TELEPORTER | O misterioso mutante aborígene da Marvel

Teleporter (Gateway no original) é um personagem de histórias em quadrinhos da editora Marvel Comics, que apareceu pela primeira vez em Uncanny X-Men #229 (1988), criado pelo roteirista Chris Claremont e os artistas Marc Silvestri e Dan Green. Ele era uma das peças-chave da fase Era Outback dos heróis mutantes X-Men, quando eles estavam dados como mortos no Universo Marvel e residiam como fantasmas vivos em uma cidade abandonada no outback (deserto) australiano.

O personagem é um aborígene com a habilidade de criar portais de teletransporte por meio de uma boleadeira chamada churinga, conhecida na Austrália como tjuringa (bullroarer na linguagem comum em inglês), um instrumento cerimonial. Teleporter invoca os portais girando o objeto, e eles podem levar a qualquer lugar no tempo e espaço. Seus poderes são mutantes, por vezes considerados místicos, e ele parece ter uma compreensão intuitiva das intenções de seus “passageiros”, já que sempre sabe para onde mandá-los, mesmo que não ocorra conversa alguma entre eles.

Teleporter
Um card de Teleporter, para a saga Massacre (1996)

Ele passa muito do seu tempo em um estado meditativo, quase em transe. E raramente fala. Os portais podem ser usados tanto para observação quanto para transporte, e os limites exatos de quanta massa pode ser transportada ainda não foram revelados. Com poucas abordagens e aparições depois do fim da Era Outback com os X-Men na Austrália, Teleporter é um dos grandes segredos ainda por serem revelados na mitologia mutante. E mais do que isso, sua representação ajuda a explicar aspectos e culturas pouco conhecidas no Ocidente.

Os aborígenes são os povos indígenas da Austrália, com uma história e cultura que remontam a mais de 50.000 anos, o que os torna uma das civilizações mais antigas do mundo. Eles possuem uma rica tradição oral, arte, música e dança, e são conhecidos por sua conexão profunda com a terra e a natureza. Existem centenas de grupos aborígenes distintos, cada um com suas próprias línguas, culturas e práticas espirituais. A relação dos aborígenes com a terra australiana é central em sua cultura. Eles acreditam que são guardiões da terra e que têm uma responsabilidade sagrada de cuidar dela.

Teleporter
Teleporter no topo de sua colina, acima da cidade fantasma que os X-Men tomam como base na Era Outback

O “Dreamtime” ou “Tempo do Sonho” é um conceito espiritual importante que descreve a criação do mundo e os seres ancestrais que moldaram a terra e criaram todas as formas de vida (conceitos usados por Claremont para o personagem).

Historicamente, os aborígenes sofreram com a “colonização”/invasão europeia — a Primeira Frota britânica chegou a Botany Bay em janeiro de 1788 para estabelecer uma colônia penal, a primeira colônia no continente australiano. Junto, trouxeram doenças, deslocamento forçado e perda de terras e direitos dos nativos. Hoje, muitas comunidades aborígenes ainda enfrentam desafios significativos, incluindo discriminação, pobreza e problemas de saúde. No entanto, há um crescente movimento de revitalização cultural e reconhecimento de direitos.

O outback australiano refere-se às regiões remotas e áridas do interior da Austrália. É uma área vasta e pouco povoada, conhecida por suas paisagens impressionantes, que incluem desertos, planícies, montanhas e formações rochosas icônicas como Uluru (chamado de Ayers Rock pelos invasores ingleses) e Kata Tjuta, lugares considerados sagrados pelos aborígenes.

O Uluru é um extraordinário monólito vermelho no coração da Austrália — o segundo maior do mundo, depois de Monte Augustus, na própria Austrália. Tem mais de 318 metros de altura e 8 km de circunferência, e se estende em 2,5 km de profundidade no solo. É feito de arenito impregnado de minerais como feldspato (arenito de arcósio) o que causa a emissão de um brilho vermelho ao amanhecer e ao pôr-do-sol.

Uluru

Kata Tjuta, também conhecido como Monte Olga, é um grupo de formações rochosas compostas por domos localizadas a cerca de 365 quilômetros a sudoeste de Alice Springs, na parte sul do Território do Norte, no centro da Austrália. Junto com o Uluru, 25 km ao leste, o Kata Tjuta formam dois marcos importantes dentro do Parque Nacional Uluru-Kata Tjuta.

