Labirinto – A Magia do Tempo é o quarto filme de Jennifer Connelly, uma força da natureza capaz de derrotar David Bowie, um dos arquitetos da música do século XX.
Depois de enfrentar as ameaças masculinas de Era Uma Vez na América e Phenomena, ela agora tem como oponente um dos mestres da cultura pop.
O clássico Labirinto (presença obrigatória na Sessão da Tarde, como o filme anterior dela) é um dos grandes filmes de fantasia no cinema. O longa-metragem é de 1986, e foi um fracasso de bilheteria no início.
Ele adquiriu status de cult com o passar dos anos, e o admirável trabalho de bonecos, fantoches, fantasias e próteses pode encantar crianças até os dias de hoje, o que prova a resistência e qualidade da produção em executar um grande filme.
Labirinto – A Magia do Tempo
(Labyrinth, 1986,
de Jim Henson)
Labirinto foi criado por uma equipe impressionante. O diretor e idealizador Jim Henson foi uma das mentes criativas mais atuantes no cinema e TV dos Estados Unidos. Ele criou os bonecos Muppets, a maior parte dos personagens da Vila Sésamo, e todos as figuras mecatrônicas presentes em Família Dinossauro.
Até a movimentação do Mestre Yoda, em Star Wars – O Império Contra-Ataca, é dele. Jim dirigiu filmes como Time Piece (1965), pelo qual recebeu uma indicação ao Oscar, The Cube (1969) e O Cristal Encantado (1982).
O roteirista do filme é Terry Jones, um dos fundadores do Monty Python, grande mente criativa por trás de diversas produções do grupo. O cineasta George Lucas é um dos produtores — e seu nome dispensa apresentações.
A abertura de créditos iniciais de Labirinto destaca David Bowie e segue com o nome de Jennifer, então com 15 anos.
Aos três minutos do longa ela já aparece, e a princípio pensamos que ela está em um mundo medieval onírico, mas uma calça jeans por debaixo do vestido nos entrega a verdade. É o pontapé inicial da proposta do filme: nada é o que parece ser.
Jennifer Connelly e a
fuga do labirinto de clichês
A personagem de Jennifer Connelly em Labirinto é Sarah Williams, frustrada por ter que cuidar do irmão mais novo em mais um final de semana. Dona de muita imaginação, já era observada por uma misteriosa coruja — talvez o vilão, que se escondia atrás dessa forma animal.
Em um momento imaturo, por raiva do irmão pequeno, ela sem querer e saber, dá vida aos duendes que são personagens do seu livro favorito (chamado Labirinto), para que eles sumam com o bebê.
Toby realmente desaparece, e Sarah tem que enfrentar o maldoso Rei dos Duendes Jareth (David Bowie), chefe de todos os goblins e duendes, para resgatá-lo em castelo medieval protegido por um labirinto, em uma ilha desconhecida num mundo de conto de fadas — tudo em 13 horas.
Os duendes do filme são construídos como criaturas engraçadas e expressivas, fruto do trabalho de Jim Henson.
Efeitos práticos e truques de câmera, com uma fotografia pontual, nos transporta para esse mundo de fantasia com competência. Há charme aqui, e isso é difícil de conseguir, ainda mais em 1986.
Outros seres humanos podem ser vistos em Labirinto apenas depois de 1 hora de filme, quando Sarah come um pêssego envenenado.
Ela começa a delirar, e sonha outro mundo dentro do mundo de contos de fada onde se encontra. A garota é mostrada dentro de um estranho acessório redondo, uma iluminária suspensa, como uma lâmpada, com convidados usando máscaras de cabras, porcos e aves (referência Illuminatti), em um baile (ball em inglês).
Ela dança com Jareth ao som de As The World Falls Down, lindíssima canção que Bowie criou para a cena.
No final do longa, Jareth ainda tentar convencer Sarah:
– Tudo o que você quis eu fiz. Você pediu para a criança ser levada e eu levei. Se acovardou diante de mim e eu fui assustador. Reorganizei o tempo. Virei o mundo de cabeça para baixo e fiz tudo isso por você. Estou cansado de suprir suas expectativas sobre mim. Eu te peço tão pouco, deixe me guiar você e poderá ter tudo o que quiser.
