Rocketeer é um filme de super-herói baseado em uma história em quadrinhos independente, e é nele que Jennifer Connelly ganha sua primeira chance de ser reconhecida como atriz de talento, ao concorrer ao prêmio Saturn Awards (filmes de ficção científica, fantasia e horror).
O longa precede a atual onda de super-heróis que hoje domina o cenário de Hollywood. Trata-se do primeiro filme de super-herói da Disney, quase 20 anos antes de comprar a Marvel.
Dave Stevens, criador da HQ do Rocketeer, também é co-produtor do longa. Ao promover clima noir, pulp e pré-Segunda Guerra Mundial, o autor executou nas páginas dos quadrinhos uma história dinâmica de aventura, com todos os bons clichês do gênero, e adaptada em uma deliciosa e subestimada produção de cinema, que é leve e divertida como uma Sessão da Tarde merece ser.
Rocketeer
(The Rocketeer, 1991,
de Joe Jonhston)
O personagem Rockteer é uma apaixonada declaração de amor aos pulps, literatura marginal de aventura, suspense, crime e terror, vendida em revistas de papel jornal barato em bancas de jornais dos Estados Unidos desde o fim do século XVIII.
O filme é outro clássico que vivia passando na Sessão da Tarde, e mais um na longa lista de Jennifer Connelly no programa. É uma grande produção Disney, que em 1991 mirava em um super-herói para chamar de seu, após ver o estrondoso sucesso da Warner com seu Batman, de 1989.
Joe Johnston é o diretor do filme, e transporta para as telas uma boa mistura pop de elementos pulp em uma espécie de Indiana Jones super-herói.
O foguete de Jennifer Connelly
Jennifer Connelly é Jenny Blake, uma atriz querendo destaque em eventuais filmes de Hollywood, em 1938.
Ela namora o protagonista, Cliff Secord (Bill Campbell), um piloto acrobático de aviões, que se vê envolvido com mafiosos e nazistas, que procuram desesperadamente um artefato de guerra que pode dar outro rumo ao conflito mundial que se aproxima.
O equipamento de propulsão acaba no hangar onde Cliff trabalha, e ele se torna o herói Rocketeer, ao usar o foguete para voar e decidir lutar contras os vilões.
O ator Paul Sorvino, conhecido pelos gangsteres que interpretou em outras produções cinematográficas, aqui também faz um chefão da máfia, Eddie Valentine. Ele trabalha para Neville Sinclair, famoso ator de Hollywood, que secretamente é um agente alemão infiltrado pelos nazistas para conseguir o foguete. Ele é interpretado por Timothy Dalton, famoso por ser um dos 007 mais fiéis e violentos do cinema.
A criação do artefato é de Howard Hughes, famoso empresário aviador americano real, interpretado por Terry O´Quinn (O Locke de Lost). Na obra original dos quadrinhos, a criação do foguete de Rocketeer é de outro grande herói dos pulps americanos, o Doc Savage, O Homem de Bronze.
O personagem precede muitas características do que viria a ser conhecido como o gênero de super-heróis e aventuras em alguns anos.
Se você gosta de Indiana Jones e Superman, por exemplo, tem que agradecer ao Doc Savage. A Disney tentou licenciar o personagem para aparecer no filme, mas a proprietária Conde Nast vetou a participação, e Hughes foi colocado em seu lugar. Connelly demora 21 minutos para dar a graça nas telas, e a trama demora para posicionar as peças e atores em sua engrenagem de roteiro, mas não cansa a ponto de tudo se tornar desinteressante.
O relacionamento do casal não é perfeito, fugindo de ser meloso, mesmo tendo um clima romântico. Bill Campbell interpreta Cliff de um modo um tanto pateta, e de certa maneira, ele é imaturo perto de Jenny.
A moça chega a salvar Rocketeer de ser baleado, e até mesmo mata um dos capangas nazistas do vilão (!), atirando-o de uma janela sem vidros de um zepelim (!!).
