SANITY EXTINCTION | Darkwave filosófico na distopia pós-Covid

O Violation Drive permaneceu adormecido na pandemia de Covid-19 que devastou o planeta, mas acorda agora no fim de 2022 com um novo projeto musical que começa com o lançamento da música Sanity Extinction nas principais plataformas digitais musicais.

A música está disponível desde o último 30 de outubro e promete mudar a sonoridade que o músico Paulo Santos faz no synthwave/darkwave desde 2017.

Sanity Extinction é pesado e incisivo, e cria um ambiente de metal líquido no ar, que apenas arranha o que será entregue em breve pelo Violation Drive.

O som vem de uma base inspirada nos escritos do livro Hereges (1905), do filósofo inglês G.K. Chesterton (1874–1936), em que esboçava uma filosofia própria ao identificar os pontos fracos nas filosofias de seus contemporâneos, um clássico do pensamento cristão conservador.

Pode não parecer, mas é totalmente diferente, a estética agora é outra“, explica Paulo, a mente por de trás o Violation Drive. O fato da pandemia de coronavírus ter feito uma espécie de lockdown em Paulo, fez o músico pensar novas linguagens e modos de fazer sua música.

Sanity Extinction era para ser um álbum convencional, mas com a mudança de direção criativa de Paulo se tornou 2 EPs a serem lançados no final do ano e em 2023.

O que esperar do peso de Chesterton, um notório articulista de palavras poderosas e de pensamentos elaborados sobre os mais diversos temas da sociedade, ainda permanece um mistério.

Violation Drive é o pseudônimo do carioca Paulo Santos, em atividade desde o final de 2017 no universo sonoro do synthwave e darkwave, estilos musicais que trabalham com sonoridades típicas de filmes e séries dos anos 1980 — principalmente de terror e ficção científica — e sintetizadores.

O som do synthwave é fundamentalmente instrumental, com elementos clichês oitentistas nas músicas, como baterias eletrônicas e sintetizadores analógicos dançando junto batidas novas, como as do electro house.

O darkwave mescla isso com o som pesado de heavy metal e rock industrial, deixando tudo ainda mais sombrio.

Paulo começou o Violation Drive com em 2018 com o single Out of Control, e mais 2 em 2019, Digital Road e Machine Killer.

Violation Drive Sanity Extinction
Paulo Santos, a mente por de trás de Violation Drive, responsável por Sanity Extinction

No mesmo ano, Paulo assinou um contrato com uma label russa chamada Retrowave Touch, que lançou o EP Digital Chase (que contou com 6 faixas). No começo de 2020, veio o single Renegade, que abriu caminho para um EP com remixes dessa faixa, contando com quatro grandes nomes da cena: Donbor, Masked, Cyberthing! e Grimlin.

Em novembro de 2020, o Violation Drive lançou mais um disco, o NOTHUMANANYMORE.

VIOLATION DRIVE | NOTHUMANANYMORE, novo lançamento synthwave no ano do Cyberpunk 2077

Dois anos depois de NOTHUMANANYMORE, Sanity Extinction surge com um lastro filosófico e com a promessa de Paulo de levar o Violation Drive para novos caminhos musicais.

Eu parei nesses dois anos, e isso significou de certa forma uma mistura de ausência de produção e muita escuta de artista novos e diferentes, tudo como forma de burlar o padrão do gênero, e ter inspiração nesses aspectos. Foram dois anos só escutando e compondo algumas letras para parceiros“, explica Paulo, que frisa: “Tudo que eu lançar a partir de agora, será diferente do que eu fiz.”

Fã de filmes e jogos (“apesar que eu jogo pouco“), Paulo mirou agora na literatura para consolidar Sanity Extinction.

Estudo filosofia desde os 14 anos (Paulo fez faculdade durante a pandemia), e esse esse projeto de 2 EPs surgiu inspirado em um livro de filosofia de críticia social chamado Hereges, escrito pelo filósofo Gilbert K. Chesterton“, revela o músico, que nos dá um spoiler: o novo trabalho pode ter o nome de Heretics (nome original do livro, em inglês).