Mas Sarah é mais forte e encerra o assunto, afirmando com força “você não tem poder sobre mim“, quebrando a mágica que a fazia prisioneira desse mundo de fantasia, e assim resgata seu irmãozinho.
Mesmo assim, os personagens ainda aparecem no mundo real, no quarto de Sarah, na cena final, festejando quando ela pede a presença deles.
O clímax de Labirinto (no Brasil ganhou um sub-título: A Magia do Tempo) bebe muito de inspirações no quadro Relatividade, do pintor M.C. Escher, em uma sequência emblemática pautada por Sarah tentando pegar seu irmãozinho por escadarias infinitas que sobem e descem sem obedecer a qualquer lógica.
Fortemente influenciado por Mágico de Oz e Alice no País das Maravilhas, a protagonista cresce como personagem em sua jornada, que parece ser a de uma princesa, mas não é, já que é ela quem precisa resgatar alguém do castelo do antagonista.
A magia do tempo em um
labirinto de palavras e significados
A produção também é muito citada como grande mensagem midiática audiovisual cifrada, com ocultismo e programação mental embutidas rolando soltas.
Há diversas análises pela internet que aprofundam esse tema, e é aquele velho negócio: não acreditamos, mas que existe, existe. E com o David Bowie envolvido, dúvidas são as mais possíveis de ter lugar de fala
A última fala do filme é dita por uma das criaturas: “Alguém aí a fim de um joguinho de palavras?”
Esse jogo de palavras entrega muito sobre Labirinto.
É interessante notar como a coruja (Jareth) existe no “mundo real” de Sarah, já aparecendo no começo do longa.
Ela pode ser vista em cima de um obelisco, monumento visível em várias partes do filme. Obeliscos são construções fálicas feitas pela humanidade há séculos, datando do Antigo Egito.
Há monumentos do tipo espalhado por diversas civilizações, por todo o globo. No labirinto não há passagens, nem cantos nem curvas, apenas caminho retos, angulosos. Por outro lado, qualquer pensamento racional não funciona, e Sarah depende de ajudas que encontra pelo caminho, como criaturas com quem faz amizade.
A alegoria de Labirinto seria o controle mental, onde cada cena se refere a um aspecto particular desse processo.
Mais interessante e curioso é reparar bem no quarto de Sarah.
Há figuras, fotos, bonecos, quadros e livros que mostram que todos os personagens que vemos no filme já estavam ali, retratados de uma maneira ou de outra.
David Bowie, o mestre do labirinto da cultura pop
O multiartista David Bowie é o ícone pop-star/oculto por excelência. Tem estranho alter-egos, usa variados conceitos ocultistas, androginia. Na música Quicksand, 1971, encontramos o trecho: “Estou mais perto da Golden Dawn / Imersos no uniforme das imagens de Crowley“.
Golden Dawn é o nome da sociedade secreta fundada por Aleister Crowley, famoso ocultista dos anos 70. Esses são apenas alguns exemplos da influência que ele tem. Poderia fazer uma série de textos sobre isso, e ainda sim apenas arranharia a superfície de seu trabalho.
Mas voltemos ao mais importante: Jennifer Connelly.
A menina concorreu com diversas outras atrizes pelo papel, como Helena Bonham Carter, Jane Krakowski, Yasmine Bleeth, Sarah Jessica Parker, Mary Stuart Masterson, Laura Dern, Lili Taylor, Laura San Giacomo, Ally Sheedy e Mia Sara. As favoritas eram Jane Krakowski, Ally Sheedy e Maddie Corman, mas Jennifer Connelly chegou e conquistou o papel.
Tinha a mesma idade da protagonista, e ainda gostava de ursinhos de pelúcia. Levou o seu para a audição, e Henson não teve mais dúvidas a respeito da escolha. No vídeo abaixo você pode conferir a audição de Jennifer para o longa.
Outros músicos foram considerados para o papel de Jareth, como uns tais de Michael Jackson, Prince e Sting.
Bowie estava com seu álbum Let´s Dance sendo trabalhado na época, e foi contatado graças aos filhos de Henson, que pediram ele no filme. O cantor camaleão leu o roteiro, e quis participar na hora.
O filme é uma produção da Tri Star Pictures, lançado em 1986. No Brasil, estreou nos cinemas no dia 25 de dezembro desse ano.
