POLLOCK | Jennifer Connelly e a tela dos quadros na tela do cinema

Assim como a vida da maioria dos pintores, o filme Pollock ganha outros contornos com o passar do tempo — Jennifer Connelly não é motivo de tal feito no longa, nem era esse o objetivo.

O longa-metragem foi o projeto dos sonhos da vida do ator Ed Harris.

Lançado nos cinemas no ano 2000, a cinebiografia de Jackson Pollock narra parte da vida de um dos maiores artistas visuais dos Estados Unidos.

O pintor se tornou uma celebridade da noite para o dia depois que a revista Life o publicou em um artigo.

Ed Harris dirige e veste a pele do artista no filme, em uma narrativa pré-fama e pré-morte. De temperamento genioso, alcoólatra, infiel e de enorme talento para exteriorizar seu conflituoso ambiente interno de emoções e angústia em pinturas malucas feitas a base de uma técnica de pintura chamada gotejamento, Pollock é uma figura rica, mas que Harris não deixou no mesmo nível ao executar esse filme para seu ídolo.

Com planos e tomadas ordinárias em uma direção simples demais, uma cadência monótona de atos de um roteiro sem muitas reviravoltas, e poucos ganchos criativos, a obra oferece um panorama básico a respeito de quem foi Paul Jackson Pollock (1912-1956).

O filme mostra a trajetória da fama à decadência do pintor ao longo de sua vida, partindo de sua revelação para o mundo das artes como principal expoente do expressionismo abstrato, até sua morte prematura e trágica em um acidente de carro.

A espiral com que Pollock se coloca é um dos atrativos do longa-metragem, a obra da vida do artista pelas mãos de um dos seus maiores ídolos, que fez de tudo para contar essa fascinante história.

Pollock
(Pollock, 2000, de Ed Harris)

Jennifer Connelly Pollock
Jackson Pollcok nada seria sem a esposa, Lee Krasner

Jennifer Connely aparece 20 minutos antes do longa-metragem se encerrar, no papel da amante de Pollock, Ruth Kligman.

Com pouco a fazer além de ser bonita e instigante, qualquer comentário dela a respeito no longa se torna desnecessário.

O protagonismo feminino fica com a atriz Marcia Gay Harden, que interpretou a artista plástica Lee Krasner, esposa de Pollock, papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

Um ano depois, seria Jennifer Connelly a ganhar a mesma estatueta.

Marcia Gay Harden interpreta a artista plástica Lee Krasner

Ed Harris vinha de uma carreira consagrada, com atuação em inúmeros filmes e quatro indicações ao Oscar.

Para produzir o longa, teve de recorrer a uma série de estúdios e produtores. Várias edições diferentes foram feitas do filme cada vez que o financiador era trocado, até que a Sony bancou o que restava, e lançou o produto nos cinemas.

O filme recebeu críticas positivas em seu lançamento, e o próprio Harris foi indicado ao Oscar de Melhor Ator no ano.

O roteiro do filme foi adaptado por Barbara Turner e Susan Emshwiller do livro Jackson Pollock: An American Saga, escrito por Steven Naifeh e Gregory White Smith.

Foi esse livro que Harris leu ainda na juventude, um presente dado por seu pai (que aparece no filme — na cena em que aparece um veterinário).

Jennifer Connelly em aparição de luxo em Pollock. Tinha 30 anos de idade

Quando conheceu Lee Krasner, Pollock consegue sair de um marasmo social em que se encontrava (morava de favor com o irmão e cunhada).

Com uma atuação íntima e simpática de Marcia, a personagem se mostra fundamental para Pollock, que nada seria sem ela. A artista imprime nas telas dos quadros, na tela do cinema e na tela da vida a sua força de namorada, de esposa, de parceira, de ajudante.

É ela quem também apresentou Pollock a Peggy Guggenheim, uma das mais importantes mecenas das artes nos EUA da época.

Mesmo com a mágica irresistível de Pollock — ele era um artista que pintava sem pincéis — o peso que Lee provoca na relação é inegável, e é mais do que merecido dar muito crédito a ela na construção do mito de Pollock.

