Estar na companhia de Posições Comprometedoras é desconfortável pelo fato do longa-metragem abraçar diversos temas para situar sua trama simples: uma dona de casa decide investigar por conta própria a misteriosa morte do seu dentista, e acaba descobrindo que o cara tinha o hábito de tirar fotos comprometedoras de cunho sexual de suas clientes.
Isso acaba servindo para uma temática de comédia, mas que também é de mistério, e ainda algo policial serial killer soft por conta do assassinato, o que acusa a confusão que o diretor Frank Perry conseguiu imprimir no seu filme, baseado em um romance da escritora Susan Isaacs, publicado em 1978, que também escreveu o roteiro do filme.
Nem Susan Sarandon no papel principal resolve, tampouco Raul Julia no elenco, que é a nossa estrela aqui. Posições Comprometedoras é mais um filme da Maratona Cinematográfica Raul Julia, o 13º longa-metragem da carreira dele (e sua 24ª obra audiovisual). Todas estão resenhadas aqui no blog.
Posições Comprometedoras
(Compromising Positions, 1985, de Frank Perry)
A história se passa em Long Island, Nova York, e segue uma dona de casa chamada Judith Singer (interpretada por Sarandon) que se envolve na investigação do assassinato. Enquanto investiga o crime, Judith descobre segredos sombrios e escândalos em sua cidade aparentemente tranquila.
É um mundo de ricos, neuróticos e submissos contemplados em uma comédia que na verdade causa depressão, muito por conta das caracterizações dos personagens. O dentista Bruce Fleckstein (Joe Mantegna) é achado morto dentro de seu consultório. Ele tirava fotos Polaroids (analógicas) de moças em ~~ posições comprometedoras ~~ e atendia da alta sociedade a moças em motéis. Portanto, muita gente tinha razão para matá-lo.
Judith Singer foi a última pessoa que o viu com vida, e decide ela mesmo tentar desvendar o crime. Ela, que antes trabalhava como jornalista, conhece também o detetive David Suarez (Raul Julia), o que balança sua vida pessoal de dois jeitos, já que ela se sente atraída por ele, a despeito de ser casada com Bob Singer (Edward Herrmann), um marido frio e distante, e o fato do policial considerá-la uma suspeita do crime (!).
E nesse jogo clássico de descobrir quem é o assassino, o filme de Frank Perry é hábil em mostrar uma variedade de personagens, um mais esquisito que o outro, para confundir a audiência.
Orbitando em torno de Judith e Suarez estão a escultora Nancy Miller (Judith Ivey), a neurótica Peg Tuccio (Mary Beth Hurt), o casal Brenda Dunck e Dicky (Deborah Rush e Josh Mostel) e até a viúva do dentista, Phyllis Fleckstein (Anne De Salvo). E a verdadeira identidade do criminoso acaba se revelando algo até que criativo.
Posições Comprometedoras foi lançado nos cinemas em 1985, o mesmo ano que Raul Julia estrelou O Beijo da Mulher-Aranha, um dos melhores — senão o melhor — de sua carreira.
Susan Sarandon só aceitou fazer Posições Comprometedoras por grana. Ela estava grávida do primeiro filho, e a melhor maneira de contornar isso nas filmagens foi incorporar roupas largas ao guarda-roupa de sua personagem, o que funcionou bem, já que ela estava interpretando uma ex-jornalista investigativa que se tornou uma dona de casa.
Susan já atuava desde 1970 nos cinemas, e antes de fazer Tempestade, tinha estrelado Atlantic City (1980), filme pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar, de Melhor Atriz Coadjuvante. Ela perdeu para Katherine Hepburn, por Num Lago Dourado.
Antes de Posição Comprometedoras Susan fez Fome de Viver (1983), e depois emplacou As Bruxas de Eastwick (1987), Thelma & Louise (1991), onde mais uma vez foi indicada a Melhor Atriz Coadjuvante — perdeu para Jodie Foster, por O Silêncio dos Inocentes — , O Óleo de Lorenzo (1992), com outra indicação na mesma categoria — perdeu para Emma Thompson, por Retorno a Howard´s End, O Cliente (1994), com mais uma indicação — perdeu para Jessica Lange, por Céu Azul –, e Os Últimos Passos de um Homem (1995), onde finalmente ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.
