A história presente em Uncanny X-Men #249 (1989) se chama “The Dane Curse” e representa o começo de um ponto de virada tremenda para os heróis mutantes, em uma aventura com roteiro de Chris Claremont, desenhos de Marc Silvestri, arte-final de Dan Green, com cores de Glynis Oliver e letras de Tom Orzechowski, tudo sob a edição de Bob Harras.
Neste ponto da tapeçaria narrativa claremontiana dos X-Men, a equipe tinha acabado de perder sua líder, Tempestade, morta em um confronto com a vilã Babá no número anterior, Uncanny X-Men #248 (edição que marca o primeiro trabalho do artista Jim Lee com os X-Men). Longshot também deixou a equipe nesse número, em busca de suas origens e mundo natal, a dimensão governada pelo vilão Mojo.
O grupo já tinha perdido Vampira em UXM #247 — morta em uma luta contra o Molde Mestre, que estava fundido com Nimrod, ambos rôbos assassinos de mutantes (na verdade Vampira e o robô duplo tinham sido sugados para dentro do Portal do Destino, artefato místico poderoso capaz de reiniciar as vidas de quem o adentra). Os X-Men remanescentes, Destrutor, Cristal, Colossus e Psylocke (Wolverine estava em uma longa aventura em sua revista própria, nas edições #17-23) enterram Tempestade, e recebem um pedido de ajuda de Lorna Dane, a Polaris, de Punta Arenas, no Chile. Ela acaba sendo sequestrada pelos Metamorfos, guerreiros da vilã Zaladane, que deseja roubar os poderes magnéticos da moça.
O post de aniversário de 6 anos do blog Destrutor, que criei no Blogspot em 15 de fevereiro de 2018, é mais uma homenagem para a origem do nome em questão. Logo, nada melhor que uma resenha de Uncanny X-Men #249, uma das mais importantes para mim, autor e criador do blog.
No Ano 1 do blog Destrutor, eu já tinha feito bios dos criadores do personagem Destrutor: o escritor Arnold Drake e os desenhistas Don Heck e Neal Adams, além de uma matéria completa sobre a trajetória do herói e suas várias versões alternativas. A primeira aparição de Alex Summers aconteceu em The X-Men #54 (1966), com roteiro de Drake e arte de Heck. No número #58, com roteiro de Roy Thomas, Alex surge como Destrutor, com o uniforme desenhado por Adams.
O nome e design do Destrutor inspiraram a aesthetic presente aqui: do original Havok, à tradução incerta para Destrutor no Brasil (esta sequência de tuítes, promovida por mim e envolvendo diversos profissionais de tradução de quadrinhos Marvel para o Brasil, não chegou a um consenso), ao tipo de forma e conteúdo dos poderes de Alex Summers, além da síntese de seu uniforme magistralmente simples, preto chapado com efeitos gráficos circulares de poder em branco e um detalhe vermelho — fruto do gênio de Neal Adams. Tudo me inspirou a traduzir de alguma maneira visual no blog.
Uncanny X-Men #249
A página de abertura de Uncanny X-Men #249 é um clássico praticamente desconhecido da mitologia mutante. Vemos Alex Summers, o Destrutor, na cidade fantasma que serve de base secreta para os X-Men, no meio deserto central da Australia (chamado informalmente de outback), riscando os rostos dos heróis ausentes da equipe.
Eles estão em um símbolo de uma estrela de 8 pontas com os rostos dos 8 integrantes do “Australia Team“: a líder Tempestade, a rainha dos ventos, deusa do clima; a máquina de matar Wolverine, um samurai assassino selvagem; o homem-canhão de plasma Destrutor, dono de um poder estelar; a gata superforte e ladra voadora de poderes Vampira; um tanque em forma de músculos e aço orgânico, o russo Colossus; a cantora raio laser pop star Cristal; o sortudo extraterrestre/extradimensional lindão de 4 dedos Longshot; e a telepata inglesa Psylocke.
Essa formação foi estabelecida logo depois da saga Massacre de Mutantes (1986) e se cristalizou após a saga Queda de Mutantes (1988), quando os X-Men (mais Madelyne Pryor) morreram em Dallas, EUA, enfrentando o Adversário, uma entidade extradimensional que pretendia destruir o planeta. A morte foi televisionada para todo o mundo, mas a deusa Roma reviveu todos logo depois, tornando assim os heróis mutantes verdadeiras lendas no Universo Marvel na época.
