X-MEN AUSTRÁLIA | Fantasmas no outback, uma x-estrela como símbolo

Os X-Men, sob os roteiros de Chris Claremont, teve uma abordagem radicalmente diferente de suas histórias anteriores e de outros super-heróis da Marvel Comics a partir de 1987, na informalmente chamada “X-Men Fase Austrália” ou “Era Outback” A mudança de cenário para o deserto (outback) australiano e a introdução de conceitos inovadores ajudaram a redefinir a dinâmica do grupo e solidificaram sua reputação como pioneiros no gênero de quadrinhos.

Imagine um grupo de super-heróis, considerados mortos pelo mundo, operando nas profundezas do outback como fantasmas vivos, visíveis apenas a olho nu. Isso não é uma trama de um filme de terror B, mas a essência da Fase Austrália dos X-Men. Publicada nas páginas de Uncanny X-Men #229-251 entre 1988 e 1989, essa fase marcou uma ruptura completa com as convenções anteriores. Claremont, o maestro por trás desse espetáculo, jogou os mutantes em um cenário selvagem, cortando suas conexões com o familiar e o previsível.

X-Men Austrália | Era Outback

timeline: 1987-1989
pré-início: Uncanny X-Men #227
início: Uncanny X-Men #229
fim: Uncanny X-Men #251

conteúdo: 23 edições (+ 3 anuais: Uncanny X-Men Annual #11-13)

X-Men Austrália
  Uncanny X-Men #229, a primeira aventura dos X-Men na Austrália, contra os Carniceiros, de quem tomam a base em uma cidade fantasma no meio do deserto
X-Men Austrália
Entre as diversas aventuras dessa fase, tivemos um novo confronto (segundo round) com a Ninhada
X-Men Austrália
Os X-Men também conhecem a ilha-nação Genosha, que escraviza mutantes
X-Men Austrália
É nesta fase também que temos o esperado encontro dos X-Men com o X-Factor, na megassaga Inferno
X-Men Austrália
No confronto com a fusão do Molde Mestre e Nimrod, as coisas começam a dar muito errado para os X-Men
X-Men Austrália
A última aventura dos X-Men Austrália foi na Terra Selvagem
X-Men Austrália
Os X-Men Austrália foram um por um morrendo e desaparecendo. Mas não sua lenda (arte de Alan Davis)

Depois da saga Massacre de Mutantes (1985), que retirou de cena os gravemente feridos Rachel Summers/Fênix II, Colossus, Lince Negra e Noturno, os X-Men, liderados por Tempestade, tiveram os reforços de Cristal, Psylocke, Destrutor e Longshot, que se juntaram a Wolverine e Vampira. Na saga seguinte, Queda de Mutantes (1986), Colossus se recuperou e se juntou aos seus colegas na luta contra a entidade extradimensional Adversário.

Era a partir de Dallas, no Estado do Texas, Estados Unidos, que esse ser demoníaco pretendia consumir nosso mundo em um caos de fogo e sangue em uma entropia de espaço-tempo. Os X-Men precisaram sacrificar suas vidas para derrotar o vilão. Madelyne Pryor (ex-esposa de Scott Summers, o Ciclope, x-man original e atual líder do X-Factor), acompanhava os heróis. Forge, aliado deles, é quem conjura o feitiço de sacrifício, única maneira de derrotar a entidade, reunindo as almas dos 8 x-men mais Madelyne para destruir o Adversário — o visual de poder de tal feitiço é uma estrela de oito pontas, guarde isso.

Os X-Men vinham de tempos difíceis desde antes de Massacre de Mutantes, de perseguição e morte, inclusive por parte do governo americano, que os considerava criminosos procurados
Tudo isso leva a saga Queda de Mutantes
O capítulo final de Queda de Mutantes, em Uncanny X-Men #227, já com o line-up dos X-Men Austrália na capa
Demônios, dinossauros, selvagens, índios, soldados. Guerra, fogo, destruição, morte. O Adversário quer mergulhar o mundo no caos
A entidade é poderosa demais para ser derrotada sem um grande sacrifício
A alma dos 8 x-men (mais Madelyne Pryor) é consumida por um encanto de Forge, que usa a energia para enfim derrotar o vilão

Toda a ação foi televisonada para o mundo inteiro graças a uma equipe de TV que estava no local, e assim, todos testemunharam a morte dos X-Men diante das câmeras. Os eventos aconteceram em Uncanny X-Men #227 (1987). Mas longe da vista, a deusa Roma, uma entidade celestial do bem, e antiga inimiga do Adversário, revive os heróis às escondidas. Em um formato inicial de energia bem parecido com uma estrela.

X-Men Austrália
Os X-Men são revivivos por Roma, verdadeiras lendas do Universo Marvel a partir de agora

A mudança do ambiente urbano para o selvagem refletiu uma transformação interna dos personagens. Eles estavam em território inexplorado, tanto literal quanto figurativamente, e essa nova paisagem trouxe desafios únicos e um senso de isolamento que aumentou o drama e a intensidade de suas histórias. A trama das 23 revistas que compõe a Fase Austrália mergulha em temas de identidade, sacrifício e sobrevivência, e mostra que os X-Men estavam constantemente em perigo, não apenas por forças externas, mas também por suas próprias inseguranças e conflitos internos.

Para “simbolizar” tudo isso, a Fase Austrália dos X-Men contou com um símbolo. Que a bem da verdade foi muito pouco usado. O símbolo em questão era uma estrela de oito pontas, criado visualmente pelo desenhista Marc Silvestri e o arte-finalista Dan Green, dois dos maiores artistas em atividade nos anos 1980 na indústria de quadrinhos de super-heróis, e que graças aos deuses do gibi, estavam em X-Men. Claro, eles criaram o símbolo obviamente sob a orientação de Claremont e da editora dos X-Men na época, Ann Nocenti (e Bob Harras posteriormente, que — infelizmente — assume o cargo dela).

Silvestri, que entrou no lugar de John Romita Jr. como desenhista regular da série em Uncanny X-Men #220 (início dos eventos de culminariam em Queda de Mutantes), com seu traço arrojado e detalhado, trouxe uma nova vitalidade para os mutantes, conferindo a cada página uma energia visceral que parecia saltar das páginas. Suas ilustrações dinâmicas e os enquadramentos cinematográficos transformaram cenas de batalha em espetáculos visuais que capturavam a imaginação dos leitores, tornando impossível desviar o olhar. Cada personagem, de Wolverine a Psylocke, ganhou uma presença quase tangível. Como você deve ter notado nas imagens acima e nas que virão a seguir.

