aparições.
A trama mostra um futuro terrível no então 2013, com um mundo destruído pelos Sentinelas, os robôs gigantes assassinos criados pelo governo americano para cuidar dos mutantes.
Eles fogem do controle, assumem o governo, e além de mutantes, caçam e matam todos os seres superpoderosos do mundo, incluindo os super-heróis não-mutantes.
Os sobreviventes vivem em campos de concentração em um Estados Unidos devastado e sem liberdade, onde apenas quem tem genes humanos puros é livre.
Para impedir esse apocalipse, os X-Men sobreviventes desse mundo definem que o assassinato de Robert Kelly, em 1980, foi o estopim para que tudo desmoronasse.
Uma já velha Kitty Pryde tem sua mente enviada ao passado para seu jovem corpo pela telepata Rachel Summers, a filha de Ciclope/Scott Summers e Jean Grey.
A trama estabelece que um candidato radical à presidência em 1984 (não é Kelly) instituiu um “mutant control act“, “ato de controle mutante“, que resultou na sanção presidencial para a criação em massa de Sentinelas para controlar a ameaça mutante. É isso que causou o apocalipse nesse futuro.
Pelo lado da Irmandade, no presente, Mística e Sina acham que matar o senador Kelly impedirá um perigoso futuro negro aos mutantes, ao mandar um aviso político aos humanos.
Chris e John são hábeis em criar uma das melhores aventuras das HQs, ao misturar ações presentes e do futuro, onde os X-Men de 1981, avisados pela Kitty de 2013, lutam com a Irmandade e tentam impedir a morte de Kelly, e os X-Men de 2013 tentam proteger Kitty e Rachel, concentradas na viagem mental-temporal, já que Sentinelas já localizaram as duas e estão a caminho de eliminá-las.
A trama de impedir um apocalipse robótico com uma viagem no tempo, publicado nessas duas edições de 1981, precede o filme Exterminador do Futuro, de James Cameron, de 1984.
Os X-Men conseguem salvar Kelly e a Irmandade é derrotada, mas em 2013, os poucos X-Men sobreviventes são mortos para salvar Kitty e Rachel, que ficam sozinhas.
O tema de viagem no tempo é algo puramente teórico, e há muitas para escolher qual funciona de fato, na ficção e na ~~ vida real ~~.
No Universo Marvel, o universo regular é a Terra 616. Qualquer viagem ao passado do 616, via de regra, em vez de alterar o tempo, cria uma linha de tempo divergente, apenas mais uma num multiverso de realidades. Na Marvel, o futuro visto em Dias de um Futuro Esquecido é a Terra 811.
Na última página da saga, muitos meses depois do ataque à Kelly, é mostrado um encontro na Casa Branca, com o Presidente dos Estados Unidos (!) nas sombras, promovendo um encontro de Sebastian Shaw, do Clube do Inferno (um dos líderes dessa maçonaria mutante sadomaso do Universo Marvel, mas que se apresenta como um poderoso empresário humano) e o senador Robert Kelly, com Henry Peter Gyrich, seu agente político para questão super-humanas.
Eles acertam uma agenda em comum, o “Project Wideawake“, “Projeto Despertar“, para a criação dos Sentinelas. Gyrich foi criado em Avengers #165 (1977), pelo escritor Jim Shooter e John Byrne, e foi um carrapato burocrata no pescoço dos Vingadores por um longo tempo.
Ele também teria esse papel em cima do Hulk, estando ativo nas histórias do Gigante Esmeralda e dos mutantes até mesmo nos títulos atuais de 2021.
Em Uncanny X-Men #176 (1983), Valerie Cooper faz sua primeira aparição. Ela é uma assessora política ligada ao alto comando federal, mostrada em uma palestra na Casa Branca a respeito das atuações (e ameaça) de Magneto e os X-Men pelo mundo.
Gyrich comparece ao local e já se aproxima dela, haja visto que suas agendas parecem convergir. O roteiro é de Claremont e arte de Romita Jr (arte-final de Bob Wiacek).
O Ato de Registro Mutante aparece oficialmente no Universo Marvel em Uncanny X-Men #181 (1984), por Claremont e Romita.Jr (arte-final de Dan Green), quando o senador Robert Kelly apresenta o projeto na Casa Branca.
Esse registro vai permear várias situações e narrativas dos x-títulos da Marvel por toda a década de 80 e começo dos 90. Ele determina a obrigatoriedade de mutantes declararem suas origens, identidades e poderes para o Governo Federal, sob pena de prisão em caso de recusa.
Como Mística criou seu “Esquadrão Suicida”
Vale destacar que Mística já estava próxima de Valerie Cooper, disfarçada de Raven Darkhölme, assistente política federal, como sua amiga e colega de trabalho, desde o ataque à Kelly, em Dias de um Futuro Esquecido. Foram as duas que estavam na estreia de Forge, o mutante indígena com o dom de inventar qualquer coisa, que surgiu em The Uncanny X-Men #184 (sendo já mencionado no número anterior), procurado por Valerie e Raven para elaborar uma arma neutralizadora de poderes mutantes.
Gyrich se aproveita disso, e a revelia de Raven, marca Vampira como alvo a ser preso e, com efeito, cobaia dessa nova arma. Vale destacar aqui que Mística é mãe adotiva da Vampira.