O visual do símbolo foi criado por Madelyne Pryor, ex-esposa de Scott Summers, o Ciclope (antigo x-men e atual líder do X-Factor) em Uncanny X-Men #232 (1988), de guarda na base, enquanto os X-Men estavam em uma batalha contra a Ninhada — essa foi a última edição da antiga editora Ann Nocenti, com então novo editor Bob Harras dividindo os trabalhos.
Alex Summers já tinha riscado os rostos de Vampira e Longshot, e agora risca o de Tempestade. Afogado em depressão e autocomiseração, tomando várias cervejas, ele se atenta aos 3 x-men já foram, e se pergunta qual dos 5 restantes será o próximo?
Tempestade acabara de morrer em UXM #248, pelas mãos do próprio Destrutor, que inadvertidamente atirou em uma nave onde ela estava, tentando deter a vilã Babá. Claremont inclusive nos mostra o enterro de Ororo pelas memórias de Alex Summers. Seu epitáfio, curiosamente, não reflete exatamente a celebrada vida de Tempestade: “… nossa amada amiga, que em seu descanso ela tenha a paz que não teve em vida” (tradução livre).
Isso não impede de Destrutor questionar a razão da deusa Roma ter ressuscitado os X-Men ao fim da saga Queda de Mutantes (Uncanny X-Men #227, 1988) para logo depois eles começarem a morrer. Alex também reforça a ideia do símbolo, criado para ser uma espécie de “marca do Zorro” para ser deixado nos lugares onde os X-Men estivessem salvando o mundo (não para serem identificados, mas para que as ações fossem marcadas de alguma maneira), ter sido uma maldição pós-vingança de Madelyne após sua morte (nos eventos da saga Inferno, de 1988, ela desenvolveu enormes poderes místicos).
Alex destaca também a ausência de Wolverine da equipe, finalmente jogando a lata de cerveja que estava bebendo em uma tela de computador, maquinário que antes Madelyne manuseava.
O arremesso da lata de alguma forma liga um vídeo-playback dos eventos que mataram Tempestade, reforçando a culpa em Alex. Ele não se perdoa por ter sido descuidado e atira uma rajada de plasma na tela, que na explosão subsequente o acaba ferindo.
Alex cai desacordado, com um painel em destaque para o equipamento se regenerando. Vale relembrar: a base foi tomada à força dos Carniceiros, ciborgues criminosos e assassinos de mutantes, em Uncanny X-Men #229 (1989).
Toda essa introdução é mais um passo para o desenvolvimento de Alex Summers, sempre o cara com problemas de autoconfiança e aceitação de seus poderes, e que aqui está em um mood Wolverine: desbocado e num blasé violento.
Como estava desmaiado, ele perde a ligação telefônica de Lorna Dana, a Polaris, sua antiga namorada, que passou um bom tempo possuída pela vilã Maligna, uma mutante sem corpo que possuí as pessoas. Maligna ficou no controle de Polaris depois dos eventos de Massacre de Mutantes, e a mutante magnética só foi conseguir se livrar dela no fim da saga Inferno (Uncanny X-Men #243, 1989). Mesmo assim, Lorna ainda a vê, como uma alucinação. Ou não?
Lorna arrebenta a cabine telefônica onde está no final da ligação, em um fim do mundo em Punta Arenas, cidade ao sul do Chile — e alguns marinheiros a ajudam.
Voltemos para a Australia. Colossus tenta espairecer com seus desenhos, mas o mais centrado e estável dos x-men está cheio, como ele mesmo diz, e soca seus materiais de arte.
Os Carniceiros estão à espreita, com Lady Letal avaliando com cuidado os desenhos do artista russo, identificando o tormento pelo qual ele está passando. Aqui temos um belo painel de Marc Silvestri e Dan Green, que mostram o dinamismo que conseguiam na narrativa visual das histórias dos X-Men na época. Simplesmente um dos melhores.
Letal é uma inimiga de longa data de Wolverine, e se juntou aos Carniceiros, sob liderança de Donald Pierce, antigo membro do Clube do Inferno. Todos eles detestam mutantes, mas odeiam Wolverine acima de tudo. Pierce faz questão de frisar isso.
Eles estão à espera da chegada do mutante, e pretendem usar os cadáveres dos outros X-Men como mensagem de boas-vindas para o baixinho. Na verdade, o líder ciborgue se vê como um defensor da humanidade, desejando expurgar a “escória mutante da face da Terra“.
