VIRGINIA | Jennifer Connelly e a problemática do Rotten Tomatoes

Jennifer Connelly é a estrela do filme Virginia, narrativa dramática com direção do oscarizado Dustin Lance Black, que amarra a vida social de uma pequena cidade americana em torno de uma mulher com problemas psicológicos e sua luta para manter a sanidade em meio a muitos outros.

Jennifer Connelly interpreta Virginia, uma mulher mentalmente instável, que tem um caso de duas décadas com um xerife local casado, Dick Tipton (Ed Harris).

O filho de Virgínia, Emmett (Harrison Gilbertson), é seu bastião de sanidade quando ela começar a misturar os tempos vividos, colocando em risco a atual candidatura política de Dick.

Emmet começa a se enamorar de Jessie (Emma Roberts), filha do xerife, inadvertidamente, o que faz as coisas sem complicarem ainda mais.

A atriz Amy Madigan interpreta a pobre Senhora Tipton, esposa de Dick. Ed Harris está bem envelhecido aqui, e sua dualidade em lidar com Virginia é um dos pontos altos do filme. Jennifer Connelly está muito bem no papel de Virginia — a mulher chega até mesmo a inventar uma gravidez e tentar assaltar um banco (?) em seus distúrbios.

O longa está cheio de boas ideias, mas Dustin não consegue alcançar com bom desempenho nenhum deles.  As dinâmicas de todos os problemas vai permear a relação de todos os personagens do longa-metragem, que conta com um final inesperado e apressado.

Jennifer Connelly Virginia
Virginia e Emmet, a única cola que segura a frágil e quebrada mulher

A Virginia de Jennifer Connelly nunca foi lançado no Brasil. Mesmo com um diretor oscarizado e estrelado por uma atriz oscarizada, Virginia não atinge excelência em sua execução. Fica bem aquém disso aliás.

Virginia
(Virginia, 2010,
de Dustin Lance Black)

spoilers

Promessas não-realizadas em Virginia

A instabilidade mental de Virginia a faz regredir anos de memória, até a época quem que esta tinha um caso com Dick Tipton. Há takes e flashbacks que nos situam nessa situação, mas a maior parte se passa no tempo atual.

O diretor Dustin Lance Black prefere criar uma abertura de créditos com animação 2D para emular um tipo de conto de fadas, para antecipar o que veremos em tela. Dustin levanta pontos bons sobre questões morais da discussão da sanidade mental em relações afetivas, e mais complicado ainda, em adultério.

Há acenos para perversões sexuais, como quando a senhora Tipton encontra alguns brinquedos de safadeza erótica do marido, reminiscências de sua época com Virginia. Esse é o mote central do longa, mas o diretor dá um jeito de inserir Max (Toby Jones), aparentemente com desejos de se tornar um travesti, e suas angústias e desejos, atrelados a campanha política de Dick, e um segundo assalto, perpetrado por Emmet e um amigo, para ajudar Virginia.

Emmet é a única cola emocional que segura Virginia, que não pensa nos danos que fará a Dick quando inventa de estar grávida para os moradores da cidade.

Ela quer ser percebida como deseja: uma segunda esposa. As demências de suas ações corroem seu filho, que pensa em fugir da cidade, junto com Jessie. Nem mesmo duas interações perigosas — com direito a arma de fogo apontada — entre ele e o xerife para se entenderem sobre suas mulheres — mãe e filha — resolve a questão.

Outro elemento feminino é a senhora Tipton, mórmon convicta, que tenta se matar depois de descobrir a traição do marido.

A falsa gravidez é apenas uma das coisas falsas em Virginia

Como se nota, todos querem fugir em Virginia, de um jeito ou de outro, seja fisicamente, mentalmente ou até mesmo tirando sua vida.

Todos esses fatores são um problema do longa, que aborda muitos temas, sem se aprofundar direito em nenhum deles. O desfecho é confuso, com uma canhestra tentativa de redenção da protagonista, que não tem o aprofundamento necessário por parte da direção de Dustin.

Em algum momento, Virginia se chamava What’s Wrong with Virginia (O que está errado com Virginia, em tradução livre). Ele chegou a ser veiculado dessa maneira no Festival Internacional de Cinema de Toronto (em inglês: Toronto International Film Festival – TIFF), onde foi mal recebido.

Encurtar o título não ajudaria a consertar o filme, mas foi feito. Não deu certo.

Dustin e Van Sant

Virginia foi o primeiro trabalho de Dustin na cadeira de diretor, e seu segundo de roteiro, depois de Milk: A Voz da Igualdade (2008). Esse longa foi muito premiado: indicado ao Oscar de 2009 em 8 categorias — Melhor Filme, Melhor Diretor, Melhor Ator (Sean Penn), Melhor Ator Coadjuvante (Josh Brolin), Roteiro Original, Trilha Sonora Original, Figurino e Edição de Imagem.