A interpretação de Ed foi tão intensa que ele passou por um esgotamento nervoso nas gravações, e interrompeu parte do trabalho por algum tempo.

O filme é uma constelação de atores consagrados: as oscarizadas Marcia Gay Harden e Jennifer Connelly, e os dois nomeados Ed Harris (perdeu para Russel Crowe de Gladiador) e Amy Madigan.

Infelizmente, isso pouco conta a favor da diversão ou interesse que o filme provoca. Outros atores foram considerados para os papéis, como Jack Nicholson para interpretar Pollock, e Frances McDormand para fazer Lee.

Houve capricho na produção. A diretora de fotografia Lisa Rinzler utilizou cores e ambientações inspiradas no pintor Edward Hopper.

O desenhista de produção Mark Friedberg recriou em detalhes a casa de campo onde Pollock e Krasner moraram, e o vestuário foi feito com esmero — Pollock e Lee eram conhecidos por se vestirem bem, e até mesmo influenciarem a indústria da moda.

As pinturas que aparecem no longa foram produzidas pelo próprio Harris, e os quadros finalizados foram produzidos por artistas que copiaram os originais.

O estilo expressionista abstrato de Pollock se tornou uma marca poderosa pessoal, e ele despertou enorme interesse no público.

Sua esposa Lee era mais que isso — era parceira de pintura e curadora. E, infelizmente, cuidadora. Irascível, nojento e baixo são bons adjetivos que ninguém recusaria dar ao pintor, que sofria de neurose clínica e tinha colapsos nervosos.

O estilo de pintura de Pollock lhe rendia admiração e desdém. Sua reputação como o pintor de vanguarda mais bem pago da América foi de curta duração, e motivo de enorme pressão pessoal e social.

Ele começou a beber exageradamente, e a tomar escolhas criativas pouco eficientes do ponto de vista artístico, como se esquivar de sua marca registrada de gotejamento colorido, e fazer quadros com derrames pretos.

Como um dos primeiros artistas e peça-chave para o expressionismo abstrato, o cenário do pós-guerra norte-americano (principalmente em Nova Iorque) teve muito peso de suas obras.

Em agosto de 1949, a revista Life publicou em sua capa uma manchete dizendo: “Jackson Pollock: Será ele o maior artista vivo dos Estados Unidos?“.

Essa matéria deu impulso a sua carreira. Já conhecido no mundo da arte de Nova York, Pollock agora passava a ser conhecido nacionalmente como a primeira celebridade americana no mundo das artes plásticas. A arte moderna e o rumo que ela tomaria estava em suas mãos.

Assim, Jackson Pollock gozou de fama e notoriedade consideráveis, nos períodos de tempo em que estava menos volátil socialmente.

A espiral de decadência com que Jackson Pollock impõe a própria vida é bem mostrada no longa-metragem de Ed Harris

Morreu aos 44 anos em um acidente de carro. Estava ao volante, alcoolizado. Se matou, e matou uma mulher inocente.

Sobrou a amante De Jackson Pollock para contar a história — a personagem de Jennifer Connelly, no caso.

Pollock é um filme de um homem obstinado. Ed pagou os roteiristas. Ele levantou a grana com os estúdios. Ele estrelou. Ele dirigiu. Todos os méritos ao homem.

Ed Harris ficou famoso em papéis nos filmes O Segredo do Abismo (1989), Apollo 13 (1995) e O Show de Truman – O Show da Vida (1998). Ele pode ser visto recentemente na série da HBO, Westworld (2016~).

Foi indicado ao Oscar quatro vezes, três como melhor ator coadjuvante, em Apollo 13, Truman e As Horas (2002)– fora em Pollock. Seu Pollock não é sobre a Vida e Obra de Jackson Pollock.

Harris está mais interessado em contar uma boa história gotejada como a que o pintor fazia. Se o quadro completo nas telas de cinema é satisfatório, é algo intrínseco ao espectador, literalmente — assim como é preciso ver um quadro, já que qualquer descrição não faz justiça, é preciso assistir Pollock para ver se gosta.

Jennifer Connelly Pollock

19º filme de Jennifer Connelly
Pollock
Estados Unidos

/// A MARATONA JENNIFER CONNELLY.