Claremont arma uma aqui, nos fazendo crer que os Carniceiros estavam bem próximos dos X-Men, em um local não-revelado na cidade fantasma. Como que os heróis não identificaram intrusos nas proximidades?
Nem Betsy Braddock, a Psylocke, uma telapata já experiente aqui, conseguiu identificá-los. De qualquer maneira, ela soube do que houve com Destrutor e foi ao seu encontro. Mas alguém já tinha ajudado Alex, tratando seus ferimentos, o colocando na cama (!), anotando o pedido de ajuda de Lorna (!!) e lhe desejando boa recuperação (!!!), com flores e tudo (!?).
Alex fica na defensiva com Betsy, que entra no quarto de sopetão. O cara acha que ela espiona demais seus pensamentos, já ela parece estar a par de vários dos acontecimentos por intuição e por uma leve intrusão mental que ela julga menos invasiva.
O que ambos não conseguem achar explicação é quem é o misterioso “socorrista amável” e o porquê do computador agora estar intacto da rajada plasmática de Alex, que inclusive levanta a possibilidade de investigar mais o misterioso maquinário.
Os dois também discutem a respeito de quem pode ser o novo líder dos X-Men, cargo que os dois parecem estar dispostos a ocupar.
Uma vez identificada a chamada e de onde vem, Destrutor, Psylocke, Cristal e Colossus partem em busca de Lorna, graças aos poderes de Teleporter, que pode abrir portais.
Alex considera que ele o pode ter ajudado afinal, e imagina se ele pode ser uma nova figura “paterna” como o Professor Charles Xavier. Destaque 2: mais uma vez Psylocke não consegue rastrear telepaticamente ninguém por perto, o que não faz sentido, já que os Carniceiros estão por ali perto.
Lorna está em um bar com os marinheiros, sendo cuidada de seus ferimentos, até que o local é invadido por bárbaros montados em dinossauros. São guerreiros da Terra Selvagem, lugar famoso no Universo Marvel, um paraíso tropical pré-histórico escondido no meio da Antártida, onde dinossauros jurássicos e seres humanos ainda convivem lado a lado. Os guerreiros matam todos os presentes e tentam capturar Lorna.
Os X-Men surgem bem perto e Psylocke mal pode conter os pensamentos invasivos das vítimas da matança.
Destrutor está completamente sem paciência e vaporiza um dos dinossauros com uma rajada de plasma, assustando seus companheiros.
E quando Alex pega um dos bárbaros para fazê-lo falar, ele dá a certeza para todos que mudou muito, ameaçando o homem de morte, em uma cena que exemplifica bem a espiral de descontrole em que se encontra — sua fala podia muito bem ser a de Wolverine. Silvestri e Green inclusive o desenham de modo mais desleixado, ele nem está com sua máscara, e parte do uniforme está rasgado.
Os Metamorfos (mutantes articificiais criados por Magneto em X-Men #62, 1969) entram na batalha. Cegante ofusca a visão dos heróis, Bárbarus luta com Colussus, Gaza ataca Cristal e Anfíbius parte para cima de Psylocke. A telepata mostra que pode ser a líder de campo, orientando Cristal a derrotar seu oponente e o dela, em uma estratégia brilhante. Ela ajuda Colossus também, e até forma um plano para determinar o que está acontecendo.
Zaladane se mostra enfim. Ela está com Lorna Dane, dopada com a fragância do Lótus Negro, uma planta narcótica. A vilã diz que agora é a nova senhora da Terra Selvagem, e que a agressão de suas tropas é em represália à poluição das águas perto da Antártida, devido a um navio cheio de óleo cru que ali aportou. Ela quer matar toda a população da cidade como lição.
Cristal intervém, diz que ela não pode se proclamar líder da Terra Selvagem, e que nenhuma vida ali será tomada. E Colussus ameaça Zaladane, dizendo para ela partir imediatamente, enquanto ainda está com vida.
A vilã nota algo de errado, já que os X-Men estão sem Tempestade e Wolverine na liderança, e geralmente não oferecem termos de rendição. Mas ela aceita, contanto que seus Metamorfos e tropas possam partir em paz. Os X-Men concordam.
Uncanny X-Men #249 termina com Destrutor disfarçado de um dos guerreiros da horda. Perto de Zaladane, que ele diz não conhecer (um erro de continuidade), ouve a vilã dizendo que Lorna é sua irmã, e que juntas vão fazer o mundo tremer. Um bom gancho para a edição seguinte.
