O BEIJO DA MULHER-ARANHA | Um dos melhores filmes do cinema com Raul Julia

O Beijo da Mulher-Aranha é um filme que quebrou barreiras em 1985, e ainda que hoje talvez visto com outros olhos, na época foi um marco subversivo, um dos grandes filmes do cinema.

A história íntima de dois homens em meio a beijos e cenas de amor numa época em que isso era extremamente raro, em um ambiente de fundo político dos mais tenebrosos e uma metáfora visual por meio de sonhos descritos visualmente tornam esse filme, dirigido pelo argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco um verdadeiro clássico e item obrigatório para quem ama cinema.

O Beijo da Mulher-Aranha
Raul Julia e William Hurt, dois gigantes do cinema em cena

Realista e honesto, o filme se destaca pela direção minuciosa de Hector, pelos diálogos fortes e pelas atuações marcantes de dois grandes atores, o americano William Hurt e o porto-riquenho Raul Julia, com espaço ainda para a atriz brasileira Sônia Braga, que teve a carreira internacional catapultada pelo filme.

O Beijo da Mulher-Aranha
Raul Julia e Sonia Braga em O Beijo da Mulher-Aranha

O Beijo da Mulher-Aranha tem vários outros atores brasileiros no elenco, como José Lewgoy, Milton Gonçalves, Míriam Pires, Nuno Leal Maia, Fernando Torres e Herson Capri.

O Beijo da Mulher-Aranha
Milton Gonçalves e José Lewgoy em O Beijo da Mulher-Aranha

As filmagens aparentam uma dose over de produção e atuação, e isso se conecta diretamente ao mood artístico dos anos 1980 em si. Há outros elementos que parecem destoar, como uma prisão com cela para dois detentos em um país como Brasil, o que indica que esse filme deveria ser na verdade uma ficção científica

Em O Beijo da Mulher-Aranha, tudo é falado em inglês em um país latino-americano, claro. O revolucionário Valentin (Raul Julia) se encontra preso junto com a travesti Molina (William Hurt).

Valentin é arredio e cabeça-dura, e já Molina sabe exatamente o que quer, a começar pela sua sexualidade livre e à flor da pele, em um trabalho gigante de interpretação de Hurt.

O Beijo da Mulher-Aranha
A interpretação de William Hurt lhe garantiu o Oscar de Melhor Ator em 1986

Os dois personagens se vêem em diversos pontos de conexão, e é no meio dessa amizade que temos Molina inserindo a personagem título do filme, a Mulher-Aranha, interpretada por Sonia Braga, que ainda performa outras duas personagens no longa.

O Beijo da Mulher-Aranha é baseado em um romance de mesmo nome (“El Beso de la Mujer Araña“) do escritor gay argentino Manuel Puig, publicado em 1976. Em 1983 o livro já tinha virado uma peça de teatro e em 1993, oito anos depois do filme de Hector Babenco, virou um musical.

O roteiro do filme foi constantemente revisado pelo roteirista Leonard Schrader e o próprio Manuel Puig. Os dois vieram para São Paulo construir juntos o script, que é muito mais bem-humorado que o livro original.

E por mais que o nome do país onde se passa a trama não seja mencionado, fica claro pelo contexto que O Beijo da Mulher Aranha se passa no Brasil.

O Beijo da Mulher-Aranha
Que país que se passa a trama de O Beijo da Mulher-Aranha, né?

Mais que isso, o filme de Hector Babenco é a introdução do realismo mágico latino-americano no mainstream do cinema americano.

O Beijo da Mulher-Aranha

(Kiss of The Spider-Woman, 1985, Hector Babenco)

O Beijo da Mulher-Aranha

Dois presidiários que dividem uma cela numa prisão por motivos bastante distintos. Um deles é Valentin, ativista político de esquerda que faz parte de um grupo revolucionário que luta contra a ditadura no país — um da América do Sul, nunca identificado com clareza, mas os personagens secundários falam português entre si e são na maioria interpretados por atores brasileiros. Logo…

Já Luis Molina é uma travesti presa acusada de ter se envolvido sexualmente com um rapaz menor de idade.

O Beijo da Mulher-Aranha
Molina é preso injustamente

Essas duas pessoas não poderiam poderiam ser mais diferentes, mas ao enfrentar os torturas físicas e mentais da falta de liberdade, Valentin e Molina se aproximam, ainda que a travesti tenha um acordo forçado com as autoridades de arrancar alguma informação de Valentin que possa ser usada contra os ativistas esquerdistas.