Dan Green, o arte-finalista por excelência (um dos melhores, senão o melhor), um veterano dos X-Men, desde UXM #187 (1983), com Romita na capa, complementava essa energia com uma precisão cirúrgica que elevava o trabalho de Silvestri a novas alturas. Green tinha um talento inato para realçar os contornos e dar profundidade às sombras, adicionando uma camada de rapidez e cinética que tornava cada painel uma obra maior em si. Sua arte-final trazia uma clareza e um polimento que equilibravam perfeitamente o estilo mais cru e expressivo de Silvestri. Juntos, criavam um contraste harmonioso entre a intensidade frenética das linhas de Silvestri e a meticulosidade refinada de Green, uma dança visual que transformava cada página em uma sinfonia de cores e formas.

Arte original de Silvestri e Green para a capa de UXM #225

O impacto dessa dupla na fase australiana dos X-Men não pode ser subestimado. Eles não apenas deram uma nova identidade visual aos personagens, mas também contribuíram significativamente para o dinamismo narrativo dessa era. As sequências de ação eram vibrantes e cheias de movimento, enquanto os momentos de quietude eram impregnados de uma tensão e/ou quietude palpáveis. Juntos, eles criaram uma experiência visual que não apenas complementava, mas amplificava a narrativa de Chris Claremont, resultando em uma das fases mais memoráveis e influentes na saga dos X-Men.

X-Men Austrália

Os X-Men Austrália

X-Men Austrália
Os X-Men Austrália, arte de Rick Leonardi (artista que preenchia as eventuais folgas e/ou faltas de Silvestri)

A primeira ação dos heróis é partir dos EUA. Com Roma ainda com eles. E a deusa deixa eles sob o comando de uma base secreta numa cidade fantasma no outback australiano (a maior porção do continente australiano, localizada na região central) (chamada informalmente de Cooterman´s Creek)tomada à força dos ciborgues criminosos Carniceiros. Isso é visto em Uncanny X-Men #229 (1988), que marca de fato o início da Fase Austrália dos X-Men. E uma das características mais notáveis dessa fase foi a ideia dos X-Men se tornarem “fantasmas vivos”, já que Roma avisa que eles agora são visíveis apenas a olhos nus, permanecendo indetectáveis por meios eletrônicos ou místicos, um efeito colateral da ressureição.

X-Men Austrália
Os X-Men revividos, os X-men invisíveis ao mundo, fantasmas do outback, com o futuro do mundo nas mãos

De qualquer maneira, os X-Men passaram a ser considerados mortos pelo resto do mundo. Isso permitiu que eles operassem à margem da sociedade, uma vantagem estratégica única. Essa abordagem inovadora não apenas diferenciou os X-Men de outros super-heróis do Universo Marvel, que geralmente atuavam de forma pública, mas também adicionou um elemento de mistério e suspense às suas histórias.

Ser considerados mortos deu aos X-Men foi um truque sujo e genial, que não diferenciava família, amigos e aliados (para protegê-los) ou inimigos (para enfrentá-los com mais vantagens). Eles podiam se mover pelas sombras, longe dos olhos críticos da sociedade. Imagine a paranóia e a tensão de estar invisível em um mundo que os esqueceu, mas que muitos agora consideram verdadeiras lendas do Universo Marvel.

Parte de população respeita o sacrifício dos X-Men e fazem questão de mostrar isso

Esse anonimato forçado os tornou mestres da camuflagem e da surpresa, diferenciando-os de outros super-heróis que preferiam o brilho dos holofotes e a glória pública. Além disso, a decisão de basear os X-Men no outback australiano foi uma ruptura significativa com o eixo tradicional de atuação dos super-heróis, que tipicamente operavam em cidades americanas como Nova York e o resto da Costa Leste dos EUA.

Esse novo cenário permitiu ao roteirista Chris Claremont explorar novas paisagens e culturas, distanciando os X-Men das batalhas urbanas comuns e inserindo-os em um ambiente selvagem e desconhecido como era a Australia em seu outback. Tínhamos até o aborígene Teleporter, que podia — aham — teleportar os heróis para qualquer parte do planeta, uma nova figura de “mentor” mais velho, tal qual o Professor Charles Xavier (exilado no espaço sideral desde os eventos de Uncanny X-Men #200, de 1985).

X-Men Austrália
Austrália. Outback. Carniceiros. E em breve os X-Men
A cidade fantasma tomada pelos X-Men, sempre sob os olhares vigilantes de Teleporter

Isso não só enriqueceu a narrativa, mas também enfatizou o isolamento e a vulnerabilidade dos personagens, aumentando o drama e a tensão das histórias. Em comparação com outros super-heróis da indústria e mesmo com outros personagens do Universo Marvel, os X-Men da Fase Australia se destacaram por sua complexidade e inovação.

Enquanto muitos heróis operavam em ambientes familiares e enfrentavam vilões com motivações claras, os X-Men navegavam por um território moralmente ambíguo, lutando contra ameaças que muitas vezes eram reflexões de seus próprios medos e inseguranças. A inventividade dessa fase não se limitou apenas ao cenário e ao status dos personagens.

O enredo frequentemente abordava temas complexos, como identidade, sacrifício e sobrevivência, de maneiras que eram incomuns para os quadrinhos da época. Os X-Men enfrentavam desafios tanto internos quanto externos, e a dinâmica do grupo era constantemente testada. A falta de recursos e o isolamento forçaram os personagens a dependerem mais uns dos outros, aprofundando seus laços e revelando novas facetas de suas personalidades.

Foi com os X-Men Austrália que — entre aventuras e desventuras solos de personagens como Wolverine (seu título solo e com Destrutor em Fusão) e dois rolês despretensiosos das x-meninas no shopping e os x-caras na paródia de Invasão! (da DC Comics) — conhecemos os Carniceiros; a ameaça alien de infestação da Ninhada; a descoberta da ilha-nação de Genosha, que escraviza mutantes; e a megassaga Inferno, que trouxe chamas e demônios para NY (com reflexos consideráveis em outros títulos não-X da Marvel) e o esperado encontro dos X-Men com o X-Factor (os 5 x-men originais).

Tempestade, Vampira e Psylocke, arte de Marc Silvestri

Começar a Fase Austrália dos X-Men com os Carniceiros nos entrega muitos significados. Os Carniceiros eram ciborgues ladrões sádicos e lunáticos que parecia saído diretamente de Mad Max 2 (1981), filme de George Miller que ajudou a solidificar o futuro pós-apocalipse na cultura pop. A semelhança era gritante: ambos os grupos operavam em um mundo desolado no deserto australiano e vivendo pela lei do mais forte. Os X-Men invadiram a base dos Carniceiros na cidade fantasma em que eles viviam, em um confronto brutal que refletiu a selvageria do próprio cenário australiano. Foi um jogo de vida ou morte — Wolverine mata vários Carniceiros — onde a moralidade se dissipava como poeira ao vento.