Chesterton foi um popular ensaísta, romancista, contista, teólogo amador, dramaturgo, jornalista, palestrante, biógrafo e crítico de arte, geralmente associado a críticas sobre a sociedade e a cultura. “O nome do projeto leva o nome de Heretics, diretamente inspirado na percepção do que eu achei que daria continuidade ao NOTHUMANANYMORE.”

Paulo reforça seu Violation Drive. “De fato, para todos que escutaram e estão escutando meu trabalho, eu voltei. Tudo que for lançado será totalmente diferente. Acredito ser meu projeto mais maduro“, frisa.

Sem deixar de lado o que sustenta a coluna audiovisual do qual o synthwave faz parte — como o cyberpunk — Paulo também diz que outras fontes também lhe inspiram.

Uma de suas maiores inspirações é o Pertubator, nome do projeto do músico francês James Kent, que fez 5 discos desde 2012 com o melhor do synthwave, industrial e darksynth.

Ele fez a trilha sonora dos games Hotline Miami (2012) e Hotline Miami 2: Wrong Number (2015), dois dos games mais synthwave da indústria da música. “O Pertubator é o mais alto nível de autenticidade nesse estilo, totalmente diferente do que os outros fazem“.

Na entrevista anterior para o Destrutor, o músico citou influências além do Perturbator, como Carpenter Brut, Dance With The Dead, PYLOT, “entre centenas de outros nomes da cena do dark synthwave. Mas tenho diversas inspirações na música eletrônica que não se resumem unicamente na cena retrofuturista, estou sempre peneirando pra achar coisas novas e boas“, disse na época.

Agora ele citou o HEALTH como outra das inspirações. A banda americana de rock industrial/noise de Los Angeles teve seis discos lançados desde 2008, com o primeiro sendo Health//Disco, que já obteve grande sucesso.

A banda fez uma tour no ano seguinte com o Nine Inch Nails , a banda do Trent Reznor, um dos nomes pré-synthwave do rolê, anos antes do gênero surgir.

Em 2017, eles repaginaram a clássica Blue Monday, do New Order (do álbum Power, Corruption & Lies, de 1983), para a trilha sonora do filme Atomica (2017).

O synthpop está no rolê desde os anos 1980, mas conversa demais com o alto filão da indústria fonográfica, diferente dessa versão mais nova synthwave, com um background saudosista de um tempo exagerado, que come pelas beiradas do mainstream.

O nome new retrowave, ou apenas retrowave, também é muito usado para designar o synthwave.

John Carpenter — um cineasta emblemático da indústria, um faz-tudo que criou a franquia slasher Halloween, a música tema do filme, e clássicos do sci-fi e aventuras, como Enigma de Outro Mundo, Fuga de Nova York e Os Aventureiros do Bairro Proibido, e canções da banda alemã Tangerine Dream e dos italianos do Goblin, são alguns dos expoentes de influência para todo o synthwave produzido até hoje.

Em 2011, a trilha do filme Drive, composta pelo novaiorquino Cliff Martinez, já mostrava do que se tratava o estilo.

Drive (2011), de Nicolas Ref Winding

O synthwave gira em torno de uma imagem sonora exagerada dos anos 80. Os minutos iniciais de Drive, que é dirigido por Nicolas Winding Refn (um diretor daltônico), são marcados pelo personagem de Ryan Gosling dirigindo pela cidade durante a noite, escutando um som melancólico de vocal distorcidos, acompanhado de sintetizadores repetitivos.

Importante pontuar uma diferença do darkwave para o dark wave. O dark wave é um gênero musical que surgiu no início da década oitentista entre a new wave, rock gótico e a música eletrônica, uma versão sombria da new wave, sendo considerado uma antítese e uma resposta dark e melancólica da new wave que dominou os anos 1980.

O Destrutor fez uma matéria que tenta explicar a riqueza do synthwave, aqui:

SYNTHWAVE | O novo som do velho anos 80 na música

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