Os plots de Chris Claremont
CHRIS CLAREMONT | O arquiteto da fabulosa mitologia dos X-Men
A edição seguinte, Uncanny X-Men #250, apesar do marco aparentemente importante de 250 edições, não teve nada de especial por parte da Marvel, sendo uma edição ordinária como qualquer outra — ela apenas encerra a aventura contra Zaladane, que é derrotada. Vale dizer que nela temos uma premonição de Psylocke (poder que Claremont raramente usava na personagem) sobre sua morte, a de Colossus, Cristal e Destrutor quando retornassem para a base australiana. A única salvação seria o Portal do Destino. E, de fato, em Uncanny X-Men #251, vemos ela e os outros atravessarem o portal para escapar da morte certa dos Carniceiros.
Uma das ideias originais de Chris Claremont na sua condução dos X-Men era deixar o Professor Charles Xavier permanentemente fora dos assuntos mutantes. Ele já tinha feito isso em Uncanny X-Men #200 (1985), quando Xavier deixou a sua escola aos cuidados de Magneto, e partiu da Terra para sarar ferimentos no espaço com a Imperatriz Lilandra, do Império Shiar, junto com os Piratas Siderais. Claremont o queria até mesmo morto, e ele tinha planos para isso quando o título Uncanny X-Men chegasse no número #300.
Quando criou Teleporter, em Uncanny X-Men #229 (1988), Claremont queria que algo para substituir a nova figura de mentor para a equipe. O roteirista queria deixar os heróis fora dos Estados Unidos e fazê-los rodar em uma world tour com a base australiana como home eventual, atuando como verdadeiras lendas (um dos “efeitos colaterais” da ressurreição dos X-Men eram ser invisíveis a sensores eletrônicos e artes místicas), até pelo menos UXM #300, quando mudaria tudo de novo.
E se não foi Teleporter quem ajudou Alex desacordado, muito provavelmente foi Jubileu, uma menina mutante que surgiu em UXM #244, e que era outra intrusa que estava zanzando ali pela base dos X-Men, e que seria de grande ajuda para Wolverine, quando ele retorna na edição Uncanny X-Men #251.
Outro plot abandonado foi o equipamento mecânico e eletrônico que se regenera, como vimos na rajada de Destrutor. Será que a base dos Carniceiros era outro tipo de ser consciente, uma cidade-ciborgue? Era efeito místico residual da saga Queda de Mutantes? Ou de Inferno? Era o vilão tecno-orgânico Magus de alguma maneira revivendo ali (visto pela última vez em UXM #192)? Ou era algo relacionado ao vilão Mojo?
A antagonista de Uncanny X-Men #249, Zaladane, foi criada por Gerry Conway e Barry Windsor-Smith em Astonishing Tales #3 (1970), em uma história do Ka-Zar (o Tarzan loiro da Marvel), e sempre foi uma personagem menor na mitologia dos X-Men, primeiro como uma sacerdotisa da entidade Garrok, em The Uncanny X-Men #115 (1978), um dos primeiros vilões dos X-Men na Terra Selvagem.
A mulher depois se tornaria assistente do Alto Evolucionário, um cientista brilhante e louco que muitas vezes é retratado como vilão, em uma aventura que também conta com Garrok e o alienígena Terminus, em X-Men Annual #12 (1988), onde os X-Men deixaram o símbolo da estrela de 8 pontas pela primeira vez. Nessa edição também vemos o Alto Evolucionário apresentando o Destrutor para Zaladane. Inclusive Alex pensa que já a conhece de outro lugar. Tudo isso conflita com sua fala no final de UXM #249.
O que Claremont fez com Zaladane foi tentar elevar o status dela para uma vilã maior em Uncanny X-Men #249-250, indicando até um suspeito laço familiar com Lorna Dane (sacaram o sobrenome, né?)
Lorna, aliás, reaparece na história mais ou menos livre da influência da vilã Maligna, cuja equipe, os Carrascos, tinha promovido o Massacre de Mutantes, a saga da chacina contra os mutantes Morlocks, que viviam refugiados no subterrâneo de Nova Tork, EUA. Na época, a vítima dela era a Cristal. Os criminosos aparentemente tinham sido debandados com a morte do seu líder, Sr. Sinistro, na saga Inferno.
Mas acontece que Lorna, na aventura seguinte em UXM #250, aumenta de altura, com aparentes poderes de invulnerabilidade e super-força, a despeito de manter seus poderes magnéticos. A razão disso acontecer nunca foi bem explicada por Claremont.