Os ciborgues assassinos Carniceiros só oferecem uma coisa: morte

A configuração desértica e o estilo de vida selvagem dos Carniceiros lembram claramente o universo brutal e pós-apocalíptico de Mad Max. Esses ciborgues, com seus trajes improvisados e sua brutalidade desenfreada, são os equivalentes diretos dos saqueadores do filme de George Miller. Assim como os antagonistas de Mad Max 2, eles representam uma quebra com a civilização, operando segundo regras de sobrevivência e violência que se tornaram a norma em um mundo sem lei. A semelhança não é apenas superficial; há uma profundidade na desumanização dos personagens que ressoa em ambos os universos.

A forma como os Carniceiros se apropriam de uma cidade fantasma como sua base — e o trabalho forçado de Teleporter em ajudá-los a se deslocar pelo mundo, com motivações não-reveladas até hoje (plot abandonado por roteiristas pós-Claremont) — reflete a apropriação dos espaços desolados por figuras de poder arbitrário e cruel, uma realidade paralela àquela enfrentada por Max Rockatansky no vasto deserto australiano.

Arte para o mercado asiático de Mad Max 2
Max Rockatansky (Mel Gibson)
A trama dos filmes de Mad Max sempre se passam nas estradas da Austrália

Max com seu Ford Interceptor V8 nas estradas do outback australiano

Os X-Men, deslocados de seu tradicional mood urbano americano para o deserto australiano, tornam-se figuras de resistência, muito semelhantes a Max, o solitário guerreiro das estradas. A transição de heróis altamente visíveis para “fantasmas vivos” em um ambiente implacável força uma reavaliação de suas identidades e métodos de combate. Essa edição não só presta homenagem ao filme de 1981, mas também desafia os leitores a considerar a fragilidade da civilização e a resiliência necessária para preservá-la, um tema que é dolorosamente relevante tanto no universo dos X-Men quanto no mundo de Mad Max.

Uncanny X-Men #229 também foi a “estreia” do Portal do Destino nas histórias do X-Men Austrália. O nome original, Siege Perilous, vem das lendas arthurianas, e é o termo para designar um assento vazio na Távola Redonda, reservada ao Cavaleiro que conseguisse o Santo Graal. A ideia aparece especialmente em obras medievais como as de Sir Thomas Malory (Le Morte d’Arthur, século XV) e Chrétien de Troyes (século XVII).

A deusa Roma, que reviveu os X-Men, entregou o objeto — um amuleto espelhado que pode ficar com vários metros — para a guarda dos heróis. Depois que os ciborgues assassinos Carniceiros são derrotados pelos X-Men, eles são obrigados a atravessar o portal (a alternativa era morrer pelas mãos de Wolverine). Mas é curioso que Roma incentiva os X-Men a fazerem os mesmos, para poderem recomeçarem suas vidas (eles se recusam).

O Portal do Destino

Esse artefato foi criado por ninguém menos que Alan Moore, um dos maiores roteiristas de histórias em quadrinhos de todos os tempos, numa época que ele ainda trabalhava para a Marvel UK, a divisão inglesa da empresa, antes de ir para a DC Comics, onde iria criar algumas das maiores HQs da indústria, como seu run em Monstro do Pântano e Watchmen.

Alan Moore

Na Marvel UK, entre outros títulos, Moore escrevia aventuras do Capitão Britânia, herói criado por Chris Claremont e Herb Trimpe em Captain Britain #1 (1976) — Roma também estreou aqui. A identidade civil do Capitão é Brian Braddock, e no futuro ele seria incorporado ao x-lore, ao estrelar Excalibur #1 (1988), o x-grupo inglês, com Rachel Summers/Fênix, Noturno e Lince Negra (que escaparam de Queda de Mutantes). Era algo óbvio ele se aproximar, já que Claremont decidiu trazer a irmã gêmea dele, Elizabeth Braddock, a Psylocke, para os X-Men, anos antes, em New Mutants Annual #2 (1986). Aliás, foi Claremont e Trimpe que a criaram também, em Captain Britain #8 (1976).

Retomando o portal: em Mighty World of Marvel #13 (1984), desenhos de Alan Davis, o Portal do Destino surge. A ocasião foi a morte de Merlin, pai de Roma, que causou enorme consternação no multiverso, depois de um longo conflito contra o vilão Mad Jim Jaspers, que desejava destruir a Terra. Na cerimônia de velório, o caixão é levado para além do “Portal Perilous“, apresentado aqui como uma gigantesca porta lateral na cidade celestial multiversal.

O Portal do Destino de Alan Moore, em Mighty World of Marvel #13 (1984), desenhos de Alan Davis, no original: “Portal Perilous”. Roma em primeiro plano, ao lado do Capitão Britânia, chorando a morte de seu pai, Merlin

A narrativa de Alan Moore lidava com realidades paralelas e multiverso, e acabou por estabelecer a divisão oficial do Universo Marvel, incluindo o termo 616 para a continuidade regular. Isso também foi definido por Moore, em Daredevils #7 (1983), aproveitando um conceito original de Dave Thorpe, outro escritor das histórias do Capitão Britânia.

O Portal do Destino teria grande importância por toda a Era Outback dos X-Men Austrália, até ser destruído por Donald Pierce em UXM #251, a edição derradeira da fase. Mas ele chegou a retornar algumas vezes, inclusive na fase atual dos mutantes, a Era de Krakoa.

O segundo round com a Ninhada trouxe à tona os horrores do espaço sideral para a desolação terrestre. Esses parasitas alienígenas representavam um pesadelo biológico, e os X-Men tiveram que usar todas as suas habilidades para impedir uma infestação que poderia devastar o planeta. A batalha foi uma dança macabra de estratégia e resistência, testando os limites físicos e mentais de cada mutante, como podemos perceber com Claremont desenvolvendo mais Alex Summers, o Destrutor, que nunca quis ser um super-herói, mas tem que sê-lo, e ainda com um poder letal que ele não tem controle absoluto.

X-Men Austrália
Os X-Men contra a Ninhada: perda de identidade

A introdução de Genosha, uma ilha-nação onde mutantes eram escravizados, foi um soco no estômago. Era um espelho sombrio da sociedade, refletindo os piores aspectos da opressão e do preconceito.

Essa fictícia ilha-nação na costa africana no Universo Marvel, ao nordeste de Madagascar, seria palco de diversos acontecimentos importantes em várias fases posteriores. Apartheid, mutóides, magistrados, E de Extinção, Necrosha, Dizimação, Era de Krakoa, X-Men ´97. Essa é a força que um conceito político como país pode representar nas mãos certas.