Kata Tjuta

O clima do outback pode ser extremamente rigoroso, com temperaturas que variam de extremamente quente durante o dia a muito frio à noite. A vegetação é esparsa, composta principalmente por arbustos e árvores adaptadas às condições secas. Apesar de suas condições inóspitas, o outback é habitado por uma variedade de vida selvagem, incluindo cangurus, dingos, emus e uma grande diversidade de aves. A cultura ali muitas vezes é associada à resiliência e à independência, com uma forte tradição de vida rural e autossuficiência. É também um destino popular para aventureiros e turistas que buscam explorar a beleza natural e a solidão dessas áreas remotas.

Os diversos fios narrativos e pontas soltas em volta de Teleporter sugerem que Chris Claremont tinha grandes planos para o personagem, que carece de análises e pesquisas mais aprofundadas a respeito do que representaria para o x-lore, mesmo que o escritor se recuse a dizer quais eram esses planos. Tudo indica que ele seria uma espécie de novo mentor para os X-Men no lugar do Professor Charles Xavier.

Os X-Men da Era Outback
Teleporter
Chris Claremont coloca na boca de Destrutor o que Teleporter representava para os X-Men na Era Outback

A ligação de Teleporter com a terra destaca temas de espiritualidade e conexão com a natureza. Além disso, sua figura silenciosa e contemplativa contrasta com a ação e a violência que cercam muitas vezes os X-Men, trazendo uma presença calmante e sábia ao grupo. E sua caracterização como um ancião aborígene sábio adicionou uma camada de diversidade e profundidade cultural ao Universo Marvel.

Foi em uma cidade fantasma no meio do outback que os X-Men conheceram Teleporter. E onde os heróis decidiram se estabelecer após os eventos de Queda de Mutantes, quando morreram e foram revividos pela deusa Roma.

Teleporter e os X-Men

Teleporter é uma representação poderosa da cultura aborígene australiana dentro do Universo Marvel. Mas pouco se sabe sobre o passado dele. Homem que com certeza passa dos 60 anos, de poucas palavras, de vida solitária e contemplativa no topo de uma colina, ele é mostrado inicialmente como alguém preso a um grupo de vilões conhecidos como Carniceiros, ciborgues assassinos e ladrões. Ele os ajuda a se locomover por diversas partes do mundo, para saquear e pilhar, sempre sob a ameaça de destruição de sua terra sagrada (e eventual “maldição” sobre seus ancestrais), um plot nunca revelado por completo por Claremont (e não abordado até hoje por outros roteiristas dos X-Men).

Teleporter
A primeira aparição de Teleporter, em Uncanny X-Men #229
Os Carniceiros

Após ser liberto do controle dos Carniceiros em Uncanny X-Men #229 (1988), Teleporter começou a ajudar os X-Men, transportando-os para onde precisassem ir. Na fase da Era Outback, os X-Men eram liderados por Tempestade, e contava com Wolverine, Destrutor, Colossus, Longshot, Vampira, Cristal e Psylocke. Teleporter era o “nono” integrante, sem contar ainda com Madelyne Pryor, a ex-esposa de Scott Summers, o Ciclope, líder do X-Factor e antigo x-man, e agora aliada dos X-Men, e Jubileu, a menina clandestina trazida para a cidade fantasma pelo próprio Teleporter.

Uma vez derrotado os Carniceiros, os X-Men assumiram a sede abandonada dos bandidos na cidade fantasma, e Teleporter começou a oferecer voluntariamente suas habilidades para facilitar as viagens dos heróis, com a telepata Psylocke usando seus poderes para comunicar diretamente a ele para onde eles queriam ir.

Teleporter
Os X-Men ainda se ambientando na cidade fantasma, com Teleporter na observação
Teleporter
Ele e os X-Men começam a se entender graças à Psylocke
Teleporter
Mas é Vampira quem mais se aproxima dele

De muitas maneiras, Teleporter tornou-se um membro não-oficial da equipe durante esse período, mas permaneceu calado, um mistério constante. Ele aparece em praticamente todos os números da revista dos X-Men da Era Outback — mais de 20 edições, contando especiais e anuais.

23 edições (fora especiais) do run dos X-Men na Era Outback, a maior parte deles com Teleporter

X-MEN AUSTRÁLIA | Fantasmas no outback, uma x-estrela como símbolo

Em certo momento, durante uma saída despretensiosa das x-meninas em um shopping em Hollywood, em UXM #244 (Teleporter as levou lá, claro), o velho trouxe a jovem mutante chamada Jubileu para a base dos X-Men depois que ela seguiu as mulheres da equipe até o portal (que ficou misteriosamente aberto mais do que o necessário). Teleporter fez isso deliberadamente, e até saudou a menina, uma das raras vezes que disse alguma coisa. Essa interação foi mostrada em uma das histórias de Uncanny X-Men Annual #13, escrita por Claremont, mas com o pseudônimo de Sally Pashkow. A arte foi de Jim Fern.