O roteiro é cheio de coincidências entre os personagens, com mocinhos e bandidos se trombando a todo momento, e as conversas certas sendo ouvidas nos lugares certos.
Alguma soluções das cenas envolvendo o foguete são capengas, com uso de CG muito ruim, mas outras são muito boas, com o recurso da aceleração da câmera. Facilmente acreditamos que Cliff é o Rocketeer, voando como uma bala humana pelos céus.
A ação começa a ocorrer após 1/3 do filme, e um beijo apaixonado entre Jane e Cliff encerra o longa de moto muito romântico, que é o modo que deve ser visto o longa.
Joe Pesci foi chamado para ser o mafioso Eddie Valentine, mas declinou. As atrizes consideradas para o papel de Jenny foram de Sherilyn Fenn (Twin Peaks), Kelly Preston, Diane Lane e Elizabeth McGovern.
Essa última é moça que interpretou Deborah em Era Uma Vez Na América, primeiro filme de Jennifer Connelly, que por sua vez, interpretou Deborah criança. Para o papel de Cliff, nomes como Kevin Costner, Matthew Modine, Emilio Estevez, Bill Paxton, Dennis Quaid, Kurt Russell, Johnny Depp e Vincent D’Onofrio estiveram na jogada.
De Rockteer ao Capitão América
Joe Johnston já tinha tido sucesso ao dirigir Querida, Encolhi as Crianças, em 1989, e a Disney lhe deu a chance de comandar Rocketeer, que frequentemente aparece como umas das melhores adaptações de quadrinhos no cinema, fugindo do eixo Marvel-DC óbvio. Contudo, essa posição demorou a ser obtida, já que o longa não foi bem recebido pelo público e crítica da época. Anos depois, o trabalho de Johnston em Rocketeer foi o que o credenciou para que fosse o diretor do Capitão América – O Primeiro Vingador, da Marvel.
O longa-metragem de 2011 foi o quinto da chamada Primeira Fase do Marvel Studios, e o quarto sob o guarda-chuva da Disney, que comprou a Marvel em 2009, um ano depois que o primeiro Homem de Ferro estreou nos cinemas, filme que inaugurou o universo compartilhado nos cinemas.
Jennifer Connelly participaria de um filme da Marvel Studios, em Homem-Aranha De Volta ao Lar.
HOMEM-ARANHA DE VOLTA AO LAR | Jennifer Connelly e o maior herói da Marvel
Se a Casa do Mickey não conseguiu o que queria com Rocketeer em 1991, 20 anos depois conseguiu com o mesmo diretor, já que Joe fez o filme que precedeu Os Vingadores, de 2012, que rendeu mais de U$ 1 bilhão e meio de doletas para a empresa.
Joe também dirigiu Jumanji com Robin Williams, e o horroroso Jurassic Park 3, com Sam Neill passando vergonha.
O diretor trabalhou nos anos 70 na Industrial Light and Magic, e foi responsável por trabalhar em designs icônicos da nave Millenium Falcon, da armadura de Boba Fett, além das naves X-Wings, Y-wings, Imperial Star Destroyer, a Estrela da Morte e os tanques AT-ATs.
Ao ver o design e estilo visual de Boba Fett, que aparece em Star Wars Episódio V – O Império Contra-Ataca, o segundo filme da saga Star Wars nos cinemas, lançado em 1980, notamos de imediato sua semelhança com o que viria a ser o Rocketeer.
THE MANDALORIAN | Como Boba Fett salvou a franquia Star Wars/Disney
STAR WARS O IMPÉRIO CONTRA-ATACA | 40 anos sob o império de melhor filme da saga
Um foguete em direção às HQs de Rocketeer
A primeira aparição de Rocketeer foi em Starlayer #2 (1982), uma publicação da editora independente Pacific Comics, com roteiro e arte de Dave Stevens.