É um ponto de inflexão nas histórias dos X-Men, ao mostrar o que de fato aconteceria com uma sociedade humana lidando politicamente com os mutantes para manter o status quo.

A metáfora na época era óbvia: o apartheid na África do Sul, que no final dos anos 1980 era ainda muito presente. O regime estava sob uma pressão interna e internacional sem precedentes, e a sociedade sul-africana estava profundamente dividida. Embora o governo tentasse manter o controle através de medidas repressivas, havia sinais emergentes de que mudanças significativas poderiam estar no horizonte, impulsionadas pela resistência incansável dos movimentos anti-apartheid e pela crescente condenação global do sistema de segregação racial.

Genosha nunca mais seria a mesma depois dos X-Men: a ilha seria combatida; invadida; ocupada; dizimada; ocupada de novo…e nela fica claro que os X-Men não estão mais lutando para evitar que um mundo de subjugação de mutantes aconteça. Ele já existe, no presente, no núcleo de uma sociedade próspera e tecnologicamente avançada.

Os heróis agora têm que lutar para conter esse mundo, para impedir que ele se espalhe para outros lugares. O futuro não é mais apenas um espectro sombrio assombrando os X-Men como Dias de um Futuro Esquecido. Em Genosha, ele tomou forma e ameaça concreta.

Os X-Men enfrentaram horrores nesse campo de concentração moderno, enquanto lutavam para libertar seus irmãos e irmãs mutantes. A luta por liberdade trouxe à tona a crueldade humana em sua forma mais pura, e traçava um futuro sombrio para a raça mutante.

Psylocke sonda a mente de um genoshano em Uncanny X-Men #236 e…

Em tramas futuras, é lá que mais de 16 milhões de mutantes foram mortos por Sentinelas Selvagens no run de Grant Morrison (New X-Men #114–116, de 2001). Foi lá que a Feiticeira Escarlate, no final da saga Dinastia M (2005), realizou o “feitiço” “No more mutants“, causando a Dizimação, deixando apenas 198 mutantes no mundo.

E Genosha ainda está no radar dos criadores, com esses dois eventos repercutindo nos momentos finais da Era de Krakoa, e a ilha aparecendo recentemente na animação X-Men ´97, continuação da série animada dos anos 90.

Essas edições da estreia de Genosha também mostram muito claramente como os X-Men Austrália são “fantasmas”: os genoshanos não conseguem gravá-los em vídeo e fotos, e mesmo exames de sangue são quase indetectáveis.

A megassaga Inferno foi o ápice do caos e da destruição. O encontro com o X-Factor, antigo núcleo dos X-Men, foi um evento aguardado com anseio pelos leitores, com direito até de chamada de capa. Era um reencontro de amigos e aliados em um cenário apocalíptico, onde demônios e antigos inimigos ressurgiram para causar estragos. A saga consolidou a importância dos laços familiares e da unidade em meio ao pandemônio, elevando a narrativa a um clímax de proporções épicas.

Inferno foi construída lentamente por Claremont, em um plano de 3 atos que fecha uma trilogia: Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes e Inferno. Essa arte promocional é exemplar
X-Men Austrália
Os X-men e o X-Factor
O Inferno na Terra modifica até os heróis

UXM #242 é uma das edições mais emblemáticas dos X-Men Austrália Era Outback. O esperado encontro dos atuais X-Men com os antigos x-men, o atual X-Factor — aliás, desde X-Men #66 (1970) que Ciclope, Jean Grey, Fera, Homem de Gelo e Anjo não apareciam juntos no título, foi épico. Decisões de mercado (mais um x-título, o X-Factor), diferenças criativas (editores e roteiristas preciosistas) e rumos editoriais (propostas diferentes de abordagens) impediram o encontro dos X-Men das fases Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes e até este ponto da Era Outback (o que não faz sentido, já que todos são amigos e/ou conhecidos).

Mas quando aconteceu, foi impactante. Claremont fez um dos melhores embates entre mutantes da x-mitologia, usando a saga em si como pano de fundo para algo maior: as relações das duas equipes.

Os X-Men, considerados criminosos e mortos.
O X-Factor, considerados caçadores de mutantes.

Nem um nem outro sabia ao certo o que era mentira e verdade, mesmo com laços familiares tão fortes entre eles. Os X-Men achavam que o X-Factor eram traidores do sonho de Xavier, e o X-Factor achava que os X-Men eram simulacros demoníacos simulando vida. Mas a ameaça apocalíptica e demoníaca de ter um inferno na Terra a partir de Nova York une os heróis, que conseguem vencer um dos vilões arquitetos dessa saga, o demônio N’astirh, em um estratagema que exigiu a participação de quase todo mundo.

Não-ironicamente, os efeitos perversos de deformação diabólicas de coisas, objetos, construções e até pessoas ainda ficou por toda a cidade. Ciclope imediatamente identifica que eles devem fazer mais, ao que Tempestade argumenta laconicamente que eles fizeram o que tinham que fazer. Ele replica perguntando quem a tornou juíza, júri e executora. A resposta está na imagem abaixo.

Tempestade. A maior dos X-Men: ontem, hoje e sempre

Contudo, os X-Men não escaparam ilesos de Inferno. Tal qual uma maldição, os X-Men, depois que retornam de NY para a Austrália, começam a morrer e desaparecer um por um. Eles enfrentaram a fusão dos robês assassinos de mutantes Molde Mestre e Nimrod (Vampira some aqui) em Uncanny X-men #246-247, Babá e o Fabricante de Órfãos (Longshot deixa o grupo e Tempestade morre aqui) em Uncanny X-Men #248 (primeira edição com arte de Jim Lee), lutaram contra Zaladane e os Metamorfos na Terra Selvagem, em Uncanny X-Men #251-250, até que finalmente o resto do grupo — Psylocke, Cristal, Colossus e Destrutor) morre/desaparece de vez em Uncanny X-Men #251, quando usam o Portal do Destino para escapar da morte certa contra os Carniceiros.

Aqui vemos como o mood “invisível” dos X-Men opera: o Molde Mestre consegue “vê-los”, mas com dificuldade, o que parece ser um indício que a invisibilidade dos X-Men não é mais 100%)

O desmantelamento da equipe foi um processo doloroso e inexorável. Mortes, desaparecimentos e sacrifícios marcaram o fim de uma era. Era como assistir a uma peça trágica onde cada ato levava inexoravelmente ao fim inevitável. A equipe, outrora unida e poderosa, foi despedaçada peça por peça, deixando um legado de coragem e resistência em um mundo que os esqueceu. E não é sem surpresas ou significado que a última história da Fase Austrália dos X-Men tenha como capa a Uncanny X-Men #251: um mutante crucificado em uma cruz em formato de X, que também pode ser lida como uma estrela de 4 pontas.