O roteirista saiu do título antes da resolução desse mistério, em Uncanny X-Men #279 (1991), sendo que ele nem chegou a escrever o desfecho do que estava fazendo na época, a Saga da Ilha Muir (também conhecida como Saga do Rei das Sombras), tarefa que coube ao roteirista Fabian Nicieza, em Uncanny X-Men #280. Foi nessa saga que, a contragosto de Claremont, Xavier voltou do espaço para os X-Men.
Lorna Dane retornou ao normal sem explicações e continuou como uma mutante magnética na nova formação do X-Factor, mostrada logo depois dos eventos de UXM #279, em X-Factor #70 (1991), escrita por Peter David.
O fato de Zaladane e Lorna Dane serem irmãs (ou não) nunca mais foi abordado, ainda que ele tenha sido parcialmente retomado em Uncanny X-Men #274-275 (1991), aventura pouco antes da Saga do Rei das Sombras, quando a vilã morre tentando roubar os poderes de Magneto, aventura também protagonizada por Vampira, recém-surgida do Portal do Destino.
De qualquer maneira, Zaladane estava nos planos de Chris Claremont em sua segunda passagem nos X-Men. Na minissérie X-Treme X-Men: Savage Land (2001-2002), ela seria a antagonista principal. Ela não teria morrido em UXM #275, e seria dona de poderes dessa vez relacionados à terra, o que causaria a destruição de Genosha, a ilha na costa africana que escravizava mutantes, por terríveis terremotos.
No fim, Claremont não usou Zaladane e a ilha foi destruída pelos Sentinelas Selvagens na saga E de Extinção, em New X-Men #115 (2001), escrita por Grant Morrison. Essa aventura marcaria mais uma das várias “mortes” de Magneto, onde ele revelaria para Lorna Dane, antes de morrer, que era seu verdadeiro pai. O que faria de Magneto também o…pai de Zaladane?
Frank Frazetta & Marc Silvestri
Essa icônica capa de Silvestri e Green para Uncanny X-Men #249 é uma recorrência visual na cultura pop, com claras inspirações em outras artes. No caso, por um dos maiores artistas de todos os tempos, Frank Frazetta (1928-2010), uma lenda do mercado de quadrinhos, e mais ainda da ilustração e pintura, com impactos ainda na indústria da música e cinema.
Seu template visual marcou para sempre obras como Conan, Jonh Carter de Marte e Senhor dos Anéis — o Gollum nunca mais seria retratado sem do jeito que ele fez primeiro. Frank fez pôsteres de cinema e suas artes ilustraram a capa de bandas de heavy metal como Dust, Nazareth e Wolfmother.
Na segunda metade dos anos 1940, o jovem Frank Frazetta começou a desenhar várias HQs para editoras menores, dos mais variados estilos: ficção científica, humor, faroeste, terror e funny animals (animais antropomorfizados em situações de aventura engraçadas). Graças a esse último, Frank recebeu convites para entrar para o staff de animação da Disney, mas recusou.
Os quadrinhos de selva, populares graças ao sucesso de Tarzan, ajudaram mais o jeito de desenhar de Frazetta, e ele começou a fazer trabalhos para editoras maiores, como a National Comics (a futura DC Comics) e a EC Comics, célebre por diversos títulos de terror de alta qualidade.
Profissionais gigantes como Al Williamson, Wally Wood e Harvey Kurtzman fizeram longas parcerias com Frazetta na EC. Nessa época, Frank chegou a fazer arte-final de 2 histórias de faroeste para a Timely Comics, que futuramente seria conhecida como Marvel.
Em 1954, Frank recebeu um convite para desenhar as tiras em quadrinhos de Ferdinando, a maior obra de Al Capp, um dos maiores autores do gênero na época. Frazetta foi o ghost artist da série até 1961, quando saiu por diferenças salariais.
O Comics Code Authority, uma série de regras estabelecidas pelo próprio mercado de HQs americanas para escapar da perseguição e censura de políticos conservadores, destruiu o mercado no final dos anos 1950 e grande parte dos 60 — a EC Comics foi a maior vítima.
Frazetta fez trabalhos para a Warren Publishing em 1964, editora que continuou o legado de terror da EC Comics. Em 1965 fez o primeiro pôster para o cinema, O Que É Que Há, Gatinha?, e saiu das HQs em definitivo (o dinheiro que conseguiu foi equivalente a 1 ano de trabalho nos quadrinhos!).