Antes de fazer HQs, Dave trabalhou com grandes artistas dos quadrinhos, como Jack Kirby, simplesmente o maior criador de super-heróis da indústria, com grande parte de personagens da Marvel e DC feitos por ele.
Stevens também fez HQs do Tarzan e storyboards para produções diversas como o desenho animado dos Super Amigos (1973-1985) e Indiana Jones – Os Caçadores da Arva Perdida (1981).
O sucesso do personagem foi crescendo, e ele passou para a editora Eclipse Comics, um pouco mais robusta que a Pacific. Foi aqui que Dave Stevens criou várias histórias clássicas do herói, incluindo aquela trazida ao Brasil pela editora Abril em Graphic Novel #12, em 1989.
Stevens teve seu trabalho autoral reconhecido nos anos 80, época ainda incomum para esse fato na indústria dos quadrinhos.
O hype se justifica. Ao longo dos anos, o herói de foguete nas costas atraiu fãs da indústria, merecendo resgates artísticos de talentos do mercado independente de HQs americano, como Steve Rude e Jaime Hernandez.
Dave morreu em 2008, aos 52 anos, vítima de leucemia. Atualmente, é a editora IDW quem publica as histórias do personagem.
Bettie Page e Betty Page
A namorada do herói, Betty, é literalmente inspirada em Bettie Page, famosa modelo americana na década de 1950 por fotos de temática pin-up e fetichista. Jennifer Connelly guarda uma semelhança incrível, é bom frisar.
O autor e Bettie eram amigos na vida real, mas a modelo, no entanto, não permitiu seu uso nas telas de cinema.
Por isso que mudou-se o nome de Betty Page para Jenny Blake no filme. E, obviamente, a Dinsey não permitiria um mood tão sexualizado como a personagem original…
As inspirações para o Rockteer
Dave Stevens com certeza se inspirou em serials, os seriados que passavam no cinema no fim dos anos 1940 para criar seu herói.
Um exemplo claro é o serial King of The Rocket Men (1949), com um mood visual de capacete e foguete nas costas em histórias contra a máfia.
A produção foi trazido ao Brasil como O Homem Foguete. Esse serial foi produzido pela Republic Pictures, que com o enorme sucesso que obteve, criou vários outros produtos.
Outro serial deles (também de 12 capítulos) foi Radar Men of The Moon (1952), com o herói Commando Cody. Dessa vez o homem-foguete lutava contra alienígenas humanóides (!) vindos da Lua (!!). Ele também passou no Brasil como O Marechal do Universo.
Não apenas Dave Stevens era fã desses serials, mas também o cineasta George Lucas, criador da franquia de Star Wars.
Tanto que em Star Wars – Episódio II – O Ataque dos Clones (2002), Lucas criou Jango Fett, o pai de Boba, no mesmo mood visual, e até um clone com identidade própria chamado Comandante Cody, que sem surpresa nenhuma, chega a liderar um esquadrão equipado com jetpacks para voar.
Jennifer Connelly
e os voos para as premiações
A interpretação de Jennifer está nos moldes clássicos que uma aventura dessa época propõe, com todos seus charmosos e antiquados clichês e convenções.
No prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante do Saturn Awards de 1991, ela concorreu com atrizes como Mary Elizabeth Mastrantonio, que interpretou a Marian em Robin Hood, O Príncipe dos Ladrões (aquele com o Kevin Costner); Frances Sternhagen, pelo seu papel em Louca Obsessão, onde fez a esposa do xerife que tenta encontrar o coitado do escritor interpretado por James Caan, feito prisioneiro pela psicopata interpretada Kathy Bates, numa das melhores histórias do Stephen King; e Dianne West, a mãe da Wynona Rider em Edward Mãos de Tesoura.
Mas quem levou o prêmio foi Mercedes Ruehl, por um papel menor em O Pescador de Ilusões, um clássico do diretor Terry Gilliam, com Jeff Bridges e Robin Williams.