X-Men Austrália
O fim dos X-Men Austrália é marcado pela morte dos integrantes em um X macabro protagonizado por Wolverine

Desenhada por Marc Silvestri e Dan Green, a capa dessa edição é uma das mais emblemáticas e clássicas de toda a mitologia dos X-Men.

E a história é uma maravilha não-linear, que vai e volta, em memórias e delírios de Wolverine, que abre as páginas já todo ferrado. Ele foi capturado por Donald Pierce, o antigo Rei Branco do Clube do Inferno, que lidera agora um novo grupo de Carniceiros: Racha-Crânio, Esmaga-Ossos e Lindinho, sobreviventes do UXM #229; Lady Letal, a samurai ciborgue arqui-inimigo do baixinho (como visto em UXM #205); e Cole, Macon e Reese, antigos soldados do Clube do Inferno, sobreviventes da matança que Wolverine promoveu no clube em UXM #113.

Logan é torturado das formas mais horríveis, crucificado em uma cruz em X, e entende como os X-Men morreram e desapareceram em visões de delírios perto da morte — ele só escapa com vida graças a Jubileu (inserida nesta fase Austrália em UXM #244).

Os X-Men Austrália passam pelo Portal do Destino. E é o fim da Era Outback

E a revista dos X-Men ficaria sem a equipe-título por muito tempo (algo que só tinha acontecido em X-Men #46, de 1968, do escritor Gary Friedrich e os artistas Werner Roth e Don Heck, quando o agente do FBI Fred Duncan pede que os X-Men debandem após a morte do Professor Charles Xavier).

É o fim dos X-Men Austrália.

Os X-Men da Fase Austrália navegavam física e mentalmente por um território moralmente ambíguo, lutando contra ameaças que muitas vezes eram reflexões de seus próprios medos e inseguranças. O outback australiano, com sua vastidão desolada e seu terreno inóspito, serviu como o cenário perfeito para esses fantasmas modernos: morte e pilhagem pelos Carniceiros; perda de identidade e morte pela Ninhada; perda de liberdade de morte em Genosha; e uma condenação em vida ao inferno em Inferno.

A narrativa de Claremont nessa fase explorou as profundezas de suas almas, revelando fraquezas e forjando fortalezas. Eles não eram apenas heróis em capas, mas indivíduos complexos lutando por propósito e redenção em um mundo que os abandonara. Era um jogo de xadrez em um tabuleiro desértico, onde cada movimento podia significar vida ou morte. Essa abordagem sombria e introspectiva elevou os X-Men, tornando-os mais do que simples combatentes do crime – eles eram sobreviventes de uma guerra invisível.

O símbolo de uma era

X-Men Austrália

A estrela como símbolo dos X-Men foi concebida por Claremont, Silvestri e Green nos instantes finais da saga Queda de Mutantes (Uncanny X-Men #227). Reparem a forma que o feitiço final de Forge toma: uma estrela de pura energia e poder, com oito pontas.

Algumas edições depois, quem de fato tem a ideia de criar um símbolo para os heróis é Madelyne Pryor, em Uncanny X-Men #232. Apesar de ser humana (ainda estava para ser revelado que ela era um clone de Jean Grey, a mutante telepática do X-Factor), ela ajudava os X-Men, principalmente na operação do maquinário dos Carniceiros, uma rede muito avançada de computadores, sensores e outros equipamentos eletrônicos (que inclusive eram os únicos que detectavam os X-Men).

Pensando nas estrelas que Cristal e Longshot usam em seus uniformes de combate (que inclusive algumas vezes tem oito pontas), em como ele pode representar a lei (velho oeste americano e forças policiais), e em uma assinatura visual para deixar nos locais onde os X-Men passariam (como o Z do Zorro), Maddie desenha o símbolo em uma folha de rascunhos. E ele é praticamente um apuro visual da mesma estrela do feitiço de Forge.

Vemos esse esboço já deixado como marca em Uncanny X-Men #235 (1988), na trama em Genosha, na arte de Rick Leonardi e P. Craig Russel, em um desenho simples e seco.

Os X-Men deixam a x-estrela como seu símbolo pela primeira vez aqui

O símbolo aparece depois em Uncanny X-Men Annual #12 (1988), escrita por Claremont, com desenho de Arthur Adams e arte-final de Bob Wiacek. Ela é parte de uma saga da Marvel na época, a Guerra do Alto Evolucionário, com uma aventura dos heróis na Terra Selvagem, onde eles enfrentam o cientista fanático e Zaladane, sua assistente (depois dos eventos de Genosha). Em um conflito que reúne os diversos amigos e aliados dos X-Men no local, as tribos que habitam a Terra Selvagem acabam unificadas, e o símbolo da x-estrela é erguido como representação dessa importância. Essa história se passa depois de Genosha e antes de Inferno.

A x-estrela retorna a aparecer em Uncanny X-Men #249, na primeira página da edição, já com Tempestade, Longshot e Vampira mortos (tudo bem, o sortudo de 4 dedos apenas desapareceu). Destrutor aparece riscando os rostos dos três integrantes em uma mesa de reunições, que tem a x-estrela pintada, provavelmente desde sua criação lá em UXM #232. Cada um dos 8 x-men era uma representação das 8 pontas, em uma rima visual bem legal, e que aparece apenas aqui.

Como UXM #249-250 marca a última aventura dos X-Men Austrália, e UXM #251 explora como que os 4 últimos x-men sobreviventes escapam da morte certa dos Carniceiros, não vemos mais o símbolo. Mas ele ainda tem uma última aparição em Uncanny X-Men #269 (1990). Com os X-Men mortos e desaparecidos, na fase informalmente chamada “A Busca pelos X-Men“, Vampira é mostrada revivida após os eventos de UXM #247, em uma aventura hipercorrida — ela reaparece intacta sem efeitos do reboot de vida (até hoje nunca explicado) em seu antigo quarto na Austrália; é atacada pelos Carniceiros (que retomaram o local em UXM #251); também é atacada por uma Miss Marvel (a psiquê de Carol Danvers foi retirada da mente de Vampira aparentemente graças aos efeitos do Portal do Destino, que lhe deu um corpo…zumbi); e consegue fugir graças aos poderes de Teleporter para a Terra Selvagem. Lá, ela encontra o mesmo símbolo que vimos na aventura de Uncanny X-Men Annual #12, só que destruído (graças a novos conflitos locais promovidos por Zaladane).