Foi por conta de um disparo dessa arma, que Tempestade, tentando salvar Vampira, toma um tiro, disparado por Gyrich, em The Uncanny X-Men #185. Ororo Munroe ficaria sem seus poderes — e a vontade de viver — por um bom tempo.
Como percebemos, as relações de mutantes e humanos deterioravam cada vez mais rápido na revista dos X-Men. Mística identificou que era perigoso demais ficar no caminho da agenda secreta do governo em lidar com a ameaça mutante.
Em The Uncanny X-Men #199 (1985), Mística se revela para Valerie Cooper, e em troca de perdão pelos crimes da Irmandade de Mutantes, oferece os serviços de sua equipe, dizendo que poderia fazer os trabalhos sujos para que o governo não sujasse o bom nome de super-heróis associados a ele.
Valerie pensa que Mística estava ali para matá-la, mas a mutante transmorfa adota até a aparência de Ronald Reagan para acalmá-la, o Presidente dos Estados Unidos na época.
Mística relembra Val que até os Vingadores usaram criminosos em suas fileiras, a começar com Mercúrio e Feiticeira Escarlate (antigos membros da Irmandande de Mutantes original), Gavião Arqueiro e Viúva Negra (antigos vilões do Homem de Ferro), Mantis e Espadachim.
Mística diz para Val que ela que terá uma equipe de seres superpoderosos respondendo diretamente os desejos da Casa Branca, sem os escrúpulos que os Vingadores e Quarteto Fantástico teriam. Uma “Freedom Force“, Força da Liberdade (traduzido no Brasil como Força Federal), como Mística mesmo diz (já batizando a equipe).
O mesmo recurso criativo é usado por John Ostrander na DC Comics, na criação da Força Tarefa X com Amanda Waller para ela ter o seu Esquadrão Suicida.
Valerie Cooper vê uma grande oportunidade com a proposta de Mística, e aceita, mas exige que nenhum membro quebre o pacto, se não é cadeia direto.
E antes de conversar com Reagan, exige um peixe grande logo de cara para selar de vez o acordo: a captura de Magneto, o maior vilão mutante na época — fundador da Irmandade de Mutantes original.
Na mesma edição, a Força Federal ataca Magneto, que visitava um evento em Washington, EUA, sobre o Holocausto (o massacre de judeus pelos alemães nazistas, dos quais Erik Lensherr, o Magneto, é sobrevivente).
Ele estava junto com alguns x-men, e após um combate entre as duas equipes, Magneto se rende.
Em The Uncanny X-Men #200, temos o (primeiro, de muitos) julgamento de Magneto (e a estreia de um novo uniforme dele, horroroso), por crimes contra a humanidade, em uma cerimônia em Palais du Justice, em Paris.
O julgamento é conduzido por Sir James Jaspers, Primeiro-Ministro da Inglaterra, Gabrielle Haller, autoridade política de Israel, e Charles Xavier, o Professor X, com provas e documentos do que já estava sendo rascunhado lá atrás com Valerie em sua primeira aparição na Casa Branca.
Essas duas edições são marcantes por estabelecer, além da criação da Força Federal, o surgimento da segunda Fênix, na pessoa de Rachel Summers (que agora estava em carne e osso no universo regular 616 com os X-Men), e mostrar Charles Xavier deixando a Terra para cuidar de sua saúde abalada, com sua amada Lilandra, a Imperatriz do Império Shiar.
Ele deixa a Escola Xavier sob cuidados de ninguém menos do que Magneto, que é liberado do julgamento no final da edição.
Também é nessa edição que Madelyne Pryor, esposa de Ciclope/Scott Summers, entra em trabalho de parto, e dá à luz Nathan Christopher Summers, que seria central na mitologia dos X-Men.
Como veremos, a Força Federal participará de outros grandes momentos dos X-Men de Chris Claremont.
E a partir dessa edição, o roteirista iria criar distensões e rupturas na equipe que iriam desmantelá-la por completo, em histórias incríveis, que posicionarão os X-Men como os mais populares quadrinhos dos anos 1980 e 1990, a maior parte delas com edição de Ann Nocenti, uma das grandes editoras do mercado, que merece sempre ser mais destacada.
As missões da Força Federal
Além dos integrantes originais da Irmandade — Mística (Raven Darkhölme), Avalanche (Dominic Szilard Janos Petros), Blob (Frederick “Fred” J. Dukes), Pyro (St. John Allerdyce), Sina (Irene Adler), –, se juntam à equipe a vilã humana/extradimensional Espiral (Rita Wayword), ligada às histórias de Longshot, criada por Ann Nocenti e Arthur Addams em Longshot #1, de 1985; a relutante Mulher-Aranha (Julia Eugenia Cornwall Carpenter), que ganhou seus poderes em um acidente), super-heroína surgida em Secret Wars #6 (1984), de Jim Shooter e Mike Zeck, a primeira Guerra Secretas, pioneira em megas sagas em HQs de super-heróis (precede Crise nas Infinitas Terras, da DC).
Em The Uncanny X-Men #206, a Força Federal (já com Espiral e a Mulher-Aranha) surgem com tudo em sua primeira missão, atacando os X-Men para prendê-los.
Tempestade já estava sem poderes mas liderava o grupo, que estava passando um tempo em São Francisco, EUA, na casa de Jessica Drew (a primeira Mulher-Aranha inclusive) e Lindsay MacCabe, duas detetives que em breve se tornariam parte do lore do título solo de Wolverine.
