King Faraday é um agente secreto criado na editora americana de quadrinhos DC Comics na revista Danger Trail #1, em julho de 1950, pelo escritor Robert Kanigher e o desenhista Carmine Infantino, dois profissionais que se tornariam lendas das HQs.
Faraday precede o Nick Fury de Stan Lee da Marvel Comics, que inicialmente surgiu em Sgt. Fury (1963), com desenhos de Jack Kirby, mas só virou agente secreto em Nick Fury, Agent of SHIELD (1968), com roteiro e arte de Jim Steranko, um dos mais cinéticos e experimentais desenhistas dos quadrinhos.
O título teve 18 números publicados, entre 1968 e 1971. King Faraday precede até mesmo o agente secreto mais famoso da cultura pop, James Bond – 007, criado pelo escritor Ian Fleming no livro Casino Royale, publicado em abril de 1953 no mercado inglês.
Kanigher escreveu uma das maiores histórias de guerra dos quadrinhos americanos, Sargento Rock, co-criado com Joe Kubert em Our Army at War #83 (1959), além de ter ficado 22 anos produzindo a revista da Mulher-Maravilha.
Infantino co-criou o Barry Allen, o Flash vermelho e amarelo que apareceu em Showcase #4 (1956), o que deu início à Era de Prata dos Quadrinhos.
O gênero de espionagem já se mostrava de algum modo no mundo literário da segunda metade do século XVIII, nos livros de James Fenimore Cooper por exemplo, mas o mood moderno se mostra nos pulps, histórias de espionagem, aventura, suspense, terror e ficção científica publicados em revistas de antologia de papel barato no mercado americano a partir de 1890.
E, nos quadrinhos, King Faraday foi o primeiro. Se tivemos o Caçador (a versão de Archie Goodwin e Walt Simonson), Nêmesis e o Sargento Steel, devemos à King Faraday.
De acordo com a cronologia da DC, King era muito jovem para a Guerra da Coréia, muito velho para a Guerra do Vietnã. Ele entrou para a as Forças Armadas e eventualmente foi recrutado pela CIA (a agência secreta americana), mas preferiu o Central of Bureal Intelligence (o FBI e CIA da DC), um pequeno escritório político mais perto da cúpula presidencial.
Boa pinta, esguio, de cabelos brancos desde jovem e sempre fumando cigarro, King Faraday se tornou um agente de campo, e ficou conhecido informalmente como “Danger Trail“.
Com o passar do tempo, ele subiu de posição, e assumiu funções burocráticas de direção do CBI, e chegou a atuar junto com o Batman e Eve Eden, uma jovem com poderes demoníacos dimensionais (!), que se tornaria a vigilante Sombra da Noite (a personagem veio direto da Charlton Comics, editora comprada pela DC no começo dos anos 1980).
Faraday indicou a jovem e Ben Turner, um matador chamado Tigre de Bronze, agora redimido, para o Esquadrão Suicida, a equipe de campo de Amanda Waller na Força Tarefa X, organização secreta do governo para missões black-ops com uso de criminosos.
Quando a saga Conspiração Janus jogou todas as agências secretas da DC umas contra as outras, King permaneceu no CBI como líder, já que o Sargento Steel, o antigo diretor, logo assumiria o Departamento de Assuntos Meta-humanos.
O personagem é outro vindo da Charlton, criado nos anos 1960 e muito parecido com King Faraday — era detetive e depois agente secreto em aventuras de espionagem.
A DC optou por trabalhar com Steel no comando da comunidade de espiões na DC em vez de King Com efeito, os dois personagens, muito similares, trabalharam muito tempo juntos, inclusive em aventuras lado a lado.
King ficou mais próximo dos Novos Titãs, especialmente do Asa Noturna/Dick Grayson, que ele conheceu em suas aventuras com o Batman.
Em uma nova encarnação do Xeque-Mate, King Faraday se tornaria novamente um agente de campo, dessa vez o Bispo Branco de Amanda Waller, a Rainha Branca da organização.