Teleporter
Uma das poucas vezes que Teleporter disse alguma coisa

O citado “Dreamtime” pode ser notado em algumas ocasiões na trajetória de Teleporter na Era Outback. É possível supor que o velho aborígene observou a crescente corrupção da aliada dos X-Men, Madelyne Pryor, pelos demônios de Limbo, mas não interveio nem alertou nenhum dos X-Men sobre esse perigo (UXM #233-234).

Teleporter
Uma das edições mais misteriosas dos X-Men da Era Outback, com Madelyne delirando no que parece ser o “Dreamtime”

Ele também fez Longshot acessar esse lugar, como visto em Marvel Comics Presents #16 (1989), escrita por Ann Nocenti (escritora que criou o personagem, e ex-editora dos X-Men, que foram assumidos por Bob Harras, com arte de Larry Dixon e arte-final de Alfredo Alcala –um dos grandes artistas das histórias em quadrinhos).

O rapaz extra dimensional ficou em estado alterado de percepção, e mesmo amnésico, pôde sentir que estava incompleto como pessoa enquanto não tentasse descobrir seu passado. Esse talvez foi um dos motivos que o fez deixar a equipe pouco tempo depois em UXM #248 (na mesma edição, que foi a primeira com desenhos de Jim Lee, Destrutor acabou matando Tempestade sem querer — só que não –, ao tentar deter a vilã Babá).

Longshot na arte de Alfredo Alcala (arte-final em cima de Larry Dixon)
Os X-Men saem para curtir um pouco e deixam Longshot aos cuidados de Teleporter
Tempestade, Longshot e Teleporter na arte de Jim Lee, em seu primeiro trabalho com os X-Men

A manifestação mais intensa do “Dreamtime” talvez seja no encerramento da Era Outback, em UXM 249-251 (1989), quando Teleporter enviou uma visão precognitiva para Psylocke na Terra Selvagem, alertando-a sobre a morte dos X-Men pelas mãos dos Carniceiros quando retornassem para casa. A telepata levou o aviso a sério e, quando Teleporter trouxe os X-Men de volta para a cidade fantasma, Psylocke convenceu Destrutor, Cristal e Colossus a usarem o Portal do Destino para escaparem dos Carniceiros — esse portal era um cristal místico que pode dar um reboot na vida de quem o adentra.

Colossus, Cristal e Destrutor mortos na visão que Psylocke recebe no “Dreamtime”
O fim dos X-Men da Era Outback

Os Carniceiros sobreviventes Esmaga-Ossos, Racha-Crânio e Lindinho tinham retornado sob a liderança de Donald Pierce, antigo Rei Branco do Clube do Inferno, que junto a Lady Letal e os ciborgues Macon, Cole e Reese (antigos soldados do Clube), retomaram a cidade, quase mataram Wolverine (ele só escapou graças a Jubileu) e forçaram Teleporter a servi-los novamente.

Vampira foi a mais próxima de descobrir alguma origem do personagem, tempos depois do fim da Era Outback, em UXM #269 (1990), quando emergiu do Portal do Destino (depois dos eventos de UXM #246-247). Ela surgiu na cidade fantasma novamente, e para escapar dos Carniceiros, correu para a rocha onde Teleporter ficava sentado, mas o aborígene não girou seu bullroarer para ela. Na verdade, ele nem parecia notá-la. Não tendo outra opção, Vampira beijou o velho para absorver seus poderes e, ao fazer isso, ela também teve um vislumbre da imensa quantidade de conhecimento que ele armazenava em sua mente. Ela também soube da estranha ligação dele com os Carniceiros, e prometeu que os X-Men voltariam para resolver essa questão e buscá-lo (o que nunca acabou acontecendo).

Teleporter
Vampira, a x-woman mais próxima de Teleporter, aprende mais sobre ele, mas isso nunca mais foi retomado

Tudo isso foi escrito por Chris Claremont, que deixou a revista dos X-Men em 1991, depois de 16 anos escrevendo as aventuras da equipe. 