A batalha entre as duas equipes é frenética, e só é impedida pela chefe de polícia da cidade, Bree Morell, que simpatiza com os X-Men. Ela questiona a autoridade da Força Federal, e por detalhes técnicos e burocráticos, a luta é encerrada.
A segunda missão envolve diretamente os Vingadores, que se viam no meio de uma vingança executada por Mercúrio, desgostoso de achar ter sido abandonado pelos companheiros e por sua irmã, Feiticeira Escarlate.
A aventura envolve também o cartel criminoso Zodíaco, com 12 superseres que emulam poderes baseados nos signos zodiacais.
A Força Federal foi enviada para prender os Vingadores por diversas violações e crimes, e tudo termina com uma grande batalha campal, com um Capitão América consternado em constatar que o governo emprega a antiga Irmandade como autoridade de lei.
A luta acontece no meio de em um jogo de softball (?!), com metade dos Vingadores derrotados e a outra se rendendo.
Eles são levados para uma prisão nas Montanhas Rochosas, onde uma comissão formada por Peter Gyrich, Valerie Cooper e outros acusam os heróis formalmente.
A aventura em duas partes foi publicada em The Avengers Annual #15, escrita por Danny Fingeroth com arte de Steve Ditko e Klaus Janson, e a segunda parte em West Coast Avengers Annual #1 , escrita por escritas por Steve Englehart e desenhada por Mark Bright e Geoff Isherwood, ambas de 1986.
A Mulher-Aranha deixou sua veia heroica falar mais alto, e ajudou os Vingadores na batalha e a escapar da prisão.
Por isso, Valerie Cooper quer prender a moça. E manda o Homem de Ferro ir atrás dela. Na época, Tony Stark estava com sua armadura Centurião de Prata, branca e vermelha.
Na aventura apresentada em Ironman #214 (1987), escrita por Danny Fingeroth e desenhada por Tom Morgan, descobrimos que a Mulher-Aranha, a despeito de trabalhar com vilões, viu uma oportunidade segura de ser assalariada pelo governo, e garantir segurança para ela e sua filha.
Por isso sua presença na Força Federal. No fim, Valerie Cooper aceita ela de volta, como agente solo. Algumas de suas aventuras foram mostradas em uma minissérie escrita por Fingeroth.
Na revista X-Factor #8-10 (1986), escrita por Louise Simonson (esposa do artista Walt Simonson) e desenhada por um ainda iniciante Marc Silvestri (um dos mais dinâmicos artistas que passariam pelos X-Men, dono de uma arte ágil e cinética, e tal qual o grande John Romita Jr., abrilhantado pela arte-final de Dan Green), a Força Federal é enviada para prender um mutante incendiário, o jovem Rusty Collins, desertor da Marinha quando descobriu seus poderes.
Quem o salva é o X-Factor, grupo formado pelos X-Men originais (Ciclope, Fera, Anjo, Homem de Gelo e Jean Grey), que na época, se disfarçavam de “caçadores de mutantes”, para se aproximar deles e ajudá-los, aproveitando a histeria que o Ato de Registro Mutante provocava (nas publicações americanas, eles usavam algumas vezes o nome de X-Terminators, que apareceu uma vez ou outra no Brasil como Exterminadores).
O problema militar de Rusty será uma constante nas missões da Força Federal. Há um erro editorial aqui, com a Mulher-Aranha ainda ativa na equipe.
Capitão América John Walker
Em Captain America #333 (1987), o escritor Mark Gruenwald e o desenhista Tom Morgan finalmente inserem nas histórias o substituto de Steve Rogers como Capitão América, que tinha abandonado o uniforme e escudo por divergências políticas.
O escolhido é John Walker, um antigo vigilante chamado Super Patriota., depois do Nômade/Jack Monroe, Falcão/Sam Wilson e até Nick Fury, diretor da SHIELD (agência secreta americana/mundial) serem considerados, em um comitê que tem Valerie Cooper e Peter Gyrich entre muitos.
É a loira o contato político responsável por esse novo Capitão América, e no primeiro treinamento de Walker com o uniforme e escudo, ela o deixa com ninguém menos com a Força Federal.
É uma senhora surra que esse Capitão América leva de Blob, Pyro e Avalanche. É interessante que aqui fica meio estabelecido que o Forte George Meade, em Maryland, EUA, é a base de operações do novo Capitão e da Força Federal.
Muralha (Louis Hamilton), Supersabre (Martin Fletcher) e Comando Escarlate (Frank Bohannan), criados por Chris Claremont e Alan Davis em Uncanny X-Men #215 (1987), formam um trio de veteranos da Segunda Guerra que caçavam nazistas, e na aposentadoria, agora caçam criminosos — literalmente, em um jogo de caça humana pela grande propriedade deles, no norte dos EUA.
E uma Tempestade sem poderes e confundida com criminosa tem que enfrentá-los, um a um.
O trio acaba preso, e é quando Valerie os coopta para a Força Federal, em troca da comutação de pena, em The Uncanny X-Men #223.
Força Federal e A Queda de Mutantes
A Força Federal se envolve ativamente nos eventos da saga A Queda de Mutantes, quando os X-Men enfrentam o Adversário, uma entidade extradimensional que pretende exterminar a Terra.
O run acontece em The Uncanny X-Men #225-227, X-Factor #24-26 e New Mutants #59-61, de janeiro a março de 1988.