No reboot dos Novos 52, a DC usou o personagem em diferentes contextos, que ignoraram e contradizem diversos fatos anteriormente mostrados, mesmo na nova cronologia em que trabalhou.
King Faraday não tem superpoderes, mas é um atleta de nível olímpico e especialista em armas, além de um grande estrategista.
DC Comics, 1950
A Era de Ouro dos quadrinhos já tinha passado, a indústria de quadrinhos de super-heróis estava em declínio, e o que vendia eram materiais infantis, de animais antropomorfizados, faroeste, terror, romance e ficção científica. Mas a DC Comics ainda publicava os combatentes do crime fantasiados com cueca por cima da roupa.
Em Action Comics, casa do Superman, tinha Tommy Tomorrow (Léo Futuro, aventuras policiais espaciais), Congo Bill (um aventureiro explorador que se tornaria um gorila), Zatara (mágico) e o Vigilante (um cowboy moderno que combate o crime).
Em Detective Comics, casa do Batman, tinha o Boy Commandos (gangue de jovens que combatem os nazistas, criação de Jack Kirby) e Robotman (Robert Crane, um cyborg criado por Jerry Siegel, um dos criadores do Superman).
Em World Finest, tinha o Superboy, Aquaman e Arqueiro Verde. Em Adventures Comics, o Cavaleiro Andante (direto da época de Camelot para o presente) e Johnny Quick (velocista como o Flash). E em All-Star Comics tínhamos a Sociedade da Justiça da América, o primeiro grupo de super-heróis da indústria.
Havia ouro em alguns desses materiais. Dan Barry, artista que reviveu as tiras de quadrinhos de Flash Gordon, junto com Harvey Kurtzman, e que começou auxiliando Burne Hogarth em Tarzan, fazia o Vigilante; o desenhista Curt Swan, que seria o character design do Superman por décadas até a saga Crise nas Infinitas Terras, fazia Leo Futuro; e o Frank Frazetta, artista que se tornaria um dos maiores pintores da cultura pop, fazia o Cavaleiro Andante.
Quando a revista Danger Trail saiu, sua proposta esta diferente dos super-heróis, não era engraçadinha e se levava a sério. Eram histórias de espionagem, algumas delas desenhadas por Alex Toth, um dos artistas mais renomados dos Estados Unidos, com trabalhos em tiras, HQs e desenhos animados.
TORPEDO 1936 | Um assassino italiano na Nova York dos anos 30
Foram 5 edições, e 4 delas tiveram histórias de King Faraday. O editor Julius Schwartz disse que o nome veio de uma velha canção americana, “King for a day“, “rei por um dia“, em tradução livre. Baseado em pulps, Robert Kanigher e Carmine Infantino criaram histórias de espionagem sob um lema: “Aventuras ao redor do mundo com mistério e intriga“.
King apareceu por 5 edições da revista, e em World’s Finest Comics #64, de maio de 1953, estrelou sua última edição na Era de Ouro dos quadrinhos.
Kanigher se tornaria uma das lendas dos quadrinhos, para além dos seus conhecidos trabalhos em Mulher-Maravilha, Sargento Rock e o Flash dos anos 1950. Antes, em 1947, co-criou sua primeira personagem relevante, a Canário Negro.
Depois veio Príncipe Viking (1955). Em 1958, um “protótipo” do Sargento Rock aparecia já em G.I. Combat #58, um militar de patente não-revelada chamado “The Rock”, com roteiro seu.
O sucesso de Rock fez com que Kanigher viesse com mais personagens do gênero, como O Tanque Assombrado (1961), Ás Inimigo (1965), O Soldado Desconhecido (1966), Os Perdedores (1970) e outros. Ele também co-criou os Homens Metálicos (1962) e a Hera Venenosa (vilã do Batman).
O traço “duro” de Carmine iria se sedimentar depois dos anos 1950, influenciado pela arquitetura. Fazia cenários espetaculares e cidades futuristas em séries como Flash e Adam Strange.