Molina tinha uma vida bastante pacata com seus amigos e familiares, mas por essas falsas alegações de corrupção de menores, acabou sendo preso. O acordo com o diretor do presídio era dividir a cela com Valentin, extrair informações relevantes e assim ganhar sua liberdade.

O Beijo da Mulher-Aranha
Valentin é um home rude e “machão” e fica na mesma cela de Molina

Mas, construída uma amizade, Molina começa a se conectar verdadeiramente com Valentin, e ele também o mesmo. Molina narra para o colega de cela as tramas de alguns dos seus filmes favoritos, o que ajuda a passar o tempo, em tela e para nós, em uma metalinguagem que funciona, pois ambos começam a perceber que possuem mais em comum do que imaginam.

O Beijo da Mulher-Aranha
O convívio se encarrega de construir uma amizade improvável entre essas duas pessoas

Enquanto o romance original faz alusão a cinco filmes, a adaptação cinematográfica se concentra em um único filme(s): “Her Real Glory” (“A Verdadeira Glória Dela”, em tradução livre), produzido ostensivamente na Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial pelos nazistas.

Sonia Braga interpreta três personagens em O Beijo da Mulher-Aranha: Leni Lamaison, Marta (interesse amoroso de Valentin) e a Mulher-Aranha em pessoa, que habitam as histórias que Molina conta.

O Beijo da Mulher-Aranha
Sonia Braga na pele de uma de suas personagens em O Beijo da Mulher-Aranha

Valentin vê na revolução política o seu objetivo de vida, aspecto o qual que Molina está cego, pois mesmo nas histórias que conta há cargas emocionais e sociais no qual tenta escapar da uma sociedade que o rejeita.

O Beijo da Mulher-Aranha

A narrativa de O Beijo da Mulher-Aranha se desenvolve quase exclusivamente por meio desses diálogos entre Valentin e Molina, as narrações dos filmes que a travesti gosta e o fundo político no qual eles estão inseridos, em mais uma metalinguagem poderosa que ajuda a entender mais os personagens.

O Beijo da Mulher-Aranha

Essa ambientação do filme vem diretamente do livro original e da vivência de Manuel Puig. Entre os anos de 1973 e 1976, a Argentina vivia um período de intensa instabilidade social e política, vinda de um período de ditadura militar inspirada nas ideais do modelo brasileiro de 1964.

O General Jorge Rafael Videla, sob o pretexto de acabar com os problemas, dá um golpe em 1976. Com isso, a Triple A (Aliança AntiComunista Argentina) passou a ameaçar Manuel Puig apenas por ele ser gay e suas críticas ao atual regime — essa situação levou o autor a se autoexilar no México no mesmo ano.

Todo esse mood terrível permeia os acontecimentos finais do filme, os quais não entraremos em detalhes aqui, mas que é conhecido por todos que conhecem a realidade de uma ditadura militar. O entendimento é poderoso e terrível: quem abdica de suas fantasias é recompensado pela morte, e quem adentra as fantasias pode encontrar a verdadeira liberdade.

O Beijo da Mulher-Aranha, os bastidores

O Beijo da Mulher-Aranha foi indicado para 4 categorias do Oscar: Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Roteiro Adaptado e Melhor Ator para William Hurt, que levou o prêmio para a casa.

Winona Ryder afirma em uma entrevista para um promo de Stranger Things (Netflix) que O Beijo da Mulher-Aranha é um de seus filmes favoritos

Foi o primeiro filme brasileiro — e independente — a ser nomeado ao Oscar de Melhor Filme na história da Academia. Também foi a primeira vez que o prêmio foi dado a um personagem abertamente gay na trama, e mais notável ainda pelo fato ser uma drag queen em vários momentos.

O drama americano Entre Dois Amores foi o filme que derrotou O Beijo da Mulher-Aranha, sendo que Sidney Pollack, quem dirigiu o filme, ganhou também o prêmio de Melhor Diretor. O Oscar de Melhor Roteiro Adaptado também foi para esse filme, baseado no livro Den Afrikanske Farm (1937), da dinamarquesa Karen Blixen.