A Força Federal enfrenta os X-Men em todos os números da saga da revista deles, além da #224, onde Mística, que é mãe adotiva de Vampira, a despeito da Força Federal querer prender os X-Men por não assinarem o Ato de Registro Mutante, a visita e a alerta para ficar longe de Dallas, EUA, onde Sina prevê que acontecimentos fantásticos e trágicos acontecerão.
O roteiro é de Chris Claremont e a arte de Marc Silvestri, já no auge de sua excelência narrativa e gráfica. A arte-final de Dan Green, como sempre, só enriquece o trabalho.
Nesse ponto, é preciso frisar que a equipe dos X-Men manterá um line-up que se revelaria um dos melhores de toda a X-história: quatro homens e quatro mulheres, com Wolverine e Tempestade dividindo a liderança do grupo (mesmo com ela sem poderes ainda); a inglesa Betsy Braddock que se tornaria a poderosa telepata Psylocke; a cantora mutante Cristal, com poderes de absorver som e transformar em luz; e a Vampira, veterana da equipe, completando a porção feminina do grupo.
O lado dos homens tem Colossus, o homem blindado russo, preso em sua forma de aço, devido a ferimentos causados na saga Massacre de Mutantes, e Longshot, um dos poucos integrantes não-mutantes a fazer parte dos X-Men, além de Alex Summers, o Destrutor, irmão de Ciclope.
São dois fortões — uma é ladra de poderes ainda –, um canhão humano de plasma, uma atiradora laser, uma deusa do clima, um puta sortudo, uma máquina de matar e uma telepata para coordenar todo mundo.
Não tinha como errar.
Nazé, antigo mentor místico de Forge (que renega seu passado místico índio), na verdade era a forma corpórea de um antigo deus maligno extra dimensional chamado Adversário, que pretendia invadir a Terra, e destruir tudo por aqui.
Mística e a Força Federal lutam para prender os heróis por causa do Registro, mas Sina, aos poucos, percebe na batalha a magnitude do conflito que virá. Forge consegue reativar os poderes de Tempestade, e mais uma vez, Ororo Munroe é a Rainha dos Ventos.
O Adversário torna Dallas um nexo de portais do tempo, e monstros pré-históricos, tribos perdidas e soldados de várias épocas de guerra assolam a cidade.
Na zona que isso se torna, a Força Federal e os X-Men têm que se unir para sobreviver aos perigos e salvar aos habitantes da cidade.
Mas a batalha final fica reservada aos heróis. E incrivelmente eles se sacrificam para derrotar o deus maligno, graças a um feitiço poderoso que Forge invoca e consegue produzir com as almas dos 8 x-men, mais Madelyne Pryor, que na época estava com o grupo, procurando seu filho e marido (Ciclope/Scott Summers). E os Fabulosos X-Men morrem.
Quando os X-Men são mortos na batalha contra o Adversário, os heróis são salvos e ressuscitados por Roma, uma entidade divina, aliada dos heróis.
Ela os torna invisíveis a rastreamento eletrônico e místico, e os X-Men se tornam uma verdadeira lenda no Universo Marvel, com todo mundo — inimigos e aliados — pensando que eles estão realmente mortos.
É um excelente ardil para que os X-Men fiquem seguros e ao mesmo tempo possam enfrentar seus adversários.
CRISTAL | Como a Marvel e Casablanca Records criaram a cantora dos X-Men
Em Captain America #346 (1988), um psicótico Capitão América/John Walker, depois de ver os pais fuzilados pelos bandidos do grupo Cães de Guarda e matar 9 deles (!) e aleijar outros 13 (!!), se encontra apático e robótico.
Estrela Negra, companheiro de Walker, tem que se juntar com a Força Federal para deter a Resistência, grupo paramilitar mutante que está no alvo do governo, por atacarem instalações do governo e se recusarem a assinar o Ato de Registro.
John acaba indo ajudar na armadilha para capturá-los (um julgamento encenado de Mercúrio, na verdade, Mística), mas se envolve numa briga com os mutantes da Resistência, onde até mata alguns deles.
O final é desolador: John perdeu o funeral dos pais para fazer essa missão. Uma pequena grande história da Marvel dos anos 1980, escrita por Mark Gruenwald e desenhado por Kieron Dwyer.
Em X-Factor #30-33 (1988), após a Queda de Mutantes, a Força Federal vai atrás dos heróis do X-Factor para obrigá-los a assinar o Ato de Registro Mutante.
Depois de muita luta, Ciclope e os demais assinam apenas seus codinomes, assegurando suas identidades secretas do governo.
A revista ainda era escrita por Lousie Simonson, e agora era acompanhada da arte de alto impacto de seu marido Walt Simonson.
Os heróis do X-Factor tinham abandonado a fachada de “caçadores de mutantes”, e agora eram heróis conhecidos em Nova York, habitando uma enorme espaçonave do tamanho de vários prédios, parte da paisagem da cidade até.
Louise também escrevia outro x-título, a The New Mutants, revista dos Novos Mutantes, com arte de Bret Blevins. No número #65, ela mostra Illyanna Rasputin, a Magia, putaça da vida com Forge, por ter “matado” seu irmão Colossus.
Magneto, que já era diretor da Escola Xavier e mentor dos jovens desde a primeira aparição da Força Federal lá atrás, proíbe a menina de ir atrás de Forge, mas ela e os outros desobedecem as ordens do Mestre do Magnetismo.