Assim que a DC passou a fazer parte do conglomerado da Warner, em 1967, Infantino foi promovido para o cargo de editor-chefe. Até o final dos anos 70, foi promovido a publisher (figura inexistente no Brasil, algo como um diretor-editor) da DC.
Em janeiro de 1976, a Warner substituiu Infantino por Jenette Kahn. A executiva não conseguiria ultrapassar a Marvel em vendas, mas foi sob seu comando que a editora fez as histórias mais importantes do mercado, em movimentos editoriais e artísticos revolucionários, como Crise nas Infinitas Terras, Watchmen e a criação do selo adulto e alternativo Vertigo — também sob comando de uma mulher, Karen Berger, que se provaria uma das melhores editoras da indústria.
Voltando ao rei. Em Showcase #50-51, de 1964, duas aventuras de King Faraday foram republicadas, dessa vez sob o título I, Spy. King ficou sumido por quase 35 anos, até ser resgatado na revista do Batman pelo escritor Len Wein. Ele ressurge como agente federal nos números #313-314 da revista, em 1979, nos roteiros de Wein com desenhos de Irv Novick, em uma investigação que o faz esbarrar no Homem-Morcego contra o Duas-Caras.
O agente apareceu também em Batman #333-335, de 1981, numa aventura escrita por Marv Wolfman, junto com o Robin/Dick Grayson e a Mulher-Gato.
Ele tornou a aparecer no ano seguinte, em The New Teen Titans #18 (1982), interagindo com os Novos Titãs, novamente como um agente federal.
King Faraday no Pós-Crise
Em 1985 e 1986, a DC decidiu reorganizar seu universo de histórias para uma renovação editorial e comercial, na maior saga das HQs de super-heróis já escrita, Crise nas Infinitas Terras
King Faraday é incorporado então no Pós-Crise ao Central Bureau of Intelligence, o FBI da DC, liderado pelo Sargento Steel, personagem criado na Charlton Comics nos anos 1960, baseado no mesmo mood de King Faraday — era detetive depois um agente secreto em missões de espionagem.
King no CBI serviu de mentor para Eve Eden, a Sombra da Noite, moça com poderes demoníacos dimensionais, e ajudou Ben Turner, o Tigre de Bronze, antigo matador da Liga dos Assassinos, a se redimirem. Ambos entrariam para a Força Tarefa X e Esquadrão Suicida, de Amanda Waller, posteriormente.
Em The New Titans #58 (1989), Faraday torna a se envolver com os Titãs, quando ele avalia Danny Chase, que estava envolvido com os heróis na época, para recrutá-lo para o CBI.
O garoto era filhos de espiões que trabalhavam para o CBI, e que numa missão foram expostos à radiação. Por isso, quando tiveram Danny, o garoto nasceu com seus genes alterados, e na puberdade manifestou habilidades telecinéticas — o que o torna um dos poucos mutantes do Universo DC.
Ele teve aparições esporádicas em aventuras relacionadas ao Esquadrão, inclusive na saga Conspiração Janus, até estrelar em uma nova minissérie de 4 edições Danger Trail, de 1993, escrita também por Wein, numa aventura solo do personagem contra terroristas.
Nessa nova Danger Trail, King Faraday se envolve em uma trama de espionagem internacional e uma misteriosa mulher que o leva a um confronto com a organização terrorista Kobra (criação de Jack Kirby nos anos 1970, anos antes da franquia de hominhos G.I. Joe/Comandos em Ação).
As capas são do artista Paul Gulacy, desenhista que se notabilizou por seu trabalho na revista Mestre do Kung-Fu, da Marvel Comics, numa mistura sensacional de histórias de espionagem e artes marciais. Foi criado pelo escritor Steve Englehart e o desenhista Jim Starlin em Special Marvel Edition #15 (1973).
O grande destaque de King Faraday na DC Comics fica por conta de seu papel central na obra-prima Nova Fronteira, escrita e desenhada por Darwyn Cooke em 2004.
Originalmente chamada DC: The New Frontier, a HQ é uma potente ode aos quadrinhos que antecedem o aparecimento da Liga da Justiça na cronologia pré-Crise nas Infinitas Terras, e que junta centenas de personagens da editora numa aventura épica contra uma ameaça-conceito quase invencível, o perigoso Centro.