O run de Chris Claremont nos X-Men

CHRIS CLAREMONT | O arquiteto da fabulosa mitologia dos X-Men

Wolverine, Geração X e X-Treme X-Men

Teleporter
Teleporter na arte de Chris Bachalo

Teleporter ainda estava sob domínio dos Carniceiros quando Lady Letal pediu para enviá-la para o lugar que Wolverine estava olhando no momento. Nisso, ele a enviou para o passado, já que naquele instante o x-man estava admirando uma foto tirada na Espanha em 1937. Essa aventura é uma das mais emblemáticas do título solo de Wolverine, que com seu velho amigo Pigmeu, da Tropa Alfa, lutam contra nazistas e a vilã, em um roteiro assinado por Larry Hama, com desenhos de Marc Silvestri, em Wolverine #35-36 (1990).

Teleporter
Lady Letal quer encontrar Wolverine a qualquer custo

Mesmo que isso seja dezenas de anos no passado

O mutante teleportador retornou quando os Sentinelas atacaram a base dos Carniceiros. Vários foram mortos, e Pierce estava prestes a ser destruído com os outros, e pediu para que Teleporter o enviasse para o até a pessoa por trás do ataque. O mutante obedeceu, e Pierce encontrou-se no Clube do Inferno em Nova York. Na época, o mutante do futuro Trevor Fitzroy estava participando de um estranho jogo onde ganhava pontos por matar e destruir certos adversários, e os Carniceiros eram um deles. Durante a batalha entre Fitzroy, o Clube do Inferno e os Sentinelas, Pierce foi morto, bem como a equipe dos Satânicos, os alunos de Emma Frost, a Rainha Branca.

Teleporter ajuda Pierce a escapar dos Sentinelas, que por alguma razão estão matando os Carniceiros

As mortes desses jovens teriam um profundo impacto em Teleporter. A história foi publicada em UXM #281 (1990), escrita por John Byrne, Jim Lee e Whilce Portacio, com desenhos do último e arte-final de Art Thibert. Teleporter apareceu como um personagem de importância nos contextos de fluxos temporais em Wolverine #52-53 (1992), com o herói, Jubileu, Espiral, Mojo e Mística em meio a conflitos temporais no fim dos tempos (!), uma história muito louca escrita por Hama com desenhos de Silvestri.

Teleporter
Uma aventura temporal muito louca, com aparições de Teleporter

Teleporter tornou a interagir com Jubileu em Wolverine #72 (1993). A menina acompanhou Wolverine em uma missão de reconhecimento à base destruída dos Carniceiros, e a dupla é pega por um vórtice de teletransporte que os envia para o passado, o que (nos) mostra a Jubileu as verdadeiras razões por trás da morte de seus pais, em uma continuação do envolvimento dela com Teleporter, já que foi ele quem a trouxe para junto dos X-Men.

Scott Lobdell, o roteirista que substituiu Claremont, abordou o personagem não nos X-Men, mas na Geração X, uma nova série da Marvel lançada em 1994, com aventuras de jovens mutantes (Jubileu veio para cá), liderados pelo veterano x-man Banshee e Emma Frost, agora ex-Rainha Branca do Clube do Inferno. O Teleporter marcou presença em Generation X #1-2, 5, 6, 7, 14 e 25, sendo que a maior parte das edições contou com arte de Chris Bachalo, um dos artistas mais criativos dos quadrinhos de super-heróis.

Um dos inimigos recorrentes da série é o vilão Sangria, de alguma forma relacionado a Teleporter, por meio de uma das jovens alunas mutantes dessa Geração X

Teleporter surge do nada no campus da Academia de Massachusetts da Escola para Jovens Superdotados do Professor Charles Xavier, onde os membros da Geração X estudam. É quando ficamos sabendo que ele era mentor de uma das estudantes, a Monet.

Teleporter
Scott Lobdell estabalece que Teleporter foi mentor da jovem Monet

Aqui, Teleporter continuou suas meditações misteriosas, embora quebrando seu longo silêncio em um ponto para proferir uma palavra: “Penance” (“penitência”, em tradução livre).

E que no Brasil foi traduzido como Suplício, o nome adotado por outra das jovens mutantes tuteladas pela escola — se você acha a origem de Cable confusa, é porque não sabe a de Suplício, que mistura Monet, irmãs gêmeas e fusões (!). Aliás, a relação de mentor e pupila jamais foi abordada, e ficou apenas nas menções a respeito.

De qualquer maneira, Teleporter se culpava pelas mortes dos Satânicos, então ele decidiu fazer sua ~~ penitência ~~ na Academia de Massachusetts.