Illyanna teleporta seus amigos momentos depois da morte dos X-Men, a tempo de pegar Forge ainda no local. Sina convenceu ele a ficar e a Força Federal também, pois a velha tem visões sinistras do fim do mundo como o conhecemos, bem pior do que a situação vista com o Adversário.
Ela imaginava que a presença deles alteraria o futuro que via, mas isso não deu certo. O que Sina via era grave mesmo. Tratava-se literalmente do Inferno na Terra.
Inferno sem Força Federal
Nos planos do escritor Chris Claremont, tudo se encaminhava para uma épica saga ainda maior do que a Queda de Mutantes, como uma arte promocional da Marvel entregava: “às vezes, bons planos levam uma vida inteira”.
A saga Inferno mexeria com as bases de todas as histórias do universo X, e com ramificações até em outras revistas do grupo Marvel, numa medida que ainda não era a usual do mercado como é hoje.
Apesar de parecer uma sobreposição de tramas, Chris tinha domínio do que estava fazendo, e a sequência lógica dos acontecimentos acontecia de modo muito natural, o que não ocorre em tramas mais recentes dos quadrinhos.
Os Novos Mutantes, criação de Claremont, participam bastante das histórias de Inferno, e a função de Illyanna Rasputin, a Magia, é crucial.
Quando a saga finalmente começa, em The Uncanny X-Men #239 (1988), ficamos sabendo que Madelyne Pryor na verdade era um clone de Jean Grey, criada pelo Senhor Sinistro, para Scott ter um filho com ela.
A criança gerada, Nathan, seria um dos mais poderosos mutantes da história. Madelyne fica ciente disso, pira, e se antecipa a qualquer um que queira fazê-la de marionete.
Ela faz um pacto satânico com o demônio N’Astirh, ganha poderes místicos, que somados a sua genética alterada de mutante-clone de Jean, uma poderosa telepata e telecinética, a faz se tornar a Rainha dos Duendes.
Ela ficou em uma função passiva com os X-Men, monitorando as informações do mundo para o grupo.
E por conta disso, qualquer contato dos X-Men com seus antigos aliados, como outros mutantes e grupos, eram alterados de forma perniciosa.
Inferno tem sua apoteose quando os X-Men e o X-Factor — Fera, Homem de Gelo, Arcanjo (o antigo Anjo, transformado no Cavaleiro da Morte por Apocalipse), Garota Marvel (Jean Grey) e Ciclope — lutam e se enfrentam em uma Nova York demoníaca e alterada pela magia negra que Madelyne comanda, que iria sacrificar seu próprio filho para abrir um portal em cima de NY para o inferno.
Os Novos Mutantes também agem para impedir isso. O Destrutor chega a mudar de lado e ficar com ao lado de Pryor, como Príncipe dos Duendes.
A batalha entre todos é marcante, mas no final, as equipes somam forças para matar N’Astirh e o Senhor Sinistro. Jean derrota Madelyne, absorvendo suas memórias.
Alex e Scott resolvem suas diferenças, bem como todo o restante dos X-Men e X-Factor, amizade abalada pelos meses de desinformação entre eles.
Desintegração dos X-Men
Depois de Inferno, Chris Claremont decide desmontar peça por peça os X-Men, matando todos do grupo em definitivo, em (mais) uma sequência épica de acontecimentos.
Em The Uncanny X-Men #247 (1989), num confronto com o Molde Mestre, um Sentinela que é capaz de fazer outros Sentinelas, Vampira é sugada para dentro do Portal do Destino, um artefato místico, dado aos X-Men por Roma.
Quem o adentra, renasce com novas memórias em uma nova vida. Em The Uncanny X-Men #248 (1989), Longshot abandona a equipe para procurar seu verdadeiro eu. Na mesma edição, os X-Men enfrentam Babá e o Fabricante de Órfãos, e Destrutor dispara uma poderosa rajada de plasma na nave da vilã — inadvertidamente, ele mata Tempestade.
Essa edição tem desenhos de Jim Lee, um artista que conseguiria ser ainda mais dinâmico e cinético que Marc Silvestri, e que se tornaria o grande representante do design a ser seguido nos anos 1990 nos quadrinhos de super-heróis.
Enquanto tudo isso acontecia, a Força Federal é enviada para se apoderar de bebês e crianças mutantes para que o governo possa treiná-los.
Elas tinham sido reunidas por demônios em Inferno, para serem sacrificadas junto com Nathan. Em X-Factor #40 (1989), os heróis mutantes enfrentam a Babá e o Fabricante de Órfãos, que estavam com várias dessas crianças.
No fim, a Força Federal aparece e diz que vai cuidar de encontrar os pais e responsáveis por essas crianças. Incrivelmente, Ciclope e cia. caem nesse papinho.
A arte dessa revista é de Rob Liefeld, que em breve explodiria de popularidade com seu estilo, tal qual Marc Silvestri e Jim Lee, apesar de ser infinitamente muito menos talentoso do que eles, dono de um traço bem discutível.
Em The New Mutants #78-80-82 (1989), com roteiros de Louise e arte de Rick Leonardi e Bret Blevins, os Novos Mutantes estavam juntos com outros jovens mutantes, um grupo que se chamava X-Terminator, e as duas equipes eram praticamente uma só agora.
A Força Federal, mais uma vez, estava atrás de Rusty Collins. Quando o rastreia, um conflito com os 3 grupos acontece.