Cooke utiliza a maior parte dos personagens humanos sem poderes da DC da Era Ouro e da Era de Prata — além dos super-heróis, é claro –, e King Faraday desempenha um papel central de líder de uma organização governamental secreta que busca deter a ameaça com a ajuda desses humanos extraordinários e os meta-humanos.
Dono de um traço clássico e ao mesmo tempo ágil e estilizado, tal qual a cinética de um desenho animado, Cooke alia um design impecável com uma narrativa segura e precisa do que quer contar, e as homenagens fluem de modo natural naquela que é uma das grandes HQs modernas.
O fio político e aventuresco é amarrado muito bem, e os contextos históricos da vida real americana, com os avanços sociais e tecnológicos dos anos 1950 e 1960, e os conflitos da Guerra Fria, junto com o impacto da aparição cada vez mais volumosa de superseres, é tratado de modo funcional e lógico, e Cooke não deixar o leitor perdido em momento algum.
Cooke olha para a Era de Prata da DC e usa todos os elementos necessários para comentar um EUA pós-Segunda Guerra Mundial, e com seu desenho clássico, criou um clássico.
A paranoia anticomunista varreu os primeiros super-heróis americanos da Sociedade da Justiça e agora soldados e espiões trabalham nas sombras para impedir as ameaças, em meio a agendas políticas secretas e ideologia inimigas.
Em A Nova Fronteira, a linha do tempo é real e cobre de 1945 a 1960. Os personagens da Era de Prata aparecem no momento em que a DC os publica. Ex.: Barry Allen é atingido por um relâmpago em 1956 (quando se torna o Flash).
Não há retcons trabalhados na obra, e mesmo os retcons dela não contradizem a continuidade original. Quando a história acaba, ela se encerra com a estreia da Liga da Justiça em Brave and The Bold #28 (1960). De acordo com o próprio Cooke, “King Faraday não era nada mais quem um dispositivo de roteiro. Porém, como J´onn J´onnz, ele me conquistou.”
Cooke foi um cartunista e animador vencedor do prêmio Eisner — o “Oscar” das HQs americanas — e trabalhou em animações de Batman: A Série Animada, Superman: A Série Animada e MIB – Homens de Preto. Fez outras HQs como Catwoman (Mulher-Gato), Richard Stark’s Parker: The Hunter (baseado nas novelas policiais dos anos 1960 escritas por Donald E. Westlake) e The Spirit (o clássico de Will Eisner, maior quadrinista americano, que dá nome ao prêmio citado anteriormente).
Darwyn Cooke morreu em 14 de maio de 2016, vítima de câncer, aos 53 anos. Seu primeiro trabalho para a DC foi Batman – Ego, uma HQ intimista do herói que é molde e inspiração para o cineasta Matt Reeves no filme The Batman, a próxima encarnação do Homem-Morcego.
O novo título do Xeque-Mate, Chekmate, foi escrito por Greg Rucka e teve a maioria dos números desenhados por Jesus Saiz, em 31 edições publicadas entre 2006 e 2008. E King Faraday foi um dos integrantes da organização, como o Bispo Branco da Rainha Branca, a temida Amanda Waller — as peças de xadrez são referenciadas como posições de comando no Xeque-Mate.
Muito da trama envolve política internacional, já que agora o Xeque-Mate se tornou uma organização que opera sob as Nações Unidas (como a Shield da Marvel). Muitos dos conflitos envolvem conspiração e espionagem envolvendo a China e o terrorista Kobra.
King Faraday no pós-Novos 52
No reboot do Os Novos 52, que jogou no lixo 80 anos de cronologia de histórias da DC Comics, King Faraday foi aparecer depois de um bom tempo sumido, e nem era na “atualidade”.