As filmagens beiravam o caótico. Raul Julia e William Hurt não se deram bem de cara, demoraram a se entrosar, tiveram que pagar passagens aéreas e estadia em hotéis fuleiros do país e Hurt chegou a ser vítima de um sequestro-relâmpago por criminosos armados em um buraco em São Paulo, quando realizavam uma filmagem (!).

Nuno Leal Maia interpreta um amigo de Molina no filme

Foi Hurt quem “salvou” a todos, argumentando com os bandidos. O incidente não foi comunicado ao estúdio produtor, já que a filme com certeza seria paralisado.

A química entre os dois atores só foi obtida quando, nas várias tentativas de encontrarem os tons certos de seus personagens, eles trocaram os papéis nos ensaios. A sugestão foi de Hurt, e isso foi tão bem que eles deram a sugestão para Babenco para a troca ser definitiva, a qual o diretor recusou.

William Hurt e Raul Julia trabalhavam muitas horas todos os dias, até mesmo aos domingos. Nas cenas de prisão, a produção ficava do lado de fora, para que os dois atores tivessem a maior imersão possível na construção de seus personagens.

Babenco estava receoso do filme ficar “americano demais”, e ficou aliviado quando Raul Julia se juntou ao elenco — a escolha anterior era Richard Gere.

Havia tensão também entre Babenco e Hurt, com o ator se estendendo muito em suas diálogos e palavreado rebuscado, que era tudo que o diretor não queria. Eles mal trocavam palavras. Ficou a cargo do assistente de direção Amilcar Monteiro Claro fazer a ponte dos dois, até porque Hector não dominava o inglês tão bem.

Alias, quem não falava nada de inglês era Sonia Braga, que atuou o todo tempo graças a uma decoreba forte em cima das palavras certas pronunciadas corretamente, e tão somente. Na maior parte das vezes, ela nem sabia direito o significado das palavras.

A coreógrafa Maria Borba foi de vital importância para dar fluidez à interpretação de Hurt, que precisava deixar aflorar seu lado feminino no papel. Mara era a própria Mulher-Aranha no set. “Faça os outros acreditarem que sua cabeça é a Lua cheia acima das nuvens em um céu noturno“, dizia.

A biógrafa de Puig, Suzanne Jill Levine, identificou no filme uma compilação de várias produções sobre o Terceiro Reich, como o americano Paris Underground e o austríaco Die große Liebe. O segundo seria um filme de Otto Preminger lançado em 1931, estrelado por Zarah Leander, em uma trama sobre uma uma cantora de cabaré que se apaixona por um tenente nazista alemão.

A trama e Leander serviu de inspiração para Leni Lamaison, a personagem central do filme contado por Molina, interpretada por Sonia Braga, e que recebeu o mesmo nome da atriz e cineasta de filmes-propagandas da Alemanha Nazista, Leni Riefenstahl.

Um dos cortes originais de O Beijo da Mulher-Aranha tinha muito mais sequências de fantasia do que a relação de Molina e Valentin, o que irritou profundamente Raul Julia e William Hurt na pós-produção. A raiva deles era tanta que consideraram comprar as cópias para queimar para ninguém nunca mais ver esse corte.

O Beijo da Mulher-Aranha estreou ao público pela primeira vez no Festival de Cannes em 13 de maio de 1985. Já tinham se passado 59 dias que a ditadura militar brasileira, que durou 21 anos, tinha sido desfeita, em 15 de março de 1985.

 

William Hurt ganhou o prêmio de Melhor Ator em Cannes, o mais prestigiado do cinema independente, e Babenco foi indicado para a Palma de Ouro. O longa foi lançado nos EUA em 26 de julho de 1985 e no Brasil em 13 de abril do ano seguinte, 1986.

Hector Babenco

Hector Babenco

Hector Babenco nasceu em 7 de fevereiro de 1946 em Buenos Aires, Argentina, mas fez sua carreira de cineasta no Brasil.