A última vez que o x-símbolo foi visto: Uncanny X-Men #269 (já na fase “Busca pelos X-Men”)

A criação e adoção de um símbolo visual é um elemento vital na união de pessoas em equipes. Ele consolida objetivos comuns, facilita a comunhão de ideias e influencia positivamente as ações do grupo. Essa abordagem madura e introspectiva ajudou a elevar os X-Men acima de muitos de seus contemporâneos, solidificando seu lugar como uma das equipes mais emblemáticas e influentes dos quadrinhos.

X-símbolo, X-estrela

Uma estrela enquanto representação frequentemente simboliza harmonia, equilíbrio e ordem, refletindo a ideia de um cosmos organizado e um universo regido por leis naturais e divinas. A introdução do x-símbolo refletiu uma nova era e dinâmica para a equipe, diferenciando-os visualmente e tematicamente das outras fases anteriores dos X-Men. A força de um símbolo visual para representar a união de pessoas em equipes não pode ser subestimada. Símbolos têm o poder de transcender palavras, comunicando valores, objetivos e identidades de forma imediata e impactante. Em uma equipe, um símbolo bem projetado pode fortalecer a coesão, reforçar a identidade coletiva e inspirar membros a trabalhar juntos em prol de objetivos comuns.

Os símbolos visuais desempenham um papel crucial na consolidação de objetivos comuns. Quando uma equipe adota um símbolo, este se torna um ponto de referência que encapsula a missão e a visão do grupo. Ele serve como um lembrete constante dos propósitos compartilhados e das metas a serem alcançadas, mantendo todos os membros alinhados e motivados. E na tapeçaria narrativa do Universo Marvel, a luta dos mutantes em serem reconhecidos — que reflete diretamente a luta contra preconceitos de estrangeiros, negros e gays na vida real, um mood com o qual ficou conhecido a franquia nas mãos de Claremont –, isso se traduz de modo notável.

A comunhão de ideias é facilitada quando há um símbolo visual representando a equipe. Este símbolo age como um catalisador, promovendo a troca de ideias e a colaboração entre os membros. Ele cria um senso de pertencimento e identidade coletiva, que é essencial para a sinergia dentro do grupo.

O design do símbolo também influencia significativamente as ações de um grupo. Bem elaborado, ele pode inspirar confiança, determinação e unidade entre os membros. Ele não só comunica a identidade da equipe para o mundo exterior, mas também reforça internamente os valores e o ethos do grupo. A estética do símbolo pode evocar emoções e atitudes que impulsionam a equipe a agir de acordo com seus princípios e metas. É por isso que uma estrela representa isso de maneira tão bem.

A Fase Austrália dos X-Men foi marcada por uma mudança significativa na dinâmica e na identidade da equipe, e o novo símbolo desempenhou um papel crucial na representação desta transformação. Ele era distinto e imediatamente reconhecível, diferenciando os X-Men de outras equipes de super-heróis. A adoção do símbolo da estrela de oito pontas também refletiu a transformação interna dos X-Men durante a Fase Austrália. A x-estrela encapsulou a resiliência e a adaptabilidade da equipe, além de reforçar a solidariedade entre seus membros.

Uma estrela de 8 pontas é um símbolo rico em história e significado, aparecendo em diversas culturas e contextos ao longo da humanidade. Desde sua origem na Mesopotâmia até seu uso na cultura pop contemporânea, ela continua a ser um emblema de orientação, harmonia, regeneração e misticismo. Seu impacto duradouro reflete sua capacidade de ressoar profundamente com as crenças e valores das pessoas ao longo do tempo.

Alguns registros históricos posicionam a estrela de 8 pontas na antiga Mesopotâmia, onde era usada pelos sumérios e assírios. Na iconografia suméria, ela representava a deusa Inanna (ou Ishtar), a deusa do amor, beleza, sexo, fertilidade e guerra. Sua representação frequentemente também combinava a estrela com símbolos celestiais, sublinhando a importância da deusa na astronomia e na astrologia antigas.

Inanna e a estrela de 8 pontas

No cristianismo, a estrela de oito pontas pode simbolizar a regeneração e o batismo. O número oito é significativo, pois representa o “oitavo dia” da criação, ou o começo de um novo ciclo e um novo começo em muitas tradições cristãs. Já na arte islâmica, a estrela de oito pontas aparece frequentemente em padrões geométricos. Ela pode representar a expansão do universo e a infinitude de Deus. Embora não tenha um significado religioso específico no Islã, sua presença em arte e arquitetura é proeminente: mosaicos e padrões geométricos em muitas mesquitas e palácios islâmicos frequentemente apresentam estrelas de oito pontas, destacando a importância da geometria e da beleza na cultura islâmica.

Por fim, em diversas culturas no âmbito social, estrelas, incluindo a de oito pontas, foram usadas como símbolos de orientação. A estrela, com suas muitas pontas, pode representar as direções cardeais e intercardeais, simbolizando uma orientação abrangente e um guia seguro.

(((+ SOBRE A FASE AUSTRÁLIA DOS X-MEN)))

X-Men Austrália

Conheça mais sobre a Cristal, nascida de um projeto multimídia de filme, disco e HQ da gravadora Casablanca Records e Marvel Comics, baseada em figuras como Grace Jones, Cher, Donna Summer, Bo Derek, mas que acabou por se tornar a cantora raio laser dos X-Men.

CRISTAL | Como a Marvel e Casablanca Records criaram a cantora dos X-Men

Outro personagem dos X-Men Austrália que conta com diversas matérias no blog Destrutor é o próprio Destrutor. Criado na Era de Prata dos quadrinhos em 1966, por Arnold Drake, Roy Thomas, Don Heck e Neal Adams, há textos sobre a vida de obra dos autores, além de 2 especiais sobre a trajetória do Destrutor nos quadrinhos: na continuidade regular do Universo Marvel e seus versões alternativas.

DESTRUTOR | A vida e obra de Arnold Drake

DESTRUTOR | A Vida e Obra de Don Heck

DESTRUTOR | A vida e obra de Neal Adams

DESTRUTOR | O poder do plasma nos X-Men

DESTRUTOR | As versões alternativas de Alex Summers

Conheça também a minissérie Wolverine e Destrutor: Fusão (1988), onde os dois heróis estrelam um thriller de espionagem e ação, que vai da Austrália até o México e a União Soviética. A aventura foi publicada no selo Epic Comics, da Marvel, que precede em anos o conceito da Vertigo, da DC Comics. Fusão acontece depois de UXM #245, sendo que Wolverine segue em aventura solo no título próprio (run de Archie Goodwin e John Byrne em Wolverine #17-23, e quando ele retorna, é para logo cair nas mãos dos Carniceiros em UXM #251).