Na saga The New 52: Futures End (2014-2015), escrita por Brian Azzarello, Dan Jurgens, Jeff Lemire, Keith Giffen e diversos desenhistas — e que emulava a antiga série semanal chamada 52, uma saga pós-Crise Infinita, que cobriu um ano inteiro de histórias na editora — temos uma trama que mistura o Batman do Futuro (Terry McGinnis, do desenho animado Batman do Futuro, parte do DC Animated Universe, o universo do desenho animado da série do Batman de 1992, criada por Bruce Timm, e incorporado ao Universo DC regular aqui), o OMAC e Irmão-Olho (conceitos dos anos 1970 da DC, criadas por Jack Kirby), personagens do Wildstorm Comics (selo de revistas do artista Jim Lee, compradas pela DC e adicionadas no reboot) e os heróis em geral em uma história apocalíptica com viagem no tempo.
King Faraday e o Bandoleiro/Grifter (mercenário da Wildstorm) são personagens da trama, que se passa 5 anos à frente da timeline/cronologia atual.
King é uma espécie de líder de agentes secretos que lutam contra alienígenas. Ele está mais jovem (!) e seus cabelos agora são pretos (!!), além de aparentar ter ascendência oriental (!!!).
The New 52: Futures End não repetiu o sucesso de 52, e a história não teve maiores impactos na editora, mas as capas do desenhista Ryan Sook eram muito bonitas.
Faraday ainda manteve essa aparência mais jovem e de cabelos pretos em aparições não-explicadas no título Grayson, a revista de Dick Grayson quando teve sua identidade secreta revelada por vilões. Ele se tornou agente secreto (!) da Spyral, em roteiros de Tom King, um ex-agente da CIA (!!) que se tornou escritor de quadrinhos, com desenhos de Mikél Janin.
No número #9, de 2015, Faraday aparece junto com outros figurões do mundo da espionagem da DC nas sombras, como seu antigo chefe/parceiro Sargento Steel (e que não tinha aparecido ainda nos Novos 52 desse jeito) e o Bandoleiro.
Eles parecem ter uma influência com a comandante da Spyral, passando informações e forçando missões. King Faraday continua a aparecer no título nos números #13, #16, #17 e #18, de 2016.
Essa foi a última vez que (esse) King Faraday apareceu na DC Comics.
Em 2016, a DC promoveu um novo reboot (pois é), o Renascimento, e um novo título do Esquadrão Suicida foi lançado, escrito por Rob Williams.
O line-up era o mesmo do (horroroso) filme de David Ayer, e dessa vez Amanda Waller retomou seu mood original (gorda e fodassaralha).
A partir do número #27, Rob construiu com os desenhistas Eduardo Pansica e Wilfredo Torres a saga “The Secret History of Task Force X“, “A História Secreta da Força Tarefa X“, onde a equipe encontra o Rick Flag, avô do atual, e Karin Grace, em uma missão em um satélite abandonado.
Antigos conceitos pós-Crise nas Infinitas Terras são abordados e alterados, e dessa vez, temos um King Faraday dos velhos tempos (agente secreto de cabelo branco) nos anos 1960 como agente da Argent, o braço civil da Força Tarefa X (sendo o Esquadrão Suicida de Flag e Grace o braço militar. A saga correu de Suicide Squad #27-37
A aventura maluca mistura a origem das três equipes, transforma King em um fantasma vivo (!) e cria um improvável relacionamento entre ele e Karin, aspecto que era de Rick Flag no pós-Crise — importante destacar que com o Renascimento, várias outras histórias e conceitos antigos voltaram a valer, mas infelizmente, sem coordenação alguma, o que cria enormes brechas e furos de roteiro, em praticamente todas as revistas.
Incrivelmente, King Faraday foi mais usado fora dos gibis numa posição que era do Sargento Steel, e até mesmo no lugar dele em posição executiva de comando.
No desenho animado Liga da Justiça Sem Limites (2004-2006), uma das melhores obras audiovisuais da DC (também do DC Universe Animated), temos King Faraday participando de três episódios: Double Date, como um agente federal em meio a uma aventura com o Questão e a Caçadora; em I Am Legion, em que King se torna o agente de elo entre a Liga e o governo (exatamente como o Sargento Steel); e To Another Shore, em que ajuda a Mulher-Maravilha a impedir que o cadáver do Príncipe Viking seja sequestrado.