Seu primeiro longa-metragem foi O Fabuloso Fittipaldi (1973), ocasião na qual não foi creditado. Ele dirigiu O Rei da Noite (1975); Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977); Pixote: A Lei do Mais Fraco (1980), um dos filmes brasileiros mais polêmicos da época, ao mostrar a realidade urbana dos meninos de rua no Brasil, ainda no período da dtadura militar; A Terra é Redonda Como uma Laranja (1984); Ironweed (1987); Brincando nos Campos do Senhor (1991), com Tom Berenger, Daryl Hannah, Kathy Bates, John Lithgow, Aidan Quinn e Tom Waits; Coração Iluminado (1998); Carandiru (2003), um dos filmes mais importantes dos anos 2000, baseado no livro de mesmo nome, escrito pelo médico Dráuzio Varela, e que gerou uma série, Carandiru, Outras Histórias (2005), no qual Hector dirigiu 2 episódios; O Passado (2007); Words with Gods (2014) e Meu Amigo Hindu (2015), com Willem Dafoe e a atriz brasileira Maria Fernanda Cândido.

Hector dirigiu 3 atores Oscarizados: William Hurt, exatamente por O Beijo da Mulher-Aranha, e Jack Nicholson e Meryl Streep, ambos sob sua direção em Ironweed (1987), o trabalho seguinte do diretor depois de O Beijo da Mulher-Aranha.

Vale destacar o próprio Babenco foi nomeado ao Oscar de Melhor Diretor por O Beijo da Mulher-Aranha, logo em sua primeira produção para Hollywood.

Babenco morreu em 13 de julho de 2016 na cidade de São Paulo.

Babenco – Alguém Tem Que Ouvir o Coração e Dizer: Parou (2020), da atriz Bárbara Paz, que foi casada com Hector, foi o filme escolhido para disputar uma vaga no Oscar de 2021. Foi a primeira vez desde 1961, quando o Brasil se inscreveu pela primeira vez na categoria de filme internacional (anteriormente chamada de “filme estrangeiro”), que o escolhido para representar o país foi um documentário, e não um longa de ficção. A produção não chegou aos finalistas, que teve como premiado o dinamarquês Druk – Mais uma Rodada.

Sonia Braga

Sonia Braga

Sonia Braga fez 85 filmes em uma carreira rica e talentosa que permanece ativa até hoje. Sônia Maria Campos Braga nasceu em Maringá, Paraná, no dia 8 de junho de 1950. Ela é atriz e produtora, e seu trabalho em Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976) é um dos marcos do cinema nacional, uma das maiores bilheterias do país até hoje.

Poster de Dona Flor e seus Dois Maridos

Seu sucesso mais recente foi Bacurau (2019) e o último filme que estrelou foi Casamento Armado (2022). Ela já teve indicações aos maiores prêmios americanos da área, como Globo de Ouro, Bafta e o Emmy.

Seu primeiro filme é um clássico do cinema brasileiro, O Bandido da Luz Vermelha (1968). Na década de 1970, Braga participou da versão brasileira de Sesame Street, chamada Vila Sésamo, e teve sua primeira grande chance ao ser convidada para participar da novela Irmãos Coragem (1970), de Janete Clair, na Rede Globo — nos anos seguintes, trabalhou em outras duas novelas da autora. Outra delas foi em Selva de Pedra (1972).

Ela foi casada com ator Arduíno Colassanti. Os dois se conheceram durante as filmagens do filme Mestiça, a Escrava Indomável (1973). Nessa época, eles moravam num veleiro chamado Gaivota que ficava ancorado em Paraty.

Após a separação, namorou por alguns anos Caetano Veloso no final dos anos 1970 — as músicas Tigresa (do disco Bicho, de 1982) e Trem das Cores (do disco Cores, nomes, também de 1982), do Caetano, dizem, foram compostas para ela.

Sonia é tia de Alice Braga, também atriz. Em 1974, ela fez mais uma novela de Janete, a Fogo sobre Terra. No final da década, estrelou mais um clássico do cinema, A Dama do Lotação (1978).

Nos anos 1980, Sonia fez Gabriela (1983), pra variar, mais um clássico nacional.

Depois de fazer O Beijo da Mulher-Aranha, em 1987, Braga tornou-se a primeira brasileira a apresentar uma categoria no Oscar, ao lado do ator Michael Douglas, com apenas 36 anos. Era sua consagração no meca do cinema americano.

Ela estrelou Rebelião em Milagro (1988), onde foi dirigida por Robert Redford, e a comédia Luar sobre Parador (1988), no qual foi indicada ao Globo de Ouro de Melhor Atriz Coadjuvante em 1989.

