Tango Bar é um drama musical argentino-porto-riquenho de 1987, dirigido por Marcos Zurinaga e estrelado pelos atores Raul Julia, Rubén Juárez e Valeria Lynch. Foi escrito por Zurinaga com Juan Carlos Codazzi e José Pablo Feinmann, e trata dos dramas e romances de uma Argentina que sofreu uma ditadura militar de 1996 a 1973.
Quando ela é dissolvida em 1983, é a chance de dois amigos que vivem intensamento o tango retomarem suas atividades. É mais um filme da Maratona Raul Julia, e de novo uma parceria do ator com Zunigara, que fez com ele e Antonio Estévez (Rubén Juárez ), um músico de bandonéon (instrumento musical de palhetas livres, semelhante a uma concertina, utilizado principalmente na região do Rio da Prata), retorna do exílio político à Argentina e reencontra um antigo amigo, Ricardo Padin (Raul Julia), poeta e pianista porto-riquenho.
Eles administravam um popular bar de tango em Buenos Aires, Argentina, o Tango Bar (nome que dá título ao longa-metragem), e nessa Argentina que respira democracia novamente, iremos acompanhar novos dramas e aventuras da dupla. Com vários dançarinos talentosos, os parceiros remontam o bar. Ricardo narra e Antonio canta, conduzindo o público pela história e significado do tango, gênero de dança e música tradicional da Argentina.
Mas agora que Antonio e Ricardo estão juntos de novo, um novo velho elemento influencia a amizade de ambos: Elena (Valeria Lynch). Ela é esposa de Antonio, mas ambos mantinham um relacionamento aberto, do qual Ricardo fazia parte. O reencontro só desperta conflitos e revoluciona sentimentos.
Tango Bar foi selecionado como a entrada porto-riquenha para Melhor Filme Estrangeiro no 61º Oscar, mas não foi aceito como indicado — quem venceu foi Pelle, o Conquistador (Dinamarca), concorrendo com Hanussen (Hungria), Salaam Bombay! (Índia), Le maître de musique’ (Bélgica) e Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Espanha).
Tango Bar
(Tango Bar, 1987, de Marcos Zunigara)
Tango, dança e música
O tango é um gênero de dança e música tradicional da Argentina. De enorme carga emocional e dramática, nasceu no final do século XIX, nas margens do Rio da Prata, em Buenos Aires, na Argentina, e em Montevidéu, no Uruguai, a partir da mistura de muitos outros ritmos, como a polca europeia, candombe uruguaio e a milonga espanhola. Outras especulações apontam a fonte de origem como derivados da habanera, vertente da música cubana.
O tango tem ritmos sincopados, caracterizados por instrumentos musicais como o violino, piano, contrabaixo, violão e bandoneón — instrumento elaborado pelo músico Heinrich Band e levado à região do Rio da Prata pelos imigrantes alemães no começo do século XX, aos poucos foi incorporado pela cultura local.
Em sua origem, a dança no tango é feita em pares, e desde o começo era necessária habilidade para fazê-la. Com o passar do tempo, somou complexas coreografias e uma estética que exala sensualidade, paixão e tristeza, em uma dança que exige entrosamento e conexão do casal.
Mas no começo não era assim. O tango originalmente era uma dança masculina suburbana, e os homens não se olhavam. Mas depois o tango passou a ser dançado também por mulheres, geralmente prostitutas, já que a dança era mal-vista pela sociedade. Assim, o tango se popularizou em casas de prostituição, bares e cafés, em uma época que os instrumentos musicais utilizados eram o violão, a flauta e o violino.
Em torno de 1910, a popularidade do tango estava tão grande que ele passou a ser aceito pela burguesia. A partir de então, ganhou os salões de dança comuns. Foi quando os grandes artistas do gênero começaram a aparecer, principalmente entre músicos argentinos e uruguaios.
Os mais famosos foram Carlos Gardel, Ignacio Corsini, Agustín Magaldi, Rosita Quiroga, Azucena Maizani e Enrique Santos Discépolo nos anos 1920, seguidos de Aníbal Troilo, Astor Piazzolla, Armando Pontier, Francisco Canaro, Carlos di Sarli, Juan D’Arienzo e Osvaldo Pugliese nos anos 1940.