Em 2008, a DC fez um filme animado da Nova Fronteira, chamada Justice League: The New Frontier, e King Faraday ainda mantém seu protagonismo, como na obra original.
Outro desenho animado que o espião aparece é em Young Justice (2012-2019), como um agente da Interpol, a polícia internacional do mundo real, em vários episódios.
Em live-action (só que não), King surge como um agente do Xeque-Mate no seriado Smallville durante e décima-segunda temporada, que teve sua continuação feita em revistas de histórias em quadrinhos.
O personagem aparece em Smallville Season 11 Special #1 (2013), escrita por Bryan Q. Miller e desenhada por Axel Giménez.
Atualmente, no mundo dos quadrinhos, a DC Comics tem um novo título do Xeque-Mate em andamento, o Checkmate, que continua os acontecimentos de Evento Leviatã (2019), uma nova saga que envolveu todas as agências secretas da DC no pós-Renascimento (e que não teve participação alguma de King Faraday, em qualquer versão).
Mas acontece que esse novo Xeque-Mate é comandado por um tal de King. Seria o King Faraday? A revista é escrita por Brian Michael Bendis, onde o roteiro, coerência e cronologia foram pro saco.
No fim, esse King era ninguém menos que Kamandi, uma nova versão de um personagem clássico de Jack Kirby dos anos 1970.
AGÊNCIA GLOBAL DA PAZ | O Grande Desastre na mitologia da DC Comics
Entre as incongruências do Evento Leviatã e Xeque-Mate de Bendis, temos o agente Tom Tresser, o Nêmesis, foi mostrado (ou uma versão dele) em Grayson #9 (2016), e já morre logo no começo (quem fala isso inclusive é o King, confira lá em cima na imagem), para depois aparecer na saga Heróis em Crise (2019), em seu mood antigo pós-Crise, onde morre de novo, e Evento Leviatã novamente, onde morre DE NOVO.
O Caçador Mark Shaw (que é o grande vilão Leviatã) é outro caso, pior ainda, já que todo seu background no Esquadrão Suicida nas mãos de Amanda Waller e do Sargento Steel deveria valer, mas é ignorado solenemente por Bendis.
CAÇADOR MARK SHAW | O herói kirbyano de mil faces da DC Comics
/ KING FOR A DAY. A despeito da declaração dada por Julius Schwartz que King Faraday teve seu nome extraído de uma velha canção americana (informações dadas na edição Danger Trail dos anos 90), não conseguimos localizar tal canção.
Mas há músicas cantadas em um filme, chamado exatamente de King for a Day (1934). A trama (em cima de alguns black faces) narra a história de um talentoso dançarino que tenta crescer na carreira.
Nos tempos mais recentes, King For a Day é uma frase famosa em títulos de canções díspares de artistas como Faith no More, Green Day, Jamiroquai e Primal Fear. O filme de 1939 foi dirigido por Roy Mack e estrelado por Bill Robinson, Ernest Whitman e Dusty Fletcher, você pode conferir uma das cenas musicais do longa abaixo, com Bill cantando.
/ NICK FURY. O agente secreto da Marvel Comics veio depois de King Faraday, mas a DC Comics o usou como “molde” para o Sargento Steel, personagem vindo da editora Charlton Comics, quando ele apareceu no Universo DC, no pós-Crise nas Infinitas Terras.
/ AGENTE SECRETA BRASILEIRA. Beatriz “Bia” Bonilla da Costa, codinome Fogo. Uma agente do Serviço Secreto Brasileiro (!), que começou como modelo (!!) no Rio de Janeiro até ser recrutada (!!!) e se tornar uma super-heroína no maior grupo de heróis da América, a Liga da Justiça.