Raul Julia filmou com Susan Sarandon o filme Tempestade (1981), longa-metragem estrelado por John Cassavetes, baseada em outra peça do dramaturgo inglês.
Raul Julia e Susan Sarandon foram indicados a prêmios por suas atuações nesse filme — ele ganhou uma indicação ao Globo de Ouro de Melhor Ator Coadjuvante, e ela o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante no Festival de Veneza.
Além de Susan Sarandon, Posições Comprometedoras foi o filme de maior destaque da até então novata atriz Joan Allen. Ela seria nomeada 3 vezes para o Oscar em sua carreira. A primeira vez foi em 1995, para Melhor Atriz Coadjuvante, por Nixon, mas Mira Sorvino ganhou por Poderosa Afrodite.
No ano seguinte Joan foi indicada de novo, na mesma categoria, por As Bruxas de Salem (1996), mas quem levou o prêmio foi Juliette Binoche por O Paciente Inglês. Em 2001, ela foi indicada como Melhor Atriz por A Conspiração (2000), mas perdeu para Julia Roberts em Erin Brockovich, uma (de várias) injustiça da Academia, já que a vencedora deveria ter sido Ellen Burstyn pelo seu papel em Réquiem Para um Sonho.
Também foi a estreia de Susan Isaacs como roteirista de cinema. Ela também escreveria o roteiro do filme Está Sobrando Uma Mulher (1987), cuja direção também foi de Frank Perry. Outro filme que ela escreveu foi Uma Luz na Escuridão (1992), dirigido por David Seltzer, o famoso escritor de A Profecia, lançado em 1976 e transformado em filme no mesmo ano por Richard Donner.
Frank Perry fez 21 filmes em sua carreira, e foi indicado ao Oscar de Melhor Diretor em 1963 logo com o primeiro, David e Lisa (1962). Perdeu para David Lean, que fez o imperdível Lawrence da Arábia.
Alguns filmes de destaque de Frank foram o triângulo amoroso O Último Verão (1969), drama perturbador sobre adolescentes descobrindo a sexualidade durante as férias de verão, com a atriz Catherine Burns concorrendo ao Oscar de Melhor Atriz — perdeu para Goldie Hawn em Flor de Cacto — e Trilogy (1969), um drama com roteiro de Truman Capote, um dos jornalistas que criaram o jornalismo literário (“new journalism“), e Mamãezinha Querida (1981), uma cinebiografia sobre a atriz Joan Crawford, que desafiou os estereótipos de gênero ao retratar uma figura materna abusiva e dominadora.
Seu último filme foi On The Bridge (1992), e faleceu em 1995, aos 65 anos de idade. Ele era tio da cantora pop Kate Perry.
Vale citar ainda o ator que interpreta o dentista. Joe Mantegna teve um papel de importância em O Poderoso Chefão Parte III (1990), como Joey Zasa, e está impagável na comédia Ninguém Segura Este Bebê (1994). Mas talvez seu papel mais conhecido seja a dublagem do Tony Gordo, o mafioso italiano da série animada Os Simpsons (1991 ~).
Raul Julia e Deborah Rush já tinham trabalhado juntos na peça de teatro/filme para TV Kiss Me, Petruchio (1979), baseada em uma famosa peça de Shakespeare, filmada no festival de teatro Shakespeare in the Park, em Nova York, e se trata da conhecida A Megera Domada, com Raul Julia interpretando Petruchio e a atriz Meryl Streep como Catarina, naquela que é uma das mais legais encenações já feitas da peça.
Raul Julia
Raul Rafael Carlos Julia y Arcelay nasceu em San Juan, cidade de Porto Rico, em 9 de março de 1940. Era o mais novo de quatro irmãos.
Desde cedo, o pequeno Raul Rafael demonstrava interesse pelas artes dramáticas. E quando ficou grande — grande mesmo, com 1,87 de altura — se encantou com a performance do ator Orson Bean em uma boate noturna, o que fez tomar a decisão de estudar teatro na Universidade de Porto Rico.
Se mudou para Manhattan (NY), em 1964, e rapidamente encontrou trabalho em peças e shows da Broadway.
E foram os seguidos trabalhos nos palcos lhe abriram as portas para o audiovisual gravado.
O Internet Movie Database dá 50 créditos de atuação de Raul Julia como ator em produções de cinema e filmes para a TV.
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