Venceu a estatueta de Melhor Ator (Sean Penn)e de Melhor Roteiro Original (para Dustin).

O filme fala da vida do político e ativista gay Harvey Milk, que foi o primeiro homossexual declarado a ser eleito para um cargo público na Califórnia — Dustin é gay e nasceu em Sacramento, uma das principais cidades do estado.

Virginia é uma história baseada nas relações pessoais do diretor com sua mãe. Depois do longa, Dustin voltou aos roteiros, como filmes como J. Edgar (2011), longa que foca a carreira do Diretor Federal do FBI J. Edgar Hoover, que trabalha com uma narrativa de especulação de que ele fosse homossexual.

A direção é de Clint Eastwood. Atualmente, Dustin anota bastante trabalhos para televisão.

Gus Van Sant é o produtor executivo de Virginia. Cineasta nascido em Louisville, no estado americano do Kentucky, Van Sant tem uma carreira com filmes de peso e polêmicos, como Um Sonho Sem Limites (de 1995, com um papel sensacional de Nicole Kidman, lindíssima), Gênio Indomável (1997), a famosa refilmagem do clássico Psicose (1998), Encontrando Forrester (2000), Elefante (2003), e o já citado Milk (2008), na qual concorreu ao Oscar de Melhor Diretor.

Van Sant fez carreira como diretor de vários videoclipes de bandas famosas de rock dos anos 80 e 90 antes de entrar no mundo do cinema.

Virginia e o Rotten Tomatoes

O diretor de Virginia, Dunstin Lance Black, e a estrela do fime, Jennifer Connelly

O site Rotten Tomatoes é motivo de polêmica desde que foi lançado, mas algumas virtudes suas devem ser levadas em conta. Ele faz um trabalho de resgate e posicionamento de acesso fácil a textos de análises de diversos críticos de cinema, um material de qualidade que fica disperso e requer horas de procura pela internet.

A comparação de diversos pontos de vista e estilos de texto para quem gosta é divertidíssima.

O Rotten Tomatoes é um site americano, e trata-se de um agregador de críticas de cinema e televisão, baseado em uma lógica reducionista e binária, para o bem e para o mal.

A empresa foi fundada em agosto de 1998 por Senh Duong e desde janeiro de 2010 tem sido propriedade da Flixster, que, por sua vez, foi adquirida em 2011 pela Warner Bros. Em fevereiro de 2016, Rotten Tomatoes e seu site pai Flixster foram vendidos a uma filial da Comcast com o nome de Fandango.

O nome faz referência a “tomates podres” em português, e deriva do ato de atirar tomates contra artistas, dependendo de sua atuação.

Todos os filmes que entram no Rotten ganham selos, depois de uma análise baseada em resenhas e artigos de vários veículos norte-americanos, pré-aprovados pelo site, sobre um determinado filme.

Os números divergem de outros sites famosos, como o IMDb e Metacritic, ainda que eles também usem um sistema de classificação similar. O IMDb abre voto para o público de forma geral, então não há um apuro somente da crítica especializada.

O Metacritic tem como pontuação principal a média atribuída das notas das críticas captadas, e não a porcentagem de críticos que gostaram. O Rotten Tomatoes é um “Ibope” para os críticos — o que ele entrega não são notas, e sim medição de popularidade.

Os selos vão do fresh (“fresco”, aprovado, caso tenha mais de 60% de textos favoráveis) ou rotten (“podre”, reprovado, caso tenha menos de 60% de textos favoráveis). A lógica binária opera com força aqui.

O filme pode ser um fresh com 10 notas favoráveis de críticos, ainda que 4 deles digam que o filme é “ótimo” e 6 deles digam “é apenas bom”. Isso infelizmente vale para o um filme rotten: 10 notas desfavoráveis podem ser 6 que digam que o filme é “bom” e apenas 4 que digam que é “ruim”.

Por conta disso, o Rotten Tomatoes sofre oposição feroz de gente grande da indústria cinematográfica, como o diretor Martin Scorsese, com argumentos que o site fornece uma impressão falsa de sucesso e fracasso, influenciando a carreira comercial de uma produção de modo negativo e injusta, dependendo do caso.

E como não poderia deixar de ser nessa maratona cinematográfica da atriz Jennifer Connelly, também indicaremos aqui a nota de Virginia, a despeito da matéria que acabaram de ler. O site aponta 11% de aprovação, valor que inclusive motivou o teor central do texto.

Jennifer Connelly Virginia

32º filme de Jennifer Connelly
Virginia
Estados Unidos

/// LOIRA. Virginia marca a primeira vez que Jennifer Connelly se apresenta loira para uma personagem. Seu papel de amante de xerife não é novidade — ela já tinha desempenhando isso no neonoir O Preço da Traição. E ela ter um interesse amoroso com pretensões políticas já tinha sido visto em Amor Maior que a Vida.