Teleporter
O jovem Câmara tentando conversar com Teleporter
Teleporter
A verdadeira razão para Teleporter estar na Aacademia Massachussets

Em 1995, a Marvel deu um giro de 180 graus nos títulos dos X-Men, com a saga Era do Apocalipse. Quando o mutante David Haller, o Legião, volta no tempo cerca de 20 anos (continuidade/cronologia impossível de determinar) mata o Professor Charles Xavier, seu pai, em uma tentativa de matar Magneto. Com esse erro, o mundo quebra. Sem a presença de Xavier, os X-Men nunca são criados. Isso leva o vilão Apocalipse direto ao domínio da América, e em breve de todo o planeta.

A Era do Apocalipse nos X-Men

Para contar essa história, a editora cancelou todos seus x-títulos regulares e trouxe uma série de substitutos em seu lugar, em um cronograma de 4 edições mensais. Nisso, Wolverine se tornou Weapon X.

Com o mesmo time criativo da antiga revista, Larry Hama e Adam Kubert, entramos em um novo mundo, onde tudo é diferente do tradicional. E Hama escolheu Teleporter como um de seus personagens no line-up.

Aqui o velho aborígene fala e tem uma atitude muito mais malandra e blasé do que jamais sua contraparte regular poderia ser.

Os novos títulos lançados
Entre eles, uma nova revista do Wolverine, chamada Weapon X

Inclusive Teleporter protagoniza uma das cenas mais impactantes dessa saga, quando é salvo por Wolverine da morte certa. Donald Pierce, aqui também um ciborgue que odeia mutantes, estava prestes a matar o aborígene e Carol Danvers, mas Wolverine, que nesse mundo não tem uma das mãos (destruída por Ciclope, que é um dos caras maus), ejeta as garras do toco e mata o vilão antes.

Ele ainda é o responsável direto por levar a armada europeia de ataque contra Apocalipse, que descamba em um holocausto nuclear no clímax dos eventos (rebootado tempos depois, já que a realidade de Era do Apocalipse ainda existe).

Teleporter
Um Teleporter muito diferente do habitual: falastrão e tecnológico
Teleporter
E nem um pouco preocupado com humanos
Teleporter
Ele está no grand finale da série…
…em uma das cenas mais icônicas da Era do Apocalipse

Teleporter ainda marcou presença em uma dos crossover menos conhecidos da Marvel com os super-heróis do Ultraverso, da editora Malibu Comics (a qual foi comprada pela própria Marvel), em uma série de quadrinhos publicada também em 1995, pegando carona no sucesso de Era do Apocalipse (mas que pra efeitos de cronologia é nulo na continuidade do Universo Marvel).

Durante a saga Massacre (1996), que mudaria para sempre o Universo Marvel, Teleporter tem uma grande importância. Em X-Men #50, ele conhece finalmente o Professor Charles Xavier, surgindo do nada, no meio da noite, flutuando acima de sua cama, tudo para trazer notícias terríveis: um poderoso ser se aproxima e pode ser o fim dos mutantes e humanos na Terra.

Teleporter leva Wolverine, Ciclope, Tempestade e Homem de Gelo para enfrentar Post, um dos arautos do chamado Massacre, e dá um jeito de entregar algumas pistas de quem é o vilão, em um roteiro bastante confuso do escritor Scott Lobdell, com arte de Andy Kubert.

Teleporter
O primeiro encontro de Teleporter com o Professor Charles Xavier

Post, um dos arautos do Massacre
Teleporter
A poderosa entidade fala por meio de Teleporter, prenunciado a saga que viria

Depois disso, em Wolverine #104 (1996), Teleporter dá mais pistas para Wolverine e Elektra sobre a origem de Massacre, ao teletransportá-lo no tempo até o momento da “criação” do vilão, em um dos momentos mais reveladores da época, já que Massacre estava se alastrando por todos os títulos da Marvel.

Vale citar que na época Wolverine estava em um estado feral, devido aos ferimentos que sofreu pelas mãos de Gênese, o filho louco de Cable, que queria ser o novo Apocalipse, e tentou reinserir o adamantium no corpo do herói.

Magneto tinha retirado o metal do baixinho na saga Atrações Fatais (1993), o que causou sua regressão feral. Nessa saga, o clímax é quando o Professor Charles Xavier apaga a mente de Magneto (depois que ele tentou matar Wolverine).

No Plano Astral, uma dimensão coletiva onde os pensamentos dos seres humanos habitam, a parte maligna de Magneto, antes do apagamento, deixa uma porção de si mesmo em Xavier, infectando o professor, que acabaria por se tornar o Massacre. É essa cena que Teleporter faz Wolverine e Elektra presenciar em Wolverine #104.