Há metalinguagem em vários aspectos de Rocketeer, o filme, e da própria Jennifer Connelly. Como quando o vilão Neville cita para Eddie que o foguete vem de “tipo uma história em quadrinhos“, ao duvidar que tal equipamento exista. Jenny e Neville interpretam atores em Hollywood.
Uma peça da propaganda nazista usa como exemplo um desenho animado de soldados do Terceiro Reich usando os foguetes para atacar a América.
O letreiro clássico de “Hollywoodland“, visto nas montanhas de Los Angeles, explodido numa cena do clímax, restando apenas o “Hollywood” que conhecemos. Mas a melhor é da própria Jenny Blake, ou melhor, Jenny Connelly. Ambas são atrizes querendo mais para suas carreiras.
Jennifer Connelly, a partir desse filme, amadurecia um pouco mais suas escolhas de atuação, mostrando que os tempos de moça-objeto, como foi em Construindo Uma Carreira, ficariam para trás em definitivo.
O mafioso Valentine na hora em que saca que Sinclair é nazista, desiste de continuar lhe ajudando, mostrando que, afinal, seu lado patriótico fala mais alto.
A despeito desse papo besta de ser patriota, a verdade é que gangsters americanos não gostavam nada nada do fascismo que crescia na Itália, sob a mão pesada de Benito Mussolini e sua perseguição contra as famílias sicilianas.
É o equivalente judeu com Adolf Hitler. Quando na Segunda Guerra Mundial, a máfia italiana americana até ajudou alguns setores do governo contra espiões nazistas e seus colaboradores.
O que era para explodir mas implodiu foi a expectativa da Disney com o filme.
O longa de estréia da Morcegona com Michael Keaton dois anos antes estava estourando as bilheterias, e enchia de grana os cofres da Warner. Vítima de uma campanha de marketing ruim — que não aproveitou o clima retrô e otimista do longa — Rocketeer não foi tão bem recebido, ganhando status apenas com o passar dos anos.
Estrear competindo com Exterminador do Futuro 2 – O Julgamento Final e Robin Hood – O Príncipe dos Ladrões não ajudou a jovem Connelly de 20 e poucos anos a finalmente estourar.
9º filme da Jennifer Connelly
Rocketeer
Estados Unidos
No mesmo ano de lançamento do filme, foi publicada uma quadrinização, escrita por Peter David e desenhada por Russ Heath. Confira a Jennifer Connelly em quadrinhos:
/// 1991. Nos cinemas passavam filmes como Predador 2 – A Caçada Continua, Dança com Lobos, As Tartarugas Ninja II – O Segredo do Ooze, Olha Quem Está Falando Também, O Silêncio dos Inocentes, Cortina de Fogo, Corra Que a Polícia Vem Aí 2 1/2, Hamlet, Hudson Hawk – O Falcão Está à Solta, Encontro com Venus, Ligações Perigosas, Cabo do Medo, O Pescador de Ilusões, A Família Addams, O Pai da Noiva, Top Gang! – Ases Muito Loucos, entre outros.
/// ROCKETEER NA TV. É preciso dizer que poucas HQs aparecem em matéria de TV. O vídeo abaixo é uma reportagem do Jornal de Vanguarda, da Rede Bandeirantes de Rádio e Televisão, em 1989. Além de Rocketeer, também é comentado Wolverine & Destrutor: Fusão.
A Disney jamais adaptaria a Betty Page das HQs de Rocketeer no filme…
Jennifer Connelly e seu Instagram: https://www.instagram.com/jennifer.connelly/
/ OS FILMES DE JENNIFER CONNELLY.
1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986)
5- Essas Garotas (1988)
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996)
14- Círculo das Vaidades (1996)
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000)
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007)
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010)
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)
44- Top Gun – Maverick (2022)
45- Bad Behaviour (2023)
/ AS SÉRIES DE JENNIFER CONNELLY.
1- The $treet (2000)
2- O Expresso do Amanhã/Snowpiercer (2020-2024)
3- Matéria Escura (2024)
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