Esse foi mais um dos filmes com o qual contracenou com Raul Julia. A “parceria” se repetiu em The Rookie – Um Profissional do Perigo (1990), com os dois lado a lado de Clint Eastwood e Charlie Sheen, e Amazônia em Chamas, um telefilme produzido pela HBO em 1994, que conta a história de vida do seringueiro Chico Mendes, interpretado por Raul Julia. Ainda nos anos 90, Sonia Braga estrelou a versão longa-metragem de Tieta (1996).

Nos anos 2000, Sonia fez 3 episódios dos seriados americanos Sex and City (2001) e Alias (2005), e fez até mesmo produções da Marvel, como pode ser visto em 3 episódios de Luke Cage (2016). Sonia segue na ativa e tem 73 anos de idade.

William Hurt

William Hurt

Molina deu muito para William Hurt, que ganhou todos os prêmios de atuação no biênio 1985/1986: Melhor Ator em Cannes, Oscar, Bafta, National Board of Review. Foi uma consagração para um ator incrível desde o começo da carreira.

Hurt nasceu em Washington, capital dos EUA, mas passou a infância em países como Paquistão, Somália e Sudão, graças ao trabalho de seu pai, na Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional — Usaid, em inglês —, uma organização de ajuda humanitária. Antes de cursar Artes Cênicas na Juilliard, um dos mais tradicionais escolas de atuação nos EUA, Hurt chegou a estudar teologia.

Sua estreia nas telas aconteceu em dois episódios da série policial Kojak (1977). Ele já chamou a atenção em seu primeiro filme, Viagens Alucinantes (1980), um filmaço de suspense psicológico.

Poster de Viagens Alucinantes

O thriller de ficção científica psicológica dirigido por Ken Russell rendeu a William Hurt uma indicação ao Globo de Ouro de Ator Revelação daquele ano. O filme seguinte foi o neonoir Corpos Ardentes (1981), de Lawrence Kasdan.

Depois de fazer O Beijo da Mulher-Aranha em 1985 e ganhar o Oscar, William Hurt emplacou mais dois filmes seguidos e foi indicado novamente pelos dois: Os Filhos do Silêncio (1986) e Nos Bastidores da Notícia (1987).

Na cerimônia do Oscar 1986, quando em seu discurso de vencedor, Hurt ficou bastante emocionado e lacônico, e nas suas poucas palavras agradeceu ao Brasil e e chegou a citar a palavra saudade, uma exclusividade da língua portuguesa brasileira.

No fim dos anos 1980, o ator chegou a ir à reabilitação por problemas com álcool e outras drogas. Acusações de violência contra mulheres também surgiram.

Em 2006, William Hurt foi indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por um papel de pouco mais de 5 minutos em tela em Marcas da Violência (2005), um suspense criminal dirigido por David Cronenberg, baseado na história em quadrinhos A History of Violence (1997), escrita por John Wagner e desenhada por Vince Locke. Aliás, esse foi o primeiro filme que é uma adaptação de uma HQ indicada ao Oscar dessa categoria em específico.

William Hurt em Marcas da Violência

Um ano depois, William Hurt fez mais um papel poderoso, em Na Natureza Selvagem (2007) — a cena que seu personagem sai desorientado pelas ruas depois do que aconteceu com seu filho é um momento desolador. O último filme do ator foi A Filha do Rei (2022).

Nos últimos anos, Hurt estava em um papel ativo dentro da continuidade dos filmes do Marvel Studios. Ele estreou em O Incrível Hulk (2008) como General Thadeus Ross. Ele retornou em Capitão América 3 – Guerra Civil (2016), dessa vez como Secretário de Estado, e em Vingadores 3 – Guerra Infinita (2018), Vingadores 4 – Ultimato (2019) e Viúva Negra (2021). Seu legado como Ross na Marvel terá continuação com o trabalho de Harrison Ford, o ator contratado para substituí-lo.

William Hurt morreu em 13 de março de 2022. Ele tinha 71 anos de idade.

Raul fez mais um filme com Raul Julia, A Peste (1992), outra adaptação cinematográfica de um livro, no caso, o clássico do filósofo francês Albert Camus.

E ela fez um filme junto com Jennifer Connelly, o incrível neonoir sci-fi de ação Cidade das Sombras.