1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986) 
5- Essas Garotas (1988) 
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996) 
14- Círculo das Vaidades (1996) 
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000) 
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007) 
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010) 
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)

Jennifer Connelly Pollock

A revista Life em uma das cenas do filme, fato divisor de águas na carreira do artista

Jennifer Connelly Pollock
A capa da revista Life com Jackson Pollock
Jennifer Connelly Pollock
A matéria de Jackson Pollock na revista
Convergence, 1952
detalhe de Byrd, 1952
detalhe de Number, 1952
Full Fathom Five, 1947
Lucifer, 1947
Shimmering Substance, 1946
Jennifer Connelly Pollock
Uma das cenas do filme. O maior representante do expressionismo abstrato nas artes plásticas, Jackson Pollock ficou bastante conhecido pela sua técnica de gotejamento (1947-1952), quando derramava tinta líquida em quadros deitados no chão. Seus trabalhos tem influência de artistas como José Clemente Orozco, David Alfaro Siqueiros, Pablo Picasso, Paul Klee, Joan Miró e Max Ernst, bem como suas experiências pessoais jungianas quando fazia psicoterapia.

/// ROGER EBERT. O maior crítico de cinema dos Estados Unidos gostou bastante do filme de Ed Harris. Você pode ver o que ele tem a dizer aqui.

/// ROTTEN TOMATOES. O site agregador de críticas dá uma pontuação de 81% ao filme Pollock. A imagem promocional usada para o filme no site é uma de Ed Harris com Jennifer Connelly.

/// TRÊS FILMES. Ed Harris e Jennifer Connelly, depois de Pollock, atuaram juntos no filme seguinte da morena — Uma Mente Brilhante, mas não contracenaram juntos. Os dois também estão no filme mais recente a sair da atriz — Top Gun 2: Maverick, com estreia prevista para o final de 2020 — isso ser a pandemia de Covid-19 permitir.

Jennifer Connelly Pollock
Jennifer Connelly em uma das poucas cenas junto com Ed Harris em Pollock

/// OSCAR. Jennifer Connelly e Marcia Gay Harden já tinham atuado juntas em Círculo das Vaidades, de 1996, o primeiro filme independente da morena. As duas levaram o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante uma seguida da outra — o prêmio de Marcia em 2001, por Pollock, e Jennifer por Uma Mente Brilhante, em 2002.

/// 2000. Nos cinemas passavam filmes como O Homem Bicentenário, Três Reis, A Praia, O Talentoso Ripley, Beleza Americana, O Informante, Quero Ser John Malkovich, À Espera de Um Milagre, Meninos Não Choram, Erin Brokovich – Uma Mulher de Talento, Magnólia, O Último Portal, Alta Frequência, As Virgens Suicidas, Gladiador, Missão Impossível 2, Premonição, X-Men – O Filme, Mar em Fúria, O Auto da Compadecida, Homem Sem Sombra, A Cela, E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?, Batman do Futuro – O Retorno do Coringa, Psicopata Americano e outros.

A idade de Jennifer Connelly em Pollock é de 30 anos.

Jennifer Connelly não tem Instagram nem outro perfil em redes sociais.

curadoria e textos: tomrocha (twitter e instagram)
jornalista, estrategista de conteúdo e escrevedor de coisas escritas.

Me manda um e-mail: evertonroch@gmail.com)

E siga o perfil do insta do Destrutor, todo dia algo legal e interessante por lá também.

Formas de apoiar o Destrutor

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Nosso principal canal de financiamento é o apoio direto dos leitores. E produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado.

Quer apoiar o Destrutor? tem um jeito simples de fazer isso – é só deixar uma contribuição (ou duas, ou quantas mais quiser)

A chave PIX é destrutor1981@gmail.com

Ajude o Destrutor a crescer, compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostar! Se você gostou desse post, considere compartilhar com quem você acha que vai gostar de ler também. Você pode indicar os posts para seus amigos, seus conhecidos, seus crushes, seus colegas.

E obrigado por ler até o final =)

* Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos
reservados aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.