Em sua segunda passagem pelo cinema, Raul Julia conseguiu um destaque maior do que seu filme anterior, e aqui faz parte de um belo thriller lançado no começo dos anos 1970, A Organização.
Estrelado pelo ator Sidney Poitier, ele é o tenente Virgil Tibbs, um dos policiais mais legais do cinema antes disso ser moda.
Poitier é um dos mais famosos e célebres de Hollywood, ainda mais por ser negro em um meio majoritariamente branco — e racista.
O filme precede o mood de gênero cinematográfico cop, “tira“, como é mais conhecido no Brasil.
Virgil investiga o assassinato de um empresário que pode estar envolvido no tráfico internacional, e acaba esbarrando em uma improvável tropa de vigilantes urbanos, muitos deles vítimas do tráfico e até ex-viciados.
Raul Julia faz parte desse grupo que combate essa organização de narcotráfico, que acaba dando título ao filme de Don Medford.
A trama tem enorme potência e significado: são jovens revolucionários ex-drogados e vítimas do tráfico que roubam milhões em heroína de uma corporação para manter a droga fora das ruas.
Mas quando eles são falsamente acusados de assassinato, apenas uma força incorruptível da polícia pode ajudá-los.
A Organização
(The Organization, 1971, de Don Medford)
A primeira linha de diálogo de A Organização tem 8 minutos e o segundo com 6 minutos, um começo nada usual para um thriller. Mas a ação em questão é tão bem construída que segura o interesse.
O título A Organização faz referência direta a uma organização (ah, vá) de traficantes internacionais, combatida por Tibbs e um grupo de vigilantes civis.
Na trama, uma fábrica em São Francisco é invadida e seu principal executivo é assassinado. O tenente Virgil Tibbs é designado para o caso, e as pistas o levam a acreditar que a vítima foi raptada e torturada em outro lugar, antes de ser deixado na fábrica.
Antes do policial se inteirar mais na investigação, um grupo de vigilantes civis entra em contato com Tibbs.
A maioria dos membros são ex-viciados ou parentes de vítimas das drogas, e afirmam que a fábrica é uma fachada para o tráfico internacional — eles roubaram 4 milhões de dólares em heroína, que estava no cofre do executivo.
Sua invasão e exposição ocorreram para que as autoridades tomasse conhecimento de tudo isso.
Tibbs não quer colaborar com os vigilantes. Mas quando o tira prende o segurança para interrogá-lo, o guarda é assassinado dentro de um carro da polícia.
Com esse segundo crime em cena, Virgil passa a agir em conjunto com o grupo, para tentar conseguir provas e desbaratar a quadrilha, mesmo com o policial sob suspeita de seus superiores e do departamento de narcóticos, por estar próximo dessas pessoas.
Raul Julia entra na trama como um dos revolucionários, Juan, que pensa em revender a heroína que pegaram na intenção de se aproximar dos traficantes e conseguir meio milhão de dólares.
Sua ideia é até boa: metade das drogas por metade do dinheiro, em uma troca em pastas idênticas no meio de uma praça lotada.
Mas a presença de um guarda aleatório no momento da troca põe tudo a perder.
A Organização sofre de outros problemas inerentes à uma produção cinematográfica de 1971, mas ainda é uma bela pedida para quem gosta do mundo policial/criminal como história. E há uma aqui que é bem contada.
O filme dirigido por Don Medford foi baseado no roteiro de James R. Webb e John Ball. Além de Sidney Poitier e Raul Julia, temos Barbara McNair e Gerald S. O’Loughlin no elenco.
Medford já tinha dirigido vários episódios do seriado de TV Além da Imaginação (1960-1963).
Já Webb teria como maior destaque de sua carreira o roteiro do filme Cabo do Medo (1991), clássico do thriller criminal dirigido por Martin Scorcese e estrelado por Robert De Niro.
Este foi o terceiro filme de Poitier como Virgil Tibbs, com o detetive já aparecendo nos longas In The Heat of The Night, conhecido como No Calor da Noite (1967), e Noite Sem Fim (1970), originalmente chamado de They Call Me Mister Tibbs!
Isso fez dele o primeiro tira do cinema a ter sua própria franquia nas telonas, antecedendo até mesmo Dirty Harry com Perseguidor Implacável (1971), dirigido por Don Siegel e estrelado por Clint Eastwood.
Raul, dois Juan
Antes de A Organização, Raul Julia teve uma participação em outro filme, Been Down So Long It Looks Like Up to Me, com direção de Jeffrey Young e roteiros de Robert Schlitt, em cima de um romance de mesmo nome, escrito por Richard Farina.
Chato e modorrento, acompanhamos Gnossos “Paps” Pappadopoul (Barry Primus), um estudante vagabundo que tenta entender (e discordar) do mundo a partir de uma cidade americana em 1958.
Raul tem um pequeno papel, também com nome de Juan, com um sotaque grotesco. Também é um aluno de ambiente acadêmico.
Schlitt, que escreveu o roteiro, foi produtor da série policial Hill Street Blues (1980), pioneira em elevar a qualidade narrativa do audiovisual televisivo americano, influenciando os realizadores de grandes séries como Sopranos e The Wire, que mudaram a linguagem televisiva de seriados.
Been Down So Long It Looks Like Up to Me foi o único filme dirigido por Jeffrey Young.
Esse drama da Paramount Pictures é tão menor que nem trailer tem no YouTube, mas alguém postou o filme inteiro por lá — recomendamos que não o veja, vimos apenas a fim da Maratona Raul Julia.
Maratona Raul Julia
Raul Rafael Carlos Julia y Arcelay nasceu em San Juan, cidade de Porto Rico, em 9 de março de 1940. Era o mais novo de quatro irmãos.
Desde cedo, o pequeno Raul Rafael demonstrava interesse pelas artes dramáticas. E quando ficou grande — grande mesmo, com 1,87 de altura — se encantou com a performance do ator Orson Bean em uma boate noturna, o que fez tomar a decisão de estudar teatro na Universidade de Porto Rico.
Se mudou para Manhattan (NY), em 1964, e rapidamente encontrou trabalho em peças e shows da Broadway.
E foram os seguidos trabalhos nos palcos lhe abriram as portas para o audiovisual gravado.
Seu primeiro filme nos cinemas foi Os Viciados (também com temática de drogas) e que inaugura nossa maratona de filmes do ator. Abaixo, você pode ver um trecho dublado de A Organização, com Sidney Poitier e Raul Julia.
O Internet Movie Database dá 50 créditos de atuação de Raul Julia como ator em produções de cinema e filmes para a TV. O imenso legado criativo de Raul Julia no cinema será resenhado aqui, tal qual já fizemos por aqui com a atriz Jennifer Connelly, e traremos todas essas produções para cá.
Abaixo, um vídeo produzido pelo American Masters, que destaca profissionais da arte e cultura nos Estados Unidos. E a rendição deles para o talento de Raul Julia.
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