WARREN E O TERROR NAS HQS | “Qualquer dia é sexta-feira, qualquer hora é meia-noite”
Nessa época ele conseguiu trabalho na editora Ace Books, que publicava livros do Tarzan. O Rei das Selvas foi criado pelo escritor Edgar Rice Burroughs na revista pulp The All-Story Magazine (1912), e é até hoje um dos personagens mais famosos e célebres da cultura pop. E Frazetta lapidou seu talento de pintor em 23 artes de capa.
Finalmente, em 1966, Frazetta produziu uma arte para a capa de Conan The Adventurer, primeiro livro de uma série da editora Lancer Books que compilou as histórias do bárbaro selvagem Conan, personagem criado pelo escritor Robert E. Howard. O cimério surgiu na revista pulp Weird Tales, em 1932, e Howard é considerado o pai do gênero Espada & Feitiçaria na literatura. Conan era tão famoso que a Marvel o licenciou para diversos títulos de quadrinhos nos anos 1970.
Essa composição de homem imponente + mulher aos seus pés se tornaria uma constante visual em outros trabalhos de Frank Frazetta. O artista trabalhava só com a imaginação, sem referência, e buscava o abstrato, em uma composição inédita na época de luz e sombras. Frazetta congelava o clímax na cena certa, em uma ambientação pintada muito criativa e extrema. Era inigualável.
E não foi sem razão que Marc Silvestri homenageou o artista em sua capa de UXM #249, ainda mais dada a temática da história na Terra Selvagem. Silvestri era um fã de longa data de Frazetta desde quando era criança, e seu primeiro trabalho para a Marvel foi justamente uma edição de Conan, em Conan The Barbarian #135 (1982). Ele também desenhou várias edições dos títulos The King Conan e Conan King. Em entrevista publicada na Marvel Age #69 (1988), Silvestri diz que gostava muito do tema barbarismo, mas que eventualmente enjoava de desenhar apenas isso. E apesar de Wolverine, Vampira e Tempestade serem seus favoritos para desenhar, ele gostava dos efeitos de poder do Destrutor.
Frazetta fez 8 capas de Conan para a Lancer, que se tornaram tão icônicas que ditam o mood visual do Conan até hoje. No começo dos anos 1970, Frazetta também pintou uma capa para A Princess of Mars, da Doubleday Books, uma compilação das histórias de John Carter, um humano que se vê em meio a uma guerra civil em Marte. A obra foi criada por Edgar Rice Burroughs e é um épico que mistura ficção científica e fantasia, que começou com um conto de mesmo nome, lançado 60 anos antes (!), em 1912, na revista pulp All-Story Magazine. E de novo o mood visual se repete aqui.
Já o quadrinista Richard Corben fez um poster para o longa-metragem animado Heavy Metal – Universo em Fantasia (1981), a clássica animação baseada na revista de mesmo nome, lançada em 1977, uma das mais notórias antologias americanas de histórias em quadrinhos, marcadas pela temática adulta de fantasia e ficção científica, com cenas gráficas de nudez, sexo e violência, com obras de grandes artistas dos quadrinhos.
HEAVY METAL | Universo em fantasia em uma das melhores animações do cinema
A Heavy Metal era a versão americana mais nova da Métal hurlant, revista lançada em 1974 na França pela editora Les Humanoïdes Associés, projeto que revolucinou os quadrinhos em toda a Europa e na cultura pop em geral, inspirando direta ou indiretamente a estética de inúmeras obras gráficas, literárias e cinematográficas.
A capa de Corben para o filme da Heavy Metal foi apenas uma de várias, com Den, personagem que ele criou para a revista e que estrela uma das animações, mas com certeza foi uma das mais marcantes. E é bem parecida com o trabalho de Frazetta.
Um ano antes, em 1980, a Marvel lançou a revista Epic Illustrated, sob o selo Epic Comics, sua tentativa de capitalizar a experiência artística e criativa de Heavy Metal e Métal hurlant. A capa do número 1 é o único trabalho de Frank Frazetta para a Marvel, com o uso de uma pintura intitulada informalmente “Sete Romanos“.
Em 1983, tivemos mais um longa-metragem clássico de animação no mercado americano, Fogo & Gelo, uma aventura de fantasia medieval com direção de Ralph Bakshi, cineasta conhecido por várias animações famosas da indústria, e roteiros de Roy Thomas e Gerry Conway, duas lendas dos quadrinhos Marvel e DC, com personagens criados por Bakshi e Frank Frazetta. O artista, além de fazer diversas ilustrações para o longa, fez o poster do filme, que remete ao que ele fez várias outras vezes.