Bia foi exposta à chamas radioativas, e ganhou poderes pirocinéticos com chamas de cor verde. Ela se juntou aos Guardiões Globais, uma equipe de super-heróis de várias nacionalidades, e depois ela entrou na Liga da Justiça pós-Crise, na chamada Liga da Justiça Internacional, na revista que os escritores Keith Giffen e J.M. DeMatteis e o desenhista Kevin Maguire fizeram da Liga da Justiça no pós-Crise nas Infinitas Terras.
FOGO | A modelo, agente secreta e super-heroína brasileira na DC Comics
Por aqui chamada de Liga da Justiça Internacional, a Fogo era uma das principais integrantes. Popularmente, essa fase é conhecida no Brasil como “Liga cômica”, pelo alto teor de humor nas histórias.
Nos eventos posteriores de Crise Infinita, teve que entrar no Xeque-Mate, graças à maquinação e chantagens de Amanda Waller, que sabia de segredos de seu passado de agente secreta. Bia é bem treinada em armas e combate, é bem-humorada e gosta de viver a vida, e como seu nome diz, é bem fogosa.
Ela foi criada pelo escritor E. Nelson Bridwell e a desenhista Ramona Fradon em DC Comics Presents #46 (1982). Ramona foi uma das primeiras artistas dos quadrinhos de super-heróis nos anos 1950, e teve uma longa contribuição para o lore de Aquaman, e é co-criadora do herói Metamorfo.
A Fogo ainda leva o mérito de ser uma das primeiras heroínas da DC Comics no primeiríssimo filme da Liga da Justiça que a Warner fez, o Justice League International, lançado exclusivamente em seu canal televisivo em 1997.
A atriz que interpretou a personagem foi Michelle Hurd, estava bem mais próxima do seu mood Flama Verde que a Fogo propriamente. Os outros integrantes são Jonn Jonn´z, o Caçador de Marte, o Lanterna Verde/Guy Gardner, o Flash/Barry Allen e Eléktron/Átomo/Ray Palmer, que enfrentam o Mago do Tempo, interpretado por Miguel Ferrer. Gelo, a melhor amiga de Bia também estava na equipe, interpretada por Kimberly Oja.
A produção é levemente baseada nos trabalhos desenvolvidos no título Justice League/Justice League International (JLI). Michelle estava em começo de carreira quando fez a Fogo nesse filme da Liga. Ela participaria de seriados como Lei & Ordem: Unidade de Vítimas Especiais (1999-2001), O Jim é Assim (2004), interpretou a Courtney Brown em Plantão Médico (2006) e fez Gossip Girl (2007).
Os trabalhos mais recentes dela incluem Star Trek: Picard (2020), como Raffi Musiker, e Samantha Reyes no seriado do Demolidor da Netflix (2016)
A equipe de operações secretas Secret Six foi criada na editora de quadrinhos de super-heróis DC Comics no final dos anos 1960, auge da Guerra Fria, época que a cultura pop aproveitou ao máximo o tema na máquina cultural americana de entretenimento.
O título de mesmo nome, Secret Six (1968), escrito por E. Nelson Bridwell e o desenhista Frank Springer — artista dos mais dinâmicos em seu tempo –, durou 7 edições, e sua cinética revolucionária se manteve mesmo com Jack Sparling substituindo Frank logo na terceira edição.
Os integrantes do Secret Six foram alguns dos primeiros personagens (somente) humanos e “mais realistas” da editora, e em um primeiro momento, eles não interagiram com nenhum ser superpoderoso colorido e de cueca por cima das calças da DC Comics.
A marca de alguma forma atravessou as milhares de propriedades intelectuais da DC e se tornou relevante, ganhando mais 4 títulos próprios (incluindo a de Nelson e Frank), além de mais duas séries em outros títulos, que já contam com uma pegada super-heroística — no caso, vilanesca, aquela que o Esquadrão Suicida enfrenta nas citações anteriores.
Secret Six, 7 edições, (1968—1969)
Action Comics Weekly #601-612, 619-630, 23 edições, (1988)
Villains United, 5 edições (2005)
Secret Six, 6 edições, (2006—2007)
Secret Six, 36 edições (2008—2011)
Secret Six, 14 edições (2015—2016)
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