Skids, loirinha mutante com poder de campo de força, e bang de Rusty, descobre no meio da luta que as crianças mutantes não foram devolvidas aos pais e parentes.
Antes que a batalha termine, o Doutor Estranho, que participa da história como um espírito voyeur, teleporta todos jovens mutantes (menos Rusty e Skids) para Asgard (!), quando sente uma presença perigosa em Danielle Moonstar, que numa aventura anterior pela terra do Thor, se tornou uma Valquíria.
Enquanto os Novos Mutantes ficam em Asgard, finalmente a Força Federal consegue prender Rusty Collins (e a Skids).
Em The Uncanny X-Men #254-255 (1989), Valerie Cooper decide mandar a Força Federal em uma missão na Ilha Muir, o refúgio para os poucos X-Men e associados que sobraram depois da desmantelação que Claremont provocava nas revistas.
Val mandou Forge junto com a Força Federal, que deveria proteger os sobreviventes ali.
Chegando ao local, eles se aliaram aos mutantes para enfrentar os Carniceiros, bando de ciborgues assassinos psicopatas liderados agora por Donald Pierce, um humano ciborgue, ex-Clube do Inferno, que odeia e trucida mutantes.
A batalha é letal para ambos os lados, com o carniceiro Racha-Crânio morto com um tiro de bazuca de Forge, e Muralha morto por Pierce.
Infelizmente, é aqui também que Sina encontra seu fim, já sabido por ela, graças aos seus poderes de clarividência. O assassino é David Haller, o Legião, o imensamente poderoso e louco filho de Xavier e Gabrielle Haller.
Um aparte: Com a morte de Sina na Ilha Muir, Mística se tornou muito mais vilanesca do que era, e até hoje se mostra mais psicótica e metódica do que jamais foi.
Ela e Sina eram amantes, e o amor delas é dos mais duradouros, bonitos e representativos das HQs – são duas mulheres e uma delas é idosa!
Até hoje é discutível a razão de Sina se deixar matar por Legião. A personagem nunca mais retornou aos gibis da Marvel.
E na nova fase dos mutantes na editora (Power of X/House of X, de Jonathan Hickman), mutantes que preveem o futuro não são aceitos em Krakoa, a atual ilha-nação mutante do mundo.
Mística só se aliou à Xavier, Magneto, X-Men e os outros porque teve a promessa que teria Sina de volta — os mutantes agora são imortais, e podem ser ressuscitados, graças a um processo/ritual exclusivo –, mas que não foi cumprida até agora.
A próxima saga de Hickman é Inferno (sem relação com a saga anterior de mesmo nome), e promete exatamente de Mística e sua briga por ter Sina de novo.
OS X-MEN DE JONATHAN HICKMAN | Política é um poder mutante na Marvel
Vingadores, Justiceiro e Demolidor
A situação de desintegração dos X-Men era tal que Banshee/Sean Cassidy e Forge decidem procurar os mutantes desaparecidos e estabelecer o que aconteceu com cada um deles.
Sem Sina, Mística se tornou instável demais para continuar como líder. Além de Forge ter “matado” Vampira, ela atribuí a morte de Sina ao mutante inventor também. Ela abandona a Força Federal pouco tempo depois.
A missão seguinte da Força Federal envolve novamente os Vingadores (The Avengers #312-313, 1989), com Blob, Avalanche e Pyro atacando uma base subterrânea dos Vingadores em Nova York por motivos de…bem, por atacar mesmo.
Eles na verdade agiam sem supervisão, e depois do confronto com os heróis, o Capitão América (Steve Rogers aqui) chega com informações que os status deles como agentes governamentais estavam como “free“, livres. Percebendo a desvantagem, a Força Federal deixa o local.
O roteiro é de John Byrne e a arte de Paul Ryan, e a história está no contexto da saga Atos de Vingança, quando uma cabala de vilões se une para atacar os heróis, enviando um vilão que eles nunca combateram, para tentar alguma vantagem. A ideia da saga era muito legal.
O Justiceiro, por exemplo, enfrentou o Doutor Destino em seu título, The Punisher #29 (1989), que teve uma aparição especial da Força Federal enfrentando os Vingadores, cagando o trânsito e obrigando Frank Castle e Microchip a mudar o percurso que faziam.
Vale destacar que não foi exatamente a primeira interação/confronto da Força Federal e Vingadores, mas enfim…
A saga Atos de Vingança teve influência até no primeiro videogame da Marvel com a softhouse Capcom, uma parceria que teria muitos jogos e sucesso, e cujo primeiro game foi exatamente do Frank Castle.
Na mesma época, em Daredevil #269 (1989), Blob e Pyro vão para uma cidadezinha do interior dos Estados Unidos, atrás de uma jovem mutante telecinética.
Mas acontece que o Demolidor, o herói cego advogado Matt Murdock, estava no local, e decide interferir. O roteiro é de Ann Nocenti e a arte de John Romita Jr., com arte-final sensacional de Al Williamson, um dos gigantes das histórias em quadrinhos.
Hulk e Cable
Em The Incredible Hulk #369 (1990), Mística retorna para a Força Federal depois de um tempo afastada, e ela decide capturar ninguém menos do que o Hulk como “presente de retorno” para Valerie Cooper.