Vale citar também que no mesmo ano de 1989 de Uncanny X-Men #249, também tivemos o lançamento de Excalibur #16, outro x-título escrito por Chris Claremont, com aventuras do Noturno, Lince Negra e Fênix/Rachel Summers — x-men sobreviventes do Massacre de Mutantes e que escaparam da Queda de Mutantes — junto com o Capitão Britânia e Meggan. A capa da edição, desenhada por Alan Davis, usa a mesma estética da arte de A Princess of Mars do Frazetta (até mais do que UXM #249), com Noturno no lugar de John Carter, o protagonista dos romances de Burroughs, personagem que, a exemplo do conhecido Conan, foi licenciado pela Marvel para os quadrinhos, com um título que durou 27 edições entre 1977 e 1979.
X-Men #52 e a história de Uncanny
A aventura de Uncanny X-Men #249 foi publicada uma vez só no Brasil, em X-Men #52, lançada nas bancas em abril de 1993 pela editora Abril. A revista também trouxe a edição de Uncanny X-Men #250, mais uma dos Novos Mutantes, extraída de The New Mutants #76 (1989), escrita por Louise Jones Simonson e arte de Rick Buckler — os jovens heróis, depois de um long run em aventuras no espaço (após a “morte” dos X-Men em Dallas), retornam para a Mansão X, mas a encontram destruída (por conta dos eventos finais de Inferno), e acabam em uma aventura com outros jovens mutantes sob a guarda do X-Factor, que lhes dá abrigo. Há também uma pequena história de Marvel Comics Presents #15 (1988), com Jean Grey e uma sobrevivente do Massacre de Mutantes.
(A X-Men #52 foi a primeira revista dos X-Men que comprei em banca, já na intenção de colecionar a série. Eu tinha 11 anos de idade.)
A nomenclatura da revista Uncanny X-Men, que no Brasil é conhecida como Fabulosos X-Men, acompanha a fabulosa complexidade da x-cronologia, mas vamos lá: do número #1, de 1963, até o #49, de 1968, a revista dos X-Men se chamava The X-Men.
O número #50 trouxe pela primeira vez o icônico logo criado por Jim Steranko (com uma linda Polaris na capa, também desenhada por ele), e o The sumiu. A partir da edição #66 (1970), a revista começou a republicar antigas histórias, já que estava vendendo muito mal.
Isso durou longos 5 anos, até o glorioso recomeço com Giant Size X-Men, de 1975, de Len Wein e Dave Cockrum, seguido por X-Men #94, com Chris Claremont assumindo o comando do roteiro dos mutantes.
Já no número seguinte, #95, temos a primeira referência ao termo “uncanny” em X-Men, em um texto de apresentação de Stan Lee no interior da revista. No número #114 (1978), o The retorna, e enfim o Uncanny faz sua estreia, tornando assim a revista The Uncanny X-Men. Mas no número #142 (1981), o The some de novo.
E assim a casa principal dos X-Men seguiu com o nome Uncanny X-Men até sua edição final, no número #544 (2011). Até esse ponto, foi o título mais longevo da Era de Prata da Marvel Comics. Devido ao pensamento editorial da época (e atual) do mercado, os títulos não duram mais tanto tempo, e frequentemente as marcas e nomes são encerradas e revividas a fim de despertar novos interesses comerciais.
Nisso, a revista The Uncanny X-Men teve mais 4 encarnações: uma nova série em 2011, outra em 2013, mais uma em 2016 e a última em 2018.
Também aconteceram medidas a favor de uma lógica própria da editora, como vimos em 2015, quando a Marvel lançou Uncanny X-Men #600, sendo que o título já estava em sua terceira encarnação, então a numeração deveria ser outra, e não “continuada”.
A última série de Uncanny X-Men seguiu os eventos da minissaga Exterminação. Em 2019, o escritor Jonathan Hickman fez as megassagas House of X / Powers of X, que cancelou todas as revistas e revolucionou o mundo mutante como jamais visto.
OS X-MEN DE JONATHAN HICKMAN | Política é um poder mutante na Marvel
Sua história se sustentava em conceitos geopolíticos de uma ilha-nação mutante chamada Krakoa, com todos os mutantes — heróis, vilões e mutantes civis — em uma sociedade rica e poderosa, tudo acompanhando de perto por thrillers políticos, ação, intrigas e aventuras espalhadas por diversos títulos.