Gardel foi o mais famoso dos artistas de Tango. Teve como importante parceiro musical o paulistano Alfredo Le Pera, gravou quase mil canções, entre tangos, fox-trots, fados, pasodobles e músicas folclóricas, vendendo milhares de discos na Argentina, Uruguai, Chile, Brasil, Peru, Colômbia, América Central, Cuba, Estados Unidos, Espanha e Alemanha. Ele aparece em vários momentos de Tango Bar, já que o filme conta a história do tango.
Um dos maiores eventos em torno do tango é o Festival Mundial do Tango, um clássico que acontece desde 2009 em Buenos Aires. O festival conta com apresentações, competição, filmes, aulas, milongas, feiras, teatro, entre outras atividades culturais. Foi o ano que o tango foi elevado à categoria de Patrimônio Oral e Imaterial da Humanidade pela UNESCO. Milhares de pessoas que visitam a Argentina, principalmente sua capital Buenos Aires, fazem questão de ir a casas de show para ver de perto o tango.
Tango e o cinema
Temas como expressividade, grande carga dramática, valorização de sentimentos como a paixão, tristeza e sensualidade são alguns dos mais usados no cinema. E não sem razão no tango também.
O tango é altamente sensual, o que o torna perfeito para cenas românticas e de paixão, já que permite que os personagens expressem emoções intensas, como amor, raiva e tristeza, de maneira dramática, além de ser visualmente impressionante, com movimentos elegantes e figurinos atraentes.
E Carlos Gardel, um dos maiores nomes do tango, também se tornou um nome forte na sétima arte, onde ajudou na popularização do tango, mostrando sua música em 11 filmes, com destaque para El día que me quieras (1935).
Estrelado por Gardel e a atriz espanhola Rosita Moreno, temos aqui um o filho de um rico homem de negócios que se envolve com com uma dançarina de tango, por quem se apaixona. Mas nem tudo será tão fácil assim para eles. Outra grande estrela do tango no filme é o cantor Tito Lusiardo.
As canções em El día que me quieras incluem Suerte negra (uma valsa country, performado pelo trio Carlos Gardel, Tito Lusiardo e Manuel Peluffo; outro do mesmo gênero Guitarra, guitarra mía; a rumba Sol tropical; e os tango Sus ojos se cerraron, Volver e El día que me quieras, que dá nome ao filme.
Vale citar que no mesmo ano que Carlos Gardel estrelou El día que me quieras, ele e Rosita fizeram um filme que também tem o nome de Tango Bar.
No Tango Bar de 1935 temos Gardel como um apostador que perdeu tudo em corridas de cavalo em Buenos Aires. Ele deixa a Argentina e parte em um navio rumo a Barcelona, Espanha, onde pretende abrir um bar de tango. Mas no caminho ele cohece uma linda mulher envolvida em um roubo a joias do navio.
Carlos Gardel morreu no mesmo ano de 1935, num desastre de avião durante uma turnê, em Medellín, na Colômbia. Ele tinha 44 anos de idade. Nesse acidente morreu também seu parceiro Alfredo Le Pera.
O Tango Bar de Gardel e o Tango Bar de Raul Julia não são os únicos filmes com esse nome. Em 1991 tivemos um telefilme franco-italiano com esse título, mas com temática policial. E por uma razão muito simples: o tango geralmente é acompanhado por música envolvente, tornando-o não só perfeito para cenas musicais, mas para uma livre associação com mistério e sedução, adicionando intriga às tramas.
Assim, tivemos muitos filmes que de uma forma ou de outra usam o tango em seus temas e tramas, como Casque d’Or (1952), Meu Último Tango (1960), O Conformista (1970), O Último Tango em Paris (1972), A História de Tango (1998), Vem Dançar Comigo (1992), Perfume de Mulher (1993), Moulin Rouge (2001), Dança comigo? (2004), Volver (2006) e muitos outros.
Marcos Zunigara dirigiu Raul Julia em La Gran Fiesta um ano antes de Tango Bar. O longa foi submetido aos membros da Academia para concorrer ao Oscar de 1987, mas como Tango Bar, não foi selecionado — o ganhador foi De Aanslag (Países Baixos), que venceu 38 (Áustria), Betty Blue (França), O Declínio do Império Americano (Canadá) e My Sweet Little Village (Tchecoslováquia).
Você encontra os dois filmes disponíveis no YouTube se quiser assistir.
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