É de posse dessa informação que Wolverine e os X-Men vão tentar salvar o Professor X dele mesmo.

Ainda falando de Logan, para tentar retornar ao normal, o mestre Stick, do clã ninja Virtuosos, mentor do Demolidor, envia Elektra para ajudar Wolverine (por isso eles estavam juntos). Aliás, na mesma edição ficamos sabendo que Teleporter conhece Stick de alguma maneira. O roteiro é de Larry Hama, com desenhos de Val Semeiks.

Teleporter
O Wolverine monstruoso dessa fase encontra Teleporter
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Teleporter parece conhecer Stick, o mestre ninja cego que treinou o Demolidor e a própria Elektra
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Elektra fica surpresa com o fato, mas Teleporter não revela mais nada
Teleporter joga a dupla em uma viagem para o Plano Astral (deveria ser o “Dreamtime”, né?)

 

E lá descobrem o grande segredo da origem do Massacre, tudo graças a Teleporter

Quando deixou a Academia de Massachusetts e retornou ao outback, por razões ainda desconhecidas, Teleporter ajudou de forma relutante Víbora e Espiral durante um de seus esquemas criminosos, em uma minissérie em 3 edições sem sentido dedicada ao Fera, escrita por Keith Giffen, com arte de Cedric Nocon.

A tríade de temas Wolverine-Jubileu-Sentinelas voltou mais uma vez, quando Teleporter teletransportou Wolverine e Jubileu para uma cabana nos Alpes Suíços, onde encontraram Donald Pierce. De alguma maneira, o velho sabia que o vilão estava se atualizando para retornar mais forte com tecnologia futura e adamantium, e levou os dois x-men até ali para detê-lo. Isso acontece em Wolverine #141 (1999), escrita por Erik Larsen, com arte de Leinil Francis Yu.

Nada melhorou depois, mesmo com a volta de Chris Claremont aos X-Men em 2001, dessa vez no título X-Treme X-Men, onde o escritor afirma que o mutante do futuro Bishop (personagem que ele concebeu, mas não conseguiu escrever quando saiu em 1991) era bisneto de Teleporter.

Enquanto lamentava a morte de Psylocke em uma praia em Valência, Espanha, em X-Treme X-Men #4 (2001), Bishop de repente se vê no “Dreamtime”, onde encontrou tanto o espírito da falecida amiga quanto o de Teleporter. No meio da visão, o Bishop percebeu que Gateway era seu ancestral, aparentemente seu bisavô. Algo muito mal-ajambrado disso foi estabelecido até antes, quando um confuso Bishop brevemente confundiu Monet com sua mãe, em uma das aventuras da Geração X.

Uma relação de origem muito desnecessária criada pelo próprio Chris Claremont: Teleporter e Bishop

Nessa fase Claremont também usa Teleporter no primeiro anual do título, em X-Treme X-Men Annual (2001). Os X-Men mais uma vez vão até a base fantasma dos Carniceiros, mais uma vez lutam contra eles, mais uma vez o derrotam, e mais uma vez libertam o aborígene. É quando Teleporter revela que está de posse de um dos volumes dos Diários de Sina, mas não se sabe há quanto tempo o livro contendo as profecias da precog falecida estava na posse do velho aborígene. Os Diários de Sina foi um dos principais plots que Claremont trabalhava no título X-Treme X-Men.

A edição conta até com uma rima visual com UXM #230

O uso mais curioso de Teleporter foi pelo escritor Peter David e o desenhista Adam Kubert, em uma história publicada em Incredible Hulk #87 (2005), com o personagem extremamente tagarela (!) ajudando o Gigante Esmeralda em meio a perseguições da IMA, S.H.I.E.L.D. e “Dreamtime”. Essa história acontece logo depois da megassaga Dinastia M, e o escritor Daniel Way escreveria mais alguns números até que Greg Pak fizesse seu famoso arco Planeta Hulk.

Teleporter
A participação mais inusitada de Teleporter com certeza é nesta história do Hulk

Tanto os Diários de Sina como Teleporter foram alvos dos Carrascos do Senhor Sinistro, durante a saga Complexo de Messias, em X-Men #202 (2007), escrita por Mike Carey, onde todos os mutantes relacionados a conhecimentos futuros viraram alvo potenciais dos vilões. Teleporter estava em sua colina na Austrália, retomando sua vida como eremita, quando foi atacado e aparentemente morto pelos Carrascos por seu conhecimento dos diários.