William Hurt interpreta um dos únicos personagens que suspeita do aterrador segredo da Cidade das Sombras

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Raul Julia

O Beijo da Mulher-Aranha
Raul Julia e Sonia Braga em O Beijo da Mulher-Aranha

Um ano antes de fazer O Beijo da Mulher-Aranha, Raul Julia fez dois trabalhos para seriados de TV.

Participou de The New Show e American Playhouse, ambos de 1984. American Playhouse é uma das mais clássicas antologias de dramas televisivos da TV dos EUA, com muitos atores consagrados em vários de seus episódios, como David Marshall Grant, Laura Linney, Conchata Ferrell, Eric Roberts, Lynne Thigpen, John Malkovich, Peter Riegert, Lupe Ontiveros, Ben Stiller e Megan Mullally.

Já The New Show é um programa de comédia nos mesmos moldes do Saturday Night Live. O ator e comediante John Candy chegou a participar de um dos episódios também.

Raul Julia e Sonia Braga ficaram muito amigos nas filmagens de O Beijo da Mulher-Aranha, e fizeram juntos depois os já citados longas Luar sobre Parador (1988) e Rookie: Um Profissional do Perigo (1990) e o telefilme Amazônia em Chamas (1994).

Raul Rafael Carlos Julia y Arcelay nasceu em San Juan, cidade de Porto Rico, em 9 de março de 1940. Era o mais novo de quatro irmãos.

O lado artístico veio de sua mãe, Olga, uma cantora mezzo-soprano, e sua gana de trabalho e atuação elétrica provavelmente vieram de seu pai, Raúl Juliá, um engenheiro elétrico (ele também foi pioneiro ao trazer a pizza para Porto Rico, além do frango frito).

A formação escolar de Raul se deu no Colegio San Ignacio de Loyola, de orientação católica-jesuíta. Desde cedo, o pequeno Raul Rafael demonstrava interesse pelas artes dramáticas.

E quando ficou grande — grande mesmo, com 1,87 de altura — se encantou com a performance do ator Orson Bean em uma boate noturna, o que fez tomar a decisão de estudar teatro na Universidade de Porto Rico.

Se mudou para Manhattan (NY), em 1964, e rapidamente encontrou trabalho em peças e shows da Broadway. E fora os seguidos trabalhos nos palcos lhe abriram as portas para o audiovisual gravado.

Raul Julia
Raul Julia

Seus primeiros trabalhos como ator foram pequenas participações em séries de TV, como N.Y.P.D. (1968), Love of Life (1968), Stilleto (1969) e McCloud (1970), até sua estreia nos cinemas em Os Viciados (1971).

OS VICIADOS | Primeiro filme de Raul Julia foi sobre a espiral das drogas

Raul era considerado um dos mais bem-sucedidos atores hispânicos nos EUA, e seu maior sucesso no cinema foi O Beijo da Mulher Aranha (1985).

Ele foi o único homem que ganhou o Emmy e o Globo de Ouro postumamente, ambos por Amazônia em Chamas.

O Internet Movie Database dá 50 créditos de atuação de Raul Julia como ator em produções de cinema e filmes para a TV.

Raul Julia adoeceu por conta de complicações de saúde, e ficou internado um tempo em Nova York, EUA. Ele estava lendo o roteiro de A Balada do Pistoleiro, filme de Robert Rodriguez, na cama de hospital, de onde tinha certeza que sairia.

Mas seu estado de saúde piorou. Ficou em coma por vários dias e faleceu no dia 24 de outubro de 1994, aos 54 anos de idade. Raul Julia teve funeral de estado em Porto Rico, onde foi sepultado com todas as honrarias.

Era apoiador ativo de The Hunger Project, uma fundação de combate à fome no mundo. Por 17 anos, Raul Julia serviu de porta-voz da fundação.

Raul Julia
Raul Julia

O Beijo da Mulher-Aranha
Elenco

William Hurt como Luís Molina
Raúl Juliá como Valentín Arregui
Sônia Braga como Leni Lamaison / Marta / Mulher Aranha
José Lewgoy como guarda
Milton Gonçalves como policial
Miriam Pires como mãe de Molina
Nuno Leal Maia como Gabriel, amigo de Molina
Fernando Torres como Américo
Patricio Bisso como Greta
Herson Capri como Werner
Denise Dumont como Michelle
Miguel Falabella como tenente
Ana Maria Braga como Lídia
Antônio Petrin como Torto
Wilson Grey como Fiasco

O Beijo da Mulher-Aranha

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