/// TRÊS FILMES. Jennifer Connelly e Ed Harris em Virginia é a terceira vez dos atores juntos no cinema. O primeiro aconteceu em Pollock, o projeto cinematográfico da vida de Ed, que escreve, produziu, dirigiu e estrelou esse filme, que fala sobre um dos artistas mais celebrados dos Estados Unidos, Jackson Pollock.

Há algumas similaridades com Virginia em espectros opostos — Ed Harris/Pollock é um pintor que sofre de graves problemas psicológicos, e em certo ponto da vida arruma uma amante, interpretada por Jennifer Connelly, que também lhe trará um desfecho inimaginável e triste.

O segundo filme foi Uma Mente Brilhante, longa Oscarizado, inclusive para Jennifer Connelly. De novo há algumas similaridades, já que o filme é outra cinebiografia, no caso, a do genial matemático John Nash. Ele sofre de esquizofrenia, e enxerga pessoas imaginárias — Ed Harris interpreta uma delas. Jennifer Connelly interpreta a esposa de Nash, em um papel tão tocante e fantástico que lhe deu o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.

/// MARVEL. Toby Jones e Jennifer Connelly tinham atuado juntos no longa anterior da atriz, Criação.

Os dois atores estão no Universo Cinematográfico da Marvel nos cinemas. Toby interpretou o cientista nazista Arnim Zola em Capitão América – O Primeiro Vingador (2011) e em Capitão América 2 – O Soldado Invernal (2014). Já Jennifer Connelly faz a voz do traje computadorizado do Homem-Aranha em De Volta ao Lar (2017).

/// 2010. Nos cinemas passavam filmes como Contatos de 4º Grau, Lula, o Filho do Brasil, Tekken – O Filme, Alvin e os Esquilos 2, Sherlock Holmes, Onde Vivem os Monstros, Tá Rindo do Quê?, Vício Frenético, Invictus, Zumbilândia, Ninja Assassino, Premonição 4, Soldado Universal 3: Regeneração, Preciosa: Uma História de Esperança, Um Olhar do Paraíso, Ilha do Medo, O Livro de Eli, Chico Xavier – O Filme, Rita Cadillac – A Lady do Povo, Zona Verde, A Estrada, Alice no País das Maravilhas, Homem de Ferro 2, O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus, Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, Godard, Truffaut e a Nouvelle Vague, Kick-Ass – Quebrando Tudo, 400 Contra 1 – Uma História do Crime Organizado, A Origem, Meu Malvado Favorito, Os Mercenários, [REC] 2 – Possuídos, Solomon Kane – O Caçador de Demônios, Resident Evil 4: Recomeço, Wall Street: O Dinheiro Nunca Dorme, Tropa de Elite 2 – O Inimigo Agora é Outro, Atividade Paranormal 2, Jogos Mortais – O Final, Scott Pilgrim Contra o Mundo, Um Parto de Viagem, RED – Aposentados e Perigosos, Harry Potter e as Relíquias da Morte: Parte 1, A Rede Social, Megamente, As Crônicas de Nárnia: A Viagem do Peregrino da Alvorada, Enterrado Vivo, Tron: O Legado, entre outros.

Jennifer Connelly Virginia

Jennifer Connelly e seu Instagram: https://www.instagram.com/jennifer.connelly/

/ OS FILMES DE JENNIFER CONNELLY.

1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986) 
5- Essas Garotas (1988) 
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996) 
14- Círculo das Vaidades (1996) 
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000) 
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007) 
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010) 
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)
44- Top Gun – Maverick (2022)
45- Bad Behaviour (2023)

/ AS SÉRIES DE JENNIFER CONNELLY.

1- The $treet (2000)
2- O Expresso do Amanhã/Snowpiercer (2020-2024)
3- Matéria Escura (2024)

Obrigado por ler até aqui!

O Destrutor é uma publicação online jornalística independente focada na análise do consumo dos produtos e tecnologia da cultura pop: música, cinema, quadrinhos, entretenimento digital (streaming, videogame), mídia e muito mais. Produzir matérias de fôlego e pesquisa como essa, mostrando todas essas informações, dá um trabalhão danado. A ajuda de quem tem interesse é essencial.

Apoie meu trabalho

  • Qualquer valor via PIX, a chave é destrutor1981@gmail.com
  • Compartilhe essa matéria com seus amigos e nas suas redes sociais se você gostou.
  • O Destrutor está disponível para criar um #publi genuíno. Me mande um e-mail!

O Destrutor nas redes: Instagram do Destrutor (siga lá!)

Todas as imagens dessa matéria têm seus direitos reservados
aos seus respectivos proprietários, e são
reproduzidas aqui a título de ilustração.

LEIA TAMBÉM:

O DILEMA | Jennifer Connelly e o cinema de comédia no fim dos anos 2000