Guerreiros Secretos, X-Force e Era Krakoa

Arte promocional da saga House of X / Powers of X. Teleporter está no topo do canto esquerdo

Em 2009, os roteiristas Brian Michael Bendis e Jonathan Hickman trouxeram Teleporter para o título Guerreiros Secretos, quando Nick Fury decidiu criar uma equipe de black-ops para combater a Hidra, que estava infiltrada na S.H.I.E.L.D. e muitas outras organizações.

O aborígene aparece vivo e bem em Secret Warriors # 4 (2009), ensinando o jovem Eden Fesi, mutante aborígene que também tem poderes de teletransporte. Eden foi um dos recrutas de Fury, que o queria para sua equipe de Guerreiros Secretos. Futuramente, sob a identidade heroica Dobra, Eden teria enorme importância nos Vingadores (escrito por Hickman) e nos X-Men da Era Krakoa (concebido por Hickman também).

A revista de estreia dos Guerreiros Secretos, por Brian Michael Bendis e Jonathan Hickman
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Eden Fesi e Teleporter
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O rapaz é o mais novo aluno de Teleporter, que deixa que ele parta para ficar com Nick Fury

Teleporter e Wolverine cruzaram caminhos novamente no título Uncanny X-Force, escrito por Rick Remender, e lançado pela Marvel em 2010. Teleporter de novo está nas mãos de Lady Letal, que o obriga a ajudá-la para invadir a ilha mutante Utopia, sequestrando toda uma tribo aborígene como chantagem. Ele concordou relutantemente, mas também conseguiu enviar uma mensagem a Deadpool, que estava trabalhando para Wolverine na X-Force. O grupo chegou a tempo de salvar a tribo e derrotar Letal e os Carniceiros.

A partir daí, Teleporter participaria de diversas aventuras (missões secretas terríveis na verdade) com a X-Force. Ele apareceu nos números Uncanny X-Force #5.1-, 12, 13, 17, 19-20 e 27-28. Dentre os fatos relevantes aqui, temos o retorno do Teleporter da Era do Apocalipse na edição #12, infelizmente morto pelo Arma Ômega, o Wolverine enlouquecido pelos Celestiais dessa Era.

Arma Ômega, o Wolverine enlouquecido da Era do Apocalipse, e o Teleporter deles morto

Foi o aborígene também quem promoveu o retorno dos X-Men da Era do Apocalipse para seu mundo de origem, já que vários deles estavam no Universo Marvel tradicional (616) em aventuras mostradas nesse título da X-Force, o que representou uma grande angústia para Wolverine do nosso mundo, uma vez que ele estava enamorado da Jean Grey dessa Era. Os pombinhos se despediram na edição #19.

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Os X-Men da Era do Apocalipse deixam a Terra-616 graças a um portal de Teleporter

E como não poderia deixar de ser, temos mais uma morte de Teleporter, na edição #27 (2012), quando Ultimaton, um poderoso sistema robótico que servia de guarda da base dos heróis, mata o aborígene.

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A morte de Teleporter (mais uma)

Na Era Krakoa, iniciada com a minissérie House of X/Powers of X (2019-2024), escrita por Jonathan Hickman e desenhada pelo espanhol Pepe Larraz e o brasileiro R.B. Silva, Teleporter reapareceu vivo e bem (de novo), presumivelmente ressuscitado pelos Cinco (mutantes parte de um processo muito especial que permite a ressurreição de mutantes).

Teleporter não fez parte ativa de nenhuma equipe em especial, mas ajudou diversos times e heróis:

➡️ Marauders #2 (2020), de Gerry Duggan e Matteo Lolli, com Capitã Kate Pryde e seus Carrascos (sem ligações com os vilões);
➡️ X-Men #3 (2020), de Hickman e Leinil Francis Yu, com Ciclope, Emma Frost e Sebastian Shaw;
➡️ X-Force #6 (2020), de Benjamin Percy e Joshua Cassara, de novo com Wolverine;
➡️ Wolverine #1 (2020), também do Percy, com Adam Kubert;
➡️ S.W.O.R.D. #1 (2021), de Al Ewing e Valerio Schiti, como membro fundador de uma renovada organização de vigilância espacial S.W.O.R.D. (que os X-Men “tomaram” para si);
➡️ X Lives of Wolverine #5 (2022), de Percy e Cassara, onde ajuda Wolverine contra o Ômega Vermelho;
➡️ Wolverine #20 (2022), ainda com Percy e Kubert;
➡️ Amazing Spider-Man # 9 (2023), numa cena hilária com o Homem-Aranha, escrita por Zeb Wells, com arte de Patrick Gleason.