O escritor Peter David fazia o título do Gigante Esmeralda já um bom tempo, e trabalhava diferentes conceitos na revista. Na época, o Hulk nem era mais verde, estava cinza, como concebido originalmente por Stan Lee e Jack Kirby.
O monstro se apresentava como Sr. Tira-Teima, e era o mais amoral, cínico, violento — e inteligente — já apresentado no Universo Marvel.
A aventura é bem legal e mostra o Hulk com certa dificuldade para vencer a Força Federal, que no fim não consegue prender o monstro. Destaque para a arte de Dale Keown, e o Comando Escarlate tentando lutar com o Hulk e apanhando.
Sua frase: “Onde que eu estava com a cabeça? É a mesma coisa de Woody Allen contra o Mike Tyson.“
Em The New Mutants #86, #88 e #89 (1990), com roteiros de Louise e a estreia da arte de Rob Liefeld na revista, a Força Federal retoma a perseguição contra Rusty Collins, que escapa da detenção para tentar o Abutre, vilão da galeria do Homem-Aranha.
São nessas edições que Cable fez sua estréia na mitologia X, apresentado inicialmente como um soldado com braço biônico e cheio de armas, com uma misteriosa agenda própria.
Ele inclusive se envolve na luta da Força Federal contra os Novos Mutantes, que apareceram para ajudar Rusty.
No fim, Cable acaba se oferecendo para mentorar os jovens, já que os X-Men ainda estavam debandados por aí (nessa altura, Forge e Banshee de um lado, e Wolverine, Psylocke e Jubileu de outro, estavam atrás dos seus colegas pelo mundo).
Cable se tornaria líder dos Novos Mutantes, e não demoraria para ele transformar a equipe em X-Force. Com a arte de Liefeld, o título seria um estouro de vendas e sucesso.
No especial Avengers: Death Trap The Vault (1991), Danny Fingeroth e o desenhista Rom Lim mostram uma rebelião na Balsa, a prisão para vilões superpoderosos no Universo Marvel, uma zona dos diabos começada pelo Venom.
Os Vingadores e a Força Federal são enviados para controlar os criminosos.
A última missão da Força Federal
A última missão da Força Federal foi a mais “Esquadrão Suicida” das missões. Escrita por Fabian Nicieza e desenhada por Kirk Jarvenin, foi apresentada em três partes, nas revistas The New Mutants Annual #7, X-Men Annual #15 e X-Factor Annual #6, todas lançadas em 1991.
Em uma desastrosa operação de resgate de um cientista nuclear alemão no Kuwait, durante a primeira Guerra do Golfo, Comando Escarlate, Pyro, Blob, Avalanche e Supersabre têm que enfrentar a Espada do Deserto, um grupo de superseres que protege o Kuwait, formado por Raazer Negro, Siroco, Véu, Amnedi e o Cavaleiro das Arábias.
A batalha é um massacre. Supersabre morre logo de cara, decapitado por uma corda estirada na altura do pescoço.
Comando tem o braço decepado e é explodido, ficando à beira da morte. Pyro consegue torrar até a morte a pobre Véu, e Blob mata o Cavaleiro das Arábias.
Os dois decidem também matar o cientista, que a Espada do Deserto também queria. “Se a gente não vai ter ele, ninguém vai ter“, diz Pyro, antes de carbonizá-lo até a morte.
Isso foi contra as ordens oficiais, que eram para resgatá-lo com vida. Já que eles falharam na missão, e para salvar Comando, Avalanche decide deixar Pyro e Blob para trás.
Os dois são obrigados a se render para Razaar, Amnedi e Siroco, e é o fim da Força Federal.
Foi só em 1991 que os X-Men conseguiram se reorganizar, após a saga Programa de Extermínio, apresentada em Uncanny X-Men #270-272, New Mutants #95-97 e X-Factor #60-62 (roteiros de Claremont, Simonson, Nicieza e arte de Jim Lee, Rob Liefeld e Jon Bogdanove, entre outros), que reuniu os X-Men, X-Factor e os Novos Mutantes novamente, depois de um longo tempo.
Posteriormente, o X-Factor teria uma aventura fatídica onde Ciclope seria obrigado a mandar o pequeno Nathan para o futuro, a fim de salvá-lo de um vírus que Apocalipse injetou no menino (ele viria a se tornar o Cable, já mencionado).
O roteiro é de Fabian Nicieza e a arte do desenhista filipino Whilce Porthacio.
Já os X-Men, com Claremont nos roteiros e arte acachapante de Jim Lee, partiram para o espaço, reencontraram o Professor Xavier (sumido desde o primeiro julgamento de Magneto, lá atrás), e lutaram juntos contra uma facção rebelde Skrull que tentava comandar o Império Shiar.
Ao sondar a mente de seus alunos, percebe a presença nefasta de um de seus primeiros inimigos, o Rei das Sombras.
Xavier retorna para a Terra, junta todos os alunos, X-Factor, X-Men e associados, e todos partem para deter o vilão, que estava na Ilha Muir desde os eventos da Força Federal vs. Carniceiros (até mesmo antes).
Ele já controlava mentalmente vários personagens — incluindo Valerie Cooper e Mística.
X-Factor, a nova equipe
mutante do governo
A saga contra o Rei das Sombras na Ilha Muir foi mostrada em Uncanny X-Men #278-280 e X-Factor #69-70 (1991) roteiros de Claremont e Nicieza, e arte de Andy Kubert.