E nenhum deles foi chamado Uncanny X-Men (na verdade tinha um chamado simplesmente X-Men, título já criado em 1991).
A Era Krakoa foi uma das melhores fases dos X-Men por anos, ainda que Hickman tenha abandonado sua posição de head e tivesse escrito um “final” de sua passagem, na minissaga Inferno (sem relações com a anterior dos anos 1980).
No fim de 2023, a Marvel promoveu a saga Fall of X, que acendeu o pavio para a explosão do fim da Era Krakoa. O mais recente movimento da editora é redirecionar os x-títulos para novos rumos. Duas delas aconteceram em janeiro de 2024, com as revistas Fall of the House of X e Rise of the Powers of X. Em julho, teremos um novo título dos X-Men. Não há mais detalhes, a não ser essa imagem abaixo.
Teremos a chance de ver algum novo título Uncanny X-Men novamente, depois de 25 anos de Uncanny X-Men #249?
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E os blogs?
O ano de 1989 marcou um período de avanços significativos no mundo tecnológico da informática e da internet. À medida que a tecnologia da computação evoluía rapidamente, novas inovações e descobertas estavam moldando o futuro digital.
Uma das maiores inovações tecnológicas de 1989 foi a criação do World Wide Web por Tim Berners-Lee no CERN (Organização Europeia para Pesquisa Nuclear). O WWW permitiu a navegação e o compartilhamento de informações em uma escala sem precedentes, criando a base para a internet moderna.
Em 1989, os computadores portáteis estavam se tornando mais acessíveis e populares. A Compaq Computer Corporation lançou o primeiro computador portátil IBM PC compatível, o Compaq LTE. Esse avanço permitiu que profissionais e estudantes levassem a computação consigo, ampliando as possibilidades de trabalho e estudo.
A Intel lançou o processador Intel 80486 (486) em 1989, que oferecia velocidades de processamento muito mais rápidas do que seus predecessores. Com um design inovador e recursos avançados, o 486 contribuiu para melhorar o desempenho geral dos computadores pessoais e foi um marco na indústria de processadores.
Embora a internet estivesse em sua fase inicial, a expectativa para 1990 era de crescimento contínuo. O aumento no número de usuários e a expansão das capacidades de comunicação sugeriam que a internet logo se tornaria uma presença onipresente na sociedade.
Redes sem fio, computação gráfica avançada, armazenamento de dados aprimorado e a expansão da internet iriam abrir as portas de um mundo em constante transformação, onde a tecnologia continuaria a desempenhar um papel fundamental em nossas vidas. Tudo isso iria permitir o aparecimento e fortalecimento dos blogs.
Um formato pré-blog podia já ser encontrado em 1990, com softwares de fóruns de discussão como o WebEx criando diálogos via threads. Antes mesmo havia vários formatos de comunidades digitais como o Usenet, serviços comerciais online como o GEnie, BiX e Compuserve, além das listas de discussão e do Bulletim Board System (BBS), talvez o mais conhecido do gênero.
Os fóruns de discussão foram criados em cima de uma plataforma de conversa plural-colaborativa feito pelo programador John Smith em 1987, que se tornou um grande sucesso na época.
O termo weblog foi criado por Jorn Barger em dezembro de 1997, considerado o blogueiro precursor, ainda que as nomenclaturas nem existissem. Já a abreviação blog só foi surgir em 1999 por Peter Merholz, quando ele desmembrou a palavra weblog para formar a frase we blog (“nós blogamos”), na barra lateral de seu blog Peterme.com, que ele manteve atualizado até o começo do ano passado.
Pouco depois, o programador Evan Williams, da empresa de informática Pyra Labs, usou blog tanto como substantivo quanto verbo (to blog ou “blogar”, “editar ou postar em um weblog“), aplicando a palavra blogger em conjunção com o serviço Blogger, o que levou à popularização dos termos, mais ainda quando o Google comprou a empresa em 2003, formando assim o Blogspot.
Dois anos depois, em 2005, minha professora de Novas Tecnologias da Comunicação, Mirna Tonus, já tinha me orientado a montar um blog. Já contei essa história em 2 oportunidades, aqui e aqui.
Mas foi apenas em 15 de fevereiro de 2018 que o Destrutor nasceu de fato.
E desde então aqui estamos. Aliás…
Obrigado por ler até aqui!
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