WOLVERINE & DESTRUTOR: FUSÃO | O selo Epic Comics da Marvel

E claro, por último e não menos importante, matérias extensas com os criadores da fase Austrália dos X-Men: o roteirista Chris Claremont, os artistas Marc Silvestri e Dan Green e a editora Ann Nocenti.

/ ANN NOCENTI. Annie Nocenti foi a editora da melhor fase dos X-Men (para o blog). É graças a ela que Chris Claremont conseguia solidez nas narrativas e ganchos que fazia na x-tapeçaria narrativa, é graças a ela que John Romita Jr., grande talento na época, começou nos X-Men, é graças a ela que Marc Silvestri seria seu substituto, e todos com Dan Green, finalizando os desenhos.

Ela trabalhou nos títulos New Mutants (#17–66, Annual #1–4, Special Edition #1, 1984–1988), a revista dos Novos Mutantes, além da própria The Uncanny X-Men (#183–232, Annual #8–11, 1984–1988). UXM #232 é sua última edição foi dividindo os trabalhos com Bob Harras, seu sucessor. Entre alguns pontos importantes nesta edição, Madelyne Pryor descobre que seu ex-marido, Scott Summers, o Ciclope, está com Jean Grey, e Betsy Braddock, a Psylocke, muda seu uniforme para uma armadura (Wolverine providenciou).

Ann também foi escritora de uma das melhores fases do Demolidor: sua primeira edição foi Daredevil #236 (1986), desenhada por Barry Windsor-Smith, seguida de Daredevil #238–291 (1987-1991), com o brilho da arte de Romita nas edições #250 até o #282 (1988-1990), a maioria delas pela arte-final de Al Williamson, um dos maiores artistas americanos de todos os tempos.

Ann Nocenti

Ann assumiu o Demolidor logo depois de um run do Frank Miller, outro gigante da indústria. E seu trabalho foi tão bom que ela teve uma indicação ao Eisner Award, o “Oscar” das HQs americanas, de Melhor Escritora em 1989 — perdeu para Alan Moore (o que equivale a dizer que perdeu um jogo de bola para o Pelé).

Nocenti também co-criou personagens que até hoje são usados na Marvel, como Longshot (com Arthur Addams em Longshot #1, 1985), sua inimiga Espiral (mesma edição), o megavilão Mojo (na terceira edição); um dos vários amores bandidos do Demolidor, Mary Typhoid (com Romita em Daredevil #254); e o filho do demônio Mefisto, Coração Negro (também com Romita, em Daredevil #270).

O trabalho que Ann fez nos X-Men promoveu os eventos que desencadeiam o Massacre de Mutantes, Queda de Mutantes e o começo da Era Outback, e é seguro supor que Bob Harras continuou uma programação estabelecida por ela, ao menos até a saga Inferno.

Afinal, logo depois, a fase de desmantelação dos heróis na Era Outback começa a acontecer, uma imposição da Marvel para cima de Chris Claremont, e a seguinte, informalmente chamada “A Busca pelos X-Men”, sofreu mais ainda.

Bob Harras, quando trouxe o artista Jim Lee para substituir Marc Silvestri, enterrou de vez a maioria dos planos de Claremont para os X-Men nessa “busca”. A arte de alto impacto visual que Lee fazia era sucesso absoluto de vendas. E a arte ficou acima dos roteiros. Como seria com Ann Nocenti ainda no comando?

Dan Green, Ann Nocenti e John Romita Jr. (o desenhista anterior a Marc Silvestri)

ANN NOCENTI | Uma jornalista no editorial da Marvel Comics

DAN GREEN | O incrível poder da arte-final na Marvel

Ann Nocenti, Chris Claremont e Louise Simonson (editora anterior a Ann)

CHRIS CLAREMONT | O arquiteto da fabulosa mitologia dos X-Men

Marc Silvestri

MARC SILVESTRI | A cinética e dinâmica na narrativa visual

/ JIM LEE. Quando Bob Harras trouxe o desenhista Jim Lee para Uncanny X-Men #248, tudo na indústria de quadrinhos de super-heróis começou a mudar. Seria a única vez que o artista sul-coreano desenharia os X-Men Austrália, mas a primeira de muitas de uma equipe que ele tomaria para si.

Lee, com arte-final do artista regular Dan Green, desenha o retorno dos Carniceiros reformulados e Donald Pierce, a partida de Longshot da equipe e da morte de Tempestade, líder dos X-Men, que em pouco tempo colapsaria.

X-Men Austrália

Colapso esse desejado pela Marvel Comics, que queria o fim da Era Outback, mas que conduzido por Chris Claremont, o levou a seus próprios planos de certa maneira. Ele queria os X-Men mortos e desaparecidos — na verdade vivos e espalhados em diversas partes do mundo — e Wolverine e Jubileu em uma busca por eles, para realizar uma reformulação completa da equipe.

Os X-Men Austrália, arte de Jim Lee, única vez que o artista desenhou essa formação

Claremont queria também guerras mutantes entre as diversas facções existentes, conceito que tinha deixado em várias edições passadas (UXM #219, pós-Massacre de Mutantes, foi a primeira). Ele iria amarrar essas guerras com muitas outras aventuras e desafios na chamada Saga do Rei das Sombras, e em outros eventos que iriam culminar finalmente em Uncanny X-Men #300, em 1993, na comemoração de 30 anos de criação dos X-Men.

Não deu. A arte de Jim Lee, sob edição de Bob Harras, estava acima da história que Chris Claremont queria contar. Ele saiu em Uncanny X-Men #279 (1990), no meio da Saga da Ilha Muir (que era pra ser Rei das Sombras), sem ao menos concluí-la. Jim Lee, com sua poderosa arte chamativa e cinética, de design estiloso, uma depuração perfeita de Jack Kirby no estilo anos 90, teve mais poder sobre o título, e suas ideias de história e roteiro para o que pensava sobre os X-Men sobrepujaram criativamente o que Claremont pensava. E Harras estava do lado do artista.

Jim desenhou Uncanny X-Men #256-258 (1990), quando Psylocke retorna do Portal do Destino e se transforma em uma ninja chinesa. Retorna para UXM #267 (1990) e segue até o #277 (1991), quando sua força era tão gigante que a Marvel deum um título só pra ele: X-Men.