4º filme de Jennifer Connelly
Labirinto – A Magia do Tempo
Estados Unidos / Inglaterra
/// LIVRO. No ano em que Labirinto – A Magia do Tempo completou 30 anos (2016), a DarkSide Books lançou a novelização do filme de Jim Henson, transcrita pelo poeta e dramaturgo britânico A.C.H. Smith.
/// 1986. No cinemas passavam filmes como Matador, Loucademia de Polícia 3 – De Volta ao Treinamento, Um Dia a Casa Cai, A Cor Púrpura, Top Gun – Ases Indomáveis, Curtindo a Vida Adoidado, Karate Kid II – A Hora da Verdade Continua, Psicose 3, Poltergeist II – O Outro Lado, A Cor do Dinheiro, A Morte Pede Carona, O Rapto do Menino Dourado, A Pequena Loja dos Horrores, Aliens – O Resgate, Ran, entre muitos outros.
/// TERRY JONES. O ator, comediante, roteirista, de origem galesa, fundador do Monty Python, Terry Jones, morreu aos 77 anos, em janeiro de 2019. Ele sofria com uma forma rara de demência desde 2016, chamada “afasia progressiva primária”, uma variante da demência frontotemporal. Michael Palin, amigo e colega de Jones no grupo Monty Python declarou para a BBC o seguinte:
“Terry foi um dos meus mais próximos, mais estimados amigos. Ele era gentil, generoso, solidário e apaixonado por viver a vida plenamente. Ele foi mais do que um dos mais engraçados escritores e performances de sua geração, ele foi um completo comediante da Renascença – escritor, diretor, historiado, brilhante autor infantil, e a mais calorosa e maravilhosa companhia que você poderia desejar.” Terry fundou o Monty Python junto com Eric Idle, Graham Chapman, John Cleese e Michael Palin no final dos anos 60, para a TV inglesa. No cinema, Jones dirigiu Monty Python em Busca do Cálice Sagrado (1975), A Vida de Brian (1979) e Monty Python – O Sentido da Vida (1983), nos quais também atuou.
/// CLIPE. Abaixo um clipe exclusivo de David Bowie para sua canção As The World Falls Down. Tem algumas cenas do filme, outras exclusivas:
/ OS FILMES DE JENNIFER CONNELLY.
1- Era Uma Vez na América (1984)
2- Phenomena (1985)
3- Sete Minutos Para o Paraíso (1985)
4- Labirinto – A Magia do Tempo (1986)
5- Essas Garotas (1988)
6- Etoile (1989)
7- Hot Spot – Um Local Muito Quente (1990)
8- Construindo Uma Carreira (1991)
9- Rocketeer (1991)
10- O Coração da Justiça (1992)
11- Do Amor e de Sombras (1994)
12- Duro Aprendizado (1994)
13- O Preço da Traição (1996)
14- Círculo das Vaidades (1996)
15- Círculo das Paixões (1997)
16- Cidade das Sombras (1998)
17- Amor Maior que a Vida (2000)
18- Réquiem Para um Sonho (2000)
19- Pollock (2000)
20- Uma Mente Brilhante (2001)
21- Hulk (2003)
22- A Casa de Areia e Névoa (2003)
23- Água Negra (2005)
24- Pecados Íntimos (2006)
25- Diamante de Sangue (2006)
26- Traídos pelo Destino (2007)
27- O Dia em que a Terra Parou (2008)
28- Coração de Tinta (2008)
29- Ele Não Está Tão a Fim de Você (2009)
30- 9 – A Salvação (2009)
31- Criação (2009)
32- Virginia (2010)
33- O Dilema (2011)
34- E…que Deus nos Ajude!!! (2011)
35- Ligados pelo Amor (2012)
36- Um Conto do Destino (2014)
37- Marcas do Passado (2014)
38- Noé (2014)
39- Viver Sem Endereço (2014)
40- Pastoral Americana (2016)
41- Homem-Aranha De Volta ao Lar (2017)
42- Homens de Coragem (2018)
43- Alita – Anjo de Batalha (2019)
44- Top Gun – Maverick (2022)
45- Bad Behaviour (2023)
/ AS SÉRIES DE JENNIFER CONNELLY.
1- The $treet (2000)
2- O Expresso do Amanhã/Snowpiercer (2020-2024)
3- Matéria Escura (2024)
Jennifer Connelly e seu Instagram: https://www.instagram.com/jennifer.connelly/
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