Como resultado direto, Xavier perde a mobilidade das pernas, recuperada com a medicina Shiar anos atrás, e Valerie Cooper e ele se reaproximam, dessa vez com mais semelhanças do que diferenças entre si.
Em X-Factor #70, roteiro de Peter David e arte de Kirk Jarvenin, é decidido que o espaço deixado pela Força Federal será ocupado por uma nova equipe, de novo com Valerie no comando.
Junto com o Professor Xavier e Ciclope, ela organiza um novo grupo com o nome X-Factor, sem relação com o anterior, e com a proposta de ser a primeira equipe mutante formada por X-Men a serviço do governo.
Com Destrutor como líder da equipe, mais Polaris, Guido, Lupina (dos Novos Mutantes), Homem-Múltiplo e Mercúrio, o grupo estreia em X-Factor #71 (1991), com roteiros do mesmo Peter David, e arte de Larry Stroman.
Mística se tornou uma renegada com sua própria agenda, ,mas ainda seria uma dor de cabeça para Valerie Cooper e Forge (que entraria para o X-Factor tempos depois) por muito tempo.
Em 1993, em X-Men Annual #2, roteiro de Fabian Nicieza e arte de Aron Wiesenfeld, vemos Avalanche e Comando (agora um ciborgue) sob comando do Projeto Despertar, de Henry Peter Gyrich, ainda como agentes do governo.
Eles invadem uma ilha que abrigava mutantes, e encontram ninguém menos que seus antigos companheiros da Irmandade: Pyro e Blob, além de Groxo e Fantasia.
Na luta entre os ex-companheiro, é revelado que Pyro e Blob só sobreviveram no Kuwait porque se ofereceram como guarda-costas do alto comando do país.
Nessa edição também temos a revelação dos primeiros mutantes infectados com o Vírus Legado: o próprio Pyro e Betsy Braddock/Revanche.
Esse vírus, que ataca só mutantes, desestabilizam seus poderes e os levam à morte, e “substituí” o Ato de Registro Mutante como plot no universo dos X-Men, deixado de lado pelos novos roteiristas que assumiram as X-revistas.
Apesar disso, na série animada dos X-Men (1992-1997), o Ato de Registro Mutante será usado bastante nos primeiros episódios, que contam até com a participação do senador Robert Kelly, Peter Gyrich.
Em X-Men – O Filme (2000), temos o senador Robert Kelly (Bruce Dern) instituindo o Ato de Registro Mutante logo no começo do filme, o que dá início à trama de Magneto atacar os humanos, junto com sua Irmandade, formada por Mística, Groxo e Dentes de Sabre.
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Até nos filmes do Marvel Studios (2008-2021…) esse argumento está presente, com o Tratado de Sokovia versando sobre a atividade regulada dos heróis, conforme mostrado em Capitão América 3 – Guerra Civil (2016), longa baseado em elementos da saga da HQ de Mark Millar e Steve McNiven.
O tratado apareceu nas mais recentes produções da empresa, como os seriado WandaVision (2021) e Falcão e o Soldado Invernal (2021) e os filmes Homem-Formiga e a Vespa (2018), Vingadores 3 – Guerra Infinita (2018) e Viúva-Negra (2021).
Muitos anos depois, uma segunda versão da Força Federal apareceu em uma revista derivada dos Vingadores, Avengers: The Initiative #12 (junho de 2007), criada por Dan Slott, Christos N. Gage e Steve Uy, sem relações com a equipe original, nem mesmo em conceitos.
Era a época do pós-Guerra Civil, quando a comunidade de super-heróis cindiu por causa de um ato de registro forçado pelo governo a todo mundo que tinha superpoder e era vigilante.
Depois da trágica luta entre quem era a favor e contra, os EUA promoveram a Iniciativa dos 50 Estados, em referência à quantidade de estados que formam os Estados Unidos.
Cada um deles teria um grupo próprio de super-heróis, em um ambicioso projeto encabeçado pelo Homem de Ferro, Peter Gyrich, Valerie Cooper, entre muitos outros.
E o Estado de Montana ficou com uma equipe que apenas usa o nome Força Federal, formada por heróis sem relações com a mitologia dos X-Men.
/ DAN GREEN. A arte-final de Green nos anos 80, na revista X-Men, com as artes de John Romita Jr. e Marc Silvestri, representam uma dos grandes momentos de quadrinhos de super-heróis.
É só comparar o trabalho de execução dele em comparação com outros artistas, sem demérito algum a eles, óbvio. É questão de predicados — Green sabia promover o melhor da arte que passava seu pincel. Se elas fossem cenas de ação, poses dinâmicas, curvas charmosas e formas quadradas rabiscadas ligeiras, com Green alcançavam nível mágico.
Esse feitiço ainda se manteria com certo poder nos anos 90, em sua segunda passagem nos X-Men.
Novamente arte-finalizando os desenhos de Romitinha, o fato novo aqui é que a arte principal deixou por completo o estilo que tinha quando começou lá em 1982. Romita Jr. agora desenvolvia identidade própria e sua arte era de muito mais impacto.
A diferença é gritante, e a arte-final de Green encontra eco nisso. O melhor exemplar do trabalho dele será encontrado em Wolverine, agora com desenhos de Marc Silvestri, nos mesmos anos 90, em uma linda fase com os roteiros de Larry Hama, muito tempo antes do cara perder a mão e transformar o velho canadense num homem-cachorro sem nariz.
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