Arte promocional para X-Men #1
A revista venderia (os números são discutíveis) 8 milhões de exemplares, que nunca mais superado no mercado de quadrinhos
Os X-Men seriam divididos em 2 equipes: Time Azul e Time Dourado
Jim Lee se tornaria a cara dos X-Men. Essa arte para uma edição especial é o ápice disso

Lee fez 11 edições, até sair para formar uma editora junto com outros artistas da Marvel, a Image Comics — e de novo, nada mais seria como antes no mercado americano de quadrinhos de super-heróis, potencializando todos os vícios e virtudes da arte acima do roteiro de maneira atômica. Se isso foi muito bom para os x-personagens, que conseguiram a merecida fama em revistas que foram sucesso de vendas avassaladores, foi também uma perda criativa enorme, pois ficamos sem saber o que Chris Claremont, o pai dos mutantes por 16 anos, pensava para o futuro dos X-Men.

O que acontece imediatamente depois da morte e desaparecimento dos X-Men Austrália está nesta matéria sobre a fase A Busca pelos X-Men.

UNCANNY X-MEN 253 | A busca pelos X-Men

Marvel Age #85 (1990)

/ NIMROD. Em The Uncanny X-Men #246-247 (1989), temos os X-Men lutando contra o Molde Mestre, um Sentinela que é capaz de fazer outros Sentinelas (máquinas gigantes assassinas de mutantes), destruído anos atrás (X-Men #16, de 1965), e que se funde nesta edição com um ultrasentinela do futuro, Nimrod (surgido em Uncanny X-Men #191 (1985). Na luta, Vampira é sugada para dentro do Portal do Destino na tentativa de derrotar o robô, que também é sugado.

Há uma incongruência aqui, com Nimrod, o ápíce da tecnologia Sentinela, vindo do futuro, e que estranhamente estava fora do mood caça-mata mutantes, mostrado disfarçado como um homem comum (!) trabalhando (!!) de pedreiro (!!!) de dia, e como combatente do crime (!?) à noite. Ele é muito mais avançado que o Molde Mestre, e este já vinha de várias destruições parciais anteriores — em Uncanny X-Men #96 (1975), pelos X-Men; em Incredible Hulk Annual #7 (1978), pelo Hulk, Anjo e Homem de Gelo; em X-Factor #13-14 (1987), por Ciclope; e em Power Pack #36 (1987), pelo Quarteto Futuro.

É o que sobrou de um robô datado dos anos 1960 que suplantou Nimrod, a mais avançada máquina, nascida no futuro distópico de Dias de um Futuro Esquecido? Vemos também nesta aventura o Senador Robert Kelly dando carta branca para o Projeto Nimrod, uma iniciativa de construção de Sentinelas, em outro loop temporal involuntário na sempre complicada cronologia dos X-Men: é aqui o começo do que viria a ser o Nimrod que acabamos de ver?

Esse Projeto Nimrod não foi abordado por nenhum roteirista depois de Chris Claremont. Mas de alguma maneira, Nimrod, antes dos eventos de UXM #247, deixou um download de sua consciência nos sistemas digitais do governo americano. Em X-Force #35 (1994), escrita por Fabian Nicieza com arte de Tony Daniel, ele retorna e monta um novo corpo, mas ele mesmo se desativa, quando percebe que sua presença iria causar o fim do mundo no conflito que geraria com os mutantes.

Em New X-Men 27-31 (2006), escrita por Craig Kyle e Chris Yost, arte de Paco Medina, temos o retorno de Nimrod, em uma interessante explicação de sua origem, que acaba em um círculo temporal, finalizando/começando tudo em UXM #191.

Importante dizer que o “nosso” Nimrod já nasceu: o escritor Jonathan Hickman e o desenhista Francesco Mobili mostraram o Nimrod do Universo Marvel 616 em X-Men #20 (2020), que é na verdade a consciência humana de Erasmus Mendel, um dos cientistas-chefes da Orchis, a grande organização assassina de mutantes que ameaça toda a mutantade na Era de Krakoa — que foi montada por Charles Xavier e Magneto especificamente para impedir o aparecimento de Nimrod na atualidade e causar o apocalipse mutante.

Por fim, Molde Mestre/Nimrod renasceu como Bastion depois do Portal do Destino, em X-Men #52 (1996), escrita por Mark Waid, com desenhos de Andy Kubert, e que se tornou personagem de destaque na animação recente X-Men ´97.

/ OUTBACK. O outback australiano refere-se às vastas regiões remotas e áridas que cobrem grande parte do interior do continente australiano. Caracterizado por paisagens desérticas, savanas, planícies e montanhas isoladas, é conhecido por sua extrema aridez, temperaturas escaldantes e vegetação esparsa. Este território inóspito é habitado por uma fauna única, incluindo cangurus, dingos, e uma variedade de répteis e aves adaptadas às condições extremas. A vastidão do outback também abriga comunidades aborígenes (os povos originários da Austrália) que possuem uma conexão profunda e ancestral com a terra, preservando tradições e conhecimentos culturais que datam de milhares de anos.

Apesar de sua aparente desolação, o Outback desempenha um papel crucial na identidade cultural e histórica da Austrália. É frequentemente visto como um símbolo de resistência e independência, representando o espírito aventureiro e a capacidade de sobrevivência em ambientes adversos. Além disso, é uma região rica em recursos naturais, como minerais e metais preciosos, que são fundamentais para a economia australiana.

/ O FIM DO X-MEN AUSTRÁLIA. Em uma matéria do Popverse de setembro de 2023, temos a chance do próprio Chris Claremont explicar o fim da “Era Outback” dos X-Men. Quando perguntado por que ele enviou os X-Men para a Austrália, ele respondeu: “porque é muito legal.” O roteirista estava em um evento chamado Uncanny Experience X-Men, em Minneapolis. Após uma rodada de aplausos e vivas da multidão, ele acrescentou que queria que os X-Men fossem “tão longe de qualquer lugar quanto fosse humanamente possível e ainda permanecessem no planeta” e também, com um encolher de ombros, “eu tinha família lá.” Claremont continuou a falar com carinho daquela era, dizendo: “Eu gostaria que pudéssemos ter ficado mais 10 anos lá. A Marvel continuava dizendo: ‘você tem que trazê-los de volta.'”

A pressão da editora se dava principalemente por conta do editor Bob Harras e da intensidade e popularidade do novo artista do título, Jim Lee (Marc Silvestri foi para Wolverine), que com seus desenhos de alto impacto visual, acabou sobrepujando o que o roteirista queria fazer.

Detalhamos isso na matéria sobre The Mutant Wars, que seria a próxima grande saga de Claremont nos X-Men depois de Inferno — e que acabou por se tornar Programa de Extermínio.

MUTANT WARS | As sobras de uma guerra que nunca aconteceu

Capa criada por David Yardin para a Era Outback dos X-Men
Arte de Olivier Coipel para os X-Men Austrália na Era Outback

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