Teleporter
Teleporter no título dos X-Men pós-HoX/PoX
Teleporter
Teleporter mais uma vez com a X-Forve
Teleporter
Teleporter mais uma vez com Wolverine
O organograma da S.W.O.R.D., com vários teleportadores, incluindo Teleporter
Teleporter
Teleporter está em S.W.O.R.D. #1, uma das edições de estreia mais legais e incríveis da Era Krakoa
Teleporter
Teleporter em X Lives of Wolverine
Teleporter
De novo com Wolverine
Teleporter
Homem-Aranha conhece Teleporter e Wolverine faz uma piada com o nome dele, intraduzível para o BR, ainda mais por causa da tradução adotada

Vale se aprofundar em S.W.O.R.D. #1 (2021), a melhor revista dos X-Men depois de House of X/Powers of X. Muito bem escrita e desenhada, ela revela todo o escopo que os mutantes desejavam na época do auge da Era Krakoa: alcançar e desbravar as estrelas.

E Teleporter fez parte disso, juntamente com outros mutantes teleportadores, como seu pupilo Eden Fesi, o Dobra (que é parte integrante da equipe da revista de fato), Blink, Amelia Voight, Vanisher e Lila Cheney.

No final desse primeiro número, estava claro que o título tinha como objetivo abalar as fundações do nosso status quo tão radicalmente quanto HoX/PoX fez.

Claro, S.W.O.R.D. já existiu antes, com a mesma implacável Abigail Brand como chefe, e os mutantes já foram ao espaço muitas vezes. Mas nunca com o estilo que Ewing aplica aqui. O verdadeiro propósito da equipe é sensacional: a extração de fogo dos deuses, na forma do mineral mais valioso do Universo Marvel, o Mysterium, feito do próprio coração do universo.

E se Ewing não trabalhou com Teleporter, o fez e muito com Eden, desenvolvendo o personagem como nenhum outro. Nos próximos números descobrimos que o jovem aborígene não tem a habilidade de se teleportar, e sim de conversar com o espaço (!), tendo a chance de conseguir literalmente quase qualquer coisa ao alcance de suas mãos.

Eden Fesi, o Dobra, na terceira edição de S.W.O.R.D.
Nesta edição temos a primeira menção aos monolitos australianos, no caso o Kaja Tjuta

Antagonistas como Henry Peter Gyrich, a ORCHIS e um espião dentro da S.W.O.R.D. mantém o interesse no título, fora o fato da irascível Brand ter sua própria agenda secreta, muito fora do que Krakoa sequer imagina. Tudo isso é ampliado pela arte de Valerio Schiti, que traz dinamismo e escala a tudo que Ewing escreve.

Para encerrar com chave de ouro, Teleporter é um dos zilhares de mutantes que vão à forra contra a Orchis em Rise of the Powers of X #5 (2024), escrita por Kieron Gillen, com arte de Luciano Vecchio, no fechamento da Era Krakoa dos X-Men.

/ TALISMÃ. O primeiro personagem australiano da Marvel Comics não foi Teleporter, e sim Talismã, criado especialmente para a saga Torneio de Campeões (1982), escrita por Mark Gruenwald, que envolveu toda a comunidade internacional de superseres do Universo Marvel em disputas entre si, graças a artimanhas do Grão-Mestre, um Ancião do Universo. Como a Austrália não tinha representantes, Talismã foi criado para a história. Seus poderes têm origem mística, e ele também usa uma churinga cerimonial, que usa para se teleportar, muito similar ao próprio Teleporter, mas usando o “Dreamtime” como dimensão intermediária. Ele só apareceria só mais 8 vezes no Universo Marvel, em revistas do Quasar e dos Vingadores.

O australiano surgiu um ano antes da Talismã, a identidade heróica de Elizabeth Twoyoungmen, filha de Michael Twoyoungmen, o Shaman, dois super-heróis do Canadá, integrantes da Tropa Alfa, personagens bem mais conhecidos da Marvel. Ela foi criada por Johh Byrne, em Alpha Flight #5 (1983), mas só no número #14 (1984) ela assumiu o nome de Talismã. Ambos são da nação Tsuu T’ina, povo originário do Canadá, cuja reserva indígena e comunidade ficam próximo de Calgary, Alberta.

Obrigado por ler até aqui!

Arte de Olivier Coipel para Uncanny X-Men #600 